Meditações


Ricardo Kohn, Aprendiz de Filósofo.

Vejo a meditação como a conversa entre uma pessoa e sua sombra. Trata-se de um processo de criação praticado na solidão, comum aos sapiens que tentam estimular seus cérebros.  Por acaso, neste exato momento estou a meditar. Percebo, contudo, que há o Paradoxo da Meditação: de um lado, o medo de encontrar o desconhecido que mora em mim; de outro, a importância das descobertas que surgem, sempre esclarecedoras. Assim, para seguir a meditar sei que preciso superar este paradoxo – medo versus esclarecimentos. Creio que a forma mais simples é “fingir que se medita sobre eles” e não sobre si mesmo. Até por que, se os “eles” a que me refiro são amigos ou inimigos, pouco importa: basta saber pensar para meditar com as virtudes da natureza.

Todavia, meu objetivo não é redigir um “Manual de Meditação”, embora existam muitos. A meu ver, todos anacrônicos e patéticos. Na verdade, a meditação é um hábito milenar que teve origem em filosofias orientais. Nasceu como um desafio para o indivíduo imergir em si mesmo; ter a visão de muitas dúvidas e poucas quase-certezas; fazer sua autodepuração espontânea; por fim, alimentar a evolução da inteligência primordial da espécie humana rara – os poucos “sapiens raros” que ainda conseguem sobreviver na antroposfera[1].

Importa salientar que a meditação virtuosa jamais foi influenciada por crenças espirituais, uma vez que, por volta de 10 milênios atrás, afora o Sol, as ditas “divindades máximas do Universo” sequer haviam sido inventadas pelo “sapiens dominante”, o hipócrita soberano da antroposfera.

O Sol alimenta a natureza primordial de Botswana

Há décadas reflito sobre o Ambiente e sua physis[2]. Busco entender sua formação na Terra, assim como as graves ameaças à sua existência e as possíveis sequências de sua evolução. Após muito meditar, percebi que antes do surgimento dos primeiros grupos de primatas humanos – a 200 mil anos atrás –, o Ambiente foi a própria Terra, que deveria atender pelo apelido Planeta Ambiente. Afinal, ainda não existia a antroposfera e os bens de propriedade do Ambiente ainda estavam intactos – ar, água, solo, bem como a flora e fauna silvestres –, livres das ações transgressoras do sapiens dominante.

Assim, decidi dar voz ao Ambiente (maluquice ou oportunidade de meditação?), a vê-lo como proprietário exclusivo de todas as coisas terráqueas. Então, disse-me “ele”:

─ “Minha physis é inteligente e carrega intensos sentimentos”.

Matutei bastante sobre esta frase. Por fim, encontrei evidências factuais que o Ambiente detém habilidades que o tornam capaz de observar, analisar e responder às transgressões que ocorrem em seu terreno. Por isso, infiro que o Ambiente possui razão e lógica próprias, decerto distintas das atribuídas ao dito sapiens. Saliento que suas respostas às transgressões que sofre não são iguais às reações normais demonstradas por Isaac Newton. Caso o fossem, haveriam de ser contra-ataques intensos às agressões que lhe são impingidas pelo sapiens dominante, há milênios. Porém, o Ambiente não existe em função do sapiens, ao contrário, o sapiens dominante é que constitui seu objeto de uso. Aliás, precisa torcer – e muito – para que a “inteligência da physis” o trate com “intensos sentimentos” – seja lá o que isto signifique.

Tudo me conduz a concluir que o Ambiente é o cérebro ativo dos planetas. Por sinal, fez-me esta segunda afirmação:

─ “Não detenho virtudes filosóficas, mas sou a maior virtude material do Universo: aonde quer que eu exista, sempre haverá evolução”.

Devo discordar da premissa “não detenho virtudes filosóficas”. Até por que, é um aspecto da filosofia da natureza, capitaneada por escolas pré-socráticas, fundadas com as virtudes da Grécia Antiga, na cidade de Mileto, entre outros locais. Ao contrário, incontinente, louvo a certeza formulada: “aonde quer que eu exista, sempre haverá evolução”. Em minha opinião, é uma virtude que constitui um axioma matemático: “sem Ambiente, Universo não existe”; o que se dirá de sua esperada evolução…

Meditar seguidamente é vulcânico, mesmo para os acostumados com a queima intensa das cadeias neuronais. Encerro aqui, a manter a privacidade de minhas meditações.

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[1] Antroposfera, ou esfera do Homem, representa tudo o que é construído pelo sapiens no Ambiente.
[2] Physis é tudo o que forma o Ambiente, à exceção do que for construído pelo sapiens. O mesmo que natureza primordial, entendida através de suas esferas vitais: atmosfera, litosfera, hidrosfera, criosfera, biosfera e pelas relações que mantém entre si na ecosfera terráquea.