O ato de escrever e as dúvidas correlatas


Ricardo Kohn

Ricardo Kohn

Várias são as dúvidas que atormentam a cabeça de um escritor antes e durante a redação de um texto. Mas poucos são os leitores que sabem disso. A maioria apenas exige clareza, boa argumentação e significado relevante após sua leitura. De outro modo, o resultado final do artigo precisa ser capaz de gravar a fogo um “xis” no cérebro do leitor, do contrário ele segue reto para o lixo do esquecimento.

No entanto, para o escritor, a oferta espontânea de textos constitui uma ação voluntária de compartilhar ideias, de oferecer opiniões, de trocar conhecimentos com seus leitores. Enfim, é um ato de esperança, que quase implora para conversar com pessoas interessadas.

A primeira dúvida é a escolha do tema do texto. Por exemplo, para a maioria dos escritores o tema é fundado em fatos diários, onde textos críticos ou “de apoio” têm maior representação no espaço cultural. Neles, “o nome dos bois” precisa ser dado, pois do contrário não causam o impacto desejado. Graças a isso, são os textos que informam ao público mais atento e assim fortalecem a democracia em países civilizados.

Outra dúvida refere-se à natureza do texto a ser redigido. Pode ser uma simples notícia, um editorial, uma opinião e segue a plêiade de gêneros literários: crônica, sátira, ensaio, conto, etc. Mas diria que esta dúvida pode ser resolvida com facilidade. Basta que qualquer gênero seja tratado simplesmente por artigo.  Afinal, a preocupação com a escolha da forma não é relevante para o leitor em geral. Contudo, devo salientar, costumo “classificar” os textos que redijo segundo o gênero que considero pertinente. Mas sem preciosismos. Trata-se de um hábito que mantenho desde que iniciei a redigir.

Entretanto, a maior preocupação do escritor consiste em “como escrever” acerca do tema escolhido e, além disso, conseguir manter o texto amarrado ao seu foco principal. Sempre ocorrem em escritores impulsos de criar subtemas e saírem do foco. Mas é possível contornar esse desvio. Uma boa prática é o uso da nota de rodapé.

Da preocupação em “como escrever” surgem muitas dúvidas, consideradas bastante normais: gramaticais, sintáticas, a escolha de verbetes para cada situação e a conexão interna do texto, ou seja, sua estrutura consistente, mostrada pela sequência adequada dos parágrafos e a conversa lógica entre suas frases, que sempre deve ser clara e informativa [1].

No entanto, se o texto for surpreendente, ainda melhor! Por isso, tento encerrar a maioria de meus artigos com algo dentro do foco, mas que provoque à imaginação do leitor. De maneira sincera, gostaria, através de meus textos, de ser capaz de fazê-lo levantar da cadeira ao fim da leitura, com uma boa interrogação na mente e disposto a refletir mais sobre o tema que abordei.

Escrever para um website ou blog não é diferente, pois as dúvidas do escritor são as mesmas e o processo requer mais alguns cuidados. Por exemplo, para documentar um artigo é razoável que se tenha fotografias adequadas para ilustrar o texto. De certa forma, isso atrai mais leitores. Mas às vezes não há imagens que atendam ao texto. Assim, tenho duas coisas a dizer que julgo importantes, pela razoável experiência adquirida na literatura:

  • Quando não se tiver uma foto consistente com o teor do artigo, usa-se uma imagem que traga leveza visual, com ou sem legenda; e
  • Quanto à nota de rodapé que usei, para não perder o foco deste artigo, não tive a intenção de doutrinar ou “evangelizar” ninguém. Apenas a de completar explicações e motivar a reflexão de pessoas interessadas no assunto.
Texto manuscrito em Siríaco

Texto manuscrito em Siríaco

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[1] Não há dúvida que políticos brasileiros dos últimos 12 anos cometem atrocidades com a língua portuguesa, nada “claras e informativas”. Erros de gramática e sintaxe são assustadores. Conexão entre parágrafos e frases não existem quando mentem de improviso. Porém, acima de tudo, não devem ser esquecidos os “verbetes curiosos” que são proferidos, sem qualquer sentido para pessoas com inteligência mediana.

Gostaria de saber, sobretudo, o significado de expressões ditas políticas, tais como “centralidade da necessidade”, “consenso progressivo”, “esforço transversal”, “sonháticos” e “agenda plasmante”. Parece palavrório ordinário vomitado por “filósofo evangélico da Universal”. Aposto que trazem o risco de serem outro embuste para encurralar a sociedade brasileira, já acuada pelo altaneiro cinismo de políticos corruptos.