Como sair da lama


Ricardo Kohn, Consultor em Gestão.

Não é necessário ser economista para ver que a péssima gestão da macroeconomia não é uma variável, mas um dado do problema brasileiro. Dentre seus principais efeitos, destaca-se o crescimento contínuo do desemprego, sobretudo, na faixa de renda acima de 20 salários mínimos.

O quadro geral de curto e médio prazo é grave para todos os setores econômicos. No entanto, função da experiência de trabalho, foca-se apenas em dois setores privados: os da consultoria de engenharia e de ambiente. Ambos se encontram a caminho do esfacelamento, com o fim e perda de contratos, a demissão de funcionários, sobretudo de alguns especialistas, além do inevitável fechamento de empresas, detentoras de boa parte do patrimônio da inteligência consultiva.

LamaçalProjetos de engenharia e estudos ambientais bem elaborados constituem a base da construção civil, setor que pode atender a um grande número de trabalhadores que pertencem à faixa de menor renda. Contudo, sem os serviços da consultoria[1], ou param-se obras indispensáveis ou seus prazos são dilatados, a justificar o famoso sobrepreço. E, assim, tem-se mais desemprego, mais gente a tentar sair da lama.

Por outro lado, o governo federal permanece na mesma toada: elevadas despesas de custeio, decerto superiores ao que arrecada para esta finalidade; nível de investimento muito baixo; e total incompetência na atração de investidores privados.

Em suma, o crescimento da inflação, bem além do teto superior da meta, resulta da manutenção de forte demanda pública – pressão de despesas do governo em atividades não-produtivas, sem alvos definidos, e mal explicadas. Por sinal, “lideradas” pela Presidência da República e seu malogrado Comboio de Mamutes: 39 ministérios com eternos resultados insipientes.

Recessão econômica, inflação elevada, taxa básica de juros absurda, desemprego em alta, enfim, o solo do lamaçal econômico, criado pela incompetência soberana, tende a se tornar um implacável pântano nacional. Acredita-se que a questão básica é a seguinte:

─ “Como a sociedade pode desvencilhar-se desta cilada”?

A resposta a esse quadro estrutural se resume em uma única ação: contra-atacar. Através de lideranças nacionais, notórias pela experiência pregressa bem-sucedida, a sociedade encontrará oportunidades potenciais de investimento, meio às ameaças que lhe são impostas.

Com o aumento de profissionais desempregados, o setor da educação brasileira, precário por definição, precisa oferecer “treinamentos úteis”, que aumentem a produtividade em todas as atividades humanas.

Aguardar do governo qualquer iniciativa neste sentido é perda de tempo. O setor público somente promete uma “Pátria Educadora”, falida antes do próprio nascimento. Há que se buscar investidores privados que, com criatividade, reencaminhem a educação às finalidades a que se destina, há séculos.

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[1] Não confundir consultoria com “propinaria travestida”, feita até por presidiário de penitenciária, como no caso de José Dirceu, o petralha.

O ato de escrever e as dúvidas correlatas


Ricardo Kohn

Ricardo Kohn

Várias são as dúvidas que atormentam a cabeça de um escritor antes e durante a redação de um texto. Mas poucos são os leitores que sabem disso. A maioria apenas exige clareza, boa argumentação e significado relevante após sua leitura. De outro modo, o resultado final do artigo precisa ser capaz de gravar a fogo um “xis” no cérebro do leitor, do contrário ele segue reto para o lixo do esquecimento.

No entanto, para o escritor, a oferta espontânea de textos constitui uma ação voluntária de compartilhar ideias, de oferecer opiniões, de trocar conhecimentos com seus leitores. Enfim, é um ato de esperança, que quase implora para conversar com pessoas interessadas.

A primeira dúvida é a escolha do tema do texto. Por exemplo, para a maioria dos escritores o tema é fundado em fatos diários, onde textos críticos ou “de apoio” têm maior representação no espaço cultural. Neles, “o nome dos bois” precisa ser dado, pois do contrário não causam o impacto desejado. Graças a isso, são os textos que informam ao público mais atento e assim fortalecem a democracia em países civilizados.

Outra dúvida refere-se à natureza do texto a ser redigido. Pode ser uma simples notícia, um editorial, uma opinião e segue a plêiade de gêneros literários: crônica, sátira, ensaio, conto, etc. Mas diria que esta dúvida pode ser resolvida com facilidade. Basta que qualquer gênero seja tratado simplesmente por artigo.  Afinal, a preocupação com a escolha da forma não é relevante para o leitor em geral. Contudo, devo salientar, costumo “classificar” os textos que redijo segundo o gênero que considero pertinente. Mas sem preciosismos. Trata-se de um hábito que mantenho desde que iniciei a redigir.

Entretanto, a maior preocupação do escritor consiste em “como escrever” acerca do tema escolhido e, além disso, conseguir manter o texto amarrado ao seu foco principal. Sempre ocorrem em escritores impulsos de criar subtemas e saírem do foco. Mas é possível contornar esse desvio. Uma boa prática é o uso da nota de rodapé.

Da preocupação em “como escrever” surgem muitas dúvidas, consideradas bastante normais: gramaticais, sintáticas, a escolha de verbetes para cada situação e a conexão interna do texto, ou seja, sua estrutura consistente, mostrada pela sequência adequada dos parágrafos e a conversa lógica entre suas frases, que sempre deve ser clara e informativa [1].

No entanto, se o texto for surpreendente, ainda melhor! Por isso, tento encerrar a maioria de meus artigos com algo dentro do foco, mas que provoque à imaginação do leitor. De maneira sincera, gostaria, através de meus textos, de ser capaz de fazê-lo levantar da cadeira ao fim da leitura, com uma boa interrogação na mente e disposto a refletir mais sobre o tema que abordei.

Escrever para um website ou blog não é diferente, pois as dúvidas do escritor são as mesmas e o processo requer mais alguns cuidados. Por exemplo, para documentar um artigo é razoável que se tenha fotografias adequadas para ilustrar o texto. De certa forma, isso atrai mais leitores. Mas às vezes não há imagens que atendam ao texto. Assim, tenho duas coisas a dizer que julgo importantes, pela razoável experiência adquirida na literatura:

  • Quando não se tiver uma foto consistente com o teor do artigo, usa-se uma imagem que traga leveza visual, com ou sem legenda; e
  • Quanto à nota de rodapé que usei, para não perder o foco deste artigo, não tive a intenção de doutrinar ou “evangelizar” ninguém. Apenas a de completar explicações e motivar a reflexão de pessoas interessadas no assunto.
Texto manuscrito em Siríaco

Texto manuscrito em Siríaco

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[1] Não há dúvida que políticos brasileiros dos últimos 12 anos cometem atrocidades com a língua portuguesa, nada “claras e informativas”. Erros de gramática e sintaxe são assustadores. Conexão entre parágrafos e frases não existem quando mentem de improviso. Porém, acima de tudo, não devem ser esquecidos os “verbetes curiosos” que são proferidos, sem qualquer sentido para pessoas com inteligência mediana.

Gostaria de saber, sobretudo, o significado de expressões ditas políticas, tais como “centralidade da necessidade”, “consenso progressivo”, “esforço transversal”, “sonháticos” e “agenda plasmante”. Parece palavrório ordinário vomitado por “filósofo evangélico da Universal”. Aposto que trazem o risco de serem outro embuste para encurralar a sociedade brasileira, já acuada pelo altaneiro cinismo de políticos corruptos.

O primeiro trem suspenso – monotrilho


É transporte público há 133 anos, em Wuppertal, Alemanha.

Wuppertal é próxima das cidades de Düsseldorf e Colonia, com fácil acesso de automóvel ou de trem. Fica situada nas colinas de Derendorf, ao sul da região do rio Ruhr.

Trata-se de uma pequena cidade histórico-industrial, com fábricas de produtos farmacêuticos (a Bayer), de produtos químicos, da indústria têxtil, de indústria metalúrgica, de equipamentos elétricos, de borracha, montadoras de veículos e equipamentos de impressão. Deve-se acentuar, no entanto, que seu desenvolvimento industrial evolui e se atualiza, tornando-se um pólo de elevada importância, triangulado com as cidades de Solingen e Remscheid.

Vista da cidade de Wuppertal

Vista da cidade de Wuppertal

Wuppertal encontra-se situada em um vale estreito, por onde corre o rio Wupper, afluente do Reno. Diante dessas condições, surgiu a proposta de construir um “trem suspenso” que, em parte de seu trajeto, trafega sobre o rio Wupper. Assim, o “Wuppertaler Schwebebahn“, que pode ser traduzido por “trem flutuante de Wuppertal”, foi inaugurado em 1901, embora seja hoje conhecido como monotrilho suspenso. Liga os bairros da cidade rolando em uma sólida estrutura de ferro, para servir aos cidadãos e turistas até os dias atuais.

Vista aérea do monotrilho e sua estrutura de suporte

Vista aérea do monotrilho e sua estrutura de suporte

Com sua linha aérea duplicada em dois sentidos, o “monotrilho” foi planejado para que sua passagem não prejudicasse o tráfego urbano. Dessa forma, desde 1901 têm-se passagens que merecem ser mostradas por sua inventiva e funcionalidade.

Passagem sobre o Rio Wupper. Atente para a mão dupla.

Passagem sobre o Rio Wupper. Atente para a mão dupla.

Passagem sobre pontes do rio Wupper

Passagem sobre pontes do rio Wupper

Passagem através de prédio existente

Passagem através de prédio existente

Passagem sobre via urbana

Passagem sobre via urbana

As passagens sobre vias urbanas têm 8 metros de altura, as sobre o rio Wupper, têm 12 metros.

Cultura da cidade

Sem dúvida, como outras cidades alemãs, Wuppertal detém um ambiente histórico. Possui cerca de 4.500 prédios classificados como monumentos nacionais, datando dos períodos arquitetônicos do Classicismo, Art Nouveaux e Bauhaus. Dentre eles destaca-se sua notável Sala de Concertos, inaugurada em 1900 [1].

A Sala de Concertos de Wuppertal

A Sala de Concertos de Wuppertal

Ainda como parte de sua cultura, ressalta-se a famosa companhia de dança Tanztheater Pina Bausch [2] sediada na cidade. Apresenta-se sempre em Nova Iorque, Paris, Londres, Tóquio e algumas vezes em São Paulo.

Pode-se dizer que Wuppertal é um núcleo de inteligência, design, trabalho e cultura, aninhado quase ao centro do país, a iluminar os mais atentos.

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[1] Foi inaugurada pelo último Imperador alemão, Guilherme II. Por sinal, um indivíduo perigoso em seus apoios e pronunciamentos, tal como certos políticos brasileiros atuais. Diz a História que Guilherme II, com sua política belicista, deu apoio ao Império Austro-Húngaro durante sua grave crise de 1914, que culminou na “Grande Guerra”, depois chamada de Ia Guerra Mundial.

[2] Philippine Bausch, conhecida como “Pina Bausch”, foi coreógrafa, dançarina, pedagoga de dança e diretora de companhia de balé. Ficou conhecida por contar histórias em suas coreografias, baseadas nas experiências de vida dos bailarinos, elaboradas em conjunto. Isso se chama democracia aplicada à cultura. Várias peças da companhia são associadas a cidades do mundo, já que retirava de suas turnês ideias para o trabalho. Faleceu em 2009.

Paradoxo é disparate


O mais óbvio significado para paradoxo é: “uma opinião contrária à comum”. Porém, também constitui “tolice, contradição e disparate”. Todavia, esse vocábulo vai crescendo em sua força, até significar “desvario, desatino”.

Sem dúvida, o mundo está repleto deles [disparates e desatinos]. No entanto, por inúmeros motivos bem claros, faz 12 anos que o Brasil é campeão absoluto em paradoxos. A Comissão de Países Civilizados da ONU (UN-CCC), recém criada, o mantém em primeiro lugar na noviça Copa do Mundo de Disparates. A UN-CCC conclui que o país permanece insuperável em disparates políticos, econômicos e sociais.

Preliminares

Em sua primeira reunião, a UN-CCC concluiu que, dentre os 172 países analisados, o Brasil é o único que, há 12 anos, possui como líderes políticos máximos, analfabetos funcionais e/ou elementos corruptos.

Realizou o levantamento detalhado da quantidade de escândalos políticos e morais nos países analisados. O Brasil alcançou, de longe, o maior índice nesses quesitos. A corrupção, pública e privada, não foi igualada pelos demais países.

Analisando as relações internacionais mantidas com outros Estados, a UN-CCC concluiu que a diplomacia brasileira está impedida por seu Poder Executivo de ampliar seu campo de negociações. A ênfase da ação diplomática deve ser focada em Cuba, Venezuela, Bolívia e Argentina, onde os mandatários têm seus negócios particulares ou pensam em realiza-los. Dentre os 172 países, o Brasil é o de menor visão e amplitude nas relações internacionais.

Outro ponto analisado foi a incidência de tributos sobre produtos e serviços. Embora tenha sido considerado o segundo pior colocado, quando analisado na relação com os serviços públicos de educação, saúde, segurança e transportes, oferecidos em troca do que arrecada, o Brasil dispara com larga margem na ponta da Copa do Mundo de Disparates. Se não, vejamos.

Educação, saúde, segurança e transporte

Esses quatro serviços públicos são obrigações básicas de Estado em qualquer país. A UN-CCC os analisou nos 172 considerados. Observa-se que a entidade não considerou para análise qualquer país regido por ditadura, seja explícita ou “coberta de boas intenções”.

Educação. A UN-CCC concluiu que o Brasil possui quase 13 milhões de adultos analfabetos funcionais, ficando com a sólida oitava posição no ranking mundial. O problema maior que descobriu foi que muitos dos políticos e mandatários brasileiros fazem parte desse lapidar “conjunto da ignorância” e não demonstram qualquer interesse em reverter o quadro. Até porque, mesmo analfabetos, paradoxalmente, por milagre, são milionários.

Escola básica na Suécia

Escola básica na Suécia – Salas para 30 alunos, no máximo

Saúde. A UN-CCC identificou que um ex-presidente, então desatinado pelo deboche, afirmou que Obama precisava implantar em seu país um Sistema Unificado de Saúde igual ao brasileiro (SUS). Disse, em seu desvario, que o SUS é perfeito, de fazer inveja a qualquer país, sem outro igual no mundo. Concorda-se com a frase “sem outro igual no mundo”. Realmente é uma desgraça para os pacientes; tornam-se vítimas no exato momento que, por fim, conseguem dar entrada na maioria dos hospitais públicos.

Segurança. Segundo as Nações Unidas, cerca de 50 mil pessoas foram assassinadas no Brasil, em 2012. Para completar o quadro da segurança pública, a UN-CCC pesquisou na OMS as mortes no trânsito, urbano e rodoviário. O Brasil é o quinto colocado, com cerca 35,1 mil mortes por acidentes de trânsito em 2007. O mais grave é que muitas das vítimas fatais sequer possuem veículos motorizados, pois são pedestres e ciclistas. Os especialistas da UN-CCC concluíram que o Brasil parece que está a sofrer uma disparatada guerra civil.

Transporte. A UN-CCC analisou o quadro dos modais de transporte nos 172 países em pauta – ferroviário, rodoviário, aéreo, dutoviário e aquaviário. Seu foco era o transporte de cargas, destinado à exportação de commodities e produtos. Concluiu que o quadro brasileiro é muito ruim em dois aspectos. Cerca de 60% do transporte de carga é realizado através do modal rodoviário, o que constitui a anti-gestão pública em um país de dimensões continentais. Porém, além disso, a maior parte da malha federal encontra-se em estado lastimável, o que desatina os exportadores pela perda de mais uma das condições necessárias para competir no mercado internacional.

Considerações finais

A UN-CCC deveria incluir em sua análise itens tais como Energia, Habitação, Saneamento Básico, Resíduos sólidos, Acessibilidade, Meios de Comunicação e Ordenamento Territorial. Tem-se alguma ideia dos esforços que seriam necessários para realizar esse trabalho. Porém, ao usar esta abordagem, estaria mais próxima de auxiliar na Gestão do Ambiente dos 172 Estados.

A propósito, a UN-CCC é uma entidade ficcional criada somente para este artigo. No entanto, os dados e informações apresentados estão bem próximos da realidade brasileira. Afinal, o Brasil é o primeiro campeão da Copa do Mundo de Disparates, em 2013.

Todavia, é esperado que seu time de apedeutas políticos e mandatários seja desclassificado na competição em 5 de outubro próximo; ou, no máximo, no segundo tempo, a ser jogado em 26 de outubro, se necessário.

Atenção! Não haverá prorrogação, nem pênaltis!

Como realizar a Gestão do Ambiente


Ricardo Kohn, Escritor e Consultor em Gestão.

Este é um artigo de maior amplitude teórica e prática sobre a Gestão do Ambiente. Procurou-se integrar boa parte dos artigos técnicos já publicados neste blog, durante seus dois anos de existência. Sua leitura e análise pode contribuir para aquecer os debates que visam à evolução das práticas de gestão, tendo o Ambiente como seu foco principal.

1. O que é Ambiente

É qualquer porção do planeta que resulta das relações físicas, químicas, biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores ambientais que a constituem, quais sejam: o Ar, a Água, o Solo, a Flora, a Fauna e o Homem”.

Orvalho sobre a vegetação silvestreDessa forma, todas os espaços planetários são compostos por distintos ecossistemas, que podem apresentar componentes aéreos, aquáticos e terrestres, bem como serem observados segundo seus elementos do espaço físico (ar, água e solo), do espaço biótico (flora e fauna) e do espaço antropogênico (o homem e suas atividades típicas – habitacionais, industriais, comerciais, de serviços e culturais).

No entanto, países de língua portuguesa e espanhola usam o termo ‘Meio Ambiente’. Nas demais nações ocidentais verifica-se que o somente vocábulo ‘Ambiente’ é usado para se referir à mesma entidade: environment, environnement, umwelt, ambiente.

Dado o fato que na língua portuguesa um dos significados de ‘Meio’ é “Ambiente“, dentre outras coisas, opta-se por eliminar esse erro de redundância e usar apenas ‘Ambiente’, tal como nas línguas inglesa, francesa, alemã e italiana, acima exemplificadas.

2. Conceitos básicos relativos ao Ambiente

Seguem alguns conceitos e respectivas definições usados neste artigo. São básicos para o entendimento do que é e como se faz a Gestão do Ambiente.

Conceitos Definições
Ecossistema ou Sistema ecológico Qualquer parcela do Ambiente, na qual se estabelecem relações de diversas ordens entre os fatores bióticos e abióticos que a compõem. Os empreendimentos públicos e privados são conjuntos de fatores ambientais antropogênicos e fazem parte dos ecossistemas em que se situam. Constituem, dessa forma, ecossistemas humanos organizados quando estabelecem relações de troca de energia e matéria dentro de limites aceitáveis.
Fator ambiental Constituem os componentes dos ecossistemas, tanto primitivos, quanto rurais e urbanos, que interagem para conformá-los. Os fatores ambientais considerados básicos são o Ar, a Água, o Solo, a Flora, a Fauna e o Homem.
Espaço ambiental Espaços ambientais constituem uma subdivisão teórica do Ambiente. São organizados por conjuntos afins de segmentos ambientais, de acordo com o tipo de abordagem que se deseja imprimir em uma dada relação entre Empreendimento e sua área de inserção. Por exemplo: Ambiente → {Espaço Físico, Espaço Biótico e Espaço Antropogênico}.
Segmento Ambiental Segmentos ambientais consistem qualquer uma das partições afins em que podem ser subdivididos os espaços ambientais, de acordo com a abordagem do estudo a ser realizado e em conformidade com as características do espaço a que se referem. Por exemplo: Espaço Biótico → {Segmento Aquático, Segmento Florístico e Segmento Faunístico}.
Relações ambientais Consistem nas trocas sistemáticas de energia, matéria e informação entre fatores ambientais e entre cada fator e os ecossistemas de que participam. São trocas espontâneas e essenciais que podem garantir a estabilidade dos sistemas ecológicos.
Estabilidade ambiental Constitui o processo de manutenção espontânea dos ciclos de relações ambientais mantidas entre fatores em permanente interação, conformando ecossistemas estabilizados e, por conseguinte, capacitados para a coevolução.
Organização (o mesmo que Organização produtiva, Empresa, Corporação ou Empreendimento) Constitui um conjunto dinâmico e integrado de recursos de diversas naturezas, apoiado em tecnologias apropriadas, destinadas aos tipos de bens, produtos e serviços que objetiva produzir, física e economicamente organizados, a fim de cumprir um processo produtivo estabelecido. Toda organização opera em um determinado Ambiente. Sua existência, sobrevivência e evolução dependem da maneira com que ela se relaciona com ele, bem como de suas capacidades de adaptação às variações do Ambiente. Depende, portanto, de sua capacidade de gestão do desempenho ambiental.
Área de influência de uma organização Consiste na área territorial estimada que poderá receber impactos ambientais benéficos e adversos, decorrentes de todas as etapas do ciclo de vida de uma organização: projeto, obras, operação e eventual ampliação.
Transformação ambiental Trata-se da sequência de eventos proporcionada pelas relações ambientais mantidas entre um empreendimento e o Ambiente de sua área de influência:

  • Existe uma organização ou um projeto de engenharia;
  • Explicada por intermédio de suas intervenções de engenharia sobre o Ambiente;
  • Que demandam ou ocasionam manejos no Ambiente para que sejam implantadas e operadas;
  • As quais podem proporcionar mudanças de comportamento e/ou de funcionalidade dos fatores ambientais por elas afetados.
Intervenção ambiental Consiste em uma obra de engenharia que acarreta a introdução, concreta ou virtual (quando em projeto), permanente ou temporária, de pelo menos um fator ambiental em um dado Ambiente através da ação humana, capaz de gerar ou de induzir o remanejamento dos fatores ambientais existentes. Um conjunto de intervenções ambientais conforma uma organização.
Alteração ambiental Consiste no remanejamento, espontâneo ou induzido, de conjuntos de fatores ambientais da área de influência da organização, em decorrência da introdução de pelo menos uma intervenção ambiental.
Fenômeno ambiental Constitui qualquer processo ambiental capaz de afetar, específica e diretamente, o comportamento e/ou a funcionalidade pré-existentes de um ou mais fatores ambientais, em decorrência de pelo menos uma alteração ambiental.
Eventos ambientais Trata-se do nome genérico dado a empreendimentos, intervenções, alterações e fenômenos ambientais.
Impacto ambiental Os efeitos de qualquer ordem percebidos no Ambiente que sejam capazes de afetar as variações das transações de energia, matéria e informação, estabelecidas entre o fator ambiental e o sistema ecológico de que participa, beneficiando-o ou prejudicando-o. Empreendimentos, intervenções, alterações e fenômenos ambientais possuem impactos ambientais associados, tanto benéficos como adversos.
Qualidade ambiental A qualidade de um Ambiente expressa as condições e os requisitos básicos que ele detém, de natureza física, química, biológica, social, econômica e cultural, de modo a que os fatores ambientais que o constituem, em qualquer instante, exerçam efetivamente as relações ambientais que lhes são fundamentais e afetas.
Reabilitação ambiental Consiste na implantação e gestão de projetos e ações destinados a re-funcionalizar áreas que hajam sido alteradas, sejam por meio de ações antropogênicas, sejam através de processos espontâneos de sucessão em ecossistemas do Ambiente.
Rupturas ambientais Decorrem das perdas de relações ambientais essenciais para manutenção de um ecossistema estabilizado, proporcionadas por impactos ambientais adversos, antropogênicos ou não.
Retroimpactos ambientais Constituem as respostas do Ambiente impactado sobre todas as organizações e comunidades nele existentes, podendo beneficiá-las ou prejudicá-las. Quanto mais adequadamente for mantida a sustentabilidade do Ambiente afetado por obras e atividades produtivas, menores serão seus retroimpactos adversos.
Sustentabilidade A sustentabilidade é um atributo exclusivo do Ambiente que consiste na sua capacidade e de seus ecossistemas componentes em manter e desenvolver as relações essenciais entre seus fatores constituintes (ar, água, solo, flora, fauna e homem), que lhes permite existir. Alguns especialistas utilizam o termo sustentabilidade ambiental. Do inglês, ‘environmental sustainability’.
Avaliação da sustentabilidade Consiste na avaliação da qualidade ambiental de um território, envolvendo os mesmos elementos utilizados na aferição de sua sustentabilidade: qualidade do ar, qualidade da água, qualidade do solo, qualidade de vida da flora, qualidade de vida da fauna e qualidade de vida humana.
Gestão ambiental O objeto da gestão ambiental é a otimização dos processos da organização que transformam os sistemas ecológicos, primitivos ou não. A gestão ambiental é o processo necessário, mas não suficiente, para garantir que a introdução de um sistema humano organizado em qualquer sistema ecológico (primitivo, alterado ou humano) tenha como resultado um sistema humano organizado. Sua finalidade é a gestão do desempenho ambiental das organizações.
Gestão da Sustentabilidade Consiste no processo gerencial onde são avaliados, planejados e monitorados (i) os processos da transformação ambiental, (ii) os resultados destes processos e (iii) as respostas do Ambiente a estes resultados, beneficiadas através de (iv) um plano ambiental específico.
Conservação ambiental Consiste no uso controlado dos espaços territoriais, visando a garantir a manutenção das funcionalidades ambientais similares às suas funcionalidades primitivas.
Preservação ambiental Consiste no impedimento controlado do uso e da ocupação de ecossistemas primitivos, visando à total manutenção de suas funcionalidades ambientais primitivas.
Diagnóstico ambiental Constitui a construção do conhecimento da região de interesse de um projeto de engenharia ou de um empreendimento existente. Pode ser efetuado por meio da coleta de dados e informações locais (recomendável) ou através de websites especializados, para coletas dos dados secundários disponíveis. Deve ser realizado enfocando os ecossistemas e fatores ambientais afetáveis pela presença do projeto ou da organização existente, assim como aqueles que com eles se relacionam e deles dependem para que possuam estabilidade.
Prognóstico ambiental Os prognósticos ambientais são processos analíticos de previsão justificada e documentada dos quadros mais prováveis da transformação ambiental esperada para a região considerada pelo estudo.
O ato de Avaliar O ato de avaliar pressupõe a realização de três tarefas essenciais:

  • O estabelecimento de um padrão de medida;
  • A mensuração do objeto a ser avaliado segundo esse padrão; e
  • Uma nota, que represente o desvio relativo entre o valor apropriado ao objeto e o padrão previamente estabelecido.

As duas primeiras tarefas consolidam uma análise. A terceira, a elas integrada, realiza a avaliação.

Avaliação de Impactos Ambientais Conhecida através da sigla AIA, é o processo de aferir o desvio relativo entre os impactos ambientais estimados em um cenário ambiental, utilizado como base (padrão), e os impactos estimados para um cenário a ele alternativo.
Monitoração ambiental Processo de acompanhamento e/ou aferição de parâmetros ou indicadores ambientais, devendo ser capaz, sempre que possível, de mensurar as oscilações do comportamento de um dado fator ambiental, em intervalos de tempo pré-estabelecidos e conforme algum padrão previamente definido.
Hipótese Global de Situações de Impacto (HGSI) Constitui a identificação preliminar, ainda hipotética, dos eventos ambientais (intervenções, alterações e fenômenos) proporcionados por um projeto de engenharia ou por um empreendimento em sua área de influência. É expressa através de uma árvore de eventos, onde é indicada a relação de causa e efeito dos eventos identificados. A HGSI é a base para a realização dos diagnósticos ambientais, orientando-os para os ecossistemas e fatores ambientais de interesse.
Transitividade do impacto ambiental A transitividade é a energia de transformação que estrutura e mantém a árvore de eventos ambientais – HGSI –, demonstrando que o impacto ambiental de um fenômeno distribui-se por essa árvore, através de seus eventos causadores, ‘do solo até o topo da árvore’.
Matriz de Impactos Ambientais (MIA) Constitui a representação matricial da árvore de eventos ambientais.
Potencialidade ambiental Consistem em áreas territoriais mais resistentes a transformações ambientais, em função de seu relevo, de seu clima, de seus solos, de seus recursos hídricos, de seus biomas e de suas comunidades, inclusive a humana.
Vulnerabilidade ambiental Consistem em áreas territoriais mais sensíveis a transformações ambientais, em função de seu relevo, de seu clima, de seus solos, de seus recursos hídricos, de seus biomas e de suas comunidades, inclusive a humana.A Sustentabilidade é um dos principais focos de estudos e projetos de engenharia que visam a impedir a ocorrência de questões ambientais adversas. Embora o uso do termo ‘Sustentabilidade’ seja relativamente recente no Brasil, diversas universidades ensinam a seu respeito utilizando conceitos diferenciados. De forma mais nítida, e por vezes equivocada, alguns agentes da mídia fazem uso indiscriminado desse conceito, aplicando-o para adjetivar processos que, ou não são sustentáveis, ou deles resulta a Sustentabilidade do Ambiente em que ocorrem.

3. Em que consiste a Sustentabilidade

Para esclarecer o significado deste conceito precisa-se entender (i) em que espaço ele deve ser considerado, (ii) o que o motiva, (iii) quais são os elementos envolvidos na sua realização, e (iv) quais são os benefícios decorrentes de sua aplicação. Enfim, em que cenários tratamos esse processo, que foi denominado por Sustentabilidade Ambiental ou simplesmente Sustentabilidade, a indicar que é uma propriedade exclusiva do Ambiente.

Consiste na capacidade dos ecossistemas constituintes do Ambiente (primitivos e humanos) em realizar, manter e desenvolver as relações ambientais essenciais entre os fatores ambientais básicos existentes no planeta, que são o ar, a água, o solo, a flora, a fauna e o homem.

Todos os fatores ambientais secundários, embora não sejam menos importantes, decorrem dessas relações mantidas entre esses seis fatores básicos. Vale observar que estudiosos e acadêmicos que atuam na área ambiental incluem o fungo como fator ambiental básico.

3.1. Ecossistema primitivo

Em ambientes constituídos por ecossistemas primitivos, onde ainda não exista a presença expressiva de atividades humanas produtivas, essas relações possuem algumas capacidades específicas que as tornam sustentáveis. De uma forma geral, é possível enumerá-las assim:

Capacidade de Estabilidade Ambiental: os fatores ambientais (Ar, Água, Solo, Flora, Fauna e Homem) realizam de forma sistemática trocas de matéria e energia entre si, em expressiva harmonia com as necessidades de cada fator demandante e de acordo com a capacidade dos fatores que fazem as ofertas. É assim que se desenvolvem e evoluem.

O termo Equilíbrio Ecológico ou Ambiental não existe como conceito científico, muito embora seja utilizado até mesmo em textos legais brasileiros, na qualidade de ‘preceitos legais’. O termo correto é Estabilidade Ecológica ou Ambiental.

Capacidade de Retroalimentação Ambiental: tudo o que é gerado ou produzido pelos ecossistemas primitivos de um dado Ambiente é totalmente consumido por seus fatores ambientais constituintes. Não há resíduos de qualquer natureza, não há sobras, não há ‘lixo’ no Ambiente primitivo. Isso demonstra que suas práticas intrínsecas de reciclagem e reuso são espontâneas e completas.

As duas características acima permitem que os componentes dos ecossistemas operem compartilhando processos, ou seja, possuam Capacidade de Coevolução Ambiental.

Capacidade de Autoorganização Ambiental: não existem sistemas de controle externos às relações ambientais mantidas entre os fatores. Esses “controles” são espontâneos e intrínsecos às próprias relações. Desta forma, não há perdas de energia e matéria em processos que não sejam produtivos. Em outras palavras, “não há custos de homem x hora para controlar a produção e a produtividade dos sistemas ecológicos”.

A tendência dos ambientes primitivos estabilizados é a de atingir a níveis de coevolução e autoorganização tais que se podem tornar sistemas de elevada resistência e resiliência, a independer de fluxos de energia e matéria a eles externos. A esta tendência dá-se o nome de Clímax Ecológico ou Ambiental. Há autores que não concordam com a tese da tendência do clímax dos sistemas ecológicos.

Garantidas estas quatro capacidades é possível afirmar que um dado Ambiente possui qualidade ambiental, encontra-se estabilizado e, em consequência, possui sustentabilidade.

Mas, ainda há mais uma capacidade própria dos ecossistemas primitivos. Podem ocorrer em algum momento de suas existências rupturas nas relações ambientais existentes. As trocas de energia e matéria entre seus fatores são alteradas por algum motivo. Então, o sistema ecológico é afetado e pode perder seu funcionamento primitivo. Contudo, o sistema resultante  também passa a buscar a realização das capacidades acima apresentadas para alcançar um novo cenário de sustentabilidade. Este processo, que constitui um renascimento, é chamado por Capacidade de Sucessão Ambiental ou Sucessão de Ecossistemas.

Nos ecossistemas primitivos o Homem constitui um fator componente básico, que é parte ativa do sistema. No entanto, deve ser considerado ou como um componente primitivo ou, sobretudo, como um componente que sabe limitar suas apropriações e demandas sobre os demais fatores, a contribuir para a existência e permanência dos ecossistemas primitivos.

3.2. Ecossistema humano

O Homem constrói seu habitat preferencial. Será aqui denominado ecossistema humano ou sistema humano. Ele se apropria e transforma recursos naturais (fatores ambientais), de acordo com o que considera relevante para ter suas necessidades atendidas, básicas ou não. Ele produz, distribui seus produtos, cria novas atividades econômicas secundárias, gera renda e riqueza. Porém, os sistemas humanos muitas vezes constituem ‘sistemas organizacionais’ e operam de forma distinta dos sistemas ambientais. Seus fatores ambientais básicos são “recursos humanos, informação, tecnologia, recursos naturais e capital”. Segundo esse entendimento, as relações entre seus fatores básicos podem ser explicadas da seguinte forma.

Os sistemas humanos realizam apropriações de recursos naturais e os transformam em produtos ou serviços, tentando buscar a harmonia entre os mercados demandantes e sua capacidade de oferta. É assim que se desenvolvem alguns dos sistemas empresariais. Denominamos este processo por Busca da Estabilidade Organizacional.

Nem tudo o que é produzido pelos sistemas humanos é totalmente consumido pelos mercados a que atendem. Por isso, há sobras, há resíduos de variadas naturezas, há ‘lixo’ no Ambiente empresarial, o qual os sistemas humanos hoje tentam minimizar para reduzir suas despesas. Quase nada é compartilhado, quase tudo visa à competição. Denomina-se este processo por Competição na Evolução Organizacional.

Há inúmeros sistemas de controle que são externos às relações empresariais. Eles são basicamente improdutivos. Desta forma, nos sistemas humanos há perdas de energia e matéria em processos que, afora o controle, nada produzem. Em outras palavras, “há custos de homem x hora para controlar sua produção e produtividade”. Denomina-se este processo por Possibilidade de Organização Organizacional.

A tendência dos sistemas humanos é a de atingir a níveis de evolução e organização tais que se tornem em sistemas de elevada resiliência, adptando-se, quando possível, às variações dos fluxos de insumos, internos e externos (recursos humanos, informação, tecnologia, recursos naturais e capital). Na falta de um título mais técnico, denomina-se esta tendência por Angústia da Vida Organizacional.

Quando estas quatro capacidades conseguem ser aperfeiçoadas pelos sistemas organizacionais, é possível afirmar que um dado sistema humano possui qualidade empresarial, tornando-se um Sistema Humano Organizado, dotado de elevado grau de Desempenho Ambiental, mas nunca de Sustentabilidade.

Todavia, tal como nos sistemas primitivos, os sistemas humanos podem perder as capacidades acima citadas. Dois processos podem acontecer nestes casos: ou interrompem suas operações ou são substituídos por novos sistemas organizacionais. Denomina-se este processo por Dificuldade da Sucessão Organizacional.

Pode-se observar que o conceito da Sustentabilidade está associado a diversos processos que envolvem relações entre fatores ambientais e fatores humanos, entre sistemas primitivos e sistemas humanos.

Todavia, a responsabilidade em garantir e manter a sustentabilidade do Ambiente, em níveis efetivos e aceitáveis, é exclusiva do Homem, dado que ele é o fator que cria os conflitos entre manter estoques e qualidade de recursos naturais ou deles se apropria para a satisfação de suas próprias demandas, inclusive as supérfluas.

Em síntese, conclui-se que todas as atividades de organizações devem possuir desempenho ambiental adequado e compatível, de forma a garantir a sustentabilidade dos ecossistemas em que estejam inseridas, ou seja, manter o Ambiente estabilizado e sustentável sem perder sua capacidade produtiva.

Trata-se de um forte desafio que, de uma forma um tanto abstrata, foi denominado por “desenvolvimento sustentável [1]”, insinuando várias interpretações discutíveis para o adjetivo “sustentável”.

4. A Transformação do Ambiente pelo Homem

Por exemplo, ao reunir um time de especialistas ambientais para iniciar a elaboração de um Estudo de Impacto Ambiental, verifica-se que cada profissional identifica a transformação futura do Ambiente segundo suas premissas de formação acadêmica. Ou seja, os impactos ambientais variam, desde a sua forma de apresentação, até o seu conceito e conteúdo.

Neste item o artigo oferece um modelo teórico-conceitual para que especialistas em várias áreas sejam orientados para “ver da mesma forma os cenários futuros do Ambiente em transformação por atividades humanas”. Vale dizer que esse modelo já foi utilizado em todas as regiões brasileiras, como suporte técnico para milhares de estudos ambientais de variadas naturezas – estudos de impacto, zoneamentos, auditorias, levantamentos de passivo ambiental, etc.

4.1. Entidades da Transformação Ambiental

Os dados do problema são os seguintes: (i) um empreendimento, em projeto, em obras ou mesmo em operação; (ii) a visão preliminar de sua área de influência; e (iii) uma equipe técnica desafiada a descobrir a transformação ambiental dessa área, tanto a já ocorrente, quanto sua provável e inevitável transformação futura.

A base teórica do modelo considera que:

  • Todos os Empreendimentos, sem exceção,
  • Podem ser explicados por intermédio de suas intervenções de engenharia no Ambiente. Um empreendimento é formado por várias unidades construtivas (temporárias) e diversas unidades produtivas (permanentes). São denominadas Intervenções Ambientais;
  • Estas intervenções, para serem construídas, demandam ou induzem manejos no Ambiente. Esses manejos são denominados Alterações Ambientais;
  • Nessa sequência de eventos, as alterações ambientais podem proporcionar mudanças de comportamento e/ou da funcionalidade dos fatores ambientais afetados. Os eventos consequentes dos manejos são denominados Fenômenos Ambientais.

A figura abaixo sintetiza a base teórica da transformação ambiental de um território.

Estrutura conceitual da Transformação Ambiental

Estrutura conceitual da Transformação Ambiental

A estrutura acima diz que qualquer empreendimento é formado por M intervenções ambientais. Uma intervenção poderá gerar ou induzir até N alterações ambientais. E de forma inversa, uma alteração ambiental pode ser consequência de até M intervenções. Por fim, uma alteração ambiental, por sempre afetar a dinâmica do Ambiente, pode modificar o comportamento e/ou a funcionalidade de fatores ambientais, dando origem à manifestação de até P fenômenos ambientais. E a recíproca é verdadeira, ou seja, um fenômeno pode ser derivado de até N alterações distintas.

Analisando a figura acima observa-se que todos os eventos ambientais possuem impactos associados grafados por I e i. Os fenômenos possuem impactos positivos ou negativos, ou seja, benéficos ou adversos. Dada a capacidade da transitividade dos impactos, os eventos superiores também possuem impactos ambientais, que recebem dos fenômenos que geram. Todavia, dado que uma alteração pode gerar fenômenos adversos e benéficos, seus impactos são o somatório das adversidades A e o somatório dos benéficos B. Ou seja, alterações, intervenções e empreendimentos terão impactos negativos e positivos [A; B].

Chama-se a atenção para um fato que é evidente. O Ambiente percebe e sofre tanto os impactos negativos A, quanto os positivos B. Mas nunca sofre a resultante contábil dos mesmos, A + B. Tal procedimento deforma completamente a análise e a avaliação ambiental, tornando inválido qualquer estudo que o aplique.

Na prática da análise da transformação ambiental tem-se duas ferramentas básicas para realiza-la: a Árvore da Transformação Ambiental (ATA) e a Matriz de Impactos Ambientais (MIA), ambas referidas a um empreendimento.

A ATA possui a conveniência da equipe de analistas ver o cenário da transformação prevista em uma única imagem. Contudo, para empreendimentos mais impactantes, com muitos eventos, demanda muito espaço para ser construída.

A figura a seguir apresenta o diagrama genérico de uma ATA.

Diagrama da Árvore da Transformação Ambiental – ATA

Diagrama da Árvore da Transformação Ambiental – ATA

Neste exemplo específico o empreendimento é composto por quatro Intervenções Ambientais (INA), das quais decorrem seis Alterações Ambientais (ALA) que, por sua vez, promovem a manifestação de dez Fenômenos Ambientais (FEN). Observe que todas as relações de causa e efeito entre os eventos encontram-se explicitadas. Um texto específico deverá justificar a sequência desta árvore.

A ferramenta alternativa à árvore é estruturada de forma matricial, através de uma Matriz de Impactos Ambientais. Segue abaixo o exemplo de uma matriz de impactos para um Parque Eólico já em operação.

Como nesse exemplo hipotético a avaliação de impactos ambientais já foi realizada, os eventos adversos estão grafados em vermelho; os benéficos, em azul; por fim, os não significativos, grafados em branco.

Matriz de Impactos Ambientais – Parque Eólico
Intervenções Alterações Fenômenos
Intervenções produtivas
Aerogeradores e unidade de controle do parque
Uso e ocupação do solo
Variação da pressão sobre o sistema viário
Variação da oferta de emprego
Variação da renda familiar
Variação da arrecadação tributária
Variação dos níveis de ruídos e vibrações
Variação da acessibilidade interlocal
Oferta de energia elétrica
Variação da disponibilidade estadual de energia elétrica
Variação do desenvolvimento industrial
Variação do desenvolvimento de comércio e serviços
Variação da arrecadação tributária
Variação da oferta de emprego
Variação da renda familiar
Variação do suporte a serviços sociais básicos
Variação da qualidade de vida no Estado
Variação da pressão sobre o sistema viário
Variação dos níveis de ruídos e vibrações
Variação dos riscos de acidentes viários
Rodovia de acesso ao parque e rodovias vicinais
Oferta de equipamentos viários
Variação da pressão sobre o sistema viário
Variação dos níveis de ruídos e vibrações
Variação da acessibilidade interlocal

Observando a nomenclatura utilizada para a denominação dos eventos que se manifestam na área de influência considerada, verifica-se que as intervenções representam obras de engenharia, as alterações são ações de manejo e os fenômenos são processos variáveis do Ambiente.

4.2. Conteúdo do Cenário da Transformação Ambiental – CTA

A estrutura de apresentação do cenário da transformação ambiental é a própria matriz de impactos ambientais acima. Todavia, nela somente estão disponibilizados os títulos dos eventos. O conteúdo do cenário deve apresentar a caracterização de cada um dos eventos, quais sejam.

  • Caracterização do Empreendimento.
  • Caracterização das Intervenções Ambientais.
  • Caracterização das Alterações Ambientais.
  • Caracterização dos Fenômenos Ambientais.

Em linhas gerais, essas caracterizações devem apresentar o nome do evento, sua localização, sua descrição, suas áreas de ocorrência e manifestações, os eventos causadores, os eventos resultantes e, quando possível, documentação fotográfica.

O CTA deve ser monitorado e atualizado periodicamente, em todas as etapas do ciclo de vida de uma organização, visando a proporcionar a seus executivos a qualidade de seu desempenho ambiental e o nível de sustentabilidade que a organização consegue proporcionar à sua área de influência.

5. Ferramentas para a Gestão do Ambiente

Existem diversos métodos, técnicas e metodologias que podem ser adaptados para a Gestão do Ambiente (Gestão Ambiental + Gestão da Sustentabilidade). No entanto, há três ferramentas específicas para essa finalidade, sobre as quais estão apresentadas a seguir suas características básicas, vantagens e desvantagens.

5.1. ISO 14.001: Sistema de Gestão Ambiental – SGA

A ISO – International Organization for Standardization foi fundada em 1947, com sede em Genebra, na Suíça. Produz e aprova normas internacionais para padronização de processos em várias áreas produtivas.

A área ambiental foi contemplada através da série normativa ISO 14.000. Nesta série, composta por cerca de 29 normas com temas ambientais complementares, destaca-se a norma ISO 14.001, lançada no Brasil em 1996, que visa a beneficiar a gestão ambiental de empresas e instituições.

Embora a 14.001 seja utilizada para certificar organizações em Sistemas de Gestão Ambiental, muitos especialistas da área da gestão consideram-na impositiva em sua burocracia. Ou seja, pouco capaz de se adaptar à cultura de cada organização, a qual varia em função de seus proprietários, dos países em que se localizam, dos mercados a que atendem e até mesmo das equipes técnicas que possuem.

No entanto, para as organizações que atuam no mercado internacional, recomenda-se a implantação e certificação do Sistema de Gestão Ambiental – ISO 14.001.

Em suma, normas internacionais para padronização de processos e procedimentos, que pretendam atender às necessidades de qualquer organização existente, correm o risco de “engessar” processos de empresas produtivas em troca de certificações.

Ao importar modelos de gestão ingleses, norte-americanos ou internacionais corre-se o risco de esquecer a cultura organizacional existente no próprio país. Sem dúvida, é importante adaptá-los e há profissionais brasileiros capacitados para isso.

5.2. Plano Corporativo Ambiental – PCA

O PCA difere bastante dos Sistemas de Gestão Ambiental, posto que não é “amarrado em práticas internacionais”. Ao contrário, veste localmente o corpo da organização produtiva como um agasalho de previsão da produção. Visa a, além do lucro e da rentabilidade da organização, manter a sustentabilidade do Ambiente que transforma, melhorando seu desempenho ambiental.

Para compreender o processo de planificação (ou planejamento), os conceitos de estratégia, tática e operação precisam ser esclarecidos, visando à devida classificação dos elementos de planos de qualquer natureza. Neste caso, Planos Corporativos Ambientais.

A origem desses três conceitos encontra-se nas práticas militares. Posteriormente, foram migradas para organizações produtivas. O texto que se segue busca explicar, ainda que de forma introdutória, a sucessão dos usos e práticas dos processos de planificação, a saber:

Planos militares → Planos empresariais → Planos ambientais.

Para realizar o processo de um plano empresarial é necessário que existam quatro elementos essenciais a estabelecer relações entre si. O primeiro é uma organização produtiva. Ela é o ponto de foco dos planos empresariais. O segundo elemento é o fato de que ela precisa produzir pelo menos um produto. O terceiro, é a existência de um mercado que demande e receba este produto. O quarto e último são os clientes que compõem este mercado e que consomem este produto. Com esses elementos é possível garantir que é realizar processos de planificação é essencial.

Planejam-se as relações desejadas entre estes quatro elementos. Planeja-se para que a organização produtiva possua condições favoráveis de estabelecer relações desejáveis e satisfatórias com todos os demais elementos: produto/serviço bem feito, mercado atendido, clientes felizes. Resultado: sucesso da organização.

No processo do Plano Corporativo Ambiental têm-se os mesmos elementos:

  • A organização produtiva, que é conformada pelo Empreendimento e pelas relações ambientais que mantém com o Ambiente de sua área de influência. São relações mútuas e bidirecionais mantidas entre duas entidades que tentam se integrar (em tese, a organização que deseja se integrar ao Ambiente).
  • Os produtos, que surgem das relações ambientais, chamador por produtos ambientais. São os impactos decorrentes das relações “Organização versus Ambiente”. Conforme foi visto, podem ser adversos e benéficos.
  • O mercado, que é o próprio Ambiente, através de seus espaços físico, biótico e antropogênico, bem como a organização que se deseja planificar, que em algumas oportunidades “adquire” retroimpactos do Ambiente.
  • Os clientes, que são os próprios fatores ambientais que “consomem” estes impactos, quais sejam: o ar, a água, o solo, a flora, a fauna e o homem.

Dada a existência desses elementos e suas relações sistêmicas, entende-se que, mantidas as expectativas das Ciências do Ambiente, Planos Corporativos Ambientais podem e devem ser desenvolvidos para quaisquer organizações produtivas.

5.2.1. Estrutura de desenvolvimento e execução do PCA

Todos os gêneros de planos aqui citados (Militar, Empresarial e Ambiental) podem ter até três níveis de visão e alcance:

  • O plano de nível estratégico, com alvos ou objetivos globais de longo prazo;
  • O plano de nível tático, com alvos ou objetivos de médio prazo; e
  • O plano de nível operacional, com alvos ou metas de curto prazo.

O detalhamento dos níveis do PCA deve responder aos atributos estrutura, formato, conteúdo e processos:

  • A estrutura é dada pelos elementos que constituem cada nível, desenhando a estrutura física do plano;
  • O formato refere-se à redação dos elementos constituintes de cada nível, permitindo aos usuários a identificação do nível a que pertence cada elemento e sua imediata classificação – estratégico, tático ou operacional;
  • O conteúdo desses elementos, contendo a essência, a finalidade e o alcance de cada elemento;
  • Os processos de implantação e gestão dos níveis e respectivos elementos, dando vida própria e animação ao plano.

A figura a seguir mostra um diagrama dos elementos estratégicos (E), táticos (T) e operacionais (O) de um PCA, mostrando como se relacionam. Estão organizados em Alvos (Objetivos e Metas) e Medidas (Programas, Projetos e Ações).

Estrutura para elaboração e execução do PCA

Estrutura para elaboração e execução do PCA

O estabelecimento e formulação dos alvos do PCA seguem a seguinte sequência:

  • Formulação da Visão Ambiental da organização;
  • Formulação da Missão Ambiental, orientando seus Objetivos Estratégicos;
  • Estabelecimento dos Objetivos Estratégicos, demandando Objetivos Táticos;
  • Estabelecimento dos Objetivos Táticos, demandando Metas Ambientais; e
  • Estabelecimento das Metas Ambientais, demandando Projetos e Ações.

E quando o plano é implantado, sua execução acontece na ordem inversa, ou seja:

  • Ações e Projetos são implantados e executados visando a atingir as Metas Ambientais estabelecidas e concluir os Programas Ambientais que lhes deram origem;
  • Programas Ambientais são geridos para atingir Objetivos Táticos, alcançando os Objetivos Estratégicos que lhes deram origem;
  • Objetivos Estratégicos são alcançados visando a consolidar a Missão Ambiental estabelecida.
  • A manutenção da Missão alcançada poderá realizar a Visão Ambiental esperada. Isto porque o alcance da Visão Ambiental de uma organização também depende do desempenho das demais organizações do mesmo setor e de seus fornecedores.

5.3. Auditoria Ambiental

A auditoria ambiental é a terceira ferramenta recomendada para que organizações em geral garantam a qualidade de seus processos destinados à Gestão do Ambiente, ou seja, Gestão Ambiental de seus próprios processos e Gestão da Sustentabilidade do Ambiente que impactam.

O processo de auditar nada mais é do que investigar tarefas em andamento e realizar comparações entre as práticas ambientais realizadas por uma organização com pelo menos os padrões ambientais para organizações do mesmo setor. Mas, sobretudo, sugerir soluções para quadros definidos como “não-conformidades”.

Por esse motivo, os auditores, quer sejam internos ou externos, às vezes não são muito apreciados por funcionários das organizações auditadas. Afinal, são contratados para identificar desvios, erros e relatar fatos e tendências gerenciais que podem ser indesejáveis para a alta administração de organizações produtivas.

Nesse item seguem orientações introdutórias para Auditoria de Planos Corporativos Ambientais – APCA. No entanto, sua sistemática pode ser aplicada a outros sistemas de gestão ou a qualquer conjunto de processos e procedimentos que a organização utilize para atender à qualidade das relações que mantém com o Ambiente.

A figura a seguir oferece o quadro lógico do processo de APCA.

Quadro lógico da APCA

Quadro lógico da APCA

A organização produtiva que contrata uma auditoria define quais são as suas unidades e/ou funções que deseja que recebam auditoria, isto é, define o Escopo da Auditoria.

As auditorias são realizadas com base em (i) leis, (ii) normas, (iii) contratos subscritos, (iv) melhores práticas reconhecidas pelo mercado ou (v) nos elementos do instrumento de gestão utilizado pela organização.

Por outro lado, a empresa auditora precisa aceitar que o conjunto dos elementos constante do Plano Corporativo Ambiental representa a capacidade da organização em Gestão Ambiental e da Sustentabilidade (GAS) e constituirá o Critério da Auditoria, ou seja, o conjunto de padrões ambientais de referência contra os quais a auditoria será realizada.

Quando esses elementos não existem, a capacidade de gestão da organização torna-se mais vulnerável. Nessas situações a legislação em vigor no país passa a ser o Critério (obrigatório) da Auditoria.

Deve-se salientar que a organização que já possua ferramenta específica para GAS e realiza auditorias de forma sistemática é diferenciada em seu desempenho quando comparada às suas concorrentes.

5.3.1. Fases da APCA

Todas as auditorias constituem uma relação bastante profissional entre a organização a ser auditada e uma empresa auditora. O sigilo absoluto das informações coletadas é fator de extrema relevância entre as duas partes e seus funcionários, ou seja, empresas, auditores e entrevistados.

As auditorias precisam evoluir em processos suaves e transparentes, sobretudo por parte dos auditores. Sendo assim, organizam-se em três fases: pré-auditoria, auditoria e pós-auditoria.

A figura a seguir auxilia na visão do conteúdo essencial dessas três fases de uma auditoria, tendo como critério um Plano Corporativo Ambiental.

Fases do processo da auditoria de PCA

Fases do processo da auditoria de PCA

# Fase A: Pré-auditoria

Após uma empresa especializada ser convidada para realizar uma auditoria, a primeira tarefa dos auditores, antes mesmo de aceita-la, é solicitar informações acerca da organização. Garantido o completo sigilo, essas informações são obtidas por meio de contato pessoal, realizado somente pelo auditor líder.

Para consolidar o Plano da Auditoria, as informações de interesse são as seguintes:

  • A planta do layout geral da organização, localizando suas unidades produtivas;
  • Documentos relativos ao seu fluxo de processos pré-produtivo e produtivo;
  • Documentos relativos a seus Sistemas de Melhoria do Desempenho Ambiental;
  • O organograma da organização, com destaque para a função de GAS;
  • Uma cópia de seu manual de gestão ou documento similar;
  • Documentos relativos a auditorias anteriores que haja realizado;
  • Documentos de contratos, normas adotadas e convenções que haja subscrito;
  • Eventuais documentos fotográficos e de vídeo disponíveis; e
  • Outros documentos específicos da atividade da organização a ser auditada.

# Fase B: Auditoria

Inicia-se então a segunda parte dos trabalhos, que constitui a auditoria propriamente dita. A empresa auditora elabora a programação da reunião de abertura e marca a data para o evento. Para tanto, solicita à organização algumas informações sobre o evento de abertura, a saber:

  • Nome completo do funcionário que será responsável pela gerencia das atividades da auditoria na organização, cargo ocupado, telefone fixo, celular e e-mail;
  • Lista dos participantes da reunião, com nome completo e cargo ocupado;
  • Local de realização da reunião de abertura da auditoria, com equipamentos disponíveis de informática, de áudio e de vídeo.

Após a reunião de abertura têm início as atividades de campo. Findo os trabalhos de campo, com relatórios diários de cada auditor, o auditor líder consolida o relatório final da auditoria.

A tarefa seguinte aos trabalhos de campo é a reunião de encerramento da auditoria realizada, com a apresentação das evidências, não conformidades, exceções e observações efetuadas. A última tarefa desta etapa é a elaboração do relatório final dos trabalhos, a cargo do auditor líder, assessorado por sua equipe.

# Fase C: Pós-auditoria

Com base no relatório final da auditoria, a organização auditada elabora um plano de ações corretivas e preventivas. Normalmente, este plano é submetido à empresa auditora a fim de obter sua opinião sobre a efetividade do plano elaborado.

Por fim, é comum e benéfico que a organização faça um contrato de supervisão dos resultados do Plano de Ação, de sorte a obter mais um crédito externo de que suas ações foram devidamente implantadas e de que os resultados esperados foram ou estão sendo alcançados.

5.3.2. Atividades da Fase B: Auditoria

A fase da Auditoria Ambiental propriamente dita possui restrições operacionais que são básicas e estão adiante descritas. Mas antes deve ser analisada a figura abaixo, que apresenta a sequência de suas atividades.

À exceção da primeira, todas as demais atividades são realizadas em campo. Ou seja, com o time de auditores hospedados em hotel próximo à empresa a ser auditada, no chamado “hotel de campo” (gíria de antigos auditores). Embora a reunião de abertura da auditoria normalmente seja feita na empresa auditada, é desejável que a reunião de fechamento seja realizada neste hotel. Durante a realização da auditoria nenhum auditor retorna à residência.

A equipe precisa ser reduzida, contando com 5 (cinco) auditores no máximo, como no caso de plantas industriais de maiores dimensões.

A alocação de cada um em trabalhos de auditagem, cruzamento de informações com a equipe e produção de relatórios, é de 16 horas diárias, independentemente da duração da auditoria. Por isso, diversos auditores líderes afirmam que, para terem qualidade, as auditorias ambientais devem ser realizadas em, no máximo, dez dias de campo.

Etapas da Fase B: Auditoria de PCA

Etapas da Fase B: Auditoria de PCA

5.4. Entrevistas para auditoria de PCA

A maior parte do tempo despendido pela equipe em suas atividades é dedicada a entrevistas programadas com funcionários da organização – Levantamento de evidências e não-conformidades. As competências necessárias para realizar uma boa entrevista não constituem dotes inatos e podem ser desenvolvidas através de treinamento e prática.

Considerando os locais, a duração, as finalidades e o nível de formalidade requerido, é razoável afirmar que as entrevistas de auditoria devem seguir um padrão lógico comum. A figura a seguir apresenta este padrão.

Proposta de padrão para o processo de entrevista

Proposta de padrão para o processo de entrevista

Muito embora as entrevistas possuam características específicas para cada par “entrevistador e entrevistado”, há alguns elementos que não podem faltar nas entrevistas destinadas a auditorias de PCA. O padrão básico é útil para estabelecer um quadro de abordagem em entrevistas capaz de beneficiar os resultados desejados.

Antes de realizar as entrevistas é oportuno obter algumas informações acerca do perfil dos funcionários que serão entrevistados, bem como uma visão geral do que o auditor precisa cumprir em cada entrevista.

Há três elementos que são essenciais em qualquer entrevista de auditoria: (i) a lógica da entrevista, (ii) a predefinição das informações e documentos desejados, e (iii) a organização e o foco do pensamento do auditor.

Estabelecer a lógica de uma entrevista é relativamente simples. O que é básico envolve as questões que se seguem:

  • Quem será entrevistado;
  • Qual cargo ocupa na organização auditada;
  • Quais são a autoridade e as responsabilidades do cargo ocupado;
  • A quem o entrevistado se reporta hierarquicamente.

É fundamental que entrevistador e entrevistado sintam-se confortáveis durante a realização da entrevista. A sala onde se realizará a entrevista deve ser sossegada, preferencialmente sem interrupções, e a entrevista precisa ser objetiva e, tanto quanto possível, rápida.

As respostas desejadas pelo auditor devem ser planejadas. Nenhum profissional deve seguir para uma entrevista sem antes haver listado as informações e documentos que deverá obter do entrevistado.

É interessante elaborar uma linha mestra de cada entrevista, contendo os temas de interesse e a sequência preliminar das questões a serem formuladas. Não se trata propriamente de elaborar um questionário, mas apenas desenhar a orientação da entrevista, visando à memorização do auditor.

Em muitas entrevistas, no entanto, é comum que novas questões sejam formuladas em função das respostas obtidas. Tal como em um trabalho de detetive, o auditor precisa estar atento às respostas que recebe, efetuando anotações sempre que necessário, e a verificar eventuais necessidades de questões complementares antes não previstas.

Em suma, ao encerrar a entrevista o auditor poderá verificar se realmente obteve o que pretendia e se novas informações relevantes foram fornecidas pelo entrevistado.

Há casos isolados de entrevistas com maior duração. Todavia, normalmente não devem ser longas para que possam ser eficientes. De fato, uma série de entrevistas relativamente curtas com maior número de funcionários da organização tem-se mostrado mais eficiente do que poucas entrevistas mais longas.

……….

[1] A expressão “desenvolvimento sustentável”, foi criada em 1987, no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento, sob a presidência da então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland.

A definição de “Desenvolvimento Sustentável” ficou com a seguinte redação:

“O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra, preservando as espécies e os habitats naturais”.

Pessoalmente, considero-a um tanto filosófica e utópica, sobretudo pela tentativa de fazer uma “interseção geométrica” entre os Espaços Antropogênico, Biótico e Físico, que estão todos contidos e integrados no “Grande Envelope do Ambiente”.

Esperança para 2015


No calendário ocidental (o Gregoriano), um século possui 36.525 dias. Por conseguinte, um milênio, tem 36.525.000 dias. Assim, adotando para início dessa contagem a data da morte de Jesus, na chamada “Era Cristã” [1], do dia 01 de janeiro de 0001 até hoje, passaram-se 36.529.935 dias.

Trinta e seis milhões de dias é um período de tempo razoável, sobretudo se o medirmos em horas. Façam os cálculos, são mais de 876 milhões de horas “consumidas” por todas as nações do planeta. Isto se deve ao fato do calendário Gregoriano ser formalmente adotado em todo o mundo. Tornou-se uma medida universal do tempo, que visa a facilitar as imprescindíveis boas relações entre os povos.

Fico a pensar se existiria um historiador no planeta capaz de narrar todos os acontecimentos ocorridos em 36.529.935 dias, contar a História Universal desta Era. Creio que não, seria quase impossível. Mas para isso existem milhões de historiadores interessados em escrever diariamente partes da história que assistem acontecer. Ainda assim, segundo suas visões, mesmo que com base nas mesmas informações obtidas pela leitura do noticiário e por entrevistas com testemunhas oculares.

Uma imagem da difícil esperança

Uma imagem da difícil esperança

A narrativa do futuro

A História é a narrativa do passado. Mas há também a previsão do futuro, que constitui o que chamo de narrativa do futuro. Esta permite a estimativa dos possíveis cenários futuros da vida de uma dada coletividade.

Desde o século 20, a narrativa do futuro tornou-se prática trivial adotada por executivos de empresas produtivas. É ela quem aponta as tendências do comportamento das variáveis críticas do mercado e permite a identificação de oportunidades para que a empresa possa evoluir na economia de livre mercado.

Por sua vez, essa economia foi desenhada pelo filósofo e economista escocês, Adam Smith, no século 18. Teve a expressiva relevância de constituir uma grave ameaça necessária aos direitos feudais remanescentes, os quais acabou por extinguir.

Porém, na visão atual de certos “políticos ditos progressistas”, o desenho de Adam Smith, criado com ênfase em valores morais e éticos, é uma ameaça às relações humanas na nação que pretendem que seja estável. Por isso, chamam a qualquer de seus usos derivados de “capitalismo selvagem”.

Todavia, políticos brasileiros desse gênero, embora sejam realmente selvagens, também fazem a previsão de cenários futuros. Quando estão operando no interior do sistema público do país, consideram como constantes tudo o que acreditam ser capazes de garantir por força de seu poder. Para eles, variáveis livres de mercado simplesmente não existem. Justo por isso, as previsões que fazem são profecias manipuladas, que tratam somente de seus esquemas particulares.

Para finalizar esta parte, devo fazer uma breve comparação. Enquanto o sistema de livre mercado, em tese, é regido por práticas democráticas, honestas, e liberais, o “sistema progressista brasileiro” é monocrático, corrupto e quer seguir rumo à ditadura. Seu bando de defensores pretende que seja implantado um socialismo cubano ou bolivariano ou “coisa” que o valha. Já conseguiram um Capitalismo Interventor de Estado, que se esfarela diariamente, quando se vê diante da economia de mercado.

Esperança para o dia seguinte

Não fosse a óbvia necessidade de os Estados Nacionais estabelecerem boas relações diplomáticas e comerciais entre si, não haveria meses, anos, décadas, séculos e milênios. Não teria sido inventado qualquer calendário. Só existiriam os dias corridos: os passados, o atual e os futuros. Por exemplo, hoje seria o 36.529.935º dia da Era Cristã.

É difícil recordar como se faz a redação ordinal desse número, mas vou tentar: “trinta e seis milionésimos, quingentésimo vigésimo nono milésimo, noningentésimo trigésimo quinto” dia da Era Cristã. Acho que está correto ou bem próximo.

Assim, a principal esperança que evoco refere-se à atuação do estadista que governará o Brasil a partir de 1º de janeiro de 2015, pois há doze anos que a nação não sabe o que é ter um estadista. Então, usando uma analogia, que o estadista eleito “reabra os portos às nações amigas”. Que estabeleça boas relações diplomáticas com todas as nações realmente democráticas. Que cumpra rigorosamente o calendário de suas propostas de campanha. Que seja um R$ gestor público na escolha do seu mínimo e eficiente ministério. Por fim, mas não por último, que permita a legítima regência da “mão invisível” de Adam Smith na formação dos preços do mercado.

Por quê Esperança para 2015? Simples, é um fato: 2014 já acabou sem sequer ter começado.

……….

[1] O Judaísmo e o Islamismo possuem Eras próprias, com escalas distintas de tempo. Para o Judaísmo está-se a viver no ano 5.773, contado a partir da data de nascimento de Adão. Para o Islamismo, no ano 1.435, contado a partir da fuga de Maomé, de Meca para Medina.

Quem é o culpado?!


Por Simão-pescador, Correspondente na Europa.

Simão-Pescador

Simão-Pescador, Praia das Maçãs

É domingo, estou a passeio em Roma, mas não consigo esquecer do Brasil. Porém, vim para apreciar com obstupefação as ruínas do Fórum de Roma, isso é facto. Após muitas vindas à esta cidade nunca havia parado para pensar nas causas reais do fim do Império Romano do Ocidente. E esta obra, que fora magnífica em seu tempo, foi reduzida a um monte de entulhos seculares.

No entanto, milhões de turistas vêm até aqui, como eu próprio, provindos de vários países do mundo, para tentar entender o que nunca viram, quando o fórum foi inaugurado. Ficam todos a imaginar como teriam sido as obras grandiosas da engenharia romana. Por isso, contentam-se com fragmento de monumentos, pedaços de fachadas, pilares semidestruídos e entulho.

Vista do que restou do Fórum Romano

Vista do que restou do Fórum Romano

Mas, por outro lado, são estimulados a imaginar a grandiloquência do Império pelas narrativas da melancolia romana, que transborda da fala dos próprios italianos. E o Brasil, não me sai da cabeça, diacho!

Ocorrida há cerca de 1500 anos, a história, conforme me foi narrada na escola do primeiro grau, fala que a queda de Roma foi causada pela invasão de povos bárbaros, provindos da Escandinávia – hunos, visigodos, hérulos e vândalos. Porém, hoje creio ser mais óbvio que as invasões tenham sido uma consequência, fruto da visão de uma oportunidade, e não a causa da queda do Império Romano. Explico.

Isto se deve ao facto de que para falar da queda de um Império, tal como o romano, é necessário saber como aconteceu seu processo de declínio. Pois, sem o declínio das forças internas, não ocorre a queda política de nenhum governo, muito menos de um sólido império.

Conclui que o declínio do Império Romano se deu por fatores psiquiátricos, econômicos e políticos. Nos livros onde analisei esse assunto, assim como na visão que recebi de estudiosos da História Romana, o tombo foi decorrente de imperadores que misturaram a grandeza de projetos essenciais ao povo, com sua insana megalomania. Como Roma era a única regente da economia ocidental, conseguiram criar uma inflação notável e reticente. Aliás, estou a assistir esse filme novamente, embora sem império, apenas com megalomania. Brasil! Sai da minha cabeça!

Disse-me o historiador, Dr. Bruno Giraldi, sobre a Roma dos séculos III, IV e V:

─ “A inflação promovida pelos imperadores durante a crise do século III destruiu a moeda corrente, anulando a prática de cálculos econômicos a longo prazo. Em consequência, a acumulação de capital para investimentos, somada ao controle estatal da maioria dos preços, teve efeitos desastrosos. Assim, Roma passou a ter sérias dificuldades para realizar mais expansões. Por fim, com a falta de condições financeiras e a redução de escravos em todo o império, foi gerado o colapso da produção e do comércio romano”.

Por força do declínio econômico, o Império não podia mais manter seu dispendioso exército permanente, fator crucial da segurança romana. Nem armas era capaz de produzir para atender seus esquadrões. Então, aconteceu a evasão de militares capacitados, que seguiram para o campo e formaram “feudos próprios”. O exército romano ficou disperso, frágil e sem liderança unificada. Assim, Roma foi obrigada a ampliar suas legiões, formadas por bárbaros, mercenários e vassalos, sob a tutela de “certos generais”. Enfim, acabou-se a história “do dever patriótico” em defender o Império.

O último imperador romano foi o menino Rômulo Augusto, que obteve essa função graças a seu pai, o general Orestes, o qual, por sua vez, tinha origem bárbara e já servira a Atila, o Huno. Orestes derrubou o legítimo Imperador Júlio Nepos, para colocar seu inexperiente filho no trono. Com isso, abriu as portas do Império Romano do Ocidente às invasões que se sucederam. Nada mais lógico e óbvio.

Já sei porque não esqueço do Brasil. Tudo isso me faz lembrar as jogadas imundas da oligarquia política brasileira: as trocas de partido (legiões), as negociatas entre mercenários, os esquemas armados por bárbaros em período de eleição, com vassalos na linha de frente, a arriscarem seu pescoço em troca de poucas moedas.

Resta saber apenas uma coisa: ─ Quem é o culpado desse cenário?

Uma irretocável aula de matemática


Muito antiga, mas sempre funciona…

Um gaúcho, dono de um pequeno rancho no sul do país, nas bandas do Alegrete, tinha 17 cavalos e 3 filhos. Porém, infelizmente faleceu. Quando o testamento foi aberto, dizia que metade dos cavalos ficaria para o filho mais velho, um terço para o do meio e um nono dos equinos para o caçula.

─ O que deveriam fazer? …

A herança

A herança

Se eram dezessete cavalos, como dar metade ao filho mais velho? Será que um dos animais deveria ser cortado ao meio?! …

Tal decisão não iria resolver o problema, porque um terço deveria ser dado ao segundo filho. E a nona parte dos cavalos entregue ao caçula.

É claro que os três filhos correram em busca do homem mais erudito na cidade, que fosse muito estudioso, além de matemático.

Procuraram o prefeito, como sempre ignorante. Então foram ao Juiz da Comarca, que disse só ter embasamento em legislação. Mas, mesmo assim, resignado tentou. Ele raciocinou muito, mas não conseguiu encontrar a solução, já que a mesma é de matemática.

A cidade já estava em polvorosa, quando então alguém sugeriu:

─ Olha lá, vem vindo um oficial de cavalaria montado em seu cavalo.

Perguntaram-lhe se ele entendia de matemática, pois de cavalo ele parecia ser bom. O oficial disse:

─ “Sou 2º tesoureiro do 3º Comando de Cavalaria. Me digam qual é o problema”.

Passaram-lhe o problema e o oficial sorriu:

─ “É muito simples, não se preocupem“.

Emprestou seu cavalo aos herdeiros – como eram 17 cavalos herdados, agora os irmãos ficaram com 18. Depois o oficial fez a divisão. Nove foram dados ao primeiro filho, que ficou satisfeito. Ao segundo coube a terça parte – seis cavalos – e ao terceiro filho foram dados os dois cavalos, conforme o testamento – a nona parte. Sobrou um cavalo: o que fora emprestado.

O oficial pegou seu cavalo de volta e disse:

─ “Agora podem seguir, a divisão está feita e o testamento cumprido. Recebam meus sentimentos“.

Os cálculos do cavaleiro

17 herdados + 1 emprestado = 18 cavalos para dividir entre três herdeiros.

─ O primeiro filho recebeu seus 9 animais → 18/2.

─ O segundo, recebeu 6 animais → 18/3.

─ O primeiro filho recebeu 2 animais → 18/9.

Cumprido o testamento: 9 + 6 + 2= 17 cavalos.

─ 18 – 17, sobrou 1 cavalo, por sinal o emprestado, que foi devolvido ao oficial.

Esta história simples serve para ilustrar a diferença entre sabedoria e erudição. Ela conclui dizendo: “A sabedoria é prática, o que não acontece com a erudição. A cultura é abstrata, a sabedoria é terrena; a erudição são palavras e a sabedoria é experiência“.

Nota: Isto também funciona com jegues, mulas, antas, toupeiras, burros e jumentos.

Notícias do sonho realizado


Escrevemos um artigo sobre os trabalhos que os amigos Uxy e Gustavo realizam na cidade de Prados, para diversas escolas brasileiras.

Agora estamos noticiando as atividades da temporada do mês de julho. Segue o convite de Frau Uxy e sua equipe:

Acampamento Serra Cerrado

Boa dia, amigos!

Está chegando a hora de mais uma temporada! De 22 a 28/07 estaremos realizando a temporada de julho de 2012! Desta vez ainda mais especial, com a participação de alunos de escolas do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte.

Temos certeza de que será uma temporada inesquecível, repleta de animação, alegria e diversão! Estamos super ansiosos e contando os segundos para o início dessa farra!

Estaremos atualizando nosso blog diariamente durante a temporada, contando um pouquinho dos maravilhosos dias e das novas experiências! Aproveitem para curtir um pouquinho a magia do Acampamento Serra Cerrado. Aos pais, aproveitem para matar um pouco da saudade de seus filhos!

Acessem e confiram em www.serracerrado.com.br. Um grande beijo e abraço a todos,

Equipe Serra Cerrado

Educação e laser no Serra Cerrado

E a selva decidiu se politizar


Tudo teve início quando o Dr. Leão afirmou em uma entrevista que já se achava idoso demais para continuar no Governo da Selva. Disse ainda que passaria este encargo a um novo governador.

O consciente Dr. Leão

Esta notícia correu pelas matas, veloz como um rastro incendiado de éter. E também, com a mesma rapidez, o Hiena-Velha soltou brutais gargalhadas para reunir seu Grupo de Asseclas. Todavia, o hálito espargido foi tão ácido e mal cheiroso que as árvores à volta de sua clareira-palanque dobraram-se sobre os próprios troncos e secaram totalmente, num lapso de dois segundos. E, olha, eram árvores grandes e seculares, maiores que os gigantescos baobás.

A Hiena-Velha e seus jagunços

Enquanto aguardava seus amigos, entre arrotos e risos, mastigava os filhotes das aves que ficaram caídas no chão. Ele se deliciava com os apetitosos petiscos enquanto assistia a seus camaradas e companheiros adentrando à clareira, formando sua grande matilha de hienas.

Na savana, antílopes, zebras, girafas e gnus corriam aterrorizados com o som estridente do Hiena-Velha. Nunca haviam ouvido nada parecido saindo do interior da selva. Por via das dúvidas, até mesmo os jacarés e hipopótamos saíram da lama e mergulharam no rio, mas sempre atentos a todos os ruídos e movimentos à sua volta.

Cidadãos assustados em fuga

Acerto particular, apolítico

De minha parte, permaneci quietinho em silêncio, agarrado a meu galho, a mais de 200 metros de distância daquela turma, uns 60 metros acima do solo. Pensava comigo, “em macaco pequeno ninguém presta atenção”.

De minha parte…

Escutei então o que Hiena-Velha falou a seu Grupo:

─ “Estão pensando o quê?! É agora ou nunca! O Leão tá fora! Pra todos vocês saberem, a partir de hoje eu me emposso o Hiena Máximo! Vou governar tudo e vocês vêm comigo, ou tão ferrados!”. ─ bradava ele, ainda babando o sangue dos filhotes de pássaros.

Foi quando o eterno Hiena-Conselheiro ponderou, a mediar a estupidez:

─ “Perdoe-me, Máximo, mas acho que não é assim tão simples como você diz. Vamos ter que nos organizar muito bem para formar o melhor Grupo de Assalto da História da Selva”, afirmou, a ampliar a estupidez.

─ “Claro, concordo! Mas, isso eu deixo pra você, é sua especialidade. Vamos lá, arruma tudo isso ai pra eu podê mandar!”.

Foi nessa oportunidade que o Hiena-Conselheiro organizou o “Comitê das Hienas-Elite”, o qual se dedicou a montar o mais espetacular Grupo de Assalto da História da Selva, para confirmar a estupidez e a selvageria.

Eram poucos trabalhando, porém selvagens muito eficientes. Todos preocupados com a frase célebre e ameaçadora proferida por Hiena-Máximo: “A partir de hoje eu me emposso o Hiena Máximo! Vou governar tudo. Vocês vêm comigo ou tão ferrados!”.

O Conselheiro deu as linhas gerais dos resultados que os Elites tinham que alcançar a qualquer custo ou preço:

─ “Precisamos que nosso Grupo de Assalto seja composto pelos seguintes predadores: um especialista em burlar o Direito da Selva, sem ele nós nos danamos. Um Hiena-Marketing que convença os Ovelhas que nós os amamos e só queremos dar a eles muita comida, para ficarem bem gordinhos e felizes. Um Hiena-Financeiro para comprar líderes e membros dos Grupos que logo se organizarão, em especial o gigantesco Grupo de Porcos Selvagens e seus afiliados menores. Teremos também o Hiena-Internacional, que nunca fará nada. Sua função será justamente desviar os olhares dos Ovelhas, que não conseguirão descobrir o que ele sabe fazer. Por fim, vamos precisar dum Hiena-Assessor, atuando amigado com os líderes do maior número de Grupos Adversários. Vocês me entenderam? Então saiam pela selva e retornem com os nomes que podem fazer parte de nosso querido Grupo de Assalto. O Hiena-Máximo vai decidir quem entra! Eu apenas dou algumas sugestões pra ele…”. 

O chefe dos Porcos Selvagens esfomeados

O Hiena-Máximo escutava todas as orientações do Conselheiro, mas exclamou raivoso ao final da preleção:

─ “E eu porra! Como é qui eu ganho omeu‘?!”.

─ “Calma Máximo”, disse o Conselheiro, “você vai ganhar em tudo, de todos e para sempre, você é o máximo”.

Durante quase duas décadas de desgoverno e rataria, a Selva atravessou momentos muito difíceis, mesmo depois que o Grupo de Assalto e seus Hienas-Asseclas foi desbaratado. Por sinal, foi catapultado do continente, rumos às terras da Oceania, dentro de uma Arca de Noé movida a remo.

Um jovem Leão assumiu o Governo da Selva, mas não sem lutar contra uma infinidade de admiradores dos Grupos de Assalto e Grupos de Porcos Selvagens. Não fosse o fato de que muitos Hienas Porcos Selvagens esfomeados se mataram em diversas oportunidades, diante do Grupo de Ovelhas-Espantadas, decerto o domínio da Selva estaria até hoje perpetuado em favor de um Grupo de Assalto dos Hienas.

Para governar a selva basta o filhote do Leão

Os primeiros 51 dias de existência de “Sobre o Ambiente”


Os primeiros 51 dias de existência de “Sobre o Ambiente”

Estamos bastante felizes com o apoio inconteste de seguidores de diversos países em nosso site. Pela ordem da quantidade de visitas: Brasil, Moçambique, Japão, Canadá, Estados Unidos da América, Grã-Bretanha, Islândia, Alemanha, Dinamarca, Portugal, Chile, Austrália, Espanha, Argentina e Malásia. Cremos que não nos esquecemos de ninguém.

Hoje ultrapassaremos a 4.000 visitas ao site! Nele estão disponíveis 145 artigos e notícias, fora esta.

Agradecemos aos nossos leitores de todos esses países, que já somam 543 seguidores. Nosso trabalho voluntário é a melhor opção que conseguimos realizar, apesar de ser pequena. Mas, visa a manter e garantir a Sustentabilidade do Ambiente que impactamos diariamente de maneira adversa.

Ele se adapta, não há dúvida, mas possui alguns limites. Apenas, não muda suas capacidades de coevolução permanente de seus fatores e ecossistemas, justo porque “consome todos os lixos” que produz.

Talvez seja uma dica para nós, os humanos…

Maravilhosa foto de Innsbruck a noite

A beleza dos Japacanim


Nome vulgar: Japacanim

Nome científicoDonacobius atricapillus.

Período Reprodutivo: dezembro a março.

Locais de observação: Brejos, Cambarazal, Mata ciliar do rio Cuiabá, Mata ciliar do rio São Lourenço, Rios em geral e Baías.

Um dos cantos mais espetaculares entre as aves brasileiras. São vários chamados, mas é um semi dueto feito pelo casal o mais atrativo. No Pantanal, esse chamado é o som característico dos adensamentos de vegetação aquática flutuante. De difícil descrição, é um canto muito agradável. Uma vez aprendido, detecta-se logo a presença da ave.

Japacanim, Donacobius atricapillus.

Vivem em casais ou grupos, sempre andando no meio da vegetação na caça de invertebrados. Apesar do colorido da plumagem, camuflam-se bem e podem passar despercebidos. Cantam o ano todo, mas no período reprodutivo (variável no Pantanal, em função da diferença do ritmo de cheias em cada local) emitem com mais frequência o canto característico. Macho e fêmea pousam próximos, a pouca altura da água e, parcialmente de costas um para o outro, entreabrem as caudas e asas, balançando-as enquanto cantam. Sob boa luz, é possível ver o aparecimento de uma área de pele amarela no lado do pescoço. Essa pele fica enrugada e é inflada com ar durante o ápice da cantoria.

Além do canto, é inconfundível pelo contraste entre as costas e o ventre, bem como o olho amarelo. As asas são relativamente pequenas e arredondadas, com uma estreita faixa branca aparecendo na base das penas longas em voo. Cauda longa, com as penas centrais maiores e as laterais cada vez menores. Grande ponta branca nas penas laterais da cauda.

Constrói um ninho em forma de cesta, colocado no meio dos arbustos ou capins e a poucos centímetros da água. A sua reprodução coincide as cheias e um repiquete no nível do rio pode inviabilizar os ovos ou matar os filhotes.

Ocorre em todos os corpos d’água e brejos do Pantanal e da RPPN. Pode ser visto ao lado do embarcadouro do hotel em Porto Cercado, bem como na vegetação aquática dos remansos do rio Cuiabá. Às vezes uma voadeira passa próxima a um casal cantando e não os importuna.

Publicado pelo site Guia de Aves do Pantanal – http://www.avespantanal.com.br.

Siriema, Cariama cristata


Siriema, Cariama cristata

“A voz do Brasil Central”, H. Sick.

As aves do cerrado sofrem sempre a influência dos períodos climáticos para reproduzir e sobreviver. No verão de 2011, com chuvas intensas, bem como no outono e no inicio do inverno em 2012, praticamente com constante ocorrências de chuvas, aves como a siriema, que só procriam no inicio de setembro, já se acomodam sobre seus ovos fora do seu período normal reprodutivo.

Texto e foto do Professor Nunes D’Acosta Nunes

Uma agenda para a Rio+20


Uma agenda para a Rio+20

O tema Ambiente é complexo de ser debatido, sobretudo pelos estadistas que decidem e que pouco entendem sobre como ele funciona, desconhecendo suas principais demandas. A ótica a ser empregada precisaria adotar o Princípio da Integridade do Ambiente Planetário, mesmo quando ele já se encontra arrasado em muitas áreas. É paradoxal debater quais serão as melhores práticas para o “Desenvolvimento Sustentável” em um Ambiente que se encontra aleijado pelos próprios debatedores, através de suas decisões (ou indecisões). Seria como comprar uma casa semidemolida e começássemos planejando quais os móveis e utensílios que precisaremos possuir, antes de reconstruirmos a casa.

Em demolição

O planeta Terra precisa ser reconstruído!”, este deveria ter sido o tema desta cúpula.

Na Rio+20 foi esperada a participação de mais de cem estadistas, contando com suas assessorias de negociação. Um sem número de organizações não governamentais é previsto, sem considerarmos os grupos de pressão que se organizam de forma variada, clamando por temas no mínimo discutíveis para entrarem na agenda do evento. Temos que observar ainda a presença de repórteres e jornalistas do mundo inteiro, tentando divulgar em seus veículos o que está acontecendo e “quais são as tendências” do encontro. Por melhor que seja a estrutura montada para receber todas essas pessoas, a um passo de se tornarem uma horda, por melhor que sejam as equipes de análise de propostas, apenas uma coisa é certa: não acontecerá qualquer consenso planetário sobre seu Ambiente e o “Desenvolvimento Sustentável”.

Parabenizamos a boa ideia de criar um site para o público responder sobre quais temas considera mais relevantes para a agenda do evento. Mas, foi mal implantada. Primeiro pelo fato de que somente ficou disponível ou bem próximo do início do evento ou durante o curso do evento. Segundo, pelo excessivo número de temas disponibilizados, coalhados de subtemas duvidosos em sua relevância. Não houve uma triagem de quais seriam os temas fundamentais, prioritários e possíveis de serem realizados no curto prazo da Rio+20. Por infelicidade, venceu a filosofia de que “isso é uma ação democrática”.

Reduziríamos os temas centrais à metade, a saber:

v  Desmatamentos e queimadas no planeta.

v  Qualidade das águas do planeta.

v  Processos de desertificação no planeta.

v  Concentração de estoques de recursos naturais do planeta.

v  Propostas de medidas de reabilitação ambiental do planeta.

Concentrando os esforços dos participantes da Rio+20 nos primeiros quatro temas, as propostas de medidas de reabilitação ambiental poderão conter os programas e projetos que, além de atender prioritariamente às demandas do Ambiente do planeta, atendam às demandas humanas, envolvendo educação, habitação, saúde, “serviços ambientais”, “economia verde”, trabalho, “energia limpa”, gestão de resíduos e outros subtemas de interesse econômico e social.

O documento final do evento, com esta abordagem mais simples e objetiva, ainda que não possua a intenção de uma convenção subscrita, criaria compromissos efetivos dos Estados-Nação representados na cúpula, contendo os resultados esperados com a implantação das medidas aceitas pelos Estados presentes.

Como está a segurança pública no Rio?


Pronta-resposta a perigos e emergências

Nota: As fotos 2, 3, 4 e 5 constantes neste documento ilustram os atuais resultados da civilização, da educação, da segurança e da competência no trabalho. São algumas das referências do Condomínio de Amatciems, na Letônia, a 80 km da capital, Riga.

I. Introdução

Este documento contém um diagnóstico preliminar que pretende oferecer suporte para o desenvolvimento de um plano de pronta resposta a perigos e emergências para a Cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de uma proposta preliminar para realizar o que se entende como essencial para garantir e manter a segurança pública da cidade. Usamos como base para este diagnóstico a realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016.

As metas e projetos ambientais que tratam especificamente deste tema nos Jogos de 2016, uma vez detalhados e implantados da forma adequada, constituirão um legado de segurança pública para a cidade e que poderá ser replicado em outros estados. Vale observar que as metas e projetos destinados à visitação das instalações olímpicas desde as obras constituem também um sistema de triagem de visitantes.

O objetivo deste documento inicial é o de identificar as primeiras linhas de ação para o tratamento de eventuais cenários de perigos e cenários de emergências identificados, de forma a que não se tornem acidentes ou emergências.

Acredita-se que todas as cidades que realizaram ou pretendam realizar eventos com a grandeza dos Jogos Olímpicos consideraram, como um dever absoluto de suas estruturas de segurança, prevenção e controle, a organização e a implantação de planos específicos de segurança, bem como o treinamento de equipes especializadas.

II. Cenários de perigos

Os cenários de perigos passíveis de realização em uma grande metrópole certamente são incontáveis. Dependem de inúmeros aspectos: localização da cidade; topografia de seu terreno; clima; sua expressão econômica; interesses e ações de grupos internos e externos à cidade; sua população fixa e flutuante; suas características culturais; seu nível educacional e de civilização; mecanismos de dissuasão disponíveis para pronta resposta; forças de segurança existentes; sistemas e equipamentos disponibilizados para estas forças; e habilidades técnicas e operacionais aplicadas pelas mesmas.

Considera-se que pela magnitude dos Jogos de 2016 e pelas condições atuais de prevenção de eventos da segurança pública, a cidade do Rio de Janeiro é palco de diversos cenários de perigos e emergências.

Os principais cenários de perigos estão aqui classificados como conjuntos de hipóteses acidentais, cada qual podendo apresentar variações, de acordo com as suas causas e áreas de ocorrência. Em outras palavras, a realização de uma hipótese acidental configura um cenário de perigo, através de acidentes e/ou de emergências.

Relacionam-se abaixo alguns dos possíveis e mais importantes conjuntos de hipóteses acidentais que podem gerar cenários de perigos na cidade do Rio de Janeiro, durante a realização dos Jogos.

  • Acidente aéreo;
  • Acidente terrestre com veículos;
  • Acidente terrestre com metrô;
  • Acidente terrestre com trem;
  • Acidente marítimo local;
  • Acidente marítimo interestadual e internacional;
  • Incêndio em florestas urbanas;
  • Incêndio em favelas;
  • Incêndio em edificações.

É importante chamar a atenção para o fato de que incidentes e acidentes podem ocorrer (i) por força do acaso, (ii) por falha mecânica e (iii) por falha humana. Mas também há eventos que podem ser processos cuidadosamente planejados. Estão tratados em item próprio sem a conotação de hipóteses de acidentes, mas de hipóteses de emergências. Nestes casos os cenários tornam-se graves ameaças à cidade, às suas instituições e, sobretudo, às pessoas.

Seguem considerações acerca de cada uma das hipóteses e de suas ocorrências durante os Jogos de 2016. De forma ainda preliminar, cada hipótese – aqui denominada por evento – está analisada segundo (i) sua possibilidade de ocorrência (Baixa, Média e Alta), (ii) suas causas possíveis e (iii) suas consequências adversas (Baixa, Média e Alta). Na sequência das analises das hipóteses acidentais encontram-se duas tabelas que integram e sintetizam suas análises.

1. Acidente de transporte aéreo

Constituem eventos de baixa possibilidade de ocorrência. Várias são suas possíveis causas: deficiências operacionais da aeronave; falhas humanas na aeronave; condições meteorológicas indesejáveis; qualidade da infraestrutura aeroviária; qualidade do controle de voo; e ato de terrorismo, muito embora para esta última, não haja casos confirmados no Brasil.

Suas consequências adversas são altas, pois envolvem a morte de pessoas, grandes perdas de patrimônio e médias consequências ao ambiente.

2. Acidentes de transporte terrestre

Na cidade do Rio de Janeiro constituem eventos de baixa e alta possibilidade de ocorrência, especialmente os acidentes e incidentes com veículos terrestres com alta possibilidade.

Suas causas mais prováveis variam em função do tipo de transporte – veículos, metrô e trem. Basicamente são as seguintes:

  • Veículos – falha humana, excesso de ingestão de álcool e falha operacional;
  • Metrô – falha humana, falha de gestão corporativa e falha operacional;
  • Trem – falha humana, falha de gestão corporativa e falha operacional.

Suas consequências adversas são variáveis em função do tipo de transporte. Até o presente momento podem ser assim classificadas:

  • Veículos – de média a alta adversidade, com perdas de patrimônio e de vidas;
  • Metrô – de baixa a média adversidade, com perdas de patrimônio e de vidas;
  • Trem – de baixa a média adversidade, com perdas de patrimônio e de vidas.

3. Acidentes de transporte marítimo

Constituem eventos de baixa possibilidade de ocorrência na cidade do Rio de Janeiro.

Para analisar suas causas estão consideradas duas naturezas de transporte marítimo. A que se denomina de transporte doméstico, envolvendo os equipamentos que trafegam entre Rio e Niterói e entre Rio e a Ilha de Paquetá. As causas dos eventos mais recentes no transporte doméstico envolveram imperícia humana e falha de gestão corporativa.

A outra natureza refere-se ao transporte marítimo interestadual e internacional. Suas causas mais prováveis podem ser o grande número de navios trafegando na Baía da Guanabara no período dos Jogos, eventuais falhas humanas, falha da gestão corporativa das empresas de transporte marítimo e falha operacional do equipamento.

No caso de ocorrência destes eventos, para ambas as naturezas de transporte marítimo analisadas, as consequências esperadas devem ser (i) de média adversidade, com risco de perdas de patrimônio; (ii) de baixa adversidade, para perda de vidas humanas; e (iii) perdas ambientais, dependendo das características do evento, poderão ter consequências de baixa até alta adversidade.

4. Incêndios

Há três tipos de incêndios a serem considerados, a saber: (i) incêndios em florestas urbanas; (ii) incêndios em favelas e (iii) incêndios em edificações.

Incêndio florestal na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro os incêndios em florestas urbanas tendem a constituir eventos sazonais em função do clima, com alta possibilidade de ocorrência. As duas áreas de florestas urbanas com maior expressão da cidade são o Parque Nacional da Tijuca e o Parque Estadual da Pedra Branca. Juntos, estes parques somam uma área aproximada de 165 km2 de floresta.

A realização dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2016 acontecerá nos períodos de 5 a 21 de agosto de 2016 e de 7 a 18 de setembro de 2016, respectivamente. Trata-se de um período de estiagem, com clima mais seco e com menor pluviosidade (de maio a outubro), acarretando maiores riscos de incêndios em áreas com vegetação.

Fortalecendo esta tendência, acontecem nesta mesma oportunidade as festas juninas, julinas e agostinas, que representam antigas tradições herdadas pelos brasileiros. Nestas festas são comuns os balões (material incendiário) e o uso de fogos de artifício (material explosivo), aumentando as chances de ocorrência de incêndios em áreas vegetadas.

Há outros fatores quer podem induzir incêndios em áreas com vegetação – acampamentos com fogueiras, fumantes, uso de palitos de fósforo e outras fontes térmicas, as quais não são relevantes para a presente análise.

Os incêndios em favelas são eventos de média a alta possibilidade de ocorrência. Suas causas mais comuns decorrem (i) da explosão de bujões de gás, (ii) de depósitos clandestinos de material explosivo e/ou comburente, (iii) de curtos-circuitos em ligações clandestinas de energia e (iv) do uso de velas para iluminação. Muito embora não sejam tão comuns na cidade, a existência de grande quantidade de favelas nas vizinhanças dos cinco clusters olímpicos favorece as chances de ocorrência.

Por fim, têm-se os incêndios em edificações, que apresentam baixa possibilidade de ocorrência, sobretudo os de maiores proporções. Isto se deve ao fato de haver um controle relativamente bom para suas causas mais prováveis (sistemas elétricos adequados), que envolvem curto-circuito de aparelhos elétricos e explosão após vazamento de gás.

No caso de ocorrência de qualquer um destes eventos, as consequências esperadas devem ser, pela ordem: (i) Florestas: de alta adversidade, com risco de perdas ambientais e de patrimônio; (ii) Favelas: de alta adversidade, com risco de perda de vidas humanas, de patrimônio e ambientais; e (iii) Edifícios: de alta adversidade, com riscos de perdas humanas e patrimoniais.

5. Síntese das possibilidades de ocorrência

A tabela abaixo sintetiza as análises relativas às possibilidades de ocorrência das hipóteses de acidente consideradas, durante a realização dos Jogos de 2016. Estão considerados os três níveis de possibilidade de ocorrência, quais sejam: baixa, média e alta. Em cada nível há três subníveis a que correspondem mínima, intermediária e máxima chance de ocorrência do evento.

Hipótese de acidentes

6. Síntese das perdas esperadas

A tabela abaixo sintetiza as análises relativas às consequências previstas para as ocorrências das hipóteses de acidente consideradas, durante a realização dos Jogos de 2016. Estão consideradas três classes de perda, quais sejam: patrimonial, de vida humana e ambiental. Em cada classe há três níveis a que correspondem baixa, média e alta intensidade de ocorrência do evento.

Possibilidade de Perdas com Acidentes

III. Cenários de emergências

Há outros cenários a serem considerados e que constituem, em função de suas naturezas, cenários de emergências, pois não são acidentais. São processos realizados pelo homem com propósito criminoso e pré-definido. O expressivo ingresso de população flutuante esperado para o período dos Jogos de 2016 certamente é o principal fato motivador dos cenários de emergência passíveis de ocorrência. No estudo ambiental realizado pela FGV Projetos em 2008, encontra-se a seguinte informação estimada:

“(…) a população flutuante esperada para a cidade do Rio de Janeiro durante os Jogos de 2016 (…) poderá oscilar entre 650.000 e 700.000 de pessoas, envolvendo brasileiros e estrangeiros – atletas, árbitros, comissões técnicas, jornalistas e público olímpico”.

Esta informação foi básica para a análise do fenômeno denominado ‘Variação da pressão sobre segurança pública’, que foi considerado de alto impacto, antes, durante e após os Jogos de 2016.

A análise dos cenários de emergências é similar à dos cenários de perigos. Seguem as hipóteses de emergências consideradas.

  • Tráfico e venda de drogas;
  • Crime de morte;
  • Sequestro;
  • Assalto e variantes;
  • Violência localizada;
  • Ação terrorista.

Vista aérea do condomínio de Amatciems

1. Tráfico e venda de drogas

Constitui evento de alta possibilidade de ocorrência. Seria ainda mais correto afirmar que se trata de um evento com certeza de ocorrência, pois raras são as grandes cidades no mundo onde este evento não acontece.

Discriminar as causas deste evento é repisar sobre o óbvio: (i) aparente falha de gestão pública da estrutura de segurança brasileira, envolvendo União, Estados e Municípios e (ii) falha na integração das ações, pessoal e equipamentos de todos os poderes públicos. Especificamente, através de instituições de segurança do Estado, a cidade do Rio de Janeiro vem percebendo pequenas melhorias visando a coibir as iniciativas do tráfico e da venda de drogas. Mas ainda estão longe de serem minimamente aceitáveis pelos cidadãos atingidos.

Não há dúvida de que o tráfico é um problema internacional e bastante complexo para ser pelo menos amenizado. Na cidade do Rio de Janeiro, suas consequências adversas têm sido marcadas por (i) perdas de vidas humanas, (ii) perdas patrimoniais, (iii) perdas de relevantes espaços ambientais, (iv) perdas na imagem pública das instituições de segurança e, por fim, (v) elevadas perdas monetárias. São consequências de alta intensidade.

Pelas relações que este evento possui e mantém com diversos dos cenários de emergências aqui enumerados – crime de morte, sequestro, assalto e violência localizada -, um plano específico e integrado deve ser elaborado pela Unidade de Gestão dos Jogos de 2016. Desta forma, sugerimos que a Unidade de Gestão dos Jogos contemple também a gestão da área de segurança pública, integrando as forças da União, do Estado e do Município.

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2. Crime de morte

Na cidade do Rio de Janeiro, assim como em diversas capitais de estados brasileiros, os crimes de morte constituem eventos de alta possibilidade de ocorrência. Por infortúnio, as chances da não ocorrência de crimes de morte durante o período dos Jogos são próximas de zero. Suas causas imediatas são incontáveis e vão desde motivos totalmente fúteis a bizarras respostas em legítima defesa. Suas causas ancestrais decorrem da fragilidade da educação pública, do uso e ocupação do solo de forma desordenada, da fragilidade dos planos de segurança do Estado; e, de forma mais específica, da catálise pelo tráfico e venda de drogas em todo o Estado que, desde a década de 80, vem estabelecendo uma espécie de poder e de governo paralelo e concorrente ao governo oficial do estado.

As consequências diretas de sua ocorrência são de alta intensidade envolvendo perdas de vidas humanas.

3. Sequestro

Nas últimas duas décadas os sequestros na cidade do Rio de Janeiro vêm constituindo eventos de média possibilidade de ocorrência, com decréscimo significativo em relação às décadas anteriores.

Aparentemente suas principais causas são a necessidade de dinheiro vivo para a aquisição lotes de drogas, no mais das vezes envolvendo armas, maconha, craque, cocaína e pílulas estimulantes. A princípio, sequestros com base em motivação política (caso Abílio Diniz) não devem ser esperados. No entanto, em função da presença de muitas pessoas mundialmente notáveis, a instituição dos ‘sequestros relâmpagos’ pode ser intensificada na cidade do Rio de Janeiro.

Em caso de ocorrência de sequestros suas consequências esperadas podem causar até altos impactos sobre vidas humanas, perdas de patrimônio e perdas expressivas da imagem da estrutura de segurança pública no Brasil.

4. Assalto e variantes

Para a cidade do Rio de Janeiro constituem eventos de alta possibilidade de ocorrência.

Suas diferentes causas prováveis são incontáveis, uma vez que os alvos de assaltos podem ser pessoas físicas, residências, edifícios, lojas comerciais e agências bancárias. O mesmo acontece com suas motivações, que tanto dependem de quem realiza o assalto – indivíduo, grupo de indivíduos ou grupo organizado de indivíduos – quanto da natureza do alvo do assalto.

Suas consequências esperadas envolvem perdas de patrimônio e perdas de vidas humanas, podendo ser de baixo a alto impacto, dependendo do alvo escolhido e da atitude de quem realiza o assalto. Durante os Jogos atenção especial deve ser dada a grupos organizados que já sejam identificados pelas instituições de segurança brasileiras.

Custo e benefício: residência + terreno ao custo de 200 mil €

5. Violência localizada

Na cidade do Rio de Janeiro constituem eventos de alta possibilidade de ocorrência.

Inicialmente constituem processos pontuais de conflitos entre grupos de pessoas. Ocorrem, sobretudo, nas saídas de jogos de futebol e em bares de diversos bairros da cidade. Mas já houve casos em que foram se multiplicando e passaram a ser conflitos regionais.

Também são considerados como violência localizada os conflitos entre facções do tráfico de drogas, quando uma dada facção visa a ocupar favelas dominadas por sua antagonista.

Normalmente os primeiros eventos são controlados com relativa velocidade. Já os eventos de conflitos entre facções antagônicas costumam demandar vários dias para serem controlados e geram variadas consequências adversas de elevada intensidade, envolvendo (i) perdas de vidas humanas, (ii) perdas patrimoniais, (iii) perdas de relevantes espaços ambientais, (iv) perdas na imagem pública das instituições de segurança e, por fim, (v) elevadas perdas monetárias.

6. Ação terrorista

Eventos desta natureza apresentam baixa possibilidade de ocorrência no Brasil, em geral, e na cidade do Rio de Janeiro, especificamente.

Este documento de diagnóstico preliminar não considera a hipótese do terrorismo interno. Todavia, o novo contexto desportivo e geopolítico criado pela Copa de 2014 e pelos Jogos de 2016, com o Brasil ao centro, colocam a cidade como um alvo possível de ser considerado por grupos de terroristas estrangeiros.

Nas décadas de 60 e 70 grupos terroristas atuavam de forma isolada, sem apoio de Estados Nacionais. Nos dias atuais parece acontecer uma simbiose entre alguns Estados e grupos que realizam atrocidades internacionais.

Muito embora o governo brasileiro mantenha relações com Estados de diferentes posições políticas, ideológicas e religiosas, diretamente não possui relações de nenhuma natureza com grupos considerados terroristas.

As causas objetivas da ocorrência de ações de terrorismo são o extremismo e a radicalização religiosa e política. Visam ao poder absoluto, à discriminação de pessoas e ao extermínio de algumas classes e etnias.

Nos dias atuais as formas da ação terrorista envolvem carros-bomba e homens-bomba, sobretudo as que acontecem com frequência no Oriente Médio.

Na ocorrência destes eventos as consequências esperadas serão de alta adversidade, com perdas de patrimônio, perdas de vidas humanas, perdas ambientais.

É importante ressaltar que uma ação terrorista realizada por grupos organizados pode utilizar estratagemas para mudar o foco de ação da segurança. Acidentes normais em um ponto da cidade poderão estar ligados a uma ação terrorista em áreas distantes do acidente.

7. Síntese das possibilidades de ocorrência

A tabela abaixo sintetiza as análises relativas às possibilidades de ocorrência das hipóteses de emergências consideradas, durante a realização dos Jogos de 2016. Estão considerados os três níveis de possibilidade de ocorrência, quais sejam: baixa, média e alta. Em cada nível há três subníveis a que correspondem mínima, intermediária e máxima chance de ocorrência do evento.

Hipótese de emergências

8. Síntese das perdas esperadas

A tabela abaixo sintetiza as análises relativas às consequências previstas para as ocorrências das hipóteses de emergências consideradas, durante a realização dos Jogos de 2016. Estão consideradas três classes de perda, quais sejam: de patrimônio, de vida humana e ambiental. Em cada classe há três níveis a que correspondem baixa, média e alta intensidade de ocorrência do evento.

Possibilidade de Perdas com Emergências

IV. Estrutura da ação

O plano de ação de pronta resposta da segurança pública deverá ser capaz de realizar quase automaticamente as seguintes ações, nesta ordem:

  • Prever – prever ou antever os cenários de perigo e de emergência que possam estar se desenvolvendo;
  • Observar e entender – observar os cenários de perigo e de emergência que estejam em andamento e seus agentes causadores mais prováveis, buscando entender seus processos;
  • Mobilizar e ativar – mobilizar o alerta aos recursos humanos e equipamentos para impedir as ocorrências de eventos de emergência e, se for o caso, ativá-los para a pronta resposta.
  • Responder – responder imediatamente aos eventos de emergência ativados.

Estas ações precisam ser realizadas em qualquer ponto da cidade do Rio de Janeiro, bem como em todas as suas entradas e saídas.

Muito embora toda a cidade seja a área de interesse do plano de ação, sugere-se que o foco principal sejam as áreas dos clusters, seus acessos e saídas, bem como acessos e saídas da cidade, por terra, mar e ar. Por fim, que inclua cada instalação olímpica e seus acessos.

As ações devem seguir o processo sequencial acima apresentado: Prever, Observar e Entender, Mobilizar, Ativar e Responder. Para facilitar todas as referências a este processo ao longo deste documento deu-se a ele o título Poemar.

V. Equipes e equipamentos

A realização das ações do Poemar precisa ser sistemática e permanente. Requer a aplicação de variados tipos de recursos humanos, capacitados para operar com recursos técnicos especializados, envolvendo comunicação, telecomunicação, imagens, vídeos e registros gravados de todos os processos identificados como sendo de interesse.

1. Recursos humanos

Os recursos humanos destinados aos Jogos de 2016 basicamente deverão ser selecionados nas instituições de segurança pública da União, do Estado e do Município. Sugere-se que as forças armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica – sejam consideradas, sobretudo pelo fato de que já possuem treinamentos básicos da doutrina e da disciplina requeridas para a defesa do Estado. Além disso, constituem forte instrumento de dissuasão.

Sugere-se que os recursos humanos do Poemar sejam organizados em três grupos distintos e complementares, a saber:

  • O Grupo I, que atua nas ruas da cidade com a finalidade de previsão de cenários de perigos e emergências, notificando ao escritório central a previsão de eventos de emergência.
  • O Grupo II, que atua na Unidade Central de Segurança com a finalidade de (i) observar e entender os cenários de perigo e de emergência que estejam em andamento; (ii) de mobilizar o alerta aos recursos humanos e técnicos necessários à pronta resposta; e (iii) acionar a ação dos grupos de pronta resposta.
  • O Grupo III, constituído por vários Grupos de Pronta Resposta, que atua com a finalidade de realizar as ações necessárias para estancar ou impedir qualquer ocorrência e limpar a área afetada, caso necessário.

Como complemento essencial ao processo, a presença das seguintes instituições é básica para os resultados da pronta resposta:

  • Corpo de Bombeiros.
  • Defesa Civil.
  • Equipes capacitadas para limpeza de ambientes afetados, envolvendo qualquer tipo de resíduo sólido ou líquido, incluindo, sobretudo, aqueles classificados pela legislação brasileira como tóxicos e perigosos.

A fim de garantir a qualidade das ações, no período de realização dos Jogos, com pelo menos 60 dias de antecedência, estas instituições devem estar subordinadas à chefia da Unidade Central de SegurançaUCS.

2. Recursos técnicos e logísticos

Sem entrar em detalhes técnicos e especificações, os recursos a serem disponibilizados e dedicados para a realização do processo Poemar estão assim discriminados.

  • Prédio da Unidade Central de Segurança.
  • Sistema de comunicação individual em radiofrequência, com transmissão em ondas seguras (controle de acesso, amplitude de cobertura e velocidade).
  • Sistema integrado de monitoração de áudio e contato individual, atendendo a todos os pontos da cidade do Rio de Janeiro, de suas entradas e de suas saídas.
  • Sistema integrado de monitoração visual da cidade do Rio de Janeiro, de suas entradas e de suas saídas.
  • Sistema computacional integrando todos os demais sistemas.
  • Sistema de geração de energia, própria e independente de qualquer concessionária, instalado em anexo da Unidade Central de Segurança.

Todos os sistemas de monitoração, computação e geração de energia da UCS devem ser duplicados, em hardware e software, de sorte a impedir qualquer tipo de interferência que possa afetar sua plena operação.

Sugere-se uma visita formal à cidade de Londres, onde autoridades brasileiras da área da segurança pública poderão tomar conhecimento de sistemas similares lá existentes.

3. Pré-seleção, seleção e treinamento

Devem ser estabelecidos requisitos específicos para efetuar a pré-seleção dos profissionais que atuarão em cada grupo de ação, de modo a que somente os efetivamente selecionados passem para a etapa de treinamento. Os requisitos básicos e gerais para todos os grupos devem ser os seguintes:

  • Ser brasileiro e maior de idade;
  • Não ter processo ou condenação na justiça;
  • Para os Grupos I e II é requisito básico possuir ensino superior ou equivalente, compatível com as atividades que irá realizar;
  • Ter domínio do idioma inglês, além da língua materna.

Após o processo de pré-seleção, os candidatos a vagas nos três grupos de ação devem ser rigorosamente selecionados. Seu treinamento deve ser intensivo para as atividades específicas que deverão realizar.

Recomenda-se que qualquer membro dos grupos de ação não tenha conhecimentos detalhados acerca das atividades dos demais grupos. Detenha apenas os conhecimentos gerais necessários para compreender (i) o que é; e (ii) como funciona o processo do Poemar.

Amatciems: Sistema de drenagem integrado, com controle de inundações

VI. Gerência do UCS

Este é um ponto crucial a ser considerado. Por um lado, a Unidade Central de Segurança será criada, desenvolvida e implantada com o aporte de recursos das três esferas de governo. Por outro lado, todas as ações de pronta resposta a acidentes e emergências, independentemente do processo acidental ou emergencial que esteja em andamento, requerem um comando único e centralizado para sua adequada realização.

Conforme foi proposto anteriormente, a UCS deve estar vinculada à Unidade de Gestão dos Jogos. No entanto, seu comando precisa ser autônomo e independente, exercido por profissional técnico e habilitado. Não deve haver indicação política para este cargo e nenhuma esfera de governo deve interferir em suas decisões. Não pode ocorrer qualquer tipo de conflito operacional.

Sugere-se que para a chefia da UCS seja selecionado um militar com experiência em segurança de fronteira e guerra na selva. Suas eventuais fragilidades urbanas podem ser sanadas através do uso de assessores técnicos e da interface que manterá com os órgãos estaduais de segurança.

VII. Observações finais

Todos os eventos considerados, relativos a cenários de perigos e cenários de emergências, são de extrema importância, independendo da frequência estimada para suas ocorrências. O Plano de Pronta Resposta a ser desenvolvido visará reduzir as chances de suas de ocorrência, pelo menos durante o período dos Jogos de 2016 (34 dias). No entanto, permanecerá como um legado para o Rio de Janeiro, justificando seus investimentos.

Em caso de aprovação deste projeto de segurança pública, o mesmo deve ter início neste primeiro semestre de 2010, pois envolverá a realização de vários processos que demandam a adoção de tecnologias apropriadas, a seleção de equipes para os grupos de ação, a seleção de treinadores devidamente capacitados e o treinamento das equipes da Unidade Central de Segurança.

Votem nos Diálogos da Rio+20


Está disponível no Facebook uma coleção de temas, contendo conjuntos de itens para serem votados pela sociedade. É uma forma de acrescentarmos nossa opinião e contribuir para os itens mais relevantes de cada tema. O endereço para o voto é http://vote.riodialogues.org/?l=pt .

Nós já votamos e aguardamos que todos que nos seguem façam o mesmo.

 

O ambiente através das cores


A beleza das cores e matizes do ambiente

O azul é a cor predominante no planeta, chegando ao quase branco em seus tons mais suaves. A Ilha do Farol na Islândia, onde vive uma pequena comunidade, é absolutamente cercada de azul e branco.

Uma vila sobre a falésia de rocha, queda d’água e caverna submarina.

Outro belo exemplo de azul encontra-se no arquipélago de Galápagos, com uma lagoa encravada na rocha branca durante o inverno. A rocha é cheia de vida e essa lagoa de água salobra fica coalhada de flamingos durante os tempos mais quentes.

Lagoa azul, em Galápagos

Mas a coloração vermelha – cor do sangue humano – apresenta-se de formas inusitadas. Uma rocha que seja rica em ferro, quando exposta à ação das águas, enferruja e fica vermelha, quer seja de fúria, quer de vergonha, ou mesmo ruborizada de amor. Veja no parque canadense de Waterton Alberta Lakes National Park.

Rocha vermelha de ferro e ferrugem

Nos recifes de corais das Ilhas Fiji, dentre sua infinidade de vidas e cores, sobressaltam os corais vermelhos em contraste com espécies delicadas de peixes e com outros corais inesperados com sua coloração.

O coral vermelho e a donzela de ouro

Já o verde cobre toda a biota terrestre do planeta. Encontros casuais entre verdes causam surpresas e maravilhosos reconhecimentos, premiando o ambiente com sua reprodução.

O súbito encontro dos verdes, sobre o verde!

O roxo é uma cor versátil. Combinando o fogo do vermelho com a serenidade do azul. Possui a capacidade de acalmar, mas também de excitar a paixão. O roxo é prevalente em tudo na natureza, desde beringelas a ametistas. Nós, humanos, o adotamos como um símbolo da realeza.

Ponte na Tasmânia

E o amarelo, com quem fica?

Lágrimas vermelhas  de suor escorrem do rosto pintado de amarelo de um guerreiro Huli Wigman, tribo de aborígenes de Papua Nova Guiné. Seu traje elaborado, veste uma dança cerimonial de boas-vindas chamada de Sing-Sing. Um detalhe, inclui também uma peruca de cabelo humano dramático.

Os Huli Wigman não amarelam!

Ocaso do maior escritor do século 20


Por Marco Lacerda*

Publicado por domtotal.com – http://www.domtotal.com

O escritor Gabriel García Márquez perdeu definitivamente a memória. Pelo menos esta é a conclusão a que chegaram os meios de comunicação colombianos depois de uma entrevista do autor, terça-feira passada, ao jornalista Plinio Apuleyo, seu amigo íntimo. Depois de duas horas com Gabo, o jornalista revelou que a demência senil já não permite ao escritor escrever e sequer reconhecer familiares e amigos próximos.

O gênio da literatura do século XX. Nossa homenagem e reverência.

“Nas últimas vezes que conversamos pessoalmente, na Cidade do México, ele repetiu várias vezes: ‘Como anda você? O que tem feito? Quando volta de Paris’? Muitos amigos comuns com quem falei sobre o assunto disseram que com eles aconteceu a mesma coisa. Gabo fez as mesmas perguntas. Existe a suspeita de ele tenha algumas fórmulas. Se não reconhece alguém, não pergunta ‘quem é você’?. Prefere fazer perguntas genéricas. Dói muito vê-lo assim. Gabo sempre foi um grande amigo”, disse Plinio Apuleyo.

Há pelo menos cinco anos a deterioração da saúde de García Márquez tornou-se pública. Os primeiros sinais foram dados quando ele renunciou a continuar escrevendo suas memórias (“Viver para contá-la”, primeiro volume de uma trilogia frustrada) e enfrentou a morte de um irmão. Pouco antes o escritor tinha sido vítima de um linfoma do qual saiu intacto.

Em 2007, quando o Congresso do Idioma celebrou em Cartagena de Índias, na Colômbia, os 40 anos da publicação de “Cem anos de solidão”, García Márquez, pai do cineasta Rodrigo García, se deixou ver sorridente e feliz, vestindo um terno de linho branco. Em nenhum momento, porém, falou em público nem concedeu entrevistas. Nesta época surgiram os primeiros rumores sobre os lapsos de memória do Prêmio Nobel de Literatura de 1982.

No mesmo ano, o escritor britânico Gerald Martin escreveu a biografia oficial de Gabo, “Uma vida”, na qual se pode ler, nas entrelinhas, a notícia velada da enfermidade do autor: “Ele era capaz de recordar a maioria das coisas do passado distante, embora tivesse dificuldade em recordar os títulos de seus livros. Mas mantivemos uma conversa normal, até divertida”, diz Martin.

Há um ano, alguns meios de comunicação chegaram a anunciar que Márquez estaria em vias de morrer em Paris. Sua mulher, Mercedes, e sua agente literária, Carmen Balcells, desmentiram a notícia. Gabo não estava em apuros nem estava em Paris. Permanecia em sua casa no México. Há poucos meses a família divulgou uma foto tirada na festa dos 85 anos do autor.

Nos tempos de sua pródiga produção literária Gabriel García Márquez brindou o mundo com uma coleção de obras primas, que o tornaram, na opinião de muitos o maior escritor do século 20. Entre elas se incluem “Ninguém escreve ao coronel”, “Crônica de uma morte anunciada”, “O outono do patriarca”, “O amor nos tempos do cólera”, “Cheiro de goiaba”, “O general em seu labirinto”, “Do amor e outros demônios”, além de uma vasta obra como jornalista e cronista.

Dez frases de Gabo

Um único minuto de reconciliação vale mais do que toda uma vida de amizade”.

O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão”.

A sabedoria é algo que, quando nos bate à porta, já não serve para nada”.

O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança”.

Aprendi que um homem só tem o direito de olhar um outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se”.

Não passes o tempo com alguém que não esteja disposto a passá-lo contigo”.

Te amo não por quem tu és, mas por quem sou quando estou contigo”.

Nunca deixes de sorrir, nem mesmo quando estiver triste, porque nunca se sabe quem pode se apaixonar por teu sorriso”.

Dou valor as coisas, não por aquilo que valem, mas por aquilo que significam”.

O problema do casamento é que se acaba todas as noites depois de se fazer o amor, e é preciso tornar a reconstruí-lo todas as manhãs, antes do café”.

*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do Dom Total. Artigo escrito com base em informações do jornal espanhol El Mundo e de agências de notícias.

Cúpulas da ONU e a banalização da Sustentabilidade


Há pelo menos três décadas foi iniciada em nosso planeta, sob os auspícios de diversas entidades, em especial da ONU, a criação do adjetivo ‘sustentável’, capaz de ser aplicado em tudo o que o ser humano realiza. Dir-se-ia, um adjetivo de usos múltiplos e, em consequência, com milhares de significados. Portanto, sem qualquer significado concreto. Para explicar esse fato e seus efeitos sobre o Ambiente, precisamos retornar no tempo.

Há cerca de 4,5 bilhões de anos – afirma uma das teorias – foi criado o Universo que ainda desconhecemos. Uma das hipóteses diz que tudo começou com matéria fortemente comprimida, alta energia concentrada, altíssima pressão, calor, explosões, choques entre massas de matéria e muito fogo. Esses foram os fatores ambientais básicos que se relacionaram aleatoriamente para iniciar a criação do maior ecossistema hoje percebido: O Universo. E o Homem não existia, obviamente.

Big Bang! E até o nada estremeceu…

No jogo não planejado das interações entre esses fatores, alguns astros surgiram ‘adotando suas respectivas atmosferas’. Fazendo uma analogia com a Terra atual, entraram no Super-hipermercado do Universo e ‘compraram’ os elementos que julgavam mais adequados para se organizarem. Assim surgiram as estrelas, planetas, satélites, cometas e tudo mais. Cada um com sua atmosfera momentânea. São os chamados Astros do Universo. Na verdade, na linguagem do homem de Marketing, são Atores e Artistas do Universo Monumental.

Passados alguns bilhões de anos (não temos ideia quantos), é possível verificar que esses Artistas organizaram-se em ‘cooperativas estelares’ e estas, em grupos de galáxias, cerca de 200 bilhões de galáxias. Tudo era apenas gases e rochas diferenciados em cada astro. O Homem continuava sem existir.

Por fim, chegamos a um desses incontáveis Artistas, a Terra. Parcelas de seus gases congelados degelaram e foi criada a água. Partes das rochas se descompuseram, criando seu Solo. O Ambiente da Terra (seus sistemas ecológicos) era apenas físico, abiótico, composto por Ar, Água e Solo. Seus processos de evolução muito foram violentos, com diversos eventos naturais se sucedendo, sempre de forma aleatória. Faltavam os elementos da vida hoje existente, aos quais denominam-se fatores bióticos ou biota – a Flora e a Fauna. Muito embora o Homem seja um componente da Fauna, ainda não existia naquelas condições adversas da Terra.

Anatomicamente, o Homem moderno teve origem na África, há cerca de 200 mil anos, atingindo um comportamento ‘tido como mais inteligente’ há aproximadamente 50 mil anos. Em outras palavras, considerando a origem do Universo, o Homem está presente, na melhor das hipóteses (200 mil anos), em apenas 0,0044% de seu tempo. Provavelmente, foi a última espécie da Fauna a surgir na Terra.

Desde cedo, o Homem criou seus próprios ecossistemas antrópicos (ou antropogênicos). Nesses ecossistemas conseguiu criar o que chama de “suas necessidades de vida”. Criou a troca de produtos (escambo) para suprir essas necessidades. Automaticamente, criou o conceito de valor. Então, criou meios de troca mais sofisticados que se tornaram nas moedas atuais. Tudo isso ele fez graças a sua inegável inteligência, pelo menos de curto prazo. O Homem é um ser da fauna muito criador e criativo, inova sem parar.

Criou cooperativas de produção, a que chamou de empresas. Produziu uma boa quantidade de regras para direcionar os caminhos dessas empresas. E foi mais fundo, criando a figura do Estado Nacional, delegando a si mesmo todos os poderes de Governo, que considerou necessários para comandar as massas de homenzinhos, todos sem nome e endereço que, há pouco mais de 120 anos, ainda eram chamados de escravos em alguns Estados.

Mercados produtivos, mercados financeiros (ricos e improdutivos), litígios de toda a sorte e guerras mundiais foram o ápice da criação humana, antes das crises econômicas tornarem-se donas do próprio Homem. Assim, para acabarem com guerras e crises, alguns Estados Nacionais criaram a ONU (1945), onde o principal alvo ainda é o controle da segurança mundial, realizado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Hoje a ONU possui um total de dezessete agências especializadas distribuídas em diversos países. São agências que possuem estrutura de gestão permanente. As mais conhecidas são a Agência Internacional de Energia Atômica, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a UNESCO e a Organização Mundial de Saúde.

Em dezembro de 1972, para tratar do Ambiente Mundial, a ONU criou o United Nations Environment Programme, UNEP (PNUMA, em português). O UNEP não consta da listagem das dezessete agências especializadas, mas também possui estrutura de gestão em cerca de seis países, incluindo o Brasil.

Parece-nos que a atual abrangência das atividades da ONU no planeta é bem distinta da de sua origem. Pretende, como mais uma criação do Homem, “abraçar o mundo com as pernas”. Fica aqui a nossa dúvida:

Suas agências especializadas têm reais condições de cumprirem com seus objetivos?

Retornando às Cúpulas da ONU sobre o Ambiente. Nada temos contra esta Conferência da ONU, muito ao contrário. Mas não estamos participando dos eventos da Rio+20, nem mesmo como visitantes.

Estamos a acompanhar e interpretar os resultados que têm sido divulgados pela mídia, ao modo da mídia brasileira. E quanto às divulgações que vêm sendo realizadas, ficamos atordoados com o uso desmedido e desmesurado do adjetivo “sustentável”.

Em apenas dois dias de pré-evento tudo virou sustentável na cidade do Rio, quiçá no Brasil – paredes sustentáveis, roupas sustentáveis, couro de pirarucu sustentável, instalações sustentáveis, carros sustentáveis e seguem outros mais… Na Rio 92 ocorreu um processo midiático similar. Só que, naquela oportunidade, essas mesmas coisas eram tidas como “ecológicas“…

O falso verde


Artigo de Miriam Leitão, publicado em O Globo.
Republicado pelo site EcoDebate – http://www.ecodebate.com.br.

Em tempos de construção de imagem verde para o mundo ver, o governo tem dito que está incluindo o econômico na questão ambiental. Não é verdade. Se incluísse, determinaria às montadoras o desenvolvimento de motores mais eficientes ao usar o álcool; os bancos públicos fariam exigências de respeito às leis ambientais na concessão dos empréstimos; os impostos seriam reduzidos para produtos e energia de fato sustentáveis.

GreenWash para maquiagem – Titulo dado por este blogue.

O governo prepara pacotes de estímulo ao crescimento como se não houvesse ligação entre o econômico e o ambiental. Tudo é tratado em compartimentos estanques, com uma visão fraturada da realidade. Os temas não cruzam a Esplanada dos Ministérios, com raras exceções. Há muito tempo as mudanças climáticas uniram questões que, por andarem separadas, criaram para a humanidade o problema que temos agora.

Foram concedidos sucessivos benefícios às montadoras. Tantos, tão frequentes e tão extravagantes, que até o governo começou a ficar incomodado. E nos últimos dias tem ameaçado as montadoras caso elas não se comportem adequadamente. Quando lista o que pretende fazer é de arrepiar: quer controlar remessas de lucros, vigiar preços, exigir das empresas a abertura de suas contas e estrutura de custos.

Empresas de capital fechado não são obrigadas a abrir contas e estruturas de custos, se o governo fizer isso será uma violência. País de economia de mercado não pode impedir uma empresa de remeter lucros e dividendos para a matriz. Vigiar preços é uma velharia sem tamanho.

A indústria do biocombustível recebe elogios externos, como no último relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), por ser um dos pontos positivos do Brasil na transição para uma economia de baixo carbono. Nós aqui dentro sabemos que o programa está com conhecidas dificuldades. Algumas delas criadas pelo governo, que através do sistema tributário e de subsídios beneficia o combustível fóssil, no sentido exatamente oposto ao que deveria fazer.

Para corrigir essa política estranha teria que retirar os incentivos à gasolina. Isso elevaria a inflação, o que atrapalharia os planos de derrubar mais os juros para incentivar à retomada econômica. Preso na armadilha que ele mesmo criou, o governo prepara um pacote para ajudar o etanol como forma de compensar o setor.

Se os preparadores de pacotes e levantadores do PIB tivessem alguma noção dos dilemas ambientais e climáticos nos quais o mundo está mergulhado teriam unido as duas pontas e fariam um pacote de socorro às montadoras com exigências de motores mais eficientes quando rodados com etanol. Isso aumentaria a eficiência do álcool e eliminaria a desvantagem do combustível. É tecnologicamente possível, economicamente coerente e ambientalmente desejável. Por que não acontece? Porque o pensamento econômico no governo é velho. Prefere as exigências descabidas dos anos 80.

A área econômica do governo poderia aproveitar a Rio + 20 e atualizar o seu pensamento. Se o fizer, entenderá que a questão ambiental não é um apêndice, mas a lógica da política. Pode-se aumentar o crescimento econômico, a oferta de emprego e o investimento através dos incentivos à redução das emissões dos gases de efeito estufa.

Quem não entender a crise climática que o mundo vive não entenderá a economia dos próximos anos e décadas. Ao contrário de alguns slogans e expressões que são moda passageira na vida empresarial, a exigência de “sustentabilidade” veio para ficar. A palavra tem sido mal usada e pela repetição vai perdendo a força. Mas o conceito que ela expressa permanecerá conosco.

Como a “Folha de S. Paulo” publicou na sexta-feira, o governo transferiu às empresas, em forma de subsídio ao crédito, quase R$ 30 bilhões em três anos. No ano passado o Tesouro pagou juros em média de 12,83% e emprestou a 6%. Essa diferença é custo direto. O governo nunca divulgou o preço da diferença de taxas, mas foi obrigado agora pelo TCU. E isso é só uma parcela do subsídio dado às empresas porque não incluem as capitalizações e renúncias fiscais. Imagina se pelo menos uma parte dessa Bolsa Empresa fosse concedida com exigências de eficiência de energia e contrapartidas ambientais?

Políticas tributárias e creditícias são armas poderosas para induzir a economia em determinada direção. O governo poderia pensar em medidas como redução do IPI de placas solares e componentes; redução do custo fiscal de turbinas eólicas; incentivos aos modais de transporte, urbano e de carga, de baixo carbono; estímulo à formação de clusters da economia verde; exigência de contrapartida ambientais. Tudo isso é política industrial; mas na direção certa.

Às vésperas da Rio + 20, a área econômica avisa que vai beneficiar empresas verdes. Fez o oposto nos últimos anos: apostou em campeões nacionais sem ver a cor de suas práticas; concedeu empréstimo barato para termelétrica a carvão; subsidiou empresas que descumpriram legislação ambiental; deu estímulos para indústria de alto carbono e subsidiou o uso de combustível fóssil. O governo não deveria improvisar nesse tema. Quem entende do assunto não confunde maquiagem verde com transição para a economia de baixo carbono.

Artigo originalmente publicado na coluna de Miriam Leitão, em O Globo, e socializado pelo Clipping MP.

Obras públicas e arqueologia urbana


A cidade do Rio de Janeiro tornou-se um grande canteiro de trabalho com a realização de obras públicas motivadas pelos eventos esportivos internacionais previstos para 2013, 2014 e 2016. Parece que somente Futebol e Jogos Olímpicos conseguiram estimular as autoridades para uma espécie de revitalização urbana da cidade. Nas escavações que têm sido procedidas pelas empreiteiras estão sendo encontrados diversos tipos de vestígios históricos, datados desde o século XVIII. Em termos históricos, poderíamos dizer “datados de ontem”. Afinal, as terras do Brasil, apesar de muito antigas, constituem uma criança com apenas 512 anos de cultura europeia, embora já bastante deformada se contarmos a partir dos melhores dotes de sua origem.

Corrente e ferrugem, por Jorge de Sousa

Na região do Cais do Porto, uma das portas de entrada dos portugueses ao Brasil, estão sendo encontrados diversos objetos antigos, cemitério com ossadas de escravos, correntes velhas, canhões de navios e outros vestígios de nosso passado colonial. Esse conjunto de achados auxilia a estudiosos a entender um pouco desse passado, mas em nenhuma hipótese faz com que o Cais do Porto seja um reconhecido com um sítio arqueológico. Afinal, uma loja de antiguidades pode possuir diversos objetos antigos e históricos mas nem por isso é considerada um sítio arqueológico.

Sítio arqueológico é um local onde permaneceram preservados testemunhos e evidências de atividades humanas em passado longínquo. Ou seja, é um local onde foram mantidos artefatos, construções ou outras evidências de atividades humanas ocorridas em passado muito distante. Os sítios arqueológicos mais conhecidos correspondem a cidades e templos, soterrados em várias partes do mundo, que demonstram que seus habitantes possuíam uma cultura própria e às vezes diferenciada.

Há poucos dias alguns jornais do Rio anunciaram a descoberta de um “sitio arqueológico” nas obras de um prédio na zona sul. Achamos muito interessante a notícia informando que foram encontrados, no subsolo do Leblon, “pedaços de louças, ferramentas, ossos de animais e azulejos, além de parte de uma edificação provavelmente do século XVIII” e que isso seria um sítio arqueológico.

Para falar seriamente de “arqueologia urbana” devemos nos transferir para cidades italianas, em especial para Roma, que contém inúmeros sítios arqueológicos em seu território, com obras monumentais que remontam ao antigo Império Romano.

Diante dos conceitos particulares do que são sítios arqueológicos, com a continuidade das obras esportivas, é bem possível que sejam descobertos novos sítios em Jacarepaguá, Barra da Tijuca, Deodoro, Ricardo de Albuquerque, Guadalupe, no eixo da Av. Brasil e até mesmo em Copacabana.

Com mais quatro anos de obras públicas na cidade, o carioca ficará espremido em duas áreas opostas: ou colado aos granitos e gnaisses da Serra do Mar ou na pedra da Praia do Arpoador, para admirar Ipanema e Leblon.

Ipanema e Leblon vistos do Arpoador, por Ronaldo Kohn

Rio +20: Cimeira ou Cúpula?


Fóruns internacionais, cimeiras e cúpulas são reuniões mais ou menos reservadas a Chefes de Estado e suas “assessorias especiais”. Vários organismos internacionais realizam esses eventos, sobretudo após a criação da ONU (Organização das Nações Unidas), em 1945.

Cúpula da ONU

Vários são os temas básicos de cada reunião promovida, mas somente nos interessa o tema “Ambiente e seus Derivativos”, iniciado com a realização em 1972, em Estocolmo, na “Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Ambiente”. O assunto era tão irrelevante naquela época que, além do Primeiro Ministro do país anfitrião, Olof Palme, somente um chefe de estado esteve presente ao evento mundial: a Primeira Ministra da Índia, Sra. Indira Gandhi. Parece haver sido uma piada de muito mau gosto.

É importante lembrar que os Estados Unidos da América havia promulgado, dois anos antes, em 1970, a National Environmental Policy Act (NEPA) e sequer enviaram um simples observador para acompanhar o evento. Evento que, como se diz, decididamente ficou às moscas.

Mas a ONU manteve em seu cardápio de temas de interesse a qualidade do ambiente do planeta. Tanto que a ex-Primeira Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland foi convidada a presidir a Comissão Brundtland, entre 1983 e 1987, que se dedicou ao estudo das variadas relações entre o progresso das nações e seus impactos sobre o ambiente do planeta. Essa comissão era uma entidade vinculada a ONU.

E foi em um evento da Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento, realizado em 1987, onde teve origem o conceito do “desenvolvimento sustentável”, contendo a seguinte definição:

É o desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades; significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, simultaneamente, o uso razoável dos recursos naturais e preservando as espécies e seus habitats primitivos.

Vamos abrir um parêntesis para discutir este conceito sob a ótica de sua possibilidade de aplicação no mundo real, de sua essência e de sua provável redundância.

Pelo menos desde a década de 1960 a economia e a sociologia já apresentavam conceitos distintos para explicar o significado dos processos de “crescimento” e de “desenvolvimento” de uma nação.

Crescimento” significava gerar e concentrar as riquezas de alguns segmentos produtivos, sem distribuí-las de forma balanceada, através da remuneração adequada da competência de cada cidadão em produzir riquezas para terceiros. Em suma, crescia o capital e definhava o trabalho, com poucas exceções para grupos de investidores e de profissionais a eles alinhados. A visão básica dos investidores resumia-se na redução dos custos da produção e no aumento dos retornos econômicos e financeiros exclusivamente para seus negócios específicos.

Por outro lado, “desenvolvimento” possuía significado bem distinto e considerado bastante ousado, quase “comunista”. A riqueza gerada precisava ser distribuída adequadamente, remunerando em quotas proporcionais o capital e o trabalho. Nem todos os resultados monetários deviam pertencer somente aos investidores, cabendo ao Estado investir parcela destes resultados, via tributos, em infraestrutura destinada à melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, sobretudo, na educação, habitação, saúde, transporte e segurança.

É fácil verificar que o processo de crescimento de parcelas sociais de uma nação é variável e frágil, função direta da conjuntura mundial. Já o processo de desenvolvimento tem chances de se sustentar por maior prazo, sofrendo menores impactos da conjuntura mundial adversa. Grosso modo, o crescimento de uma nação não tem como sustentar-se; o desenvolvimento, quem sabe, talvez.

Concluímos este parêntesis afirmando nosso ponto de vista: “desenvolvimento sustentável” não é um conceito, mas apenas uma filosofia de busca de um estado de sustentabilidade. Em sua essência estrita, é uma utopia que não será alcançada com as tecnologias de que hoje dispomos. Por fim, trata-se de uma expressão redundante há pelo menos meio século: qualquer processo de desenvolvimento de uma nação anseia por ser sustentável. Falar na “novidade do desenvolvimento sustentável” é mera retórica, maquiagem pseudo-intelectual.

Grato. Retorno à narrativa principal.

A Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, Cúpula ou Cimeira da Terra, realizada em junho de 1992, reuniu mais de cem chefes de Estado no Rio de Janeiro. Alguns talvez realmente acreditassem estar buscando meios de conciliar desenvolvimento socioeconômico com a conservação dos ecossistemas da Terra.

Desde os anos de 1970 acompanhamos a realização de uma enorme quantidade de Cimeiras do Clima, montadas em diversos países. Uma única preocupação “científica” nestes eventos: o aquecimento global causado por fatores antropogênicos e as profecias de políticos e artistas, suportados pela mídia mundial, anunciando catástrofes arrasadoras da vida no planeta. Verdadeiras pataquadas com elevado desperdício monetário, reunindo estadistas analfabetos, inclusive em climatologia, e ideólogos esperando serem seguidos bovinamente pela sociedade mundial.

Mesmo assim, ficamos atentos aos resultados de todos os eventos mundiais vinculados ao ambiente do planeta, mas optamos por não estar presentes em qualquer um deles.

Contudo, em fevereiro de 2004, recebemos um convite irrecusável do Ministério do Ambiente e do Território da Itália para participar do International Forum on Partnerships for Sustainable Development. Aceitamos, evidentemente. Foi realizado em Roma, apoiado pela ONU, nas instalações da FAO (Food and Agriculture Organization). Histórico local da cultura do ocidente, bem junto às ruínas do Fórum Romano.

Base histórica da civilização ocidental: o Circo.

O que pudemos verificar de resultados positivos e concretos nesses 40 anos da ação de instituições multinacionais com relação ao ambiente planetário foi absurdamente nada. Todas as aparentes melhorias em termos de sua sustentabilidade teriam ocorrido sem os desperdícios investidos nesses gigantescos eventos.

A Rio+20, Conferência sobre o Desenvolvimento Sustentável, a ser realizada na próxima semana, parece apresentar as mesmas tendências das demais cimeiras ambientais: muitas palestras e conferências, realização de eternas novas amizades e congraçamentos, almoços, jantares, bebidas e bate-papos. Assinaturas de inúmeros protocolos de intenção, juras de posturas ambientais perfeitas e total esquecimento dos acordos subscritos no exato momento em que os líderes entram em seus aviões e retornam às suas origens, bêbados de boa vontade.