Globalizar as diferenças


Ricardo Kohn, Aprendiz de Filósofo.

Ecossistema estabilizado

Os mais ricos ecossistemas do globo detêm alta diversidade de seus incontáveis elementos constituintes[1]. Conforme analisados por várias ciências, estes elementos relacionam-se entre si de forma aleatória. Assim, formam sistemas, uma vez que todos trocam matéria e energia entre si, de modo espontâneo e gratuito. A riqueza que obtêm por meio desta postura é a sólida estabilidade que adquirem, sem necessitar de leis, polícia, promotores e juízes para lhes estabelecer limites. Ecossistemas estáveis enriquecem (evoluem) por meio de relações de troca baseadas na necessidade e acaso.

Mas nem por isso os ecossistemas são anarquistas. Ao contrário, possuem uma ordem de relações espontâneas, mas severa. Sobretudo, em seu espaço biótico: garantem-na através de ações fortuitas promovidas por sua natureza primordial. Por exemplo, no decorrer de vários milênios muitas espécies da fauna primeva foram extintas. Algumas teorias ponderam sobre a causa desse fato. Acredita-se naquela que fez esta inferência: “a fauna foi extinta por negar-se a trocar matéria e energia com outros elementos dos ecossistemas. Isto por que não possuía a aptidão necessária para manter a convivência cooperativa, essencial à evolução no ambiente[2] em que viviam”.

Por outro lado, desde há 50 mil anos, primatas da espécie Homo sapiens comportam-se no globo de maneira ameaçadora. Alteram os ecossistemas em que determinam viver com a construção de acampamentos, vilas, cidades e metrópoles, a erigir um espaço de sua exclusiva propriedade: a antroposfera. Para isso, extraem toda matéria e energia dos ecossistemas que encontram pela frente. Porém, sequer efetuam relações de troca com o ambiente. Apenas, devastam-no com obras.

Desse modo, há questões sobre as quais se deve refletir:

Ao considerar a cultura de cada nação de origem, o Sapiens aceita o comportamento daqueles que lhe parecemestrangeiros? Obviamente, não.

Todo Sapiens têm as mesmas atitudes perante os distintos povos de sua mesma espécie? Tudo leva a crer que não.

Alguns povos Sapiens encontram-se à beira de graves conflitos? Sim, pois desde que surgiram no planeta, já formavam grupos de assalto para tomar terras e moradias de seus irmãos, sempre tratados como inimigos ameaçadores.

Até quando o Sapiens pretende prosseguir com a construção da sua antroposfera? Parece que será até a extrema redução da matéria e energia do planeta, resultando no caos temporário do ambiente terráqueo. Sim, temporário, pois os ecossistemas se reabilitam, através da constante “convivência cooperativa” entre seus diferentes elementos constituintes.

Deduz-se, assim, que o ambiente globaliza os diferentes, sem efetuar, a priori, qualquer restrição. Por isso, globaliza as diferenças, tornando-as ativas de modo a acionar sua natureza primordial – este sim, o fator de manutenção espontânea daqueles elementos que detêm as habilidades da plena cooperação; embora outros se auto extinguam, exatamente pela falta delas. Portanto, infere-se que a extinção de elementos sem habilidade cooperativa constitui a forma normal da manutenção espontânea dos ecossistemas em evolução.

Mais 9 milhões de acres protegidos no Chile

Mais 9 milhões de acres doados para conservação do ambiente ─ Chile

Diante deste cenário, como tem sido construída até agora, a antroposfera do sapiens constitui uma aberração, porquanto somente consome matéria e energia para continuar a crescer, sem habilidade de cooperação. Conclui-se que, sem sabedoria, o Homo sapiens é o único primata que, somente por sua própria obra e graça, está condenado à auto extinção. Arrisca-se dizer que os ecossistemas do ambiente planetário saberão apagar o antroposférico lixo sapiens, tal como nunca houvesse existido.

__________
[1] Os elementos que constituem os ecossistemas decorrem das interações de 5 (cinco) fatores ambientais que lhes são básicos: Ar, Água, Solo, Flora, Fauna e Homem (mas apenas os da subespécie Sapiens rarus).
[2] De acordo com sua lógica aleatória, o ambiente envolve conjuntos de ecossistemas distintos, que buscam manter estabilidade por necessidade e acaso.