Zik-Sênior, o Ermitão.
Zik Sênior
Confesso que durante o ano de 2003 fazia menos esforços para aceitar que meus ouvidos escapassem quase incólumes das falações de Luiz Inácio. Tudo bem, eu tinha 11 anos a menos do que tenho (105), era mais saudável e estava curioso para conferir sua extrema ignorância. Assim, optei por levar suas falas para o lado cômico e perder-me em risadas. Não havia outro remédio, afinal.
Mas o “sábio” começou a ficar temerário já no meio daquele ano. Ao receber uma delegação de pessoas com necessidades especiais, ao invés de se aproximar para os cumprimentos, Inácio olhava-a através de uma câmera de TV. De chofre, para espanto da imprensa, largou essa:
─ “Estou vendo daqui ‘companheiros portadores de deficiência física’. Estou vendo Arnaldo Godoy sentado, tentando me olhar, mas ele não pode porque é cego. Estou aqui à tua esquerda, viu, Arnaldo? Isso! … Agora você está olhando para mim”.
Notei que sua fala era primária, precária, primeva. Dominava com dificuldade um reduzido vocabulário, com sintaxe próxima de zero e dicção péssima. Suas frases ou começavam pelo verbo ‘estar’ na primeira pessoa ou tinham nele próprio sua única finalidade. Mas, afinal, fora eleito presidente da República, mesmo com voz de sapo-boi esganado a atropelar o vernáculo português.
Em dezembro do mesmo ano, num encontro com atletas paraolímpicos ele repetiu a dose: ─ “Estou com uma dor no pé, mas não posso nem mancar, pra imprensa não dizer que estou mancando porque estou num encontro com companheiros portadores de deficiência”.
A partir de então, ‘pessoas com necessidades especiais’ passaram a ser chamadas pelo ‘sábio’ por ‘companheiros portadores de deficiência’. Então, ficou assim combinado: se mancar ao lado dele será tachado de “companheiro deficiente”.
Ao longo de sua estada no cargo todos os segmentos da sociedade passaram a ser formados por companheiros: companheiro político, companheiro bispo, companheiro corrupto e foi ouvido até Companheiro Papa. Companheiro é o cacete, Inácio!
Em 2004, na comemoração do Dia Internacional da Mulher, Inácio soltou uma pérola: ─ “Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta”. Fiquei surpreso com sua notável descoberta científica; além da brutal coincidência entre os resultados do nascimento de sua genitora com os do resto da Humanidade. Alguém já conheceu um “PhD nascituro”? Pois é, mas na cabeça do ‘sábio’ eles existem.
Pensei com meus botões, “perfeito, sua mãe nasceu analfabeta e você, além disso, cresceu inepto e apedeuta; assim manteve a honra de sua estirpe”. Mas não tirei qualquer conclusão antecipada sobre o ‘sábio’. Apenas passei a observá-lo com mais acuro, queria perceber quais poderiam ser suas intenções.
Foi então que verifiquei que, mesmo após eleito, Luiz Inácio permaneceu pelos palanques do país, a fazer discursos despropositados, cheios de jargões, metáforas futebolísticas, com linguagem vulgar e promessas inexequíveis. Mas isso funcionava bem para aquele segmento humilde do povo. Inácio recebia muitas ovações em troca, achava-se um felizardo.
Na verdade – mal sabia eu –, ele estava a treinar discursos para outros palanques do mundo. Preparava o grande ciclo de viagens internacionais, “o maior da história desse país”, onde visitaria vários países africanos e asiáticos à procura de espaço para “vender novos projetos”.
O apedeuta entrou em seu jato reluzente – adquirido em 2004, ao custo camarada de 56,7 milhões de dólares – e partiu para a faina. Oferecia aos soberanos locais “queijos coloridos em pacotes fechados”: projeto, obra, mais financiamento de banco público e a empreiteira brasileira que executaria a obra. Por algum motivo ou “estímulo“, vários soberanos aceitaram as ofertas milionárias. Acho muito provável que alguém haja ganho “uma espécie de comissão” nessas vendas, pois trata-se de sabida norma sagrada de certas construtoras.
Mas, chegando à África, o ‘sábio’ cometeu barbaridades diplomáticas. Após desembarcar na capital da Namíbia, junto com sua camarilha, por conta própria disse, sob a forma de agrado, que os africanos são sujos e desorganizados:
─ “Quem chega em Windhoek não parece que está em um país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas (…)”.
Em outra visita, ao sudoeste da Ásia, as “gafes do Inácio” continuaram, agora com o ditador da Síria:
─ “Um brinde à felicidade do presidente Al Assad!”, ignorando que, por orientação religiosa, muçulmanos não consomem bebidas alcoólicas. Importante lembrar que, no caso de Bashar Al Assad, apesar de não beber, tudo leva a crer que ele tem “permissão para ser genocida”.
A presunção de Luiz Inácio estava a se tornar incontrolável. Parecia um narciso aloprado, a render homenagens à própria imagem refletida nos espelhos da ignorância. Mas, em 2004, ocorreu uma situação que me impressionou, deveras. Devia estar descendo de uma benção de seu pajé de Cuba e resolveu passear pela Costa Rica. Em conversa com o presidente desta nação, gabou-se e demonstrou, com superior naturalidade, seus interesses autoritários mais pejorativos.
─ “Fui agora ao Gabão aprender como é que um presidente consegue ficar 37 anos no poder (…)”.
Também em 2004, creio que no palácio do Planalto, para mostrar a líderes de um partido “mensalizado” por sua facção, disse abertamente que era “o todo poderoso”:
─ “Um dia acordei invocado e liguei pro Bush”.
Formidável, não acham? O ‘sábio’ a mentir para parlamentares pagos com iscas para ouvi-lo. Estava inebriado com o que julgava ser seu “poder maior”.
Dedução minha. Num dia, com mal humor por ter levantado da cama macia, iniciou uma conversa íntima com seu clone norte-americano em boçalidade. Formaram uma “irmandade apedeuta a dois”, com consequências simplesmente desastrosas, tanto para o Brasil, quanto para o resto do mundo. Pagamos por elas até hoje.
Mas as práticas políticas começaram a desandar, como “massa de nhoque aguada”. Em abril de 2005, o ‘sábio’ declarou em uma entrevista coletiva que “Eu e Palocci somos unha e carne, tenho total confiança nele”. O que foi curioso aconteceu em agosto do mesmo ano, quando declarou acerca do escândalo do mensalão que então viera a público: “Quero dizer com toda franqueza: me sinto traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento”.
Vejam bem, “com toda franqueza” é uma verdadeira patranha! Convenhamos, o antro da quadrilha ocupava salas próximas à sua. Os quadrilheiros eram companheiros íntimos do ‘sábio’, havia décadas. Como ele não saberia de nada? Como seria possível?!
Um parêntesis. Passei parte de minha juventude na Paraíba, morando no povoado de Sumé. Lá tive um amigo mais velho, chamado Jônatas. Lembro-me que ele era muito grande e forte. De cima de sua moral do agreste, quando se sentia provocado no limite, berrava na cara de quem tentava enganá-lo:
─ “Oh, seu filho de cinco puta! Some daqui sinão te rebento!”. Era um amigo cheio de piedade para dar…
Óbvio que Jônatas não fazia a menor ideia do que significava a “teoria do domínio do fato”. Eu mesmo só vim saber mais ou menos após o julgamento da quadrilha íntima do apedeuta. Mas, com certeza, se ele fosse um juiz da Alta Corte, iria xingar a todos de “filhos de cinco puta”, enquanto os espancava “sem dó de bater”.
Retorno. Em minha opinião, o noticiário mundial sobre o caso do mensalão foi fatal para as meninges de Luiz Inácio. Desde então, seus miolos e sistema nervoso nunca mais foram os mesmos. “O apedeuta foi obrigado a sair do ataque para jogar retrancado na defesa”, para traduzir o que ocorreu na linguagem do apedeuta.
Seus “companheiros secretários” e alguns “companheiros quadrilheiros” tiveram que pensar num plano capaz de silenciá-lo. Em uma reunião ficou decidido que ele viajaria muito mais pelo mundo e que, para estimula-lo, poderia levar consigo ‘a moça’, sua Secretária no escritório da presidência de São Paulo. Quase deu certo.
Houve ano que passou quase 90% dos dias úteis fora do Brasil. Apenas o restante do tempo manteve a bunda cravada na poltrona do Planalto. Mas, mesmo assim, Inácio dava entrevistas no exterior para a imprensa, vangloriava-se e, acometido pela sanha do poder, continuava a “fazer negócios” e falar coisas desconexas.
Quando retornava de cada viagem, estava transtornado e não dizia coisa com coisa. Certa vez, em 2009, quando inaugurava obras na orla marítima de Maceió, talvez tentando agradar aos operários, vomitou no chão esta frase:
─ “Não tem coisa mais fácil do que cuidar de pobre no Brasil. Com R$ 10, o pobre se contenta”.
Luiz Inácio, o apedeuta já então milionário, traduziu com essas palavras a postura sórdida e manipuladora de sua política de caça: cada “cabeça de pobre” valia para ele dez reais e nada mais.
Em minha opinião, a essa altura do mandato, o ‘sábio’ já se encontrava em franco processo de decadência moral. Era o “ocaso do apedeuta” que estava a acontecer, em nível já avançado. Tanto é que, mesmo com a maioria absoluta no Congresso, amestrada por iscas fiscais, preferiu não tentar um terceiro mandato e “parir um poste” para sucede-lo.
Achei uma opção de alto risco. Pensei ser improvável que o povo que o elegera duas vezes, sem receber educação pública básica durante 8 anos, continuaria calado e cativo, a R$ 10,00 por cabeça. Em outras palavras, permaneceria submisso às esmolas públicas que recebia (e recebe até hoje).
Pois, errei! Inconformado, queimei o título de eleitor. O oráculo da patranha conseguira eleger seu poste de estimação, apesar da própria decadência. Seu linguajar retornara ao da origem, de volta a seu ânimo congênito, ora debochado, ora boçal.
Durante os anos de “mandato do poste”, pude observar sua fala, sempre a estimular o “ódio e a vingança entre as classes”, bem como a defender os indefensáveis efeitos das minas explosivas que plantara pelos caminhos da nação: uma série de financiamentos em vários países – com destaque para o porto de Mariel, em Cuba; os desvios criminosos de dinheiro que reduziram o valor do Aparelho Petrobrás pela metade; a riqueza descabida de seu “filhote-pupilo” (o gênio invisível); e o carnaval das obras superfaturadas para a Copa da Fifa, são fatos noticiados maciçamente pela imprensa nacional e mundial.
Ficou, digamos assim, a “impressão” de corrupção generalizada durante 12 anos do mesmo partido no “poder público”, a degradar instituições e princípios vitais à civilização humana.
Sim, já ia me esquecendo de comentar sobre seu “poste de estimação”. Mas vou falar o quê? Não há mais nada a acrescentar, tudo já foi dito e provado. Deste ‘poste‘ não saem fios e cabos, está bambo no ar. Ao contrário, são certos fios e cabos que movem o ‘poste’ para onde bem quiserem. Ele é um títere manipulado que sofre frenesis, histerias, eletrocuta e escoiceia a todos. À exceção, é claro, de seu oráculo criador, ainda que à beira do colapso final. Essa é minha expectativa otimista para a nação brasileira.