Quem é o culpado?!


Por Simão-pescador, Correspondente na Europa.

Simão-Pescador

Simão-Pescador, Praia das Maçãs

É domingo, estou a passeio em Roma, mas não consigo esquecer do Brasil. Porém, vim para apreciar com obstupefação as ruínas do Fórum de Roma, isso é facto. Após muitas vindas à esta cidade nunca havia parado para pensar nas causas reais do fim do Império Romano do Ocidente. E esta obra, que fora magnífica em seu tempo, foi reduzida a um monte de entulhos seculares.

No entanto, milhões de turistas vêm até aqui, como eu próprio, provindos de vários países do mundo, para tentar entender o que nunca viram, quando o fórum foi inaugurado. Ficam todos a imaginar como teriam sido as obras grandiosas da engenharia romana. Por isso, contentam-se com fragmento de monumentos, pedaços de fachadas, pilares semidestruídos e entulho.

Vista do que restou do Fórum Romano

Vista do que restou do Fórum Romano

Mas, por outro lado, são estimulados a imaginar a grandiloquência do Império pelas narrativas da melancolia romana, que transborda da fala dos próprios italianos. E o Brasil, não me sai da cabeça, diacho!

Ocorrida há cerca de 1500 anos, a história, conforme me foi narrada na escola do primeiro grau, fala que a queda de Roma foi causada pela invasão de povos bárbaros, provindos da Escandinávia – hunos, visigodos, hérulos e vândalos. Porém, hoje creio ser mais óbvio que as invasões tenham sido uma consequência, fruto da visão de uma oportunidade, e não a causa da queda do Império Romano. Explico.

Isto se deve ao facto de que para falar da queda de um Império, tal como o romano, é necessário saber como aconteceu seu processo de declínio. Pois, sem o declínio das forças internas, não ocorre a queda política de nenhum governo, muito menos de um sólido império.

Conclui que o declínio do Império Romano se deu por fatores psiquiátricos, econômicos e políticos. Nos livros onde analisei esse assunto, assim como na visão que recebi de estudiosos da História Romana, o tombo foi decorrente de imperadores que misturaram a grandeza de projetos essenciais ao povo, com sua insana megalomania. Como Roma era a única regente da economia ocidental, conseguiram criar uma inflação notável e reticente. Aliás, estou a assistir esse filme novamente, embora sem império, apenas com megalomania. Brasil! Sai da minha cabeça!

Disse-me o historiador, Dr. Bruno Giraldi, sobre a Roma dos séculos III, IV e V:

─ “A inflação promovida pelos imperadores durante a crise do século III destruiu a moeda corrente, anulando a prática de cálculos econômicos a longo prazo. Em consequência, a acumulação de capital para investimentos, somada ao controle estatal da maioria dos preços, teve efeitos desastrosos. Assim, Roma passou a ter sérias dificuldades para realizar mais expansões. Por fim, com a falta de condições financeiras e a redução de escravos em todo o império, foi gerado o colapso da produção e do comércio romano”.

Por força do declínio econômico, o Império não podia mais manter seu dispendioso exército permanente, fator crucial da segurança romana. Nem armas era capaz de produzir para atender seus esquadrões. Então, aconteceu a evasão de militares capacitados, que seguiram para o campo e formaram “feudos próprios”. O exército romano ficou disperso, frágil e sem liderança unificada. Assim, Roma foi obrigada a ampliar suas legiões, formadas por bárbaros, mercenários e vassalos, sob a tutela de “certos generais”. Enfim, acabou-se a história “do dever patriótico” em defender o Império.

O último imperador romano foi o menino Rômulo Augusto, que obteve essa função graças a seu pai, o general Orestes, o qual, por sua vez, tinha origem bárbara e já servira a Atila, o Huno. Orestes derrubou o legítimo Imperador Júlio Nepos, para colocar seu inexperiente filho no trono. Com isso, abriu as portas do Império Romano do Ocidente às invasões que se sucederam. Nada mais lógico e óbvio.

Já sei porque não esqueço do Brasil. Tudo isso me faz lembrar as jogadas imundas da oligarquia política brasileira: as trocas de partido (legiões), as negociatas entre mercenários, os esquemas armados por bárbaros em período de eleição, com vassalos na linha de frente, a arriscarem seu pescoço em troca de poucas moedas.

Resta saber apenas uma coisa: ─ Quem é o culpado desse cenário?