Tagarelice de suposições


Ricardo Kohn, Escritor.

Em certos telejornais existe um hábito curioso. Repórteres que cobrem fatos nos locais de ocorrência insistem em usar o verbete “suposto”. Dizem eles, quase emocionados: liderados pelo suposto chefe da facção; degolado pelo suposto assassino (!); a quadrilha de colarinho-branco é comandada pelo suposto Rei do Quadrilhão; cometeram um suposto desvio do erário; está na UTI acometido por suposta febre amarela (!); e assim prossegue a ladainha do telejornal.

Ricardo Boechat

Sem falas supositórias

Acredito que esse suposto noticiário seja fruto de uma diretriz, entalhada a ferro-e-fogo, pelo suposto editor-chefe, sempre marionete dos que mandam na emissora.

Consultei o dicionário para confirmar o significado do verbo supor: 1. Alegar ou afirmar hipoteticamente para tirar alguma indução; 2. Admitir como possível, conjecturar, imaginar, presumir; 3. Formar hipóteses sobre.

Concluí que qualquer noticiário feito com base em suposições ou é falso ou só impede que o editor-chefe suje as cuecas. Além de duelar com as imagens mostradas, nada informa ao telespectador que, por sinal, paga caro para assistir supostos comentaristas e repórteres amestrados.

Por óbvio, há exceções: os jornalistas que não abrem mão de narrar a verdade factual, sem propelir suposições cretinas. Porém, são poucos, a maioria é feita de “lambe-sacos” e “tagarelas supositórias”.

A continuar com essa ladainha televisiva, plena de suposições, as empresas proprietárias das emissoras poderão falir. Ou não! Que tal mudar o nome do jornal para Supositório Jornalístico?…

─ Não há uma prova sequer!


Em nações civilizadas, quando é descoberto um crime, tem início a sua investigação. A finalidade é óbvia: identificar quem o cometeu.Kohn - Sobre o Ambiente Mas o investigador precisa seguir um padrão lógico, tanto de raciocínio, quanto de ação, qual seja: identificar o que motivou o criminoso, com quais oportunidades ele se estimulou, e, por fim, como se beneficiou dos resultados que obteve. Desde há 400 anos, qualquer “xerife do Velho Oeste” já sabia fazer isso.

No escândalo do “Arrastão da Petrobras”, à primeira vista, os procedimentos da Polícia Federal, na histórica “Operação Lava Jato”, parecem manter essa mesma lógica. Apenas contam com o suporte de leis mais modernas e facilidades tecnológicas inexistentes no “Velho Oeste”.

Porém, vale destacar a atuação de instituições públicas autônomas, encarregadas de fazer a Justiça [1]. Embora seja a expressão do dever estabelecido, merece o agradecimento do cidadão brasileiro. Assim, até agora os resultados obtidos pelas investigações do “Arrastão da Petrobras” demonstram eficiência, sobretudo, graças à dedicação de agentes da Polícia Federal e à qualidade de juízes do Ministério Público Federal.

Há envolvidos neste “esquema” que já se encontram trancafiados: dois ex-diretores da Petrobras, diretores de grandes empreiteiras, um doleiro e um “carregador de mala”. São uma pequena amostra de dezenas de ladrões que ainda permanecem soltos.

Acontece que a Polícia Federal está no início da sua “operação de lavagem”; sequer entrou na etapa da centrifugação. No entanto, pelo que informa a imprensa livre, há indícios que, muito em breve, iniciará a bela “centrifugação de políticos imundos e respectivos partidos”, todos livres e impunes.

Todavia, já se escutam comentários de futuros centrifugáveis que confirmam a iminência dessa centrifugação. O fato mais aberrante foi a frase do Ministro-chefe da Secretaria Geral da República, ao deixar o cargo neste início de ano:

─ “Nós não somos ladrões”.

Declaração gratuita, tão esdrúxula quanto esta, é incomum na atual política brasileira. De fato, o ex-ministro entregou à boca do povo, na bandeja, “a essência do jogo sujo de sua equipe”.

Mas sempre há um outro emérito ladrão, que arma a defesa antecipada de seu “parceiro de negócios”. Imaginando livrar-se de possíveis conjecturas danosas, solta a frase lapidar:

─ “Não há uma prova sequer contra ele”.

Não precisa ser filósofo ou psiquiatra para entender o que subjaz a essa frase asquerosa. Afinal, dizer que não há prova de alguém haver cometido um crime, não nega ou prova que ele não o haja perpetrado. Trata-se sim, de prática prepotente e arrogante, que somente visa à blindagem de políticos ladrões.

Na última década assistiu-se a notórias quadrilhas de políticos contratando caríssimas bancas de advocacia. Era como se fossem enfrentar julgamentos passíveis da pena capital! Mas pasmem, só queriam inocentar seus membros pela corrupção frenética cometida. Uma vez liberados da justiça, a intenção sempre foi seguir pelo mesmo atalho. Afinal, o que sabem fazer na vida, além de desviar e distribuir dinheiro público para fortalecer sua camarilha?

A parcela do erário público roubada nos últimos 12 anos foi de tal ordem, que há incríveis milionários, verdadeiros nababos, a investir em fazendas, milhares de cabeças de gado, realizar de grandiosas construções, comprar apartamentos, lanchas e jatinhos de luxo. Investimentos que, definitivamente, nunca poderiam realizar com suas condições primitivas de trabalho.

Mas sempre haverá um “pentelho da camarilha” que se atreverá a afirmar que não há nenhuma prova contra eles. E será preciso mais o quê, diacho?! Na verdade, nada. Basta passar um pente fino nos fatos mundialmente conhecidos, confirmar a hierarquia das quadrilhas, enquadrá-los na lei e recolher seus membros à penitenciária mais segura.

……….

[1] Antes o xerife fazia tudo: investigava, produzia leis, aplicava-as e executava a justiça (na forca). No Brasil atual só há uma instituição que procede como xerife do Velho Oeste: o Tribunal Superior Eleitoral; sem a forca, é óbvio.

Propaganda medíocre


Faz tempo, decerto mais de uma década, que a qualidade da publicidade vem decaindo de forma insofismável no Brasil. Isso torna-se mais nítido, sobretudo na televisão. No intervalo dos jornais, por exemplo, ou coloca-se o aparelho mudo ou se é obrigado a ouvir um enxame de barbaridades publicitárias, que não trazem “criação” ou qualquer conexão para a inteligência humana.

Segundo os que conhecem esta matéria, um dos traços da boa campanha publicitária é fazer com que o teor de cada “anúncio” permaneça na mente do potencial comprador por um bom prazo. Para isso, é óbvio, deve causar-lhe prazer, interesse e até admiração. Em sequência, poderá criar nele o desejo de adquirir.

Contudo, não há dúvida de que há empresas difíceis de serem publicitadas de forma mais criativa. Bons exemplos são os “supermercados”. Todavia, a responsável pela publicidade não é obrigada a contratar um “pateta esfuziante”, que anuncia os preços mais baixos para inúmeros produtos dum tal “Armazém S/A”.

Em suma, anúncios com duração de 30 segundos, além da rápida sequência de imagens ser atordoante às pessoas, é natural que quem os assista não fixe coisa alguma. Um minuto após, é muito provável que nem mais recorde do “nome do maldito armazém”, que dirá das informações de venda veiculadas, não raro enganosas.

No meio da primavera o clima da região mais produtiva do país começa a esquentar. É hora de serem lançados produtos como geladeiras, ar-condicionado, ventiladores e vidros de janela que refratam o calor, dentre outros. Basicamente, são destinados a escritórios, apartamentos e residências.

Porém, há outros produtos que são pessoais, talvez supérfluos, mas que vendem bem quando a temperatura do ambiente se eleva. Por exemplo, “cremes especiais de banho”, “xampus-maravilha” e “perfumes sustentáveis”, são alguns de uma infinidade de similares que falam com a alma dos consumistas (bem como, da “elite neocomunista”). São caros, finamente embalados, e oferecidos como “exclusivos para seu corpo”. Constituem novidades, “criadas para resfriar a sua pele” ou coisa que o valha.

Para suprirem à demanda que previram, indústrias e lojas do varejo necessitam de mais publicidade. Aquelas que ainda não fecharam suas portas, contratam empresas que elaboram e produzem suas campanhas. Usam, desde outdoors obtusos, a emporcalhar vias urbanas e prédios, até campanhas televisivas, compradas para serem divulgadas no chamado “horário nobre”.

Retorna-se à premissa dessa análise: a perda de criatividade na publicidade brasileira. É louvável que seja elaborada visando a atingir os segmentos do mercado que estão mais propensos ao consumo. Porém, certos governantes dizem que sua política de inclusão social criou uma classe média emergente e, exageram nos números, a dizer que esta classe possui cerca de “50 milhões de brasileiros que estavam fora do mercado“. Acredita-se que ainda continuam de fora.

Mas parece ser óbvio que, apenas com base na “política de bolsas-mil”, não lhes é possível consumir “cremes especiais de banho”, “xampus-maravilha” e “perfumes sustentáveis”. Suas prioridades ainda são as básicas: ter moradia, alimentarem-se diariamente e vestir roupas ao invés de andrajos. É dolorosa essa conclusão, mas  infelizmente parece ser correta.

Como é possível não auxiliar a quem chega a esse estado?

Como é possível não auxiliar a quem chega a esse estado?!

A mediocridade de campanhas publicitárias não decorre desse triste cenário. Até porque, o segmento de higiene e perfumaria apresenta produções sofisticadas. Apenas são todas iguais, com jovens modelos femininos, cheias da cor dourada, trajando vestidos de seda sobre a pele, realces virtuais em detalhes, a invadir mentes com sugestões de potência e felicidade.

O profissional de marketing encontra-se diante de um impasse. Em síntese, foi formado para “vender serviços e produtos” em um ambiente civilizado. Ocorre, porém, que a educação do Brasil não civiliza, não ensina o cidadão a pensar, a desenvolver seu raciocínio. Não o conduz à reflexão. Isto somente ocorre por iniciativa do próprio educando.

A questão é: ─ “Como desenvolver uma campanha publicitária que não contenha artifícios tidos como falsos se o alvo são pessoas que não foram ensinadas a pensar”?

Na segunda metade do século passado, assistiu-se a publicidades mentirosas, especialmente as dedicadas a vender produtos do tabaco. Mas aos poucos, contando a proibição do governo federal, os cidadãos as negaram de forma democrática e explícita.

No entanto, hoje o uso de certa falsidade acabou por ficar implícito em muitas das publicidades veiculadas. Crê-se que isso se deve à típica “propaganda totalitária do governo”, a qual visa a impor ao povo a obrigação de aceitar medidas e decisões baseadas na doutrina da mentira.

Guarde sua emoção para o final


Vive-se em um país democrático, pelo menos até agora. Na sociedade, a cada minuto veem-se fatos que mostram seu desejo na continuidade dessa forma de governo. Por exemplo, quando alguns amigos de uma rede social tentam demonstrar que o candidato em que vão votar será, sem dúvida, o melhor Presidente para a República Federativa do Brasil, é um caso típico de democracia.

A aurora da democracia em 1º de janeiro de 2015

A aurora da democracia em 1º de janeiro de 2015

Sabe-se que isso é uma pequeníssima parte dela, mas, convenha-se, para um país não muito civilizado, constitui uma demonstração bem-vinda, uma sólida prática democrática.

Porém, é incrível, mas, segundo as pesquisas, todos os onze candidatos para outubro de 2014 têm intenção de voto, com argumentos que, mal ou bem, visam a justifica-lo. Esse fato exprime uma das certezas da democracia: o direito inalienável que cada cidadão possui para externar sua opinião e defende-la com educação, quando for necessário e possível.

Contudo, na sociedade brasileira, o respeito com que se pode antecipar um voto político, às vezes torna-se agressão aos demais votantes, por força da emoção exacerbada e dos termos com que certos indivíduos declaram em quem irão votar. Se não houver lucidez e razão na mente dos que possuem outra visão, é iniciada a pancadaria radical.

Acredita-se que a principal questão, hoje posta sobre a mesa dos brasileiros, não é a escolha do melhor candidato à presidência do Brasil. A pergunta que se precisa responder, com base na razão, é “qual dos candidatos poderá ser melhor para o povo brasileiro, na qualidade de eficiente gestor público?” E isso é bem distinto de ser apenas um “melhor presidente” qualquer. Melhor para quem?!

Tem-se quase certeza de que o país se encontra politicamente dividido; rachado ao meio, como dizem. A depender dos resultados finais das eleições, a demência homérica de certos partidos jihadistas pode conduzir a nação a quadros de graves conflitos civis e sociais. Já se viu esse filme em 1968.

Ameaças nesse sentido já foram declaradas, pública e agressivamente, por “líderes de ditos movimentos sociais”, os quais o atual governo permite que existam. Inclusive há informes que, com o uso do dinheiro público, financia sua permanência no cenário nacional. Se isso for verdade, é um ato deprimente de desgoverno. Afinal, esses líderes são repulsivos e seus movimentos, badernas sociais de delinquentes pagos.

Opinião

Nos últimos dias tem corrido pela internet a seguinte mensagem: ─ “A atenção de todos! Não teclem 13 na urna eletrônica! Trata-se de um vírus que corromperá o futuro da nação! É o mais destrutivo de toda a História do Brasil”.

Evidente que o brasileiro é cômico, a fazer piada até com a própria desgraça. Mas também é claro que essa mensagem não terá efeitos sobre os resultados da votação de 5 de outubro. Mesmo que as redes hoje constituam uma das principais artérias da comunicação bilateral entre os brasileiros.

No entanto, a piada acima revela uma verdade que, para declara-la, se ousa parafrasear o “sumo pontífice” da imbecilidade: “Nunca na história desse país houve tantus crime cometido (sic) pur tantus agentes público (sic)”.

A imprensa informa parte do que alguns corruptos presos disseram em interrogatório, através da delação premiada. Vários colunistas informam que o volume monetário da corrupção, realizada nos últimos 12 anos, é assustador. Atinge à casa de dezenas de bilhões de reais. Ou de dólares, tanto faz.

Aguarda-se com ansiedade que duas coisas aconteçam: que a justiça brasileira aceite a delação premiada, prevista em lei; e que ela seja rápida, com resposta antes das eleições. Caso contrário…

Acredita-se que seus partícipes, ativos ou por omissão, serão punidos pelo menos nas urnas. Dessa forma, aposta-se que não haverá reeleição. Ao contrário, o segundo turno será, enfim, dedicado ao debate franco e aberto de dois candidatos da oposição. Sem agressões e emoções cretinas.

─ Que vença a razão!

2015: Ano da Guerra


Zik-Sênior, o Ermitão.

Zik Sênior, o eremita

Zik Sênior

Tenho acompanhado a evolução dos candidatos que desejam a Presidência da República. Mas, como tenho 106 anos e não preciso votar, sinto-me à vontade para opinar sobre o que pressinto que pode acontecer em breve.

Até o momento, tudo aponta para, finalmente, a desejada derrota do PT nessa disputa. Um sinal evidente dessa tendência está explícito na fala de petistas boçais, mais extremados. Ameaçam criar sucessivos empecilhos para que o candidato eleito não consiga governar o país, e o povo que se dane! Ameaçam, até mesmo, com o uso da violência.

Um tal de João Stédile, que se diz líder de um “Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra” (o que é um enigma para mim, pois, se não possuem terra, não são trabalhadores rurais), em entrevista concedida a Rodrigo Viana, da Revista Fórum, afirmou a seguinte pérola:

─ “A questão agrária no Brasil só virá num futuro próximo (sic) quando houver a retomada das manifestações de massa, que vão pautar um projeto de país. […] Ganhe quem ganhe (sic) continuará tudo igual. Só espero que não ganhe o Aécio, porque aí seria uma guerra (sic). […]” [1].

Em minha completa ignorância acerca desse tipo de babaca, deduzo que se trata de um gajo agressivo, mal alfabetizado, presunçoso e ainda a querer instalar o comunismo no Brasil. De forma bem pejorativa, trata-se de um estafermo avariado, um terrorista de calcinhas bordadas. Contudo, ainda que tente cumprir o que prometeu, “dará com os burros n’água“. Quer dizer, “vai nadar muito e morrer na praia”.

Que haverá uma grande guerra, não tenho dúvida. Mas será bem outra. Não importa se o novo presidente venha a ser o Aécio ou a Marina, que são as únicas opções que ainda existem. Qualquer um deles terá de higienizar a máquina pública, o que demandará um esforço descomunal de sua equipe de governo.

Sanear ministérios, secretarias, empresas estatais e agências públicas da sujeira humana instalada pelo PT e sua “base ‘de corrupção’ aliada”, não tem preço! Será guerra para durar um mandato inteiro e ainda vai deixar bastante fumaça tóxica na atmosfera do planeta.

A ser assim, o novo governo será acusado pelo IPCC de ser o maior contribuinte de gases para o aquecimento global. Deverá ser severamente punido na ONU, pela queima descontrolada de elementos orgânicos, nocivos e perigosos. Meno male, será sinal que a limpeza obteve algum sucesso!

Grato pela atenção e até a próxima…

……….

[1] Fonte: Folha Política. Na matéria intitulada “Líder do MST promete ‘guerra’ se Aécio ganhar”.

Realmente, um fenômeno


Simão-pescador, Praia das Maçãs.

Simão-Pescador

Simão-Pescador

Minhas preocupações com os descaminhos do Brasil avolumaram-se neste mês agosto. Estava eu entretido na biblioteca, lendo seriamente livros que narram como se deve tratar o Ambiente, quando, sobressaltado, recebi de chofre a notícia do acidente fatal que tragou a vida do jovem Eduardo Campos.

Pensei em escrever minha análise sobre os possíveis desdobramentos desse facto, dessa fatídica obra do acaso. Se é que assim ocorreu o acidente, ao acaso. Respirei fundo e segui caminhando pela praia até o mar. Precisava desanuviar meus pensamentos. Mas no momento em que molhei os pés na imensidão oceânica, bateu-me uma pergunta:

─ “Serei capaz de explicar o ocorrido através de uma teoria ambiental”? Conclui que sim. Ora pois, segue o texto que dedico a leitores mais críticos.

……….

Dizem certos expertos em Gestão do Ambiente que diversos fenômenos se manifestam e realizam seus impactos em função da ocorrência de pelo menos uma alteração no ambiente. Esta, por sua vez, no mínimo é fruto de uma intervenção direta sobre o ambiente. Da forma inversa, esses eventos são assim ordenados por essa teoria:

  • Uma Intervenção → gera Alterações → das quais decorrem Fenômenos.

Torna-se mais fácil entender essa sequência de eventos através de um exemplo. Têm-se um parque eólico em operação. Dentre suas intervenções, estão as torres, sistemas e pás que geram energia – os aerogeradores. Além da geração de energia limpa, uma alteração que decorre do giro das pás são os ruídos. E um dos fenômenos que é fruto dessa alteração é a evasão das aves silvestres mais sensíveis ao barulho.

Um parque eólico espanhol, erguido no século passado

Um parque eólico espanhol, erguido no século passado

A análise desse cenário conclui que as aves se afastam do parque por força do ruído dos aerogeradores (ou turbinas eólicas) e disso pode resultar a ocorrência de outros fenômenos no ambiente, além da evasão de aves. Exemplos: a variação de habitats preferenciais, a variação da competição entre espécies de aves, a atração de aves mais resistentes a ruídos, a atração de aves predadoras, a variação na cadeia trófica, etc.

Todas essas transformações que ocorrem no ambiente produzem impactos que se manifestam em cadeia, numa espécie de “rede de impactos” negativos e positivos. Resta ao bom analista averiguar, através de cálculos específicos, se é necessário tomar medidas para minorar os impactos negativos. Por exemplo, “eleger um gestor ambiental preparado para a direção colegiada do parque eólico“.

O facto é que esta teoria pode ser aplicada em diversos setores, em vários ambientes, inclusive no “ambiente político”. Em suma, ela possui capacidade para construir explicações sobre como se dá um processo de mudança, em vários assuntos do interesse das pessoas.

Embora no ambiente político os impactos sejam difusos e possam ser intangíveis, é possível identificar as relações de causa e efeito entre seus eventos geradores – intervenções, alterações e fenômenos, todos de natureza política.

Segue minha análise, ainda que superficial, da mudança do ambiente político brasileiro ocasionada pela queda do jato que, ceifou a vida de Eduardo Campos, de forma trágica.

A impactar a política brasileira

A primeira tarefa dessa análise é classificar o evento “queda do jato”: é uma intervenção, uma alteração ou fenômeno?

Parece-me que não constitui uma intervenção, pois nada acrescentou de concreto ao ambiente. Aliás retirou muito da ética e da moral do ambiente político. De outra feita, em meu entender, resulta de precárias e vergonhosas intervenções políticas efetuadas pelo governo central, durante os últimos 12 anos, com destaque para os quatro mais recentes (2010-2014).

Portanto, trata-se de uma alteração. Um manejo dramático do ambiente político do país, que acarretou fenômenos surpreendentes. Tal como se fora a descarga contínua de lodos políticos in natura na cabeça da sociedade civil brasileira, a degradar seu intelecto.

Em analogia aos exemplos relativos às aves, da queda do jato decorreram a atração de políticos predadores e intensas variações de sua cadeia trófica. A fome pelo poder é de tal ordem que o predador que emergiu da sombra não tem limites em seus discursos e sequer coerência com seu recente passado. Vislumbro uma pessoa agressiva, arrogante, inepta e inconsequente em suas “promessas palanqueiras”. E o mais grave, no palanque transfigura-se em vítima, e mesmo com ar de seriedade, a atora quase implora para que todos acreditem ser a única capaz de dirigir o país. É um ato enganoso, hediondo.

É este o quadro patético de sua representação teatral, pois, caso eleita, receberá o país em lastimável estado de recessão; como “nunca antes na história…”, já dizia o irresponsável. Não saberá o que fazer e continuará a discursar engôdos, sem qualquer resultado efetivo para a população e o Estado brasileiro.

Parece-me que o povo brasileiro ainda não se apercebeu que seus partidos políticos foram extintos no século XXI. Faz tempo que perderam sua utilidade imprescindível. Esse povo precisa votar em pessoas preparadas e não em partidos. Mas, acima de tudo, que sejam brasileiros com notória experiência em governança pública e realmente possam tirar o país da vala suja em que se viu atolado nos últimos 4 anos.

Todavia, quando tomei conhecimento das últimas pesquisas de votos fiquei assombrado, a ver fantasmas. Votar em qualquer uma das candidatas que lideram a pesquisa, a meu ver será loucura. Uma delas quer reeleger-se para fazer mais do que sempre fez: tudo errado. A outra nunca realizou algo de produtivo para o país, nem governou qualquer coisa. Votar em uma delas é equivalente a jogar roleta russa e apertar o gatilho do revólver até estourar os próprios miolos.

─ “Do you know how to play russian roulette?”

─ “No, I don’t

Pois este é o maior problema: votar com total ignorância da realidade, por impulso, por um átimo de emoção que desaparecerá no verão de 2015. Depois restará apenas o próprio sentimento de culpa, de ter auxiliado a eleger um enigma da irresponsabilidade pública. Realmente, é o fenômeno da burrice que se manifesta com intenso ardor…

Horário eleitoral gratuito


Recebemos um texto para campanha política de um candidato às eleições de 2014. Ele pede que o publiquemos no blog, função do tal do “horário do político gratuito” ou qualquer coisa que o valha. Seu advogado disse-nos, por sinal de forma um tanto grosseira, que essas publicações são obrigatórias e precisam ser gratuitas. Afirmou ainda que todos os veículos de comunicação do país têm a obrigação de divulgá-las, querendo ou não, pois consta da lei.

Após algumas discussões internas de nossa equipe, decidimos postar a “marquetagem” para nos livrarmos de eventuais vendetas. Nunca se sabe quais podem ser as consequências das ações desses prodígios. Mas, mesmo assim, ainda insistimos em pensamento:

─ “Trata-se de uma coisa muito estranha, uma propaganda política refogada com lixo”.

De toda forma, conforme determina a lei, segue o ‘comício eleitoral’ do político Geisonilsuam da Silva, o Fiofó.

……….

Comício público de Geisonilsuam ‘Fiofó’ da Silva

─ Atenção meu povo, vamos à luta para vencer! Para presidente, vote 00, vote no Fiofó!

─ Tudo o que Fiofó promete, Fiofó faz com exatidão. Afinal, se Fiofó dá tudo por você, então não perca seu Fiofó de graça.

─ Para presidente, crave seu voto no Fiofó! Faça negócios e ganhe muito dinheiro com Fiofó. Realize “relações eleitorais” com o seu Fiofó!

─ Mas saiba de um fato que nos multiplica: nosso Fiofó será todo seu, assim como o seu Fiofó será todo nosso. Vamos, juntos, compartilhar o Fiofó!

─ Meu povo, nestas eleições para presidente, vote em Fiofó! Crave 00 no Fiofó!

O analfabeto político do século 21 - Fiofó da Silva

O analfabeto político do século 21 – Fiofó da Silva

A urna eletrônica brasileira deve auxiliar bastante a eleição de milhares de Fiofós. Vota-se no Tonico Trombeta e um Fiofó, devidamente programado, recebe o voto! Na qualidade de eleitores, temos de nos sujeitar a isso. Não existe escapatória, sobretudo da maneira como essa vergonha está legalizada pelo voto obrigatório. Desculpem, mas desse jeito, obrigatório, trata-se de uma violação grave, não de uma “cantada”.

São milhares, talvez milhões de Fiofós, zanzando pelas ruas e escritórios do país, sobretudo durante as milionárias campanhas políticas que realizam. Nunca se sabe o que pensam, o que planejam, de onde vieram e em que lugar desejam se aboletar no futuro próximo.

Não há qualquer dúvida que querem ser políticos, mas, com certeza, não é pelo salário mais as benesses que percebem. Até porquê, tudo indica que gastam muito mais do que ganham para fazer muito pouco ou fazer nada.

Há quem diga que o Fiofó acima transcrito ficou milionário com “restos de campanha”. Haja restos. É como ser um minguado faquir desde a origem e, num dia, com restos de comida colhidos nas lixeiras, engordar rápido para, logo em seguida, sagrar-se campeão mundial de sumô. Há algo inexplicável nessa trama.

Quem assiste aos programas políticos, televisionados duas vezes por dia, ou procura ocupar o tempo com comicidades ou está prestes a enlouquecer. Confessamos que, por curiosidade de ver se o nível havia melhorado, assistimos ao primeiro programa desse ano. Claro que nem todos os Fiofós estavam presentes, pois não há tempo disponível para tantos. Mas o que vimos e ouvimos foi dantesco. A menos de um único candidato, para todos os cargos eletivos destas eleições só compareceram Fiofós!

Assim, considerando o cenário trágico em que fomos enrolados nestes últimos anos, ficamos a pensar como ficará o país com a nova geração de Fiofó que vai invadir aos coices o Congresso Nacional e as Câmaras estaduais.

E mais lamentável ainda, quais são os riscos que a sociedade brasileira correrá se o Palácio do Planalto for dominado por mais um Fiofó, a comandar sua tropa de “ditadores democráticos”.

Estórias de Helena Demente


Simão-pescador, correspondente na Europa.

Simão-Pescador

Simão-Pescador

Movido por forte disposição, resolvi fazer uma limpeza geral da biblioteca. Já tenho hoje mais de 4 mil livros, entre brochuras e capas duras. Adquiro-os sempre e também recebo muitos de presente. Meus amigos sabem que gosto de ler.

Porém, a maresia é implacável com tudo, inclusive com papel impresso. Pressinto que vou passar pelo menos uma semana sem seguir ao mar, encapando obras literárias já um pouco sofridas.

Contudo, tenho a favor o facto de que Quincas, meu “neto postiço”, está aqui para me ajudar. Mas, como todos podem ver, estou a atrapalhar as coisas: limpo minha biblioteca, reencapo alguns livros e quero escrever ao mesmo tempo.

Meus livros, os tesouros da biblioteca

Livros, o tesouro de minha biblioteca

O motivo dessa confusão é que reencontrei uma obra valiosa, editada em meados do século XIX, que traz histórias muito boas. Incrível, mas parece que estou a ler panoramas do Brasil atual e suas “Estórias da Demente” (título da obra). Vou tentar resumir uma, sempre à procura de não ferir a identidade dos originais, escritos por “Paranoia Eustasia Peixoto”. O nome é este mesmo, acreditem, foi um escritor renomado na freguesia onde morava.

Demente é o sobrenome de uma certa Helena, a qual presumo seja uma personagem terrorista criada por Paranoia. O estranho é que pais honrados hajam mantido esse nome de família: Demente. Mas existem casos inomináveis, como o do Conde Estrôncio Cu-Bunda. Diz a estória que num dia, revoltado, o Conde seguiu ao cartório para trocar seu nome. Então, o solícito tabelião perguntou-lhe para qual nome desejava mudar. E ele, sacudido, respondeu de chofre:

─ “Ora pois,, Euzébio Cu-Bunda!”

Resumo da Helena Demente

Na infância, a terrorista era tratada por “Lena”, apelido de família. Por ser uma criança agressiva, gritava com quem a chamavam de “Leninha”: ─ “Já disse que meu nome é Helena, porra!”. Não aceitava carinhos ou adulações; usava palavras de baixo calão, como lhe ensinara seu pai. Era irascível, além de idiota congênita.

Com o passar do tempo, já ao fim da adolescência, tornou-se uma espécie de “dicionário de palavrões”. Muitos continuavam a provoca-la com “Leninha” e ela os respondia cada vez com maiores grosserias. Não vou contar as expressões chulas que usava, mas posso afirmar que eram, digamos, criativas para uma representante da família Demente

Lena” decidiu fazer escola superior e optou pela Economia. Contudo, começara em Portugal a Guerra Miguelista e ela resolveu participar ao lado dos absolutistas, a lutar contra os liberais constitucionalistas. Segundo narra Paranoia Peixoto, Helena Demente sempre sonhara em ser uma Soberana, ter poder, fazer e desfazer seguindo seu violento instinto. Veio daí sua opção de se misturar na guerra e, se visse uma oportunidade, “descolar” algum dinheiro por fora.

Quando D. Miguel I foi aclamado rei de Portugal, em 1828, Helena já estava a seu lado, como cortesã, junto com o Partido Absolutista, a Corte, a Igreja e os latifundiários. Não fora amante do rei, embora quisesse ser nomeada para um cargo vitalício que lhe conferisse alto poder. Ao fim, conseguiu obter uma função mesquinha, a ganhar ninharias, bem condizente com a capacidade mental da família Demente.

Porém, D. Pedro I retornou a Portugal em 1831, disposto a tomar o trono de seu irmão mais novo, pois era seu de direito. Leninha percebeu que ia dar merda e logo “bandeou-se” para o lado dos liberais. Por sinal, embora não haja lutado em nenhuma das batalhas, estava presente na Praia do Ladrões – por coincidência, esse era o nome local – quando, após diversas batalhas, as forças liberais de Pedro I reassumiram definitivamente o Império, em maio de 1834. Sem mais combates ou resistência dos absolutistas. Leninha virara liberal na hora certa, graças à falta de postura política e à fome insaciável por dinheiro público.

A importante batalha do Cabo de São Vicente, em 1833

A importante batalha do Cabo de São Vicente, em 1833

Alguns factos escritos por Paranoia Peixoto não estão nos livros da História Portuguesa. Por exemplo, para dificultar ao máximo a descoberta de sua infiltração nas forças liberais, Helena Demente conseguiu falsificar várias certidões de identidade. Seu objetivo era atuar junto aos absolutistas, mas agora para praticar atos de terrorismo contra eles.

Em cada ato que realizava, usava nomes falsos (Estela, Patrícia e Wanda) para não ser vista como traidora. Efetuava assalto a bancos, sequestro de emissários de outros impérios, de oficiais absolutistas e até mesmo praticava assassinatos. Pensava ela que, assim, estaria a favorecer os planos de Pedro I para retomar o Império. Pois é, pensava ela…

Todavia, a estúpida não raciocinava, veja bem. Primeiro, não tinha como provar o que fizera, sequer possuía um daguerreotipo para registrar seus atos. Segundo, acreditava estar a auxiliar às forças liberais, mas nenhum de seus líderes militares conferira-lhe qualquer “missão secreta”. Terceiro, nenhum liberal constitucionalista a conhecera, nem sequer ouvira falar de seus nomes.

Após o Império Português retornar às mãos do herdeiro real, Estela, Patrícia e Wanda, encarnadas em Helena Demente, foram presas de supetão por uma milícia absolutista que ainda restava. Leninha deve ter sofrido um pouco nas mãos dos milicianos, mas nada que lhe fosse insuportável.

O texto do Prof. Paranoia prossegue a contar que a jovem Demente conseguiu fugir para a Espanha em fins de 1834, quando aquele império sofria as Guerras Carlistas. A princípio, Leninha sentiu-se em casa, pois o Império Espanhol estava nas mãos do Infante Carlos de Bourbon, que se autoproclamara Carlos V, Rei de Espanha. Mas, sobretudo, por que contava com apoio do general Santos Ladrón. Esse era seu verdadeiro nome, Ladrón

Leninha ficou muito solidária com os absolutistas espanhóis, pois logo sentiu cheiro de golpe de Estado, mesmo sem saber que Carlos não possuía direito ao trono, mas que somente teve o “general Ladrón” que lhe dera total apoio.

Em suma, este livro de Paranoia Eustasia Peixoto é raro em seu gênero, por demonstrar, segundo sua ótica, como se encontrava desgovernada a península ibérica no século XIX. Ou, de outra forma, tão ibericamente desgovernada que podia ser usada por Helena Demente. Devo dizer, já me ofereceram fortunas por ele, mas recusei a todas. Vou deixá-lo em testamento para a Biblioteca da Universidade de Coimbra.

Agora preciso retornar a meus afazeres de limpeza. Quincas me chama. Mas, antes de finalizar, afirmo que qualquer similitude desta crônica com casos reais ocorridos em nossas “santas terrinhas” será safada coincidência.

O ocaso do apedeuta


Zik-Sênior, o Ermitão.

Zik Sênior, o eremita

Zik Sênior

Confesso que durante o ano de 2003 fazia menos esforços para aceitar que meus ouvidos escapassem quase incólumes das falações de Luiz Inácio. Tudo bem, eu tinha 11 anos a menos do que tenho (105), era mais saudável e estava curioso para conferir sua extrema ignorância. Assim, optei por levar suas falas para o lado cômico e perder-me em risadas. Não havia outro remédio, afinal.

Mas o “sábio” começou a ficar temerário já no meio daquele ano. Ao receber uma delegação de pessoas com necessidades especiais, ao invés de se aproximar para os cumprimentos, Inácio olhava-a através de uma câmera de TV. De chofre, para espanto da imprensa, largou essa:

─ “Estou vendo daqui companheiros portadores de deficiência física’. Estou vendo Arnaldo Godoy sentado, tentando me olhar, mas ele não pode porque é cego. Estou aqui à tua esquerda, viu, Arnaldo? Isso! … Agora você está olhando para mim”.

Notei que sua fala era primária, precária, primeva. Dominava com dificuldade um reduzido vocabulário, com sintaxe próxima de zero e dicção péssima. Suas frases ou começavam pelo verbo ‘estar’ na primeira pessoa ou tinham nele próprio sua única finalidade. Mas, afinal, fora eleito presidente da República, mesmo com voz de sapo-boi esganado a atropelar o vernáculo português.

Em dezembro do mesmo ano, num encontro com atletas paraolímpicos ele repetiu a dose: ─ “Estou com uma dor no pé, mas não posso nem mancar, pra imprensa não dizer que estou mancando porque estou num encontro com companheiros portadores de deficiência”.

A partir de então, ‘pessoas com necessidades especiais’ passaram a ser chamadas pelo ‘sábio’ por ‘companheiros portadores de deficiência’. Então, ficou assim combinado: se mancar ao lado dele será tachado de “companheiro deficiente”.

Ao longo de sua estada no cargo todos os segmentos da sociedade passaram a ser formados por companheiros: companheiro político, companheiro bispo, companheiro corrupto e foi ouvido até Companheiro Papa. Companheiro é o cacete, Inácio!

Em 2004, na comemoração do Dia Internacional da Mulher, Inácio soltou uma pérola: ─ “Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta”. Fiquei surpreso com sua notável descoberta científica; além da brutal coincidência entre os resultados do nascimento de sua genitora com os do resto da Humanidade. Alguém já conheceu um “PhD nascituro”? Pois é, mas na cabeça do ‘sábio’ eles existem.

Pensei com meus botões, “perfeito, sua mãe nasceu analfabeta e você, além disso, cresceu inepto e apedeuta; assim manteve a honra de sua estirpe”. Mas não tirei qualquer conclusão antecipada sobre o ‘sábio’. Apenas passei a observá-lo com mais acuro, queria perceber quais poderiam ser suas intenções.

Foi então que verifiquei que, mesmo após eleito, Luiz Inácio permaneceu pelos palanques do país, a fazer discursos despropositados, cheios de jargões, metáforas futebolísticas, com linguagem vulgar e promessas inexequíveis. Mas isso funcionava bem para aquele segmento humilde do povo. Inácio recebia muitas ovações em troca, achava-se um felizardo.

Na verdade – mal sabia eu –, ele estava a treinar discursos para outros palanques do mundo. Preparava o grande ciclo de viagens internacionais, “o maior da história desse país”, onde visitaria vários países africanos e asiáticos à procura de espaço para “vender novos projetos”.

O apedeuta entrou em seu jato reluzente – adquirido em 2004, ao custo camarada de 56,7 milhões de dólares – e partiu para a faina. Oferecia aos soberanos locais “queijos coloridos em pacotes fechados”: projeto, obra, mais financiamento de banco público e a empreiteira brasileira que executaria a obra. Por algum motivo ou “estímulo“, vários soberanos aceitaram as ofertas milionárias. Acho muito provável que alguém haja ganho uma espécie de comissão” nessas vendas, pois trata-se de sabida norma sagrada de certas construtoras.

Mas, chegando à África, o ‘sábio’ cometeu barbaridades diplomáticas. Após desembarcar na capital da Namíbia, junto com sua camarilha, por conta própria disse, sob a forma de agrado, que os africanos são sujos e desorganizados:

─ “Quem chega em Windhoek não parece que está em um país africano. Poucas cidades do mundo são tão limpas (…)”.

Em outra visita, ao sudoeste da Ásia, as “gafes do Inácio” continuaram, agora com o ditador da Síria:

─ “Um brinde à felicidade do presidente Al Assad!”, ignorando que, por orientação religiosa, muçulmanos não consomem bebidas alcoólicas. Importante lembrar que, no caso de Bashar Al Assad, apesar de não beber, tudo leva a crer que ele tem “permissão para ser genocida”.

A presunção de Luiz Inácio estava a se tornar incontrolável. Parecia um narciso aloprado, a render homenagens à própria imagem refletida nos espelhos da ignorância. Mas, em 2004, ocorreu uma situação que me impressionou, deveras. Devia estar descendo de uma benção de seu pajé de Cuba e resolveu passear pela Costa Rica. Em conversa com o presidente desta nação, gabou-se e demonstrou, com superior naturalidade, seus interesses autoritários mais pejorativos.

─ “Fui agora ao Gabão aprender como é que um presidente consegue ficar 37 anos no poder (…)”.

Também em 2004, creio que no palácio do Planalto, para mostrar a líderes de um partido “mensalizado” por sua facção, disse abertamente que era “o todo poderoso”:

─ “Um dia acordei invocado e liguei pro Bush”.

Formidável, não acham? O ‘sábio’ a mentir para parlamentares pagos com iscas para ouvi-lo. Estava inebriado com o que julgava ser seu “poder maior”.

Dedução minha. Num dia, com mal humor por ter levantado da cama macia, iniciou uma conversa íntima com seu clone norte-americano em boçalidade. Formaram uma “irmandade apedeuta a dois”, com consequências simplesmente desastrosas, tanto para o Brasil, quanto para o resto do mundo. Pagamos por elas até hoje.

Mas as práticas políticas começaram a desandar, como “massa de nhoque aguada”. Em abril de 2005, o ‘sábio’ declarou em uma entrevista coletiva que “Eu e Palocci somos unha e carne, tenho total confiança nele”. O que foi curioso aconteceu em agosto do mesmo ano, quando declarou acerca do escândalo do mensalão que então viera a público: “Quero dizer com toda franqueza: me sinto traído por práticas inaceitáveis das quais nunca tive conhecimento”.

Vejam bem, “com toda franqueza” é uma verdadeira patranha! Convenhamos, o antro da quadrilha ocupava salas próximas à sua. Os quadrilheiros eram companheiros íntimos do ‘sábio’, havia décadas. Como ele não saberia de nada? Como seria possível?!

Um parêntesis. Passei parte de minha juventude na Paraíba, morando no povoado de Sumé. Lá tive um amigo mais velho, chamado Jônatas. Lembro-me que ele era muito grande e forte. De cima de sua moral do agreste, quando se sentia provocado no limite, berrava na cara de quem tentava enganá-lo:

─ “Oh, seu filho de cinco puta! Some daqui sinão te rebento!”. Era um amigo cheio de piedade para dar…

Óbvio que Jônatas não fazia a menor ideia do que significava a “teoria do domínio do fato”. Eu mesmo só vim saber mais ou menos após o julgamento da quadrilha íntima do apedeuta. Mas, com certeza, se ele fosse um juiz da Alta Corte, iria xingar a todos de “filhos de cinco puta”, enquanto os espancava “sem dó de bater”.

Retorno. Em minha opinião, o noticiário mundial sobre o caso do mensalão foi fatal para as meninges de Luiz Inácio. Desde então, seus miolos e sistema nervoso nunca mais foram os mesmos. “O apedeuta foi obrigado a sair do ataque para jogar retrancado na defesa”, para traduzir o que ocorreu na linguagem do apedeuta.

Seus “companheiros secretários” e alguns “companheiros quadrilheiros” tiveram que pensar num plano capaz de silenciá-lo. Em uma reunião ficou decidido que ele viajaria muito mais pelo mundo e que, para estimula-lo, poderia levar consigo ‘a moça’, sua Secretária no escritório da presidência de São Paulo. Quase deu certo.

Houve ano que passou quase 90% dos dias úteis fora do Brasil. Apenas o restante do tempo manteve a bunda cravada na poltrona do Planalto. Mas, mesmo assim, Inácio dava entrevistas no exterior para a imprensa, vangloriava-se e, acometido pela sanha do poder, continuava a “fazer negócios” e falar coisas desconexas.

Quando retornava de cada viagem, estava transtornado e não dizia coisa com coisa. Certa vez, em 2009, quando inaugurava obras na orla marítima de Maceió, talvez tentando agradar aos operários, vomitou no chão esta frase:

─ “Não tem coisa mais fácil do que cuidar de pobre no Brasil. Com R$ 10, o pobre se contenta”.

Luiz Inácio, o apedeuta já então milionário, traduziu com essas palavras a postura sórdida e manipuladora de sua política de caça: cada “cabeça de pobre” valia para ele dez reais e nada mais.

Em minha opinião, a essa altura do mandato, o ‘sábio’ já se encontrava em franco processo de decadência moral. Era o “ocaso do apedeuta” que estava a acontecer, em nível já avançado. Tanto é que, mesmo com a maioria absoluta no Congresso, amestrada por iscas fiscais, preferiu não tentar um terceiro mandato e “parir um poste” para sucede-lo.

Achei uma opção de alto risco. Pensei ser improvável que o povo que o elegera duas vezes, sem receber educação pública básica durante 8 anos, continuaria calado e cativo, a R$ 10,00 por cabeça. Em outras palavras, permaneceria submisso às esmolas públicas que recebia (e recebe até hoje).

Pois, errei! Inconformado, queimei o título de eleitor. O oráculo da patranha conseguira eleger seu poste de estimação, apesar da própria decadência. Seu linguajar retornara ao da origem, de volta a seu ânimo congênito, ora debochado, ora boçal.

Durante os anos de “mandato do poste”, pude observar sua fala, sempre a estimular o “ódio e a vingança entre as classes”, bem como a defender os indefensáveis efeitos das minas explosivas que plantara pelos caminhos da nação: uma série de financiamentos em vários países – com destaque para o porto de Mariel, em Cuba; os desvios criminosos de dinheiro que reduziram o valor do Aparelho Petrobrás pela metade; a riqueza descabida de seu “filhote-pupilo” (o gênio invisível); e o carnaval das obras superfaturadas para a Copa da Fifa, são fatos noticiados maciçamente pela imprensa nacional e mundial.

Ficou, digamos assim, a “impressão” de corrupção generalizada durante 12 anos do mesmo partido no “poder público”, a degradar instituições e princípios vitais à civilização humana.

Sim, já ia me esquecendo de comentar sobre seu “poste de estimação”. Mas vou falar o quê? Não há mais nada a acrescentar, tudo já foi dito e provado. Deste ‘poste‘ não saem fios e cabos, está bambo no ar. Ao contrário, são certos fios e cabos que movem o ‘poste’ para onde bem quiserem. Ele é um títere manipulado que sofre frenesis, histerias, eletrocuta e escoiceia a todos. À exceção, é claro, de seu oráculo criador, ainda que à beira do colapso final. Essa é minha expectativa otimista para a nação brasileira.

Vaias para a Fifa e etc.


Verifica-se a ocorrência de distúrbios e conflitos de valores há muito consagrados no mundo. Isso é fato no Ocidente e no Oriente. Se tal fato é bom ou ruim, não se tem ideia. Porém, é muito provável que a resultante das forças divergentes de antagonismos ideológicos seja capaz de mostrar suas garras. Deve-se esperar um pouco para ver os primeiros acontecimentos da história a porvir.

O ser humano gastou pelo menos 2 milhões de anos para construir um tipo de cultura universal que permitisse, pelo menos, a coexistência instável entre povos de distintas origens. Não foi um trabalho de indivíduos. Foi obra insana e incansável de muitas gerações que, embora incompleta, plena de ensaios e erros, fez com que os humanos conseguissem ser hipócritas quase leais nas suas relações. Vê-se isso entre vizinhos do mesmo prédio, nas ruas, cidades e em Estados nacionais.

Dentre uma infinidade de “doces expressões”, dá-se o nome as essas relações instáveis de saudável convivência ou apenas de“boas maneiras”. Pura mentira hipócrita.

No cenário atual da nação brasileira o quadro é ainda mais grave. As “boas maneiras” foram estraçalhadas e jogadas em lixeiras. Para explicar esse perigoso processo, requer que se identifique os fatos principais que o causam:

  • Ano de eleições presidenciais, com o mesmo partido impondo-se a qualquer custo para continuar por mais quatro anos no poder. É seu desejo permanecer devorando as riquezas do Estado.
  • Economia brasileira em avançado estágio de dissolução: indústria a desfalecer, redução na oferta de empregos, dívida pública próxima de R$ 2,5 trilhões, inflação acorrentada no topo da meta, contabilidade criativa, PIB muito fraco.
  • O dispendioso circo armado pelo governo, por força da Copa da Fifa, isenta pelo governo federal de pagar qualquer tributo.
  • A infinidade de obras superfaturadas, inacabadas, levando a crer em corrupção intensa, com elevada frequência.
  • As torpes declarações de vários membros do partido, sempre em defesa de sua incompetente candidata, a fazer agressões ao povo brasileiro.

Como dito acima – ”a ocorrência de distúrbios e conflitos de valores há muito consagrados no mundo” –, esses fatos simultâneos são a completa inversão de valores humanos seculares. Sendo assim, o que esperar como resposta de um povo enganado, frustrado e atormentado? No mínimo vaias dirigidas à soberana e suas facções.

Em outras nações, com cultura não universal, fatos similares desencadearam guerras civis, golpes de Estado e até mesmo a execução sumária dos estelionatários políticos. Cuba é um caso a ser lembrado, ainda que tenha trocado apenas suas moscas.

Mas por falar em Copa, Fifa, Vaias e Cuba, comemorando os 70 anos de Chico Buarque e seu carinho pela ditadura cubana, em 1977 ele compôs uma música inaudita, com refrão especial para o momento. As vaias nos estádios para a Fifa e outros poderiam ser melhores do que “Joga bosta na Geni !!!”, com berros uníssonos?

Zepelim prateado

Zepelim prateado

Para quem não se recorda da letra e música, basta clicar em “Geni e o Zepelim”. Mas nunca se esqueça da frase do inesquecível Nelson Rodrigues: “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio e, se quiserem acreditar, vaia-se até mulher nua”.

Horário político-eleitoral


Ricardo Kohn, Escritor.

Partidos sem um mínimo de conteúdo, apresentam inúmeros políticos “desconteudados”, a fazer promessas aberrantes. Essa é a prática adotada no Brasil desde que dois “horários nobres” diários, do sistema brasileiro de comunicação (rádio e tv aberta), foram “tomados pelo parlamento“, para obrigar a população a assistir ao “digno horário eleitoral[1]. Contudo, aqueles que podem pagar caro por transmissões via canal a cabo, estão livres dessa tortura diária.

No Brasil o tempo de tv é dividido entre os partidos através de numerosas burocracias, com regras estranhas e até draconianas. Dessa maneira pouco democrática, os políticos da situação sempre têm mais tempo para prometer suas patranhas, já conhecidas de longa data por todos.

O povo e o horário político gratuito

O povo e o horário político gratuito

Mas outros países têm modelo similar ao brasileiro. Por exemplo, África do Sul e Namíbia. No entanto, Dinamarca, França e Grã-Bretanha, embora também possuam “horário eleitoral”, o tempo de tv é igualmente dividido entre todos os “presidenciáveis”.

Acrescente-se um detalhe próprio do modelo dinamarquês. Somente falam na tv os partidos que tiveram destaque na eleição anterior. Esse destaque é dado por um número mínimo de votos. Abaixo dele, o partido fica calado, silenciado, e sequer aparece no horário gratuito. Trata-se de um quadro de tortura política moderada para os espectadores.

Salienta-se que nos Estados Unidos sequer existe horário eleitoral, muito menos gratuito. Quem quiser palanquear na tv, haverá de pagar o preço da publicidade, sempre estipulado pelo dono do canal. Os presidenciáveis precisam falar objetivamente para não terem seus próprios bolsos torturados.

Debates televisionados

A televisão a cores tornou-se comercial em 1954, nos EUA. Por isso, é provável que o primeiro debate televisionado entre presidenciáveis haja acontecido em 1960, entre John Fitzgerald Kennedy e Richard Nixon.

No Brasil o primeiro debate ao vivo quase aconteceu também em 1960. A extinta TV Tupi, tentou promover um debate entre Jânio Quadros, Adhemar de Barros e Henrique Teixeira Lott.  Mas Jânio fugiu para fazer um comício em Recife, na mesma data.

Assim, o primeiro debate televisionado brasileiro somente ocorreu em 1974, no Rio Grande do Sul, transmitido pela então TV Gaúcha. Os debatedores foram dois candidatos ao Senado: o jurista Paulo Brossard e o político Nestor Jost, ligado ao agronegócio.

Agora, em 2014, a expectativa do povo brasileiro é grande para ver Dilma, Aécio e Campos travando fortes contendas. Roga-se que sejam capazes de apresentar programas públicos reais e factíveis, dentro de prazos pré-fixados, sem preços sobrefaturados, capazes de atender às tão sonhadas mudanças que a sociedade brasileira, por fim, exigirá do vencedor. Deve-se salientar que o programa de máxima prioridade é colocar o Brasil de pé, novamente.

Porém, uma coisa é certa. Dilma e seu aparelho já tiveram mais de uma década – longos três mandatos sucessivos – para melhorar o país ou, pelo menos, deixa-lo decente e confiável para os jogos enriquecedores do comércio internacional. E o que fez a “mardita” até agora?

……….

[1] A lei que criou essa façanha data de 15 de julho de 1965. Está na hora de extingui-la. É retrógrada, reacionária e canibaliza a mente dos milhões de brasileiros menos informados.

Estou assustado, você não?


Por Zik-Sênior, o eremita.

Cá estou eu trancado na caverna, de volta à origem. Claro que por iniciativa própria, ninguém me trancou aqui. Não, não tem nada a ver com útero materno, porra!

Eu é que, após viver 105 anos com relativa lucidez, vi-me obrigado a trancafiar-me com pavor da gestão do país. Preciso proteger meu couro e os poucos pertences que me restaram.

Não quero mais ver jornais. Já li todos os periódicos do mundo. Foram úteis no passado. Na pobreza, inclusive, dormi com Amália debaixo deles. Mas na riqueza, pouco me importei com seus recados. Com franqueza, hoje de nada me servem!

Tudo o que amedronta é simples questão de ponto de vista. Se você é “sócio da ameaça”, a usufruir de suas sujas benesses, ou se está fora dela, sofrendo com as ignomínias cometidas. Dado que lutei por mais de um século e consegui vencer – afinal, não fui engolido –, por quê agora deveria agir diferente?

O problema não é da economia, mas da ideologia política imposta aos cidadãos brasileiros. Economia é até simples de ser gerida: ─ “Se o dono da quitanda gasta mais do que recebe, a quitanda fecha”. Isso é verdade em qualquer organização ou país.

O Estado interventor faz a miséria do país, que é uma quitanda governada por 39 ministérios. Em sua maioria, ministros incompetentes nos temas de suas pastas. Outros, além de leigos, são apólogos da impossível “igualdade social”. Odeiam profundamente o que chamam de “classe média” e “elite dominante”. Gostam muito de manipular o que denominam “lumpemproletariado“, ou seja, os que levam vida miserável.

Dito isto, gostaria que me respondessem a poucas perguntas:

─ “Quando no Brasil os bancos privados obtiveram lucros iguais aos que têm hoje”?
 ─ “Por que a indústria brasileira está incapacitada de atender à demanda interna de produtos manufaturados”? ─ “Por que existem associações de políticos com facções criminosas, doleiros e lobistas”?

Quando olho os resultados dessas infâmias, vejo os escândalos da Petrobras, da Eletrobras, bem como os programas eternamente inacabados e superfaturados – “Transposição do São Francisco”, “Ferrovia Transnordestina”, “Refinaria Abreu e Lima”, “Minha Casa, Minha Vida”, sem falar no fantasmagórico Trem-Bala, que sequer saiu do papel, tal como a Refinaria de Bacabeira, no Maranhão, que torrou R$ 1,5 bilhão para nada. Sumiu na poeira, nem um tijolo inaugural foi plantado.

Por outro lado, vamos em frente: Saúde zero, Educação zero, Segurança zero, aeroportos, portos e rodovias iguais a zero! Em alta apenas a inflação decorrente e uma dúzia de Arenas para a Copa!

Mas também vejo, às vésperas das eleições presidenciais, farta distribuição de máquinas e equipamentos para municípios, as deslavadas mentiras de palanque e, sobretudo, as vaias que a candidata da situação recebe quando “comete discursos de promessas” em espaços públicos. Pela primeira vez assisti, pasmem, vídeos não manipulados, onde prédios, condomínios e até cidades vaiavam-na. Quero ver o que acontecerá na Copa. Acho que a senhora vai fazer comprinhas em Portugal

O cenário brasileiro, no percurso dos últimos doze anos, é de assustar a qualquer um. Muito assustado, você não?

Pasadena versus Abreu e Lima


O poente da petroleira

Cada barril da nova capacidade de refino da Refinaria do Nordeste custará cerca de US$ 87 mil à Petrobras, sete vezes mais do que em Pasadena“, diz o jornalista Jeb Blount, em artigo sobre o caso. Para ler o artigo, publicado em 11/04/2014 pela Reuters Brasil, clique aqui.

Refinaria de Pasadena

Duas coisas, dentre milhares de outras, assustam a sociedade brasileira neste 2014. No mínimo amedrontam sua parcela de cidadãos mais educados e informados. A primeira é a “demolição sumária da maior empresa brasileira”, executada por um partido político com auxílio das forças do Eixo que lhe dão suporte[1].

A segunda, a atitude descarada da quadrilha de oligarcas, fazendo uma “CPI entre amigos” no Senado, enquanto impedem o início da legítima CPMI, com Câmara e Senado presentes, que é direito constitucional irrevogável da oposição.

Mas a corja está atuando além do limite que lhe foi permitido. Começou a injetar temas discrepantes das finalidades previstas para a comissão parlamentar de inquérito. E, afinal de contas, CPI não é lista de compras na feira!

Num ato de completo desrespeito à determinação da mais Alta Corte do país, que lavrou uma CPMI específica a temas vinculados somente à Petrobras – decisões escabrosas, prevaricação, recebimento de propinas, lavagem de dinheiro, etc. –, passou a fingir que investiga o Porto de SUAPE, que opera há décadas em Pernambuco (desde 1983).

Se a ideia dos corrupmentares é buscar estórias do passado para passar o tempo, sugere-se que investiguem a fundo a criação do cubismo por Pablo Picasso, que ocorreu por volta de 1910. É provável que venham a descobrir seus escândalos, para depois se lambuzarem e babarem sobre o Picasso.

De toda forma, a CPMI da Petrobras será instalada, nem que se tenha de aguardar a Copa e mais o mês para “descanso dos patifes do parlamento”. Assim sendo, prevê-se para agosto o início de uma investigação mais profunda dos graves desvios cometidos por agentes secretos do partido e forças do Eixo.

O que deverá ficar claro à nação brasileira, após concluída a CPMI da Petrobrás, é o fato que salienta Jeb Blount em seu artigo: os custos da “burricede Pasadena devem ser muito inferiores aos da corrupção de Abreu e Lima.

……….

[1] Este é o fundamento do dito “presidencialismo de coalizão”ou, escrito na forma expandida, presidencialismo oligárquico, mensaleiro, mensalista, corrupto e fascista.

Meditações liberais


Após pouco mais de dois anos de existência, nosso blog tem 680 artigos publicados, incluindo este. Estimando a média de duas páginas por artigo, redigiu-se um livro sobre Opinião política e Sustentabilidade de 1.360 páginas.

Não é pouco. Sobretudo num país como o nosso, repleto de analfabetos oficiais e uma horda de imitadores particulares. Portanto, é hora de meditar, especular sobre passado, presente e futuro, mas sem necessidade de ter certezas.

Acerca das turbulências sociais nas ruas de várias cidades brasileiras, que se tornaram mais intensas a partir de 2013, indaga-se: ─ “A quem interessa as manifestações mais violentas?

Em junho de 2013, milhões de brasileiros descontentes foram para as ruas denunciar diversas decadências nacionais. De início, poucos foram casos de conflito com forças de segurança. Porém, logo começou uma espécie de infiltração de elementos estranhos. Isso ocorria ao fim dos manifestos da sociedade civilizada (ou quase).

Apareceu uma entidade que se autodenominava “Mídia Ninja”, a dar publicidade em tempo real da violência conflagrada ao final de todos os manifestos. O povo presente foi-se retraindo e desapareceu em julho, após uma passeata das centrais sindicais, realizada em São Paulo.

Foi uma manifestação patética em vários sentidos: poucos participantes, mas quintuplicados na internet por comandos virtuais de “cópia e cola”; tinham a aparência de “soldadinhos de chumbo” mal remunerados; e permitiram a adesão de pequenos grupos do MST e do MTST. O resultado foi o gradativo silêncio que se instalou na sociedade. A quem interessava esse silêncio?

Agora, neste mês de maio, retornam as manifestações classistas em diversos estados, com greve e passeata de professores, greve de policiais militares, greve de motoristas de ônibus, e até a Polícia Federal fazendo greve nos aeroportos[1].

Simultaneamente, ocorreram protestos do MTST e MST, sempre mais ostensivos com queima de pneus, badernas, bandeiras vermelhas e palavras de ordem.

Novamente surgem os vândalos infiltrados em passeatas de grevistas, a destruir o patrimônio e criar violentos confrontos com forças da segurança pública. Isto ocorreu ontem, ao fim da passeata dos professores municipais paulistas, em greve por melhores salários.

Pode-se especular sobre o confuso contexto atual, que envolve passeatas contra esquemas do governo, movimentos classistas, protestos mais localizados e ação de delinquentes a destruir o patrimônio, sobretudo o privado – queima de ônibus, destruição de agências de bancos privados, quebra de vidraças de lojas e furto de produtos. São exemplos claros de elementos que não acreditam em meritocracia e competência para trabalhar. Quando não as possuem, crêem ter o direito de destruir.

Imagem da farsa

Imagem da farsa

Depois de meditar muito e refletir sobre esses acontecimentos, teve-se o pressentimento de que a sociedade civil brasileira foi induzida a diversos erros de interpretação, a mídia foi manipulada (ou comprada) e é bastante provável que haja um agente financiador do clima de violência instaurado no país. Um clima odiento, que cresce dia-a-dia, alimentado de forma infame pelas eleições presidenciais deste ano.

Especula-se por partes

Foi vendido para a sociedade civil que se havia instalado no Brasil um grupo de anarquistas internacionais, com objetivos desconhecidos. O grupo se autodenominava de Black Bloc, bem estridente.

Em seguida, foi jogado na internet o boato que os Black Bloc eram os causadores de todas as violências cometidas em passeatas e manifestos. O tal do Mídia Ninja era seu principal veículo publicitário, dizendo-se apolítico. No entanto, em 2013, publicou-se um artigo sobre esses indivíduos com título bem sugestivo – Mídia Ninja, o MST do jornalismo.

Neste artigo encontra-se o líder-ninja acompanhando um farsante, que hoje atua na política brasileira, embora na qualidade de presidiário na Papuda.

A mídia comprou essa estória, sobretudo sua parcela de “jornalistas progressistas”, por sinal paga pelo agente financiador. No entanto, jornalistas independentes deixaram-se manipular e engoliram as duas farsas: os Black Bloc e os Mídia Ninja.

A partir de então, estes dois seres antediluvianos, bem como suas ações tresloucadas, tornaram-se verdades absolutas, dogmas da democracia interventora implantada no país.

Novamente, indaga-se: ─ “A quem interessa a violência nas manifestações populares?

Ao agente financiador, é óbvio. Comprou um serviço e exige resultado com qualidade! Mas pouco se sabe acerca desse “financista”. Ele opera com poucos amigos na calada da noite. Para sua segurança, usa salas trancadas com blindagem acústica. Sabe-se que é exageradamente falante, trata somente de si próprio e de suas ditas proezas públicas. Tem-se informação de que é exagerado, mentiroso, não possui mérito ou qualquer capacidade de trabalho produtivo. Todavia, gosta de ver o mundo pegar fogo, pois acredita que assim conseguirá mais poder.

Pensam como Marx, governam como Stalin e vivem como Rockfeller

Pensam como Marx, governam como Stalin e vivem como Rockfeller

Há uma frase de Millôr Fernandes que, acredita-se, encerra o perfil do digno financista: ─ “As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades”.

……….

[1] Clama por atenção a greve de oficiais e auxiliares de chancelaria no exterior, que parou por 24 horas inúmeras representações diplomáticas em cerca de 13 países, segundo notícias da imprensa.

Animália


Ricardo Kohn, Escritor.

A violência na sociedade brasileira apresenta tendência de se generalizar. São tantos casos de agressões brutais e gratuitas, que ocorrem diariamente em cidades e campos, que podem se transformar em “comportamentos normais e aceitos”.

Parece tratar-se de outra demonstração empírica da Lei dos Vasos Comunicantes. Diferencia-se apenas por não usar líquidos ou gases (fluidos), mas atitudes tidas como humanas, porém dignas somente dos antigos povos bárbaros, que destruíam a tudo e todos por onde passavam.

Torna-se necessário relembrar como se comportam os vasos comunicantes, com uma breve revisão da Física. Têm-se vários recipientes interligados, cada um com formato e volume diversos. Coloca-se um líquido homogêneo em qualquer um deles e vai se observar que ele se distribui pelos demais. Uma vez estabelecido o equilíbrio físico entre o líquido e seus recipientes, sua altura final será a mesma em todos os recipientes. Esse experimento, realizado pelo físico belga Simon Stevin em laboratório, data do início do século 17, e demonstrou o que ficou chamado Teorema de Stevin.

Imagem dos vasos comunicantes

Imagem dos vasos comunicantes

Isso ocorre porque a pressão exercida pelo líquido no corpo dos recipientes depende apenas da altura da coluna d’água. Os demais fatores de cálculo da pressão (densidade do líquido, pressão atmosférica e aceleração da gravidade) são constantes para casos dessa natureza.

O experimento empírico na Nação

Os recipientes de uma nação são a sociedade civil, suas empresas (públicas e privadas) e o Estado. Em razoável medida funcionam tal como vasos comunicantes, através dos meios e sistemas de comunicação de que dispuserem. O principal fluido que esses meios distribuem aos recipientes da nação é a informação útil, prática e culta, que visa a ampliar a educação de seus cidadãos, de forma a que continuem livres.

Embora essa tese possa ser considerada utópica, há várias nações que sempre caminharam nessa direção. São consideradas as mais desenvolvidas, pela qualidade dos serviços que oferecem às suas populações.

Como é normal de se prever, podem apresentar eventuais quadros de desvio, mas que logo são devidamente sanados pelas instituições formais do Estado. Justo por isso, seus Índices de Desenvolvimento Humano [1] são os mais elevados do mundo.

Porém, o inverso também ocorre. Ou seja, através do recipiente do Estado, o governo derrama fluidos incontroláveis que são expressivos quadros de desvio, no mais das vezes sistemáticos: atos de corrupção, assassinatos políticos, desvios e lavagem de dinheiro, evasão de divisas, associações criminosas, envolvimento com tráfico de drogas, enfim, tudo de ruim que se possa imaginar. Raras são as vezes que o Estado possui condições de impedir que esse fluido imoral nivele-se nos demais recipientes das nações acometidas pela barbárie política. Até porque ele e suas instituições encontram-se aprisionados, asfixiados.

Quando esse fluido se propaga e nivela-se no recipiente da sociedade, a educação deixa de existir, surgem revoltas, motins, vandalismos, linchamentos, insurreições, guerras civis e até “assassinato com latrinada na cabeça”. Os casos políticos que vêem sendo vivenciados pelo mundo são inúmeros. Constituem a confirmação prática dos vasos comunicantes na sua forma mais desastrosa.

A imposição ferrenha de ideologias fundamentalistas e de dogmas quase feudais, visando a locupletação de “parceiros dentro do Estado“, constituem as mais estúpidas agressões que uma sociedade livre pode receber. O cidadão que pensar de forma diversa será duramente punido. Merecerá a forca ou será linchado em praça pública por “agentes do governo”!

……….

[1] Para quem desejar a visão mais detalhada de como foram classificados os países segundo seu IDH de 2013, segue a lista publicada pela ONU. Clique aqui.

Dia da Mentira


Simão-pescador, Praia da Maçãs.

Simão-Pescador

Simão-Pescador

Faltam apenas 9 dias para a chegada de mais um 1º de Abril, dia conhecido pelas mentiras que todos gostam de pregar nos amigos. Nos países de língua inglesa, chamam-no de “Dia de Tolos” – Fools Day. Nós, portugueses, consideramos esse título imbecil. Dia de Idiotas só é perfeito para países do Reino Unido.

Mas, de toda a forma, no mundo ocidental essa data é uma espécie de Interstício da Verdade. A mentira é noticiada seriamente, mas trata-se tão-somente de uma infantil brincadeira. Creio, como é dito no Brasil, que é “só de sacanagem”.

Lembro-me dos tempos de infância quando caía nessas “pegadinhas”. Acreditava em tudo o que me contavam e não passava um Dia da Mentira sem ouvir do coro de vozes dissonantes o estridente refrão:

─ “Caiu no 1º de abril!”.

Era sempre seguido de gargalhadas de colegas e amigos, que me ruborizavam e faziam-me sentir raiva da própria inocência.

Trago na memória estes factos que, decerto associado a fatores genéticos e comportamentais – que sei eu?… –, de alguma forma influenciaram-me a capacidade de crítica. Quase tornei-me desconfiado, não tivesse desde cedo a extrema vontade de ser extrovertido.

Hoje, próximo a completar 98 anos de idade, exatamente em 1º de Abril, saudável e extrovertido, reli os textos que publiquei neste site, com destaque para a “Carta aberta da Estremadura”. Pude verificar coisas curiosas, todas endereçadas “a sua senhoria”. Não vou entrar em detalhes sobre elas, mas, em suma, a longa experiência da vida de um pescador artesanal é suficiente para prever quando “o mar não está para peixes”, ainda que estejam “blindados” por furiosos tubarões de goela larga.

Desta maneira, sua senhoria, continuo a desejar-lhe mais do que extrema sorte, pois é muito provável que “seus tubarões de estimação” estejam a planificar coisas estranhas contra a capacidade do país boiar, levando-a, junto com seu antecessor, à reboque para o fundo de águas escuras. Sua herança política realmente foi maldita, disso não tenho dúvida alguma.

Mas, afinal, a senhora continuou a dar margens a isso durante sua jornada em todos os cargos públicos que ocupou. Sua retórica é desatinada, seus espasmos gramaticais são ininteligíveis. Dão a impressão que, há mais de 11 anos, o calendário anual do Brasil possui 365 dias iguais ao 1º de Abril. Todos dedicados ao exercício da patranha e da corrupção.

Vandalismo nacional


ou Salve-se quem puder!”

Por Zik Sênior, o eremita.

Zik Sênior

Zik Sênior

Visto do espaço, em linhas gerais, o Brasil é um país habitado por beócios de 4ª classe, governados por vândalos de 1ª classe. Esse é o cenário que se descortina ao início do feliz ano novo de 2014: beócios manipulados por vândalos, a troco de nada.

Enquanto isso, os vândalos de 1ª classe têm certeza de que permanecerão no poder por pelo menos mais quatro anos (mas sonham com 4 décadas). Isso se, até lá, o Brasil ainda sobreviver à sua sanha destrutiva, tal hienas esfomeadas diante de um apetitoso bucho apodrecido.

A armadilha montada

Constituem o núcleo duro da 1ª classe ex-dirigentes e alguns dos mensaleiros que cumprem pena em penitenciárias e se auto classificam “consultores”. Para eles basta ter acesso a um telefone para fazer consultorias milionárias.

Membros subalternos, selecionados na caterva, montam a logística que satisfaça à clientela dos consultores. Para isso, possuem gigantescos propinodutos que cortam os subterrâneos do planeta e desaguam com segurança (?) em “instituições financeiras paradisíacas”.

No entanto, os membros da caterva são operacionais, meros cumpridores de ordens. Não têm livre arbítrio e nada decidem. Venderam-se aos consultores em troca de cargos públicos mais elevados e, de vez em quando, percebem benesses em dinheiro e até mesmo a salvação da prisão. Diz a mídia que o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi uma maquinação de vários vândalos de 1ª classe, mas coordenado por um caterva especial que foi blindado, função de ter o domínio de informações classificadas sobre objetivos e ações da 1ª classe.

Mas ainda há outra classe de personagens com relativa importância, que nem são consultores ou caterva operacional. Tratam-se dos “espasmos da 1ª classe”. Habitam no seu limbo, na favela moral de sua periferia. São ignorantes, mas responsáveis por realizar as tramas dos consultores.  São sempre temas prontos para criar litígio e dividir as forças que consideram adversárias. Essas tramas visam a gerar discórdia nacional, mas têm forte apelo na mídia. Desta maneira os espasmos dão suporte às ações dos consultores, sempre com posturas populistas, demagógicas e arrogantes.

Em síntese, a atuação dos espasmos se resume em criar conflitos com a opinião pública, com o uso de informação falsa. Todavia, para serem selecionados, precisam possuir traços físicos que convençam aos beócios de 4ª classe que não se tratam de patranheiros, a saber:

  • Cândida expressão facial, próxima a de uma freira;
  • Rosto sem maquiagem quando dão entrevistas;
  • A portar óculos da intelectualidade, que lhes forneça aparência de credibilidade;
  • Olhar fixo no espaço longínquo, a denotar que dominam as complexidades sociais; e
  • E, quando possível, ter corpo bem magro, tal como os milhões de brasileiros que não se alimentam da forma suficiente há pelo menos um mês. Acreditam que isso lhes dá certa empatia com os miseráveis que ganham o bolsa-esmola.

Por tudo isso, no cerimonial da 1ª classe, os espasmos são tratados por “tadinhas”. Embora tenham sonho de crescerem e, algum dia, tornarem-se elementos da caterva, continuam improdutivos. Em algumas situações são promovidos a ministros de estado, mas continuam a “enrolar as massas” e são apenas usados para legitimar as tramas da 1ª classe, nada mais.

Em suma, esse bando organizado – 1ª classe, caterva e espasmos –, acredita piamente que, por longos anos, ainda permanecerá a vandalizar a nação em seu próprio benefício.

Mensaleiros, assessores e mensalistas

Na oportunidade do julgamento da ação penal 470, o juiz relator classificou as quadrilhas envolvidas para facilitar sua argumentação e dar lógica ao raciocínio. Por sua vez, a imprensa brasileira universalizou-as. Chamou a todos os réus simplesmente de “mensaleiros”.

Nesse registro, os réus estão classificadas em três esferas, que são distintas mas complementares, a conformar um único bando de vigaristas:

  • Mensaleiros – aqueles que planejaram e executaram desvios do erário público, por interesses pessoais em obter mais poder para vandalizar o estado;
  • Assessores – “contratados” por mensaleiros, coube-lhes estabelecer a arquitetura dos desvios e os agentes financeiros e publicitários necessários para esconde-los; e
  • Mensalistas – aqueles que se venderam aos desígnios políticos de mensaleiros, porém livres para não aceitar propostas ou denunciá-los, o que, afinal, fez eclodir a maior ação penal da história brasileira.

Se essa classificação estiver correta, os mensaleiros foram a alma de todas as articulações. Porém, assim como os mensalistas, receberam as menores penas de prisão. Coube aos assessores pagarem a maior parte da conta, com penas de até 40 anos em regime fechado. Parece que determinados juízes do Supremo não notaram que eles foram meros acessórios na armadilha montada, algo como mais dois air bags no veículo da corrupção.

Seriam manobras legais?

Chegou-se ao cúmulo de um mensaleiro criar uma página na internet para “recolher doações” visando a pagar a multa determinada pela justiça! A imprensa conta que ele alugou uma casa em Brasília para cumprir sua prisão em regime aberto. E, ao que tudo indica, em dez dias já recebeu de beócios e vândalos menores mais do que o necessário para quitar sua multa (algo em torno de R$ 600 mil). O excedente decerto servirá para pagar as despesas de aluguel e alimentação de sua nova casa. Isso é patético!

Caso a justiça brasileira determinasse que todos os atuais presidiários 1ª classe devolvessem ao Estado o produto do roubo, eles são tão hediondos que é possível que abrissem páginas para captar mais “doações de íntimos beócios brasileiros”.

Mas muito cuidado, senhores beócios! Além de estarem a jogar seu próprio dinheiro na lixeira, o que é uma decisão pessoal, poderão incorrer em crime de cumplicidade, que é uma questão da justiça pública. O prêmio de cadeia em regime fechado do beócio poderá ser o resultado mais óbvio.

Todavia, como uma pronta-resposta da 1ª classe, já há os que pensam em criar “debêntures penitenciários”. Permitirá aos ladrões públicos arrecadarem “fortunas honestas” pela Bolsa de Valores. Afinal, para corruptos políticos, nada melhor do que vender suas cotas de corrupção produtiva, pois não desejam ser os majoritários em uma eventual derrocada nacional.

Mesmo havendo muito mais a narrar, encerro aqui esse registro, sabendo que, desgraçadamente, muita água ainda há de rolar para bolsos escusos.

Todavia, também tenho uma notícia alvissareira: nosso blog vai criar uma página para receber doações de pessoas cultas, honestas, democráticas e politizadas, de forma a continuar com seu trabalho e aumentar a equipe de redatores. Quem sabe se no ano de 3014 já não terá arrecadado a ínfima quantia de SUR$ 1.000,00?  O Surreal, a futura moeda inflacionada a circular em todo Brasil.

Visita inesperada


Estava num bate-papo animado com o engenheiro Lima, em seu apartamento. Falávamos sobre assuntos aleatórios: computador, conexão wireless, política em geral, promessas de santa carochinha, “dis-putas eleitorais” e atos de corrupção, quando o toque da campainha nos interrompeu.

Pelo olho mágico viam-se três senhoras muito bem trajadas, todas com idade mais avançada. Não pareciam ser vendedoras e, caso o fossem, o porteiro não as deixaria entrar.

Lima abriu a porta e as cumprimentou. Como não as conhecia, ficou um pouco confuso em como deveria saudá-las, mas saiu-se bem.

─ “Boa tarde, em que posso ser útil?”, disse ele.

Notei que as três carregavam às mãos um livro grosso, com capa de couro escuro, e escritas gravadas em dourado.

A mais audaz respondeu:

Somos moradoras aqui do prédio e temos uma proposta para fazer ao senhor… Aguardou a resposta.

─ “Pois não, senhora, qual é a proposta?”, indagou Lima gentilmente.

Brandindo seu livro no ar, respondeu a ele com uma atitude grave que lhe franzia o cenho:

Estamos à beira de um novo dilúvio no mundo. Fortes ventos, maremotos, raios e trovões, chuvas e enchentes causarão destruições nas cidades e a maioria das pessoas morrerá afogada no mar da vergonha. Porém, os Adventistas do Sétimo Dia irão sobreviver, sempre com a missão de reconstruir o mundo. Nós contamos com a boa vontade do senhor…, qual é mesmo seu nome? …

O Grande Dilúvio

O Grande Dilúvio

─ “Pode me chamar de Lima, é como todos me conhecem”.

Lima já estava impaciente por dois minutos de conversa com a senhora bem trajada. Decerto, creio eu, pensava o que aconteceria se as três falassem ao mesmo tempo.

A senhora falante, por sua vez, suava na testa, nas axilas e ficou sem ar após proferir o palavrório decorado. Parecia existir um tele-prompt engastado na traseira do livro e ela desembestava a ler o texto.

─ “Não entendi, contam comigo exatamente para o quê?”, indagou Lima assustado.

Nós nunca nos falamos, seu Lima, mas sabemos de sua distinção, de seus interesses, moramos nesse mesmo prédio e

Mas Lima a interrompeu, enquanto ela continuava a brandir o tal livro:

─ “Senhora, por favor, sem rodeios. Eu estava ocupado e fui interrompido para escutar coisas que não fazem nenhum sentido para mim. Ora! Outro dilúvio a afogar a população… É possível ser mais direta? Diga-me o que deseja.”

A senhora ficou nervosa e elevou a voz:

Pois bem, vim lhe convidar para ser mais um Adventista do Sétimo Dia e ajudar-nos a salvar o mundo! Todos vão morrer afogados pelo dilúvio! Mas nós três não vamos! Nos sentiremos infelizes se o senhor se afogar

─ Então Lima as questionou:  “As senhoras moram em que andar do prédio?”.

Moramos no 7º andar, por quê?!, respondeu exaltada.

E Lima encerrou a inesperada visita:

─ “Se não vão morrer afogadas no 7º andar, muito menos eu, que moro no 15º. Passem muito bem!”

Ensaio sobre o direito de esquecer


Simão-pescador, Praia das Maçãs.

Simão-Pescador

Simão-Pescador

Todas as pessoas têm o direito de esquecer qualquer coisa, embora sempre a considerar as limitações impostas por seus próprios cérebros. Assim, esquecem-se de outras pessoas ou até mesmo anulam-nas, sobretudo aquelas que foram figurantes secundários em sua vida. Afinal, o cérebro é bastante seletivo, em especial quando registra coisas que considere “sem utilidade”. Guarda-as no fundo escuro de seu arquivo morto.

Entretanto, ainda que sofram da doença do esquecimento, recordarão dos principais fatos que marcaram o caminho e as trilhas de suas vidas, bem como das pessoas que nele estiveram presentes. Tanto as que auxiliaram na realização de bons resultados, quanto ao contrário. Aquelas que tão-somente foram figurantes inativos, sequer serão recordadas mais tarde. Mas isso não é perda de memória, é apenas seleção de utilidade.

É sobre essa dicotomia de fatos e pessoas que concorrem para bons e maus resultados, que pretendo criar uma hipótese e refletir sobre ela. Porém, desde já informo que, por se tratar de um ensaio informal, não tem uma estrutura sólida de reflexões; creio, inclusive, que todas as falas do texto são meras especulações. De toda forma, espero que possam conduzir leitores a reflexões pessoais sobre o direito de esquecer.

O objeto deste ensaio não é provar uma hipótese, mas apenas tecer conjecturas a respeito dela. Optei por criar uma hipótese extrema, a saber:

─ “O sem-cérebro sempre segue por trilhas tão extras e ordinárias que esquece a si próprio”.

Afinal, não existe ser humano vivo sem cérebro! Contudo, há muitos que, diuturnamente, se comportam como se seus cérebros houvessem sido extirpados despercebidamente.

Para facilitar a formulação de conjecturas, este texto dá vida ao “ser humano sem cérebro”, através do apelido Trombeta. De outra maneira, um ser que vive a trombetear suas vantagens burlescas. Que, aliás, julga serem oferendas divinas que o capacitam para debates sobre temas globais.

Trombeta foi filho de mãe solteira e nasceu nas veredas do agreste. Teve dez irmãos mais novos, dos quais sempre soube muito pouco. Um mês após seu falecimento, um jornalista pouco conhecido deu a seguinte nota no jornaleco do município:

─ “Trombeta foi um personagem de baixa estatura, analfabeto, de comportamento ambíguo e estranhas ideias. Embora falasse muito, opinasse sobre tudo, nunca respondia a perguntas. Tenho dezenas de perguntas que gostaria que ele respondesse. Mas, de antemão, desejaria saber onde foi parido e como foi sua parição? O que Trombeta fez na infância, como foi criado, quem o criou, quem eram as pessoas com que conviveu em sua morada? Estudou? Aprendeu? Onde estudou e o que aprendeu? O que foi capaz de ensinar e a quem ensinou? Onde trabalhou, por quanto tempo e fazendo o quê? Por onde enveredou e o que mais estava a querer? A quem convenceu, a quem enganou e a quem mais desejava convencer ou enganar? Aonde queria chegar e o que era capaz de fazer para isso? Tinha algum limite pessoal ou o vale-tudo era a sua métrica? Tenho mais uma lotada de perguntas, mas sequer me animo a faze-las, pelo menos agora”.

Sobre Trombeta sei muito pouco, apenas alguns detalhes. Sei que cresceu em um povoado pobre, sem esgotos tratados, sem eletricidade e com pouca água. Dizem seus contemporâneos que sempre foi muito falante, que se metia em tudo. Dizem que só falava asneira, mas enganava a todos com suas “promessas de solução”. Em suma, comentavam que foi um parafuso sem rosca, uma raposa anoréxica, uma catapulta de asnices.

Mesmo assim, ainda existia muita gente que morreria por Trombeta. Quase foi enterrado como mártir. Assim, ou foi um fenômeno da história – o líder apedeuta da seita que criou –, ou era a prova viva de uma sociedade ética e moralmente atordoada.

Desde a infância, Trombeta teve um foco na vida: queria ter poder para mudar as coisas a seu gosto, com simples gestos de mão. Era persistente e treinava todo dia. O problema foram as escolhas das coisas a mudar. Com gestos curiosos, seguidos de uma espécie de urros de fúria, tentava matar as galinhas de sua mãe que, com galhardia, continuavam livres a correr pela poeira da caatinga. Queria fazer e acontecer, mas as desgraçadas não morriam!

Somente ao completar 18 anos, já com a barba desgrenhada na face, se apercebeu que era pouco provável que conseguisse realizar esse tipo de poder. Comemorou seu aniversário no boteco do Geraldino que, pelas trilhas que fizera na mata à cata de galináceos, ficava em outro município, a 4 km do casebre em que morava.

Sua mãe até cedeu quatro galinhas esquálidas para o almoço do aniversariante, mas sob uma condição: que ele começasse logo a trabalhar, pelo menos para obter seu próprio sustento.

─ “Tome rumo na vida e para de assustar minhas galinhas, cabra preguiçoso!”, disse ela naquela ocasião. E tinha razão, até porque “mãinha” manteve os dez filhos a bordar renda, 18 horas por dia. Morreu bordando a própria morte, sozinha na secura de sua morada.

Trombeta considerou que realmente precisava “fazer dinheiro”, pois não aguentava mais conviver com a “mediocridade do povoado”. Pôs-se a matutar e, pela primeira vez na vida, esqueceu-se das galinhas invencíveis. Pensou até mesmo em se engajar no exército, mas sua indolência sem disciplina aconselhou-lhe a não cometer tal ato de bravura.

Por fim, entendeu que precisava deixar o povoado, ir para a cidade grande e, quem sabe, ser um emérito negociador de ideias. Esse passou a ser seu foco, tornar-se o Grande Negociador. Todavia, sem qualquer centavo no bolso, não tinha como viajar para a capital do estado, que se situava a mais de 400 quilômetros.

Tornou a pensar noutra maneira de “fazer dinheiro fácil“. Porém, dado que não sabia fazer absolutamente nada, “roubar os miseráveis do povoado” foi a opção mais normal que saiu de seu pequeno cérebro. Assim, sem qualquer cerimônia, na madrugada furtou a féria semanal do boteco do Geraldino e, como disseram, sumiu da face da Terra.

Quase 20 anos depois, os frequentadores do bar do Geraldino tiveram notícias de Trombeta pelo pasquim do município. Nele estava publicada uma foto de Trombeta preso numa delegacia, acusado de liderar arruaças nos portões de fábricas e fomentar greves de operários, a que chamava, segundo a notícia, de “classe proletária”.

Ninguém no povoado entendeu muito bem a nota, além reconhece-lo como o presidiário estampado na foto. Apenas o mais velho do povoado imaginava o que seria classe proletária e movimentos grevistas.

Passaram-se mais cinco anos e o povoado inteiro ficou sabendo que Trombeta havia fundado uma seita ideológica, da qual era presidente, mas sem a menor ideia do que se tratava e qual seria sua finalidade. Todos ficaram assustados com a informação incompleta e mais ainda porque mãinha enfartara.

No povoado fez-se um silêncio de décadas sobre a vida de Trombeta. Até que um dia, no bar de Geraldino Filho, chegou a notícia que ele se tornara presidente da CNP – Confederação Nacional dos Prostíbulos, o cargo máximo “daquela nação”, Supremo Cafetão Nacional.

Reflexões

Trombeta nasceu paupérrimo: no interior dum casebre, com teto forrado de sapê; em um mísero povoado, sem quaisquer condições sanitárias; sem escola e hospital públicos; sem receber a educação de base. Não há dúvida, a sorte lhe foi muito ingrata, pois a mais famosa instituição do povoado em que nasceu era o boteco do Geraldino, onde, sem pagar, ele bebia a cachaça local e comia carne seca de bode, na companhia de pessoas sem trabalho.

Os frequentadores do bar eram bem mais velhos do que ele e nunca tiveram um trabalho digno. Eram todos muito franzinos, ressecados pelo clima tórrido dos canaviais. Viviam de trabalhos temporários em engenhos de cana da região. Eram resignados com a própria sorte e sabiam que não conseguiriam mudar o mundo. Porém, entre eles, partilhavam pequenos momentos de alegria.

Ao contrário de Trombeta, que acreditava ser capaz de mudar qualquer coisa a seu gosto, “oferecer promessas de solução” e negocia-las com os mais incautos. Entendera pelas “aulas da TV” que assistira no boteco do Geraldino, que negociar era fazer barulho, ir para as ruas e fazer comícios, falar berrando, mentir com certeza e enganar inocentes.

Pelo menos desde a adolescência, Trombeta já apresentava os traços típicos da egolatria, com gestos individualistas, pouca sociabilidade e extremo egoísmo. Somente estendia sua mão esquerda quando era para receber dinheiro ou tomar algo de alguém. Mesmo assim, soltava urros de fúria, como se fora sua assinatura de vitória.

Não é exagero afirmar que Trombeta já nasceu tomado pelos “germes da sociopatia”, se é que me entendem. Pode parecer uma incongruência alguém ter o desejo de ser um Grande Negociador e, ao mesmo tempo, odiar o gênero humano. Mas este foi o caso do trombeteiro. Vejamos:

  • Roubou os pobres amigos de sua mãe e covardemente sumiu do povoado.
  • Às cegas aderiu à trilha do comunismo, fez arruaças políticas e foi preso durante o regime militar.
  • Fundou e presidiu uma seita ideológica baseada em seus valores medievais.
  • Abandonou a tudo que jurara seguir para se eleger presidente da Confederação Nacional dos Prostíbulos. Este foi o auge de sua carreira, quando já era um completo sociopata.

Esses quatro processos da vida do trombeteiro têm em comum o fato de que as pessoas que estavam presentes, ou foram usadas por ele, ou sequer existiam em sua cabeça esquecida. De outra forma, Trombeta só pensava em si mesmo e nos ganhos que haveria de realizar.

Assim, ficou bilionário em menos de dez anos. Mas, em compensação, os milhões de funcionários dos prostíbulos nacionais receberam um “cala-boca”. Foram abençoados pelo trombeteiro com o Programa Bolsa-Prostíbulo, no valor de 80 reais por mês, sem terem a necessidade de “suar a camisa”.

Diz a hipótese que “o sem-cérebro sempre segue por trilhas tão extras e ordinárias que esquece a si próprio”. Parece ser o caso terminal do trombeteiro. Encontrava-se dissociado da realidade, com visível incoerência mental (esquizofrenia). Sempre que se manifestava, demonstrava um contínuo retrocesso cerebral (oligofrenia). Ao fim, tudo indica que esqueceu de si próprio para admirar apenas a própria imagem refletida, que ainda acreditava existir.

Parafraseando um filósofo das massas, “nunca na história desse Prostíbulo houve tantas trilhas extras e ordinárias para serem seguidas pelos séquitos do líder máximo”.

P.S.: Recomendo a leitura do texto “A variedade de bestas seriais“. É uma crônica de ficção que mostra o elenco de assessores dos trombeteiros.

A continuidade dos tempos


O Brasil deve ser o país com o maior número de feriados e “pontos facultativos” do mundo. Desse mesmo gênero, têm-se eventos nacionais, estaduais e municipais, todos criados por leis específicas, o que é um fato no mínimo estranho.

Afinal, o que é um “ponto facultativo”? Existe algo similar em algum lugar do mundo moderno e civilizado? Se o Estado brasileiro é laico, porque a quantidade de feriados religiosos é tão grande?

Quando feriados ou pontos facultativos (“Paradas”) caem em quartas ou quintas-feiras, o brasileiro “enforca” os dias úteis para “engatar com o fim de semana”. Muitas instituições públicas (e algumas empresas privadas) concordam com essa invenção e a praticam. A vagabundagem legalizada é forte evidência do desejo parlamentar de reduzir ainda mais a produtividade de todos os legislativos do país.

“Paradas” estaduais

Somente Espírito Santo e Goiás não possuem feriados estaduais. Mesmo assim, em Goiás não há expediente nas repartições e serviços públicos nos dias 26 de julho, consagrado à fundação da cidade de Goiás, e 24 de outubro, dia comemorativo do lançamento da pedra fundamental de Goiânia; além, é claro, do dia do funcionário público, que acontece em 28 de outubro. Semana perdida pelos engates

Por outro lado, mostrando ser uma inegável potência produtiva, o Acre criou cinco feriados estaduais:

  • 23 de janeiro, Dia do Evangélico (?).
  • 8 de março, Dia Internacional da Mulher (?).
  • 15 de junho, Aniversário do Acre.
  • 5 de setembro, Dia da Amazônia (?).
  • 17 de novembro, Assinatura do Tratado de Petrópolis (?).

Curiosamente, São Paulo só possui um feriado estadual, referido à sua data magna, conforme prescreve uma lei federal de 1995 [1]. Trata-se do notório dia de 9 de julho, a comemorar a Revolução Constitucionalista de 1932.

“Paradas” nacionais

Em 2013, sem contar com o próximo dia de Natal, o Brasil teve 27 “paradas” nacionais! Para o ano de 2014 o quadro que se anuncia é ainda mais espantoso. O país sofrerá a Copa do Mundo de Futebol (de 12 de junho a 13 de julho) e as eleições para presidente, governadores e parlamentares nacionais. Junte-se a isso o Carnaval (no mínimo 5 dias, embora somente a terça-feira seja feriado oficial) e a Semana Santa (com 5 dias, podendo chegar a 9, com o engate no fim de semana que a sucede).

Trabalhar para quê? Profissionais liberais que se virem! Na melhor das hipóteses, em 2014 é bem provável que o país só tenha 210 dias úteis. Seus demais 155 dias serão inúteis e sem produção e serviços em quase todos os setores econômicos.

Cenário para 2014: sem “rogar praga”

Com o andar das carruagens políticas, tracionadas por mulas e antas há mais de 10 anos, as tendências para o cenário futuro do país podem ser estimadas com alguma precisão. Seguem os principais acontecimentos que têm boa chance de ocorrerem em 2014:

  • As chuvas de janeiro a março poderão causar estragos em inúmeros municípios, com maior ênfase para a cidade do Rio de Janeiro, seus vizinhos metropolitanos e a Região Serrana (redundância).
  • Em muitas oportunidades a Via Binário vai se transformar em “Via Urinário”. E seus novos túneis, em duas “Cloacas Profundas”. Não será fácil a drenagem daquela área, sobretudo quando a maré for de sizígia (maiores marés altas que barram os fluxos de água dos dutos e canais de drenagem, a causar inundações urbanas).
Olha a Via Binário aí, gente!

Olha a Via Binário aí, gente! (reprodução da Agência Globo)

  • Em todo o país haverá uma enorme oferta de vagas de trabalho para o “cargo de militantes aloprados”. A remuneração das diversas “gangues de aloprados” ficará a cargo da sociedade brasileira, através de montagens feitas pelos exímios aparelhos públicos.
  • A corrupção continuará a crescer no Brasil, embora venha a tornar-se quase invisível para pancrácios. Estima-se que já haja políticos da base aliada a pensar no Projeto de Lei Auxílio-Corrupção. Assim, uma vez legalizada, removerá todos os obstáculos que ainda existam.
  • Prevê-se que durante 2014 ocorrerão apenas quatro grandes escândalos, políticos e financeiros.
  • Além da total falta de vergonha no exagero construtivo, não são esperados graves acidentes nos 12 estádios de futebol que servirão a FIFA durante a Copa do Mundo. Afinal, muitas dessas ditas arenas, por falta de uso, tenderão a ser transformadas em suntuosos presídios de luxo, hospitais e escolas públicas.
  • O pibinho brasileiro deverá diminuir ainda mais e ficar no entorno de 1%, para mais ou para menos (desculpem outra redundância). Não há como elevá-lo dispondo de um ano em que 42,7% de seus dias serão inúteis.
  • Deve ser esperada a construção da primeira Fábrica de Dossiês latino-americana. Poderá vir a ser órgão oficial do governo, dada a demanda elevada de alguns partidos e as possibilidades de exportação desse nobre produto para vários países do mundo. Ajudará o pibinho.
  • Para fortalecer este grande êxito industrial, também deve ser aguardada a fundação do primeiro escritório técnico especializado em Formulação de Mentiras e Promessas, sob a sigla ETFMP-Bras. Esse escritório poderá ser transformado mais tarde em outro Ministério do Poder Executivo, junto com o futuro Ministério da Propaganda.
  • Há evidências cada vez mais fortes de que aconteçam desdobramentos da Ação Penal 470, com prováveis descobertas e acusações de novos mensaleiros e mensalistas.

Continuidade dos tempos

Mas o tempo segue incólume, apesar de tudo. Aliás, desconhece o que seja “tudo”, pois nada o afeta. Se a Terra derretesse, o Sol explodisse, a Via Láctea fosse pulverizada, ainda assim o tempo continuaria em sua andança: reto, silencioso e infindável.

Resta ao cidadão brasileiro consciente, no tempo que lhe resta, auxiliar a repor o Ambiente do Brasil em caminhos mais sustentáveis: sinuosos, silenciosos e estabilizados.


[1] A lei nº 9.093, de 12 de setembro de 1995, incluiu entre os feriados civis,  apenas os declarados em lei federal, a data magna do Estado fixada em lei estadual. Todavia alguns estados instituem mais de um feriado, alguns dos quais, de carácter religioso.

Sou humanista


Claudia Reis, Designer.

Está nas redes sociais uma petição pública que pede a “reposição das perdas de aposentados e pensionistas do INSS”. Não tenho dúvida de que, em sã consciência, qualquer cidadão concorda com essa medida elementar. Agravada pelo fato que neste ano, até novembro de 2013, o povo brasileiro já pagou mais de 1 trilhão e meio de Reais em tributos e não teve o devido retorno em serviços públicos de qualidade.

Entretanto, a dita petição, que assinei e distribui na rede, está pessimamente justificada. Seu autor usou de “malícia política” para estimular assinaturas. Devo dizer, contudo, que recebi diversas mensagens de volta, provindas de pessoas que assinaram a petição. Pessoas com distintos matizes partidários e de todas as gerações.

União de gerações

União de gerações

Entretanto, chamou-me a atenção a mensagem que recebi de uma jovem, a quem muito prezo. Com certeza, por seu interesse, leu o longo e confuso texto que motiva a petição e, com elegância, demonstrou não concordar com as acusações políticas que dela constam. Sem dúvida, desnecessárias.

Por se tratar de assunto tão relevante, o questionamento desta jovem motivou-me a publicar neste blog o texto abaixo.

Querida amiga,

Também não acho que os problemas da nação sejam culpa exclusiva do PT, mas sim da própria sociedade brasileira, que é individualista e não consegue ter a fundamental visão de longo prazo, das consequências do caminho que está a trilhar. Pode ficar tranquila, pois tenho certeza que não discordamos. Não sou de esquerda ou de direita e, muito menos, fico “em cima do muro“.

Posso afirmar, sou “Humanista“. O ódio entre classes sociais, políticas e culturais, que se instala no Brasil, faz-me muito mal. Ver pessoas se digladiando como se estivessem no Coliseu, causa-me tristeza.

Como não redigi a dita petição, confesso que não dei bola para as agressões ao PT, pois há muito convivo com vários idosos. Mais de perto, com duas tias pelas quais sou responsável (94 e 90 anos). Sinto na pele como essa faixa etária é negligenciada pelo Estado Brasileiro e pela sociedade. E esse sentimento fala muito mais alto do que qualquer disputa partidária.

Ver uma pessoa com 94 anos ser intimada todos os anos pela Receita Federal para provar suas despesas médicas declaradas no IR é duro de aceitar. Se já é ruim o suficiente alguém saber que está no final da vida, vendo amigos e entes queridos a partir, imagine ainda ficar preocupada em como pagar pelos remédios de que precisa; pagar pelo atendimento médico que não lhe é disponibilizado; e, ainda por cima, saber que trabalhou e contribuiu por tanto tempo para uma nação que não lhe dá valor ou qualquer assistência. No mínimo, assistência emocional.

Para finalizar, pelo fato deste blog ter cunho humanista, entendo que cada cidadão deva refletir sobre quais são as metas da gestão pública: serão as práticas partidárias imediatistas ou o atendimento das necessidades sociais básicas (educação, saúde e segurança) de todas as classes de sua população?

É por isso, minha amiga, que o cunho político-partidário no meio desta petição não me chamou atenção. Meu sentimento é tão forte que, diante deste cenário secular de descasos, que se agrava a cada ano, já até pensei em estabelecer o limite de minha própria vida. Sem suicídio, que fique claro.

Espero que todos os leitores do blog possam refletir sobre essa posição.

Um beijo sincero para você.

Pare e dê meia volta!


Essa trilha dá em nada.

Era junho de 2004 e o músico Chico Buarque de Holanda foi entrevistado pelo jornalista Rodolfo Fernandes, editor do jornal O Globo. Durante a conversa Chico sugeriu que Lula criasse o “Ministério do Vai dar Merda”. Segundo ele, o ministério funcionaria do seguinte modo:

─ “A cada decisão importante, esse ministro seria chamado. Se o governo decide recadastrar os idosos, o Lula convoca o ministro e pergunta: “Vai dar merda?” O ministro analisa o caso, vê que os velhinhos vão ser humilhados nas filas, e responde: Vai dar merda.[1]

Definitivamente, Lula não seguiu esse sábio conselho. Em compensação, criou 38 Ministérios de Merda e quase conseguiu demonstrar à sociedade que se tratavam de órgãos imprescindíveis para a gestão do Estado Brasileiro. Mas apenas do Estado, em proveito de poucos, pois a Nação, propriedade de todos, ficou para ser atendida amanhã. Tal como consta na placa do botequim: “Fiado só amanhã”.

A nação espera sentada há 11 anos por esse amanhã. “Nunca na história desse país” o aparelhamento da máquina pública foi tão inconsequente. O número de agentes infiltrados do partido governista não pode sequer ser estimado. Apenas são colhidos os resultados nefastos obtidos por suas diversas facções. O azedume ácido dos mesmos destrói o olfato e o bolso de qualquer cidadão que não concorde com o dito “governo de corrupto-coalizão”.

Coalizão para fazer o quê?! E a resposta pode ser assustadora:

─ “Para criar nesses 11 anos um número incontável de escândalos políticos descobertos pela imprensa e pela Polícia Federal. Sobre o Ambiente publicou um texto que lista alguns desses casos de corrupção. Assim, não há motivo para repeti-los aqui. Porém, se alguém desejar mais detalhes e informações, clique no link Alzheimer Político Coletivo”.

A despeito da pequena parcela da sociedade que ainda detém capacidade crítica, Lula inventou sua substituta e a elegeu. Suas principais charangas políticas foram o Bolsa-família e o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento. Este último, é igual a drogas anabolizantes que aceleram a massa muscular das pessoas no curto prazo, mas que, logo adiante, as matam do coração, bastante enfraquecidas.

A “gerentona” Dilma foi apelidada por seu criador como Mãe do PAC. Logo outros apelidos surgiram: Mama PACA e Mama PAC, dada a grande quantidade de dinheiro público que se esvai, como rosca sem-fim, em obras superfaturadas e inacabadas.

Obra parada do VLT em Brasília

Obra parada do VLT em Brasília

Segundo a ONG Contas Abertas, até o final de 2009, somente 9,8% das obras do PAC foram concluídas e 62% não saíram do papel.

Em veículos da imprensa de hoje vários articulistas analisam de forma crítica o Governo Dilma. Destaca-se o texto do historiador Marco Antonio Villa – Triênio para esquecer –, publicado em seu blog, o qual ele fecha dizendo:

Dilma Rousseff encerra seu triênio governamental melancolicamente. Em 2012, o crescimento médio mundial foi de 3,2% e o dos países emergentes de 5,1%. E o Brasil? A taxa de crescimento não estava correta. A “gerentona” exigiu a revisão dos cálculos. O PIB não cresceu 0,9%. O número correto é 1%! Fantástico”.

O chamado “livro-bomba”

Conforme divulgado pela imprensa, durante cerca de dois anos Romeu Tuma Jr. (ex-Secretário Nacional de Justiça do governo Lula – 2007 a 2010) deu depoimentos sobre sua vida pública pregressa ao jornalista Cláudio Tognolli.

Resultou desse longo trabalho de dissecação política, um livro assinado por ambos – “Assassinato de Reputações – Um Crime de Estado” –, a ser lançado em breve pela Editora Topbooks, com 557 páginas que falam sobre os pesos e medidas da mão esquerda dos “grandes políticos que mandam no Estado Brasileiro”.

Diz o delegado Tuma Junior, formado em direito, que, além da documentação que já consta do livro, ele possui mais documentos arquivados para provar vários itens do texto final de Assassinato de Reputações.

Devem ser aguardadas as verdades ou mentiras narradas neste compêndio. Afinal, antes de conhecer seu conteúdo, não há por que especular sobre a ética do autor principal.

De toda a forma, sobre os melhores políticos da situação nacional, deve-se lembrar que alguns deles hoje se encontram encarcerados em penitenciárias públicas. Talvez estejam faltando outros nomes de ilustres ladrões públicos.

Mas lembrem-se: o Jogo de Gato e Rato ainda não terminou.


[1] Texto extraído de nota no blog do jornalista Dacio Malta, publicada em 16 de setembro de 2010.

Coincidência ou Profecia?


Extraído da peça teatral Le Diable Rouge”, de autoria de Antoine Rault [1], lançada na França, em 2008.

Trata-se do diálogo entre Jean-Baptiste Colbert, Ministro de Estado de Luiz XIV, e Jules Mazarino, então Cardeal e Primeiro Ministro da França. A atualidade desse Diálogo de Estado, segundo o dramaturgo Antoine Rault, ocorrido no século 17, é no mínimo curiosa.

O Ministro Colbert atrás do Cardeal Mazarino

O Ministro Colbert, atrás do Cardeal Mazarino

Colbert
─ “Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…”

Mazarino
─ “Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas, vai parar na prisão. Mas o Estado é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!”

Colbert
─ “Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?”

Mazarino
─ “Criando outros.”

Colbert
─ “Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.”

Mazarino
─ “Sim, é impossível.”

Colbert
─ “E sobre os ricos?”

Mazarino
─ “Os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.”

Colbert
─ “Então, como faremos?”

Mazarino
─ “Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre ricos e pobres. As que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório financeiro inesgotável. É a classe média!”

Sugestões são bem-vindas

São bem-vindas

Após ler este diálogo, que segundo o autor ocorreu a quatro séculos atrás, qualquer cidadão civilizado, atento ao crescente caos da política fiscal brasileira, dirá:

Vai ser atual assim na casa, na casa do…, na casa do chapéu!…

Fica aqui esse registro para a posteridade, se é que ela haverá um dia. Aceitam-se sugestões depositadas no penico do Cardeal Mazarino.


[1] Nascido em 28 de setembro de 1965, Antoine Rault é um dramaturgo francês, autor de diversas peças de teatro.

Educar ou amestrar


Ricardo Kohn, Escritor.

Aqueles que educam ou promovem a educação em uma sociedade, estão a visar o futuro da nação. Sobretudo, das nações democráticas que pressentem o valor de possuírem uma sociedade civilizada e produtiva. Vários são os estudos das Nações Unidas, bem como de notáveis Universidades, que demonstram, de forma inequívoca, que a educação de uma sociedade não é um sonho, mas projeto inadiável e imprescindível a ser executado.

Entretanto, no outro extremo, à beira do precipício, há os que desejam manipular contingentes de pessoas, amestrar o que chamam de “povo” ou “sociedade de massa”. Parecem crer que, somente pela dominação, organizarão o espaço que desejam para realizar “a minha gestão pública“, de preferência sem forças de oposição. Têm profundo ódio da educação, de debates e reflexões, pois vendem-se em palanques, a propalar ideologias a serem trilhadas, mas já extintas em passado longínquo. Afinal, ideologias não educam, no máximo amestram, dado que obrigam ao gado ideologizado trilhar atalhos entre penhascos escuros.

Ensaiando o gestual para o palanque

Ensaio do gestual de palanque

Por incrível que pareça, em pleno século 21, esses dois personagens coexistem, apesar de ocuparem posições opostas na sociedade.

Os educadores normalmente possuem elevado nível de formação e consistência em sua argumentação. São professores e pesquisadores que fazem das escolas um espaço de socialização do conhecimento e de experiências. Na área das ciências humanas permitem (e até esperam) que seus alunos divirjam dos “contextos estabelecidos”. Ensinam como participar de debates democráticos. Induzem-nos a pensar, a refletir e assim criar próprias convicções, com premissas justificáveis. Portanto, não adotam cartilhas ideológicas a serem perseguidas, apenas estimulam debates.

Os amestradores, no mais das vezes, são incultos, agressivos e arrogantes [1]. Até porque, de alguma maneira, um dia eles mesmos foram os amestrados. Seguem de forma obstinada as receitas de cartilhas ideológicas. Não admitem que um participante do culto de amestramento tenha qualquer  divergência sobre o que dizem, embora mintam descaradamente e contem casos que nunca aconteceram. Têm pelo menos dois desejos ardentes: ocuparem cargos públicos nas altas esferas, de preferência como políticos de destaque para os amestrados, e, com “esquemas de corrupção“, ficarem milionários rapidamente.

Os cidadãos formados por esses atores da sociedade são rebatimentos dos processos por que passaram. Suas ações durante toda a vida são uma espécie de “força resultante” do que receberam com mais ênfase: educação ou amestramento. Os educados formam a sociedade, a nação. Ao contrário, os amestrados organizam quadrilhas de políticos para roubar a nação.

Não há dúvida que, vistos por esse prisma, educar e amestrar são dois processos bem opostos, que podem conduzir a cenários favoráveis de desenvolvimento ou a insustentáveis desgraças nacionais. A escolha é sua, senhora sociedade.


[1] Podem existir amestradores com formação e cultura. No entanto, não possuem diversidade de pensamento e seguem sempre a mesma cartilha, que sempre há de ser a esquerdológica“.