Propaganda medíocre


Faz tempo, decerto mais de uma década, que a qualidade da publicidade vem decaindo de forma insofismável no Brasil. Isso torna-se mais nítido, sobretudo na televisão. No intervalo dos jornais, por exemplo, ou coloca-se o aparelho mudo ou se é obrigado a ouvir um enxame de barbaridades publicitárias, que não trazem “criação” ou qualquer conexão para a inteligência humana.

Segundo os que conhecem esta matéria, um dos traços da boa campanha publicitária é fazer com que o teor de cada “anúncio” permaneça na mente do potencial comprador por um bom prazo. Para isso, é óbvio, deve causar-lhe prazer, interesse e até admiração. Em sequência, poderá criar nele o desejo de adquirir.

Contudo, não há dúvida de que há empresas difíceis de serem publicitadas de forma mais criativa. Bons exemplos são os “supermercados”. Todavia, a responsável pela publicidade não é obrigada a contratar um “pateta esfuziante”, que anuncia os preços mais baixos para inúmeros produtos dum tal “Armazém S/A”.

Em suma, anúncios com duração de 30 segundos, além da rápida sequência de imagens ser atordoante às pessoas, é natural que quem os assista não fixe coisa alguma. Um minuto após, é muito provável que nem mais recorde do “nome do maldito armazém”, que dirá das informações de venda veiculadas, não raro enganosas.

No meio da primavera o clima da região mais produtiva do país começa a esquentar. É hora de serem lançados produtos como geladeiras, ar-condicionado, ventiladores e vidros de janela que refratam o calor, dentre outros. Basicamente, são destinados a escritórios, apartamentos e residências.

Porém, há outros produtos que são pessoais, talvez supérfluos, mas que vendem bem quando a temperatura do ambiente se eleva. Por exemplo, “cremes especiais de banho”, “xampus-maravilha” e “perfumes sustentáveis”, são alguns de uma infinidade de similares que falam com a alma dos consumistas (bem como, da “elite neocomunista”). São caros, finamente embalados, e oferecidos como “exclusivos para seu corpo”. Constituem novidades, “criadas para resfriar a sua pele” ou coisa que o valha.

Para suprirem à demanda que previram, indústrias e lojas do varejo necessitam de mais publicidade. Aquelas que ainda não fecharam suas portas, contratam empresas que elaboram e produzem suas campanhas. Usam, desde outdoors obtusos, a emporcalhar vias urbanas e prédios, até campanhas televisivas, compradas para serem divulgadas no chamado “horário nobre”.

Retorna-se à premissa dessa análise: a perda de criatividade na publicidade brasileira. É louvável que seja elaborada visando a atingir os segmentos do mercado que estão mais propensos ao consumo. Porém, certos governantes dizem que sua política de inclusão social criou uma classe média emergente e, exageram nos números, a dizer que esta classe possui cerca de “50 milhões de brasileiros que estavam fora do mercado“. Acredita-se que ainda continuam de fora.

Mas parece ser óbvio que, apenas com base na “política de bolsas-mil”, não lhes é possível consumir “cremes especiais de banho”, “xampus-maravilha” e “perfumes sustentáveis”. Suas prioridades ainda são as básicas: ter moradia, alimentarem-se diariamente e vestir roupas ao invés de andrajos. É dolorosa essa conclusão, mas  infelizmente parece ser correta.

Como é possível não auxiliar a quem chega a esse estado?

Como é possível não auxiliar a quem chega a esse estado?!

A mediocridade de campanhas publicitárias não decorre desse triste cenário. Até porque, o segmento de higiene e perfumaria apresenta produções sofisticadas. Apenas são todas iguais, com jovens modelos femininos, cheias da cor dourada, trajando vestidos de seda sobre a pele, realces virtuais em detalhes, a invadir mentes com sugestões de potência e felicidade.

O profissional de marketing encontra-se diante de um impasse. Em síntese, foi formado para “vender serviços e produtos” em um ambiente civilizado. Ocorre, porém, que a educação do Brasil não civiliza, não ensina o cidadão a pensar, a desenvolver seu raciocínio. Não o conduz à reflexão. Isto somente ocorre por iniciativa do próprio educando.

A questão é: ─ “Como desenvolver uma campanha publicitária que não contenha artifícios tidos como falsos se o alvo são pessoas que não foram ensinadas a pensar”?

Na segunda metade do século passado, assistiu-se a publicidades mentirosas, especialmente as dedicadas a vender produtos do tabaco. Mas aos poucos, contando a proibição do governo federal, os cidadãos as negaram de forma democrática e explícita.

No entanto, hoje o uso de certa falsidade acabou por ficar implícito em muitas das publicidades veiculadas. Crê-se que isso se deve à típica “propaganda totalitária do governo”, a qual visa a impor ao povo a obrigação de aceitar medidas e decisões baseadas na doutrina da mentira.