Armadilhas


Ricardo Kohn, Escritor.

Já no primeiro mês do governo Bolsonaro, o presidente e seus ministros estão estupefatos com o que descobrem diariamente, sobretudo nas cavernas de instituições federais e em certas estatais imundas. Diante desse fato, todo cuidado tem sido pouco, pois, ao abrir a porta de qualquer sala vazia, há risco de receberem flechadas no peito ou, no primeiro passo à frente, cair-lhes sobre a cabeça um vaso de pedras. Acontece que o presidente, seus ministros e secretários não são suicidas. Ao contrário, estão a desarmar as armadilhas montadas e, com clareza, informar ao povo brasileiro o que sucedia nos governos que o antecederam.

……….

Embora a transição de governo haja sido, diga-se, “relativamente aceitável”, Temer não divulgou grande parte da plantação de armadilhas, muito menos as ações de sua danosa equipe de crápulas – herdados e nomeados. Afinal, ele sempre foi um primata covarde, inerte, incapaz de decidir. Portanto, abrir portas, entrar em salas vazias, nem pensar. Porém, ao contrário, dizem que estava ciente das armadilhas montadas, como funcionavam e como podiam ser manipuladas em benefício próprio, assim como atender à fúria monetária dos sequazes que herdara de governos anteriores.

De todo modo, para efeito deste artigo, classificam-se as armadilhas [montadas a partir de 2003] em quatro gêneros: (i) o aparelhamento total do Estado; (ii) os ataques desmedidos aos cofres públicos, que cresceram sistematicamente durante os últimos 16 anos; (iii) a compra imoral de parlamentares do Congresso , que resultou na implantação de uma estranha “democracia ditatorial”; por fim, (iv) a indicação de membros cínicos e ostensivos para atuarem nos tribunais superiores, com vistas a protegerem os titulares das quadrilhas instaladas nos poderes executivo e legislativo.

Acredita-se não ser relevante detalhar como se davam as operações destas quadrilhas e suas armadilhas. Até por que, os poucos veículos honestos da imprensa já tornaram claras e notórias as corrupções que foram cometidas por governantes que nunca governaram. Apenas se dedicaram a aumentar suas contas bancárias, multiplicar seus investimentos e enriquecerem com patrimônios bastardos.

Porém, além disso, as quadrilhas instaladas nunca tiveram qualquer plano de governo. Na verdade, possuíam um extenso programa arquitetado para roubar os bens da nação. O que é mais obsceno neste cenário, deve-se ao fato das quadrilhas terem conseguido realizar essa meta imoral. Como resultado internacional, após 16 anos de crimes sistemáticos, o Brasil deverá receber de uma instituição global um título que lhe será exclusivo, referido ao século 21: “Grande Império Mundial da Cleptocracia”. Ao longo dos próximos 81 anos que completarão este século, dificilmente será superado por governos corruptos de outras nações. No entender dos criminosos políticos brasileiros, trata-se de um prêmio de reconhecimento.

Armadilha para corruptos

Todavia, diante das sórdidas armadilhas já descobertas, a missão do governo Bolsonaro foi bastante ampliada. Quer dizer, além de cumprir à risca com seu plano e programas de governo, precisará, em curtíssimo prazo, realizar ações estratégicas destinadas a montar novas armadilhas; seu foco é encarcerar corruptos que, inexplicavelmente, ainda permanecem em liberdade, a “viver de renda”, bebendo água-de-coco pelas praias do país.

Libertinagem da imprensa


Ricardo Kohn, Aprendiz de Filósofo.

Após os resultados das eleições de 2018, com a vitória popular a favor do livre mercado, observo que a imprensa poderosa – aquela financiada por propagandas do governo e de suas estatais –, perdeu a noção do que significou este notável sufrágio. Sobretudo, após esta mesma imprensa ter recebido polpudos proveitos econômicos durante os 14 anos do “desgovernoda quadrilha. Decerto, sentiu-se ameaçada em ter seus contratos suspensos. Saliento que, nesse mesmo período, a sociedade brasileira esteve submissa à devassidão governamental, a qual lhe foi imposta por uma longa série de corrupções ditatoriais, embora fantasiadas de “atos democráticos”.

No entanto, em fins de 2018, o povo acordou e, pelo voto livre, rompeu os grilhões da “grande patranha” que, desde de 2003, o acorrentava. Hoje, segundo pesquisa CNI/Ibope, 75% da população acredita que o presidente eleito – deputado Jair Bolsonaro – encontra-se no caminho certo para governar o país. Aliás, sem contar com campanhas de marketing, o “Capitão Bolsonaro” tornou-se mito para o povo brasileiro. Porém, mitos não podem ser criados; todos sabemos as consequências nefastas proporcionadas pelas ações de “mitos do passado recente“. Contudo, Bolsonaro tem afirmado que não é um mito, muito menos infalível; que poderá errar no curso de seu governo, mas que, neste caso, retomará o caminho correto pelo trabalho técnico de sua equipe ministerial.

A ser assim, a priori não tenho fatos para desacreditar  seu discurso. Ao contrário, como brasileiro decente é meu dever apostar no sucesso desta empreitada. Afinal, antes de ser eleito, superou diversas situações críticas. Dentre elas, uma facada no ventre disferida por um “assassino encomendado”, afora o sistemático bombardeio da “grande imprensa” – notícias, artigos, editoriais e, sobretudo entrevistas, quando jornalistas, de forma asquerosa, babavam seu ódio por Jair Bolsonaro. Chamo a isso “libertinagem da imprensa”, pela leviandade das empresas de comunicação onde trabalham seus jornalistas amestrados.

Circo de Pulgas

Circo de Pulgas ou de Profetas

Acredito que exista um propósito (monetário) para essa guerra gratuita que foi aberta contra Bolsonaro. Caso seja verdade, apostaram nos cavalos erradosmancos! Dentro de 10 dias, restará a essas empresas a opção de quitar as contas que penduraram pelos botecos do governo federal petralha – BNDES, Caixa e outros bancos estatais. Do contrário, poderão se tornar Circo de Pulgas ou, talvez, Circo de Profetas. De toda forma, senhores escroques, desejo-lhes plim-plim…

Traveco de político


Ricardo Kohn, Escritor.

Chega-se ao 2º turno. Há dois oponentes dispostos ao combate final. De um lado, Jair Bolsonaro, que demonstra com fatos indiscutíveis a ausência da segurança pública no país, segundo ele, criada pelos quatro governos petistas que se sucederam. Além disso, e sobretudo, a medonha corrupção orquestrada que se abateu sobre o Estado Brasileiro, com suas imorais consequências para a economia da nação.

No outro corner, estonteado, encontra-se Fernando Haddad, amestrado por seu diretor de teatro, na verdade, por Lula, o transformista, atrás das grades por 12 anos. Em entrevistas, a iludir desinformados, Haddad afirma ser o democrata que governará o país em prol da riqueza do povo brasileiro. Todavia, consta de seu Currículo Lattes a seguinte formação acadêmica: (i) Graduado em Advocacia (1985); (ii) Mestrado em Economia, com apresentação da monografia “O Caráter Socioeconômico do Sistema Soviético” (1990); (iii) Doutorado em Filosofia, com a defesa da tese “De Marx a Habermas – o Materialismo Histórico e seu Paradigma Adequado” (1996).

Traveco de político

Traveco de político

Deduz-se que Haddad dedicou pelo menos 12 anos de sua vida universitária a estudar economia da União Soviética, o Materialismo Histórico (Karl Marx) e o Novo Marxismo, segundo a visão de um idiota, o filósofo Jürgen Habermas. Hoje, diz de si para si, defronte o espelho de seu quarto: ─ “Sou o cérebro do comunismo moderno”. Em seguida, sofre surtos de diarreia, segundo dizem.

Logotipo travestido da campanha petralha

Travesti de partido político

Desse modo, que a decência nos acuda, pois ─ “Onde estaria o dito democrata”?! ─ “Como criaria riquezas para distribuir ao povo”?! Quem sabe, talvez através de sua soviética bondade ditatorial-proletária. Em suma, “senhor traveco de comunista, em que lixeira você depositou sua moral”?!

Assim caminha o Brasil


Ricardo Kohn, Escritor.

Está-se a descer os últimos degraus do fosso profundo, após o quê abre-se a escuridão do irremediável.

Fosso Brasil

Fosso Brasil

Goste-se ou não, as leis, as relações humanas, as econômicas e tudo mais, nascem da política. Em tese, os parlamentares que redigem a legislação, logo em seguida submetem-se a ela, assim como toda a sociedade. Desse modo, quanto mais evoluída a nação, melhor será a rigorosa aplicação das leis aprovadas. Infere-se assim que o caminhar de qualquer nação, de forma indelével, é regido pela ação política.

A nação brasileira está muito bem servida de parlamentares; têm-se políticos a dominar seus três poderes. Tanto é assim que se construiu uma cidade-capital para dar boa-vida aos políticos, bem como, às suas trupes (ou corjas). Naquele Planalto Central, distante da civilização, foi criada a “Ilha da Fantasia”: além das assustadoras verbas de gabinete, nela os felizes políticos recebem mansões, potentes lanchas para passear no lago, além de carros do ano (com motorista).

Desde de abril de 1960, mesmo que aos trancos e barrancos, a “Ilha” tem sido operada por políticos. Deve-se salientar, no entanto, que por lá viveram notáveis atores da real-democracia, uns poucos deles dignos da função para a qual foram eleitos. Foi assim a partir dos anos ‘80, com o retorno de um modelo quase liberal de governo, por vezes democrático.

Após a passagem para o século XXI, amplamente comemorada pela população, em um evento patético a nação elegeu um ogro alucinado; dono de retórica carismática, com viés socialista-oportunista. Levou tempo, foi complexo, mas após quatro mandatos de seu partido, hoje o ogro xinga e vocifera contra as paredes de sua cela na prisão.

Durante cerca de 20 anos, assistiu-se a fatos não explicados: assassinatos e acidentes fatais de pessoas contrárias ao populismo oportunista do ogro. Cita-se, a exemplo, o assassinato do prefeito de Campinas, em 2001. O inquérito policial explicou que a execução se dera sem qualquer motivo identificado. No entanto, a família do defunto acreditava que fora cometido um crime político.

Segue o sequestro, seguido da tortura e execução, do prefeito de Santo André (2002), bem como a subsequente morte de sete pessoas que talvez pudessem esclarecer aquela brutalidade.

Na página dos acidentes tem-se a queda do avião que tirou a vida do ministro do STF, Teori Zavascki, ocorrido em Paraty (2017). Por sinal, na mesma região em que Ulysses Guimarães sofreu um acidente fatal (1992), com a queda do helicóptero em que viajava.

Outro acidente foi o que tirou a vida de um candidato à presidência nas eleições de 2014. Viajava em um jatinho novo, com seu primeiro voo realizado em 2011. No entanto, aquela aeronave se espatifou contra um prédio no bairro de Santos, sem sobreviventes.

Na atualidade, especula-se com a lógica: após receber a programação detalhada da ação e sofrer intenso treinamento, uma facção de assassinos comete um atentado terrorista contra o candidato Jair Bolsonaro (2018).

Há outros casos similares, onde as investigações nada concluíram. Todavia, segundo investigadores criminalistas, não há coincidências quando vários crimes são cometidos, sucessivamente. Parece que existe nos bastidores dos crimes políticos uma cabeça capaz de orientar e programar as execuções necessárias. Decerto, não é a do ogro.

Enfim, corre-se o risco de descer os últimos degraus do fosso profundo, após o quê abre-se a escuridão do desconhecido. Assim caminhará a nação brasileira se as ações policiais e da justiça não forem implacáveis.

Eleições 2018: o pardieiro imoral


Ricardo Kohn, Eleitor.

Ricardo Kohn

Ricardo Kohn

Após os últimos 15 anos de delinquência institucional, instalada desde 2003, a política brasileira conseguiu eliminar todos os seus vestígios de racionalidade. Ou melhor, de suposta racionalidade, uma vez que cidadãos de até 25 anos nunca a conheceram ao vivo – a racionalidade pública. De fato, muitos jovens não perceberam que são partícipes na formulação da razão pública, fruto de sociedades educadas e pluralistas; livres e democráticas.

Mas o que se assiste neste ano de eleições gerais no Brasil? Vê-se a parafernália de 35 partidos políticos, cada um a conduzir sua matilha de candidatos (muitas hienas de estimação), na busca de mais tempo na TV. Foi assim que eclodiram absurdas coligações partidárias: antes eram inimigos mortais; agora, fieis amantes durante o curto período eleitoral. Tanto é fato que, apesar de serem 35 partidos, há somente 13 candidatos à presidência da República. Conseguiram travestir a deformação estrutural da política brasileira.

Qual nação do mundo suportou a ação simultânea de 35 facções políticas? Qual já teve 13 candidatos a “Chefe de Estado”, na mesma disputa eleitoral? A ganância pelo poder reside na vileza com que cada um deles se arma para “esquentar eleitores”.

No estágio em que se encontram, às vésperas do pleito, não há fórmula capaz de medir o desempenho eleitoral destes cidadãos. Afinal, segundo filósofos do direito, “salvo três deles, os dez restantes sequer possuem resquícios de razão pública”. São oportunistas, narcisos e, por estarem centrados em seus egos, sentem asco do “cheiro de povo requentado”.

Segue-se para outra seara: a dos tais “institutos de pesquisa” e suas “estimativas” de intenção de voto. Acredita-se que a prática da pesquisa haja nascido no ambiente acadêmico, quando estudiosos efetuavam levantamentos de dados, com vistas a provar (ou não) um fenômeno que consideravam possível. Em seguida, foram usadas para conhecer a opinião do mercado sobre um produto a ser lançado. Somente mais tarde – mantida a ótica da opinião do mercado – surgiram as “pesquisas políticas”. Nelas, políticos-candidatos são tratados como produtos, e não precisam ser novidade. Contudo, para conseguirem resultado nas pesquisas, haja modelagem matemática, haja algoritmo estocástico!

Mesmo diante dos óbvios desafios lógicos para predizer o comportamento de políticos-candidatos, “institutos de pesquisa” tornaram-se negócios lucrativos, sobretudo em ano de eleições gerais. Os chefes dessas empresas são pagos por um cliente para fazer uma pesquisa de intenção de voto. Em sigilo, é possível que lhe perguntem: ─ “O senhor deseja que as nossas estimativas favoreçam a quem”?

Após assinado o contrato, a equipe do instituto segue rumo ao Sacro-santo Salão da Magia. Realiza 2.471 telefonemas, preenche as cartelas de intenção de voto e consolida os números sob a ação de máquinas de torrar, triturar e liquefazer intenções. Bastam duas sessões de tortura de números que sai pronta a massa de modelar, sempre ao gosto do cliente. Estas são as notórias “estimativas invertebradas”: não ficam de pé sob a ação da crítica, pois são roupas penduradas em cabide. Por sinal, o fato mais extravagante é o caso do presidiário-candidato que consta em 1º lugar nas pesquisas (39%), enquanto 70% dos eleitores deseja que ele permaneça encarcerado. Isto não resultou de qualquer pesquisa, mas de um disparate entalhado no corpo da nação, a ferro e fogo!

Em suma, tem-se hoje a bagatela de 35 partidos políticos, com seus 13 presidenciáveis, além das estimativas de intenção de voto (todas invertebradas). Neste panelaço de barro, exposto ao calor extremo do fogo à lenha, falta o ingrediente que, em tese, cura o bolo eleitoral, que “dá pega”: trata-se da imprensa.

Em regimes de livre mercado a democracia requer liberdade de imprensa. Afinal, por exemplo, é através do livre debate que deve ser buscada a solução para problemas da gestão pública. No entanto, com vistas a manipular debates, certos profissionais usam a mídia para estimular lutas intestinas entre “direita e esquerda”. Desse modo, não acontece o imprescindível diálogo, mas apenas duelo entre monólogos surdos. Ao fim, sagra-se vencedor apenas o interesse de poderosos grupos de comunicação. Grupos que conduzem pseudodebates por meio da ação interventora de seus mediadores profissionais. Afora isso, também é notável o mal-uso sistemático da imprensa nas entrevistas de presidenciáveis. Considera-se esta “estratégia da inocência” ameaçadora à democracia, a qual, paradoxalmente, clama pela liberdade da imprensa.

Segue-se com o mistério das urnas eletrônicas que operam no Brasil. Desde as eleições de 2014 a credibilidade deste sistema de votação “foi para o espaço”, caiu por terra. Uma parcela considerável dos eleitores acredita que há “desvio de votos”. Até por que, os vencedores daquele pleito desviaram bilhões em dinheiro público! Mas esta parcela teve incremento expressivo, após um matusquela, presidente do TSE decidir – “gratuitamente” – que não havia dinheiro para implantar impressoras em todas as urnas eletrônicas do país. Desse modo, acontecerá mais uma eleição geral sem que seja possível a sociedade demonstrar a evidente prática do furto de votos.

Seria ótimo de fosse assim

Assim, com impressora, seria ótimo!

O voto não deve ser declarado. Até por que, não se trata de aposta no guichê do hipódromo, em cavalo que se espera vencedor. Voto é ato da cidadania, onde cada eleitor escolhe quem acredita ser digno, íntegro e competente para tirar o país do poço de lama em que se arrasta há 15 anos. Porém, vale lembrar, mesmo nas corridas de cavalo, há animais subestimados em que ninguém aposta. Por isso mesmo pagam prêmios elevados e, não raro, ganham corridas.

Nós, brasileiros, podemos obter magníficos resultados nas Eleições 2018. Basta sabermos apostar no cavalo certo! Do contrário, seremos obrigados a viver no pardieiro imoral em que nos hospedaram”.

Decálogo do Ambiente


Ricardo Kohn, Escritor.

Este texto é parte de capítulo do livro “Princípios da Filosofia do AmbienteComo o Ambiente vê o Sapiens”. Nele há dois personagens que conversam: o Ambiente e o autor. Para facilitar o entendimento, indico quem está a fazer cada narrativa, as quais se sequenciam dando lógica ao tema. Prossigo.

Assim fala o Ambiente. Verifico que, desde há 20 mil anos, o sapiens dominante é o único criador de conflitos em minha natureza primordial (physis). Promove violências gratuitas, assassina à esmo, realiza corrupção, comete genocídios, trafica seus semelhantes, pratica escravagismo, faz rebeliões, guerras e revoluções armadas. Com base em reflexões sobre o óbvio, inferi que o alto valor das drogas que o dominante trafica em minha physis, seria mais que suficiente para tirar da miséria os milhões de submissos que ele arrasa, diariamente. Nos dias atuais – é notório –, com as moedas do sapiens corrupto, assisto a muitos dominantes criarem quadrilhas de traficantes que não passam de terroristas.

Por ora encerro minha falação, embora tivesse mais a dizer sobre as ameaças que o sapiens dominante promove em minha physis.  Mas esse foi o depoimento a que fui chamado a dar, de teor crítico à conduta da espécie humana que me restou para observar: em grande parte presunçosa, sedenta pelo poder a qualquer custo e, sobretudo, nefasta à minha natureza primordial.

Os Sapiens Rarus

O Sapiens Rarus

Espero que aqueles que me leem entendam que, sobretudo, não existem exageros ou luxos na minha forma de reger meus bens primordiais. Pois ambos – exagero e luxo – possuem o danoso custo de tudo o que é fútil. Sei muito bem que os poucos sapiens rarus do planeta são meus únicos mantenedores.

O autor. Há um texto de Voltaire que, na visão do Ambiente, fundamenta seu decálogo. Voltaire, imerso na ironia de sua solidão, foi o iluminista que redigiu a seguinte parábola:

“Que ingenuidade, que pobreza de espírito, dizer que os animais são máquinas privadas de conhecimento e sentimento, que procedem sempre da mesma maneira, que nada aprendem, nada aperfeiçoam! Será por que falo que julgas que tenho sentimento, memória, ideias? Pois bem, calo-me. Vês-me entrar em casa aflito, procurar um papel com inquietude, abrir a escrivaninha, onde me lembra de tê-lo guardado, encontrá-lo, lê-lo com alegria. Percebes que experimentei os sentimentos de aflição e prazer, que tenho memória e conhecimento. Vê com os mesmos olhos esse cão que perdeu o amo e procura-o por toda parte com ganidos dolorosos, entra em casa agitado, inquieto, desce, sobe e vai de aposento em aposento, e enfim encontra no gabinete o ente amado, a quem manifesta sua alegria pela ternura dos ladridos, com saltos e carícias. Bárbaros agarram esse cão, que tão prodigiosamente vence o homem em amizade, pregam-no em cima de uma mesa e dissecam-no vivo para mostrarem-te suas veias mesentéricas. Descobrem nele todos os mesmos órgãos de sentimentos de que te gabas. Responde-me maquinista, teria a natureza entrosado nesse animal todos os órgãos do sentimento sem objetivo algum? Terá nervos para ser insensível? Não sujes a natureza com tão impertinente contradição”.

Muito embora a reflexão de Voltaire esteja restrita aos animais, exemplificados pelo cão, nosso amigo doméstico, interpreto-a como extensiva a toda a fauna silvestre. Que, aliás, o sapiens dominante insiste em denomina-la selvagem.

Em síntese, o decálogo a seguir traduz o que o Ambiente pensa sobre a impertinência do dominante. Dessa forma, quem fala não sou eu, mas as forças da natureza, as quais, por descuido ou inocência, receberam o dominante como filho pródigo. Dessa forma, o Ambiente Terráqueo oferece este decálogo a este dito sapiens, único ser incompatível que lhe apareceu pela frente. Então… Assim fala o Ambiente:

  1. Quero que tu saibas, dominante: não detenho qualquer virtude filosófica, mas sou, de fato, a única virtude do Universo; aonde quer que eu exista há evolução;
  2. Assim como o ar, a água, o solo, a flora e a fauna, que formam minha physis, acreditei que tu eras outro resultado de minha evolução; tu conseguiste me enganar;
  3. Porém, sequer chegaste a ser a necessidade fisiológica de um segundo da minha existência;
  4. Apesar da degradação sistemática que tu me impões, mesmo após entender quem tu és, continuo a elaborar meus futuros, aleatória e espontaneamente;
  5. Mas tu causas desordens na minha existência: de graça, ofereço-te ar puro, água límpida e potável, solos saudáveis, flora e fauna exuberantes. Mas o que me devolves afora ar, água e solos contaminados, florestas devastadas e fauna assassinada?;
  6. Quero que saibas: minha physis é inteligente e possui sentimentos; difere de ti, besta ignorante, destruidor de tudo o que encontras, inclusive dos primatas da tua própria espécie;
  7. Saibas ainda que, a despeito das tuas emanações gasosas, minha atmosfera logo se refaz, assim como as águas e os solos de meu planeta;
  8. A despeito de ti, minhas matas erguem-se em volta de teus prédios e logo os rodeiam, a esmigalha-los entre possantes laços de troncos vivos, pois, diante de mim, teus magníficos prédios são ínfimas peças de papel;
  9. Saibas que minha fauna é frágil e várias espécies poderão ser extintas por ti. No entanto, crio outras somente para demonstrar tua impotência;
  10. Por fim, nunca te esqueças, sou o único com poder de decidir a hora da tua extinção; tua sorte é que dificilmente gasto energia à toa.

O autor. A partir deste decálogo, percebo que o Ambiente se apresenta como o Criador de todas as coisas, o Senhor Absoluto: visível, concreto, palpável. O que me parece bem parecido com o Deus de crenças, um ser etéreo e invisível, mas que está “ativo” há milênios, por força do pavor antropológico da repetição: viver e morrer aos poucos, diariamente; viver e morrer aos poucos, diariamente…

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Primatas constroem a antroposfera


Ricardo Kohn, Aprendiz de Filósofo.

Há cerca de 4,6 bilhões de anos, num ponto aleatório do espaço sideral, gigantescos blocos de rocha travaram o jogo da existência, ao acaso. A energia que os alimentava nesse furioso embate era de origem desconhecida. Todavia, após milhares de milênios, os blocos se permitiram coexistir: expeliram grandes volumes de gases quentes [desgaseificação], desaqueceram-se, e se mantiveram em razoável estabilidade até os dias atuais. Deste modo, ao acaso, blocos rochosos formaram a Litosfera de um novo astro, magnetizada por minerais metálicos, a que se chama Ambiente Tectônico [de um astro perdido no espaço sideral].

Os gases expelidos, atraídos pelo magnetismo da Litosfera, permaneceram em seu entorno e acabaram por formar a Atmosfera do novo astro, a que se chama Ambiente Atmosférico [de um astro desconhecido a navegar pelo cosmo]. É notório que outros corpos siderais se chocaram com o astro recém-formado. Mas existe a teoria que esses corpos celestes continham, dentre outros componentes [minerais, água e organismos unicelulares], gases incorporados às suas estruturas físicas. Assim, infere-se que, pela lógica, hajam contribuído para ampliar a Atmosfera do novo astro.

Na medida em que houve o gradual resfriamento da Litosfera do astro, grandes volumes de líquido decorrentes da condensação de gases emergiram de suas rochas, a formar sua Hidrosfera; chama-se por Ambiente Aquático, que então ocupava por volta de 60% da superfície do astro. Além disso, ocorreram as primeiras formações de nuvens na Atmosfera, a dar início a precipitações líquidas sobre o astro, agora confirmado tratar-se de um planeta, uma vez que sua Litosfera não se resfriava mais, não emitia luz própria, além de possuir dimensões largas e aparente autonomia de existência no cosmo.

Todavia, durante pelo menos 4,2 bilhões de anos, este planeta permaneceu inerte, a tostar suas rochas e solos sob as inclementes tempestades solares. Afora isso, foi trombado por milhões de asteroides, meteoros e cometas. A ser assim, mesmo debaixo dessa tempestade de ameaças, seu Ambiente Físico [Litosfera, Atmosfera e Hidrosfera] manteve-se estável. De outra forma, era como se os bens de propriedade do ambiente físico [rochas, gases da natureza e corpos d’água] “sentassem à mesa para resolver como permaneceriam úteis uns aos outros”.

Evidente que essas reuniões nunca ocorreram. No entanto, os seres vivos surgiram de maneira quase mágica. Aconteceram para formar a Biosfera ou “esfera da vida” do planeta. Embora haja inúmeras abordagens sobre o que é e como foi formada a Biosfera, opta-se por sua forma mais simples, qual seja: é o conjunto das espécies florísticas primordiais e, a ele agregado, o conjunto das espécies faunísticas primordiais. Ou seja, a Biosfera envolve a flora e a fauna primordiais, incluídos os fungos; nada além.

Parece não haver dúvida que ela se formou em função do suporte físico oferecido pelo planeta. É sobre ele que a Biosfera se agrega, aleatoriamente, por necessidade e acaso. Desse modo, é certo que o Ambiente Biótico resultou das relações mantidas entre a Litosfera, a Atmosfera e a Hidrosfera. É provável que essas relações tenham promovido reações físico-químicas que resultaram em organismos vivos. Entretanto, ninguém sabe ao certo como a Biosfera se formou, embora haja teorias sobre a chamada “sopa primordial”, um produto de laboratório talvez capaz de transformar elementos orgânicos/inorgânicos em seres vivos[1].

Todavia, o que mais importa é debater quais benefícios a Biosfera trousse para o planeta físico. Assim, para efeito desta narrativa, retorna-se à reunião hipotética entre as rochas, gases da natureza e corpos d’água. Se estes bens primordiais fossem capazes de conversar entre si, concluiriam que a cobertura vegetal biosférica tornaria o planeta mais protegido da inclemência solar; que a evaporação de suas águas seria recomposta por chuvas; que a fauna primordial a ela agregada demonstraria sua mobilidade planetária; que desse modo o planeta físico se tornaria mais complexo. Verificariam que os Ambientes Físico e Biótico deveriam interagir, a manter relações ambientais de reciprocidade entre seus bens constituintes que, apesar de aleatórias, permitiriam a manutenção e/ou evolução dos bens primordiais básicosar, água, solo, flora e fauna.

Muito embora a imaginação possa dar voz a entes físicos e a seres que não falam, há cerca de 6 milhões de anos, todos esses desejos tornaram-se reais com a assunção da “esfera das relações do ambiente”, a que se chama Ecosfera. Dela resultou a consolidação do Ambiente [terráqueo].

Tudo corria bem com a evolução do Ambiente, até que por volta de 2 milhões de anos atrás, apareceram novos grupos de primatas. Porém, dentre eles, o grupo mais recente [com origem estimada a 200 mil anos atrás] se comportava de forma diversa dos demais símios. Perambulavam pelo planeta em busca de carne fresca; matavam os grandes sauros, pois eram vorazes; reproduziam-se em larga escala; perseguiam-se e matavam-se uns aos outros.

Então, num dia perdido há 12 mil anos, resolveram fixar-se em cavernas e choupanas. Construíram seus espaços com galhos e fustes da flora silvestre, que dizimavam sem piedade. Eram egocêntricos, temerários, dominadores, agressivos e achavam-se invencíveis. Embora, na ótica do Ambiente fossem supérfluos, inadequados com seu conteúdo vazio e físico frágil.

De fato, em sua maioria, até hoje são seres vazios. Todavia, por reproduzirem-se em larga escala e de forma nefasta, procriaram uma imensa população de primatas sapiens. Por sinal, liderada por seres idiotas, dominadores e agressivos que se acham insuperáveis! Assim, quando empilhados aos bilhões de habitantes, tornaram-se uma ameaça temerária ao Ambiente.

A doce Favela da RocinhaEsse cenário chama-se Antroposfera. Com somente 10 mil anos de existência, constitui a esfera do planeta construída pelo sapiens, o temerário primata. Desde então, para executar suas obras, demole a Litosfera, polui a Atmosfera, contamina a Hidrosfera e devasta a Biosfera. Por se considerar invencível e insuperável, em breve chegará o tempo em que os primatas sapiens viverão num astro deformado, a navegar pelo cosmo, debilitado e ao acaso. O planeta não existirá mais graças aos arranha-céus que nele são dependurados, diariamente. Conclui-se que, após 4,6 bilhões de anos de trabalho intenso, se transformará em “terra arrasada“, sem qualquer significado.

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[1] Neste artigo não se debate esta teoria. Aqueles que desejarem conhecer algo sobre o tema, sugere-se que pesquisem por “sopa primordial”.

PEC ameaça o Ambiente Brasileiro


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

Com finalidades práticas, o Processo de Licenciamento Ambiental foi implantado no Brasil, em 23 de janeiro de 1986, a partir da Resolução Conama No 001. Seu objetivo, a meu ver, era proteger o Ambiente Brasileiro das incursões feitas pela engenharia em terrenos frágeis, com notórias vulnerabilidades de uso e ocupação pelo dito Homo sapiens. Saliento que esta Resolução apenas operacionalizou uma parcela da Política Nacional do “Meio Ambiente”, datada de 31 de agosto de 1981 (Lei No 6.938).

Após 32 anos de vigência, a Resolução demonstrou-se adequada, embora haja sido prejudicada pela burocracia burra de funcionários públicos, que acabaram por torna-la um alçapão com armadilhas para investidores. Acabaram por inventar três licenças ambientais, as quais assim sumarizo:

  • Licença Prévia (LP) – a ser concedida mediante a aprovação dos estudos ambientais referentes ao projeto do empreendimento;
  • Licença de Instalação (LI) – a ser concedida mediante a aprovação de um plano para otimizar o desempenho ambiental das obras e da futura operação do empreendimento;
  • Licença de Operação (LO) – a ser concedida após a análise do órgão ambiental envolvido, para confirmar se o “como construído” está em acordo com o que até então foi licenciado.

Durante mais de três décadas, inúmeras normas foram criadas, a se tornarem uma muralha quase intransponível para os estudiosos do Ambiente, em última análise, os responsáveis pelos Estudos de Impacto Ambiental definidos na norma original.

Não tenho dúvida que o Processo das Licenças Ambientais (PLA) precisa e deve ser simplificado, desde que mantenha sua natureza original: a avaliação sistemática de impactos ambientais, nas etapas de projeto, obras e operação de um novo empreendimento.

Todavia, em 2018, surge a discussão da malfadada PEC 65, proposta por um tal Acir Gurgacz (que existe e é senador por Rondônia), relatada por Blairo Maggi (dono da soja e do senado em Mato Grosso). Propõe que, a partir da aprovação de um mero Estudo Preliminar de Impacto Ambiental, nenhuma obra poderá ser suspensa ou cancelada (!). Na prática, isso significa que o processo das licenças ambientais deixará de existir. Ou seja, de acordo com o cérebro precário destes senadores encerram-se as avaliações essenciais, que sempre visaram a demonstrar se um projeto de engenharia é ambientalmente viável ou não.

PEC 65, Nunca!

PEC 65… NUNCA!

Esses dois “interessados” esqueceram-se que, além deles, há centenas ou milhares de cidadãos diretamente envolvidos com o processo do licenciamento ambiental. Em Estados Democráticos, todos precisam ter a palavra nas audiências públicas. Classifico-os como notórios atores legais do processo. São eles:

  • O empreendedor e sua equipe, na qualidade de responsáveis pelo investimento que será realizado, seja em uma nova organização produtiva, seja na ampliação de uma já existente;
  • Funcionários do órgão público responsável pelas licenças; pelo estabelecimento de termos de referência; pela avaliação dos documentos produzidos por empresa consultora; pelo estabelecimento de compensações ambientais, caso se façam necessárias; bem como, pela emissão de licenças relativas a cada etapa do licenciamento;
  • A sociedade civil, representada por instituições da área de influência do projeto, a envolver ONG de diversas naturezas, universidades, partidos políticos, associações de classe, associações de moradores e vizinhança do projeto;
  • O Ministério Público Federal e Estadual, através de procuradores e promotores;
  • Outras instituições públicas que administram setores específicos, tais como ICMBio, FUNAI, IPHAN e INCRA, entre outras;
  • Por fim, a empresa consultora e equipe de trabalho que realizou os estudos ambientais para obtenção das licenças.

Aqueles que já participaram de audiências públicas de licenciamento sabem muito bem o que acontece entre estes educados atores: tumultos, conflitos e, às vezes, pancadarias, são típicos para projetos considerados discutíveis, justo por serem mais impactantes.

Proposta para o processo de Licenças Ambientais

A ser assim, com vistas a amenizar tumultos e conflitos, proponho as seguintes medidas normativas, baseadas na racionalidade, bem como nas práticas ambientais que ocorrem em nações desenvolvidas:

  • Em substituição da Licença Prévia, criar a Licença de Localização, que demandará um Estudo Preliminar de Viabilidade Ambiental (EPVA). Os EPVA, por possuírem seções mais sucintas e objetivas sobre os espaços físico, biótico e antropogênico, podem ser elaborados de forma mais rápida e menos onerosa que os EIA. Todavia, são conclusivos quanto à localização ou não do empreendimento na região desejada pelo investidor. Este não precisará possuir um projeto básico ou executivo de engenharia; basta um croqui do empreendimento com suas dimensões e dados básicos de sua operação – insumos, processos produtivos e descartes, entre outras.
  • Objetivar o EIA, tornando-o estudo complementar do EPVA realizado, dotado de um processo detalhado de avaliação parametrizada de impactos, bem como de um Plano Executivo de Gestão Ambiental (PEXA) das relações promovidas pelas obras do empreendimento com sua área de impactos potenciais. O PEXA deve ser estruturado com metas, programas e projetos ambientais que visem à manutenção da qualidade ambiental da região afetada. Após aprovar o EIA e o PEXA, o órgão competente concede a Licença de Construção.
  • Criar a Licença de Gestão Ambiental das Obras, que demandará do investidor e da empresa construtora firmarem um compromisso contratual com o órgão público de controle ambiental, com vistas a implantar o Plano Executivo para Gestão Ambiental das obras (PEXA). Saliento que a equipe de gestão ambiental das obras precisa ser desvinculada da construtora e terá gerência própria. O Gestor Ambiental das obras emitirá relatórios periódicos para o órgão ambiental competente. Uma vez finalizada a construção, tendo sido aprovado o Relatório Consolidado das Obras, será concedida a Licença de Operação.

De fato, para manter esta Licença, a empresa em operação terá prazo de até 1 (hum) mês para implantar o Plano Executivo de Gestão Ambiental de suas práticas produtivas. Da mesma forma, o Gestor Ambiental da empresa emitirá relatórios periódicos para o órgão ambiental competente. Este, por sua vez, poderá efetuar inspeções ambientais na empresa, de modo a aferir a qualidade ambiental existente, tal como foi apresentada nos relatórios. Com essa proposta de trabalho, o órgão ambiental poderá monitorar as variáveis da operação da nova empresa, com vistas a manter sua Licença de Operação.

A tabela abaixo mostra a sequência deste processo e seus prazos de resposta:

Processo de Licenças Ambientais – PLA

Investidor e Consultora Órgão ambiental público
Estudo necessário Elaboração Licença ambiental Prazo de resposta
EPVA 2 meses Licença de Localização (LL) Até 2 meses
EIA e PEXA para obra 4 meses Licença de Construção (LC) Até 2 meses
Relatório final das obras 1 mês Licença de Operação (LO) Até 1 mês

Desse modo, o PLA completo de qualquer projeto pode ser realizado com baixíssimo custo, no prazo de até 5 meses. Observo que não levo em conta o cronograma das obras, uma vez que é variável, função da natureza do projeto de engenharia.

Considerações

De fato, a Resolução No 001/1986 do Conama proporcionou um expressivo impacto positivo no mercado de trabalho brasileiro. Destaco quatro setores que logo responderam à sua publicação:

  • Educação, através de cursos universitários em vários níveis – graduação, mestrado, doutorado, MBA e pós-graduações;
  • Ampliação do mercado de trabalho para profissões relacionadas às Ciências Humanas – antropologia, arqueologia e sociologia, dentre outras – e sua integração com as práticas da engenharia. Assim, graças a esta Resolução, foi criada a Engenharia Ambiental;
  • Fundação de inúmeras empresas de Consultoria Ambiental, sobretudo nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais;
  • Por fim, a Geração de Conhecimento, visível nas incontáveis obras técnicas publicadas no país, durante os últimos 30 anos.

Dessa forma, esta Resolução induziu a estruturação de um Mercado Ambiental, antes inexistente no país. Centenas de milhares de profissionais encontram-se integrados a este mercado e dele dependem para produzir.

Diante deste cenário, sem dúvida factual, seria absurda a aprovação da PEC 65/2012! Trata-se de uma proposta feita por dois parlamentares – por sinal, duvidosos –, a defender “interesses pessoais” inexplicáveis, contra a necessidade de milhares de brasileiros, honestos e trabalhadores.

A frenética extorsão dos corruptos


Ricardo Kohn, Aprendiz de Filósofo.

Angústia não é ansiedade, mas promessa de variadas doenças somáticas, por vezes, graves. Ansiedade, de fato, reside na esperança de que certas coisas ocorram, de acordo com as expectativas. Todavia, ansiedades intensas, não raro, transformam-se em angústias, fruto do medo associado ao desespero. Há que se ter atenção, pois seres humanos (os ditos sapiens) sempre são acometidos por ansiedades e, muita vez, angústias. Sim, angústia, aquela sádica senhora que devasta expectativas.

Em síntese, a roda de amigos de que participo – todos ao derredor dos 70 anos – comporta-se da seguinte maneira: alguns ainda criam novas expectativas; outros não veem este cenário como fator de perigo; porém, há dois angustiados. De toda forma, salvo raras exceções, temos vontade de deixar a cidade do Rio, dado que se tornou campeã em tiroteios, latrocínios, tráfico de drogas, distribuição de propina e desemprego em massa. A antroposfera do Rio constitui a amostra perfeita do Brasil Século XXI. A antiga capital do país não se inibe ao multiplicar os crimes tramados em Brasília, a soberana capital mundial da corrupção pública. A ser assim, sobrevém uma questão: ─ “O que um grupo de amigos pode fazer diante desta tragédia”?

Por mais difícil que seja, defendo que nosso grupo não deverá ceder aos riscos da falta de expectativas. Ao contrário, precisa tornar o medo causado por esta tragédia em projetos de sobrevida, com metas de curto prazo, inadiáveis. Afinal, quais de nós serão sadios após os 80 ou, ainda, quantos alcançarão esta idade?

De volta ao Rio – a dita “cidade maravilhosa, cheia de encantos mil”. Todos sabemos que o Estado do Rio se transformou em prostíbulo público, reino da insaciável quadrilha de corruptos que o comanda, há quase duas décadas. Já subtraíram dos cofres públicos cerca de R$ 280 bilhões, mas a justiça brasileira, salvo raras exceções, não consegue manter estes ladrões atrás das grades.

Vitória da corrupção: Rio, cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016

A euforia de corruptos canalhas: Rio, cidade-sede dos Jogos Olímpicos 2016!

Diante deste quadro estarrecedor, minha família passou a refletir sobre alternativas de vida para os anos que nos restam. Em todas as ponderações que fizemos, a premissa básica foi a mesma: abandonarmos a cidade do Rio. Escolhemos a região Sul como destino, mas não queremos residir em capitais. Nossas expectativas apontam para cidades pequenas, com custo de vida reduzido, mas que possuam cultura de origem europeia.

Pretendemos oferecer projetos essenciais, que coevoluam com a qualidade do ambiente regional, bem assim, com o espectro da coletividade da qual desejamos participar ativamente. Por sinal, tal como fizemos nos países e cidades em que já vivemos. Afinal, somos empreendedores, sem receio de corrermos riscos produtivos. Infelizmente, no entanto, temos a tristeza de assistir ao caos instalado no Rio, uma obra deletéria de ordinários corruptos, totalmente adversa à ótica da filosofia naturalista que professamos.

Valores do Sapiens ou a ‘Qualidade do Ambiente’?


Ricardo Kohn, Aprendiz de Filósofo.

Parte-se da premissa que o homem [sapiens] atribui valor monetário a todas as coisas que deseja vender ou adquirir. Por sua vez, o ambiente terráqueo precisa manter a qualidade de sua natureza primordial. Portanto, infere-se que, em tese, tanto o sapiens quanto o ambiente, precisam trabalhar para obterem seus desejos e necessidades.

Todavia, nessas circunstâncias há que se optar entre o valor monetário do sapiens ou a qualidade do ambiente, pois esses cenários não costumam ocorrer ao mesmo tempo. Veja a imobiliária que lança um condomínio de prédios situado em ambiente de restinga; então, de forma evidente, remove a restinga e, em sua antroposfera, constrói o espaço valorizado para o sapiens. Assim, ganha o sapiens com ricos apartamentos, mas, de outro lado, o ambiente da restinga “segue rumo à contínua devastação”.

O que lhe parece este “belo cartão postal”?!

O que lhe parece este “belo cartão postal”?!

Prédios e lixos a consumir a restinga, esgotos in natura a escurecer o azul da lagoa que um dia fora translúcido, emissões gasosas que tonificam a respiração da fauna silvestre, quase extinta. De fato, pode ser um belo cartão postal, mas apenas segundo jacarés sobreviventes e sapiens que não lhes sentem o cheiro.

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Abuso da Imoralidade


Ricardo Kohn, Escritor.

Interrompo minha faina literária para abrir uma discussão sobre um fato que considero sórdido: o Congresso Nacional vota uma lei para permitir que parlamentares corruptos punam o que considerarem abuso da autoridade, incluídos nesse contexto promotores, procuradores e juízes federais.

Um dos fatos mais escabrosos desse “projeto de lei” consiste em permitir que réus julguem seus acusadores e juízes, os quais, de acordo com o Estado de Direito, tenham estabelecido suas penas. Outra canalhice parlamentar – não há expressão mais adequada – é punir procuradores e juízes pela interpretação que fizerem do texto legal. Chamam a isso crime de hermenêutica.

A forma com que aceleram no Congresso o projeto de lei do “abuso da autoridade” apenas demonstra que os políticos corruptos e seus apaniguados encontram-se desesperados, diante do sério risco de habitarem penitenciárias por um longo período de tempo. Em minha visão, espero que isso aconteça o mais rápido possível, pois provas da corrupção cometida não faltam.

Não vou me alongar nesse tema. Faço apenas uma proposta objetiva. Creio que já passou a hora de a sociedade brasileira criar um projeto de lei popular: a lei para conter e punir severamente o Abuso da Imoralidade.

Sessão de socos e pontapés no Congresso Nacional

Pelo momento em que se vive


Ricardo Kohn, Escritor.

O mundo está virado de ponta-cabeça. Decisões de mandatários ameaçam o cidadão médio de todas as nações democráticas. Três casos chamam a atenção: a insanidade bélica do líder imprevisível da Coréia do Norte; a máquina de corrupção instalada no Brasil; e a estupidez ofensiva do novo presidente norte-americano.

Sobre o comportamento da Coréia do Norte não há previsões. Seu líder delinquente, além de ter iniciativas próprias, é massa de manobra de países próximos. No entanto, há o que analisar no Brasil e nos Estados Unidos.

Casa Branca, inaugurada a 1º de novembro de 1800

Casa Branca, inaugurada em 1º de novembro de 1800

O norte-americano médio possui um perfil pessoal bem definido: é inocente, acredita no que lhe dizem, dedica-se a fazer o que sabe, é sempre teimoso e produtivo, mas poucas vezes é hábil nas análises que efetua. Entretanto, é ativo na defesa de seus princípios democráticos e libertários.

Acredito que essa imagem espelha bem milhões de americanos. Basta recordar que, em 4 de julho de 1776, durante a Guerra Revolucionária (1775-1781), seus habitantes declararam a independência do jugo britânico e, naquele mesmo instante, tornaram-se uma República Democrática.

O povo americano é pragmático e luta contra qualquer decisão pública que possa submete-lo a cenários de desastre. Ouso dizer que, pela estupidez sequencial de seus recentes atos executivos, Donald Trump não ficará sequer um ano no cargo.

O brasileiro médio também possui seu perfil delineado: é metido a esperto, mente por motivos mesquinhos, crê saber de tudo, é indolente e improdutivo, adora criticar a quem acaba de conhecer. Por isso, está sempre preocupado com a defesa de seus direitos particulares, mas esquece de seus deveres diante da sociedade.

É essa curiosa criatura, filha imberbe da Nova República, que elege os membros dos poderes executivo e legislativo. Creio que há uma estreita ligação com nossa origem colonial e o tempo que o Brasil gastou para tornar-se República Independente: embora “descoberto” em 1500, colonizado durante 389 anos, foi somente em 15 de novembro de 1889 que se tornou uma república: às vezes ditatorial, outras democráticas, mas muitas vezes enredado pelo populismo porco e a corrupção pública organizada.

Palácio do Planalto, inaugurado em 21 de abril de 1960

Palácio do Planalto, inaugurado em 21 de abril de 1960

A única Constituição dos EUA foi ratificada em julho de 1788. Há 229 anos que independência e democracia caminham sólidas e inabaláveis no Estado norte-americano. Por outro lado, a última Carta Magna brasileira foi promulgada em outubro de 1988, dois séculos depois. Nos 36 anos que se seguiram ela não parou de receber “retalhos”, dada a imensidão de seus títulos, artigos e parágrafos, que só promovem controvérsias e conflitos.

O momento em que se vive é muito delicado. Assim como os norte-americanos, precisamos colocar milhões de brasileiros nas ruas, a gritar: ─ Programa Penitenciária para TodosÉ uma ordem!

Teoria Geral das Quadrilhas


Por Zik-Sênior, o Ermitão.

Zik Sênior

Zik Sênior

Confesso que por décadas senti um pouco de inveja de Karl Ludwig von Bertalanffy, o biólogo austríaco que concebeu a Teoria Geral dos Sistemas (TGS), publicada em todo o mundo a partir da década de 1950. Depois que a estudei a fundo, admirado por sua simplicidade, tornou-se meu livro de cabeceira durante mais de 5 anos.

Acontece que Bertalanffy não comungava com a visão racionalista, “meio quadrada”, de René Descartes. Também não era dialético, como Georg Hegel. Sua formação era biótica, orgânica, evolutiva. Acreditava em teorias capazes de explicar todos os entes vivos e não-vivos do planeta, bem como as relações que mantêm entre si, sempre a promover a evolução dos conjuntos que formam (sistemas).

Contudo, seu objetivo principal era elucubrar uma teoria capaz de analisar e demonstrar como funcionavam as organizações criadas pelo homo sapiens. Li que Bertalanffy despendeu mais de 25 anos nesta árdua labuta.

Hoje, a tomar por base a teoria criada por Bertalanffy, assim como inúmeros cientistas, acredito que posso ensaiar a Introdução à Teoria Geral das Quadrilhas (TGQ). Afinal, cursei Ciência Política em Coimbra (turma de 1932) e consigo analisar os atos inescrupulosos cometidos por quadrilhas, que calcinaram a ética, a moral e a economia do Brasil.

─ Conceito básico

De início, é essencial dizer o que entendo por “quadrilha”, segundo a ótica da TGS:

Quadrilha é toda corja de ladrões organizados que interage para alcançar fins comuns, a construir o rolo compressor da corrupção. Ela obtém melhores resultados do que se todos os corruptos envolvidos roubassem individualmente. Assim, todo conjunto de ladrões, a agir de forma imoral, devassa e integrada, constitui uma Quadrilha. Toda sua corja tem uma única finalidade: desviar dinheiro público para negócios pessoais e, de forma abominável, quebrar bancos e empresas estatais, fundos de pensão, autarquias ministeriais e tudo mais de valor que encontrarem pela frente”.

Óbvio que se trata de um conceito pragmático. Até por que, em meus 108 anos de idade, nunca assisti a algo semelhante no Brasil ou mesmo no mundo! Nos últimos 13 anos, o Estado tornou-se presa submissa da matilha predatória de hienas esfaimadas e selvagens.

Ao aplicar a teoria de Bertalanffy, verifica-se que uma “boa quadrilha (!?)” precisa ser um sistema fechado. Caso contrário, seria defenestrada por ações da Polícia e penas de prisão aplicadas pela Justiça. No entanto, os sistemas fechados descem ladeiras sem freios, rumo à autodestruição, graças à sua entropia. São incapazes de trocar de energia e matéria entre seus elementos e de absorver novas fontes de informação.

Em outras palavras, para a quadrilha não existe a hipótese da troca de informação e dinheiro com canalhas que não pertençam às suas corjas. Assim, a quadrilha destrói-se com a perda gradativa de seu “melhores sequazes”. Seu poder de ladroagem decai continuamente, até tornar-se incapaz de atender à fúria alimentar das Hienas Selvagens

A fundação do Partido das Quadrilhas

Hienas Selvagens são aquelas que, durante os últimos 13 anos, deixaram-nos estarrecidos por um fato: devoraram a poupança do povo brasileiro, de forma sumária e descarada.

Entretanto, foram apenas três hienas que, após aplaudidas por poucos “idiotas da sociedade”, se reuniram para criar uma pequena “súcia”. A trinca visava a transforma-la numa quadrilha especial, poderosa para permanecer imune às práticas da extorsão sistemática do erário.

Em suma, esse foi o processo adotado na formação das súcias, hoje investigadas pela Polícia Federal, pelo FBI, pela Interpol e instituições internacionais que, para sobrevivência dos povos que protegem, sabem enclausurar as corjas organizadas de salteadores públicos.

Porém, importa salientar que o mesmo processo inescrupuloso das súcias foi aplicado na formação do Partido das Quadrilhas Políticas, mais tarde conhecido pela curiosa sigla PQP.

E nasceu a hiena líder

Na década de 1960, as súcias limitavam-se a promover greves e fazer badernas nas portas de fábricas. As hienas esfaimadas ainda eram bandos desorganizados, dispersos e reduzidos. Todavia, havia uma matilha profissional de hienas selvagens que vigiava os acontecimentos e decidiu aderir às badernas. Até por que, durante essa década, tentaria implantar no Brasil a ditadura do proletariado. Não entro em detalhes sobre este fato, mas, naquela ocasião, foi devidamente escorraçada pela nação brasileira. Afinal, as hienas selvagens formavam uma matilha de hienas terroristas, disposta a tudo!

Corruptela

Naquele processo entre greves e badernas, foi da escória de hienas esfaimadas que se deu a escolha doentia da hiena líder. Em minha opinião, tinha uma aparência degradante: era uma figura nanica, com cabelos hirsutos e sujos, orelhas de abano (felpudas), a pança cheia de vermes, sobre um par de pernas secas…

Não acredito que essa liderança haja sido motivada por alguma “habilidade especial” da hiena pançuda. Até por que, era preguiçoso, analfabeto, alcoólatra, imoral, mentiroso, populista, manipulador de idiotas, traidor, dedo-duro, vigarista e cafajeste. Um fenômeno da desgraça!

Ademais ─ diziam os mais interessados de sua corja ─, portava um hálito tenebroso e quase não tomava banho. Assim, num raio de 20 metros, a súcia era obrigada a inalar e agradecer seu fétido olor.

PQP assume o poder: o desastre!

A hiena pançuda – fundadora do Partido das Quadrilhas Políticas (PQP) – iniciou em 1980 a perseguição obstinada por um cargo que lhe desse “máximo poder público”. Em seus “sonhos delirantes”, via-se, de forma compulsiva, a desviar fabulosas somas de dinheiro público para “empresas fajutas de hienas selvagens”. E, claro, a embolsar significativa parcela dos vultosos roubos realizados.

─ “Porra, ninguém é de ferro…”, justificava-se, a andar sonâmbulo pelas madrugadas, no barraco em que se escondia.

Por isso, durante mais de 20 anos, a hiena pançuda azucrinou a vida política e econômica do país. Mas, mesmo assim, não conseguiu o tal cargo de “máximo poder público”. Todavia, de forma miraculosa, metamorfoseou-se: “de pobre proletário em ricaço boçal”.

Pouco após a virada para o século 21, o boçal começou a “botar as manguinhas de fora”. O PQP, que fora fundado e presidido por ele, enfim elegeu-o para a presidência da nação; deu-se início ao desastre político-econômico do país. Em minha visão, o camarada boçal confundiu tudo. Ao invés de ser um Chefe de Estado, tornou-se o “Rei do Quadrilhão”! E é evidente a explicação disso, sobretudo, à luz da teoria de Bertalanffy. Vejam.

Relembrem algumas “habilidades do boçal”, já citadas: mentiroso, populista, manipulador de idiotas, imoral, vigarista e cafajeste. Como alguém dotado dessas “virtudes” comandaria um Estado Nacional, sem destruí-lo?

Assim que, em seu primeiro ato no poder nomeou várias hienas selvagens para dezenas de ministérios amestrados; todas indicadas por seu “indefectível braço esquerdo[1]”, treinado em Cuba e na União Soviética. Vale lembrar que o “braço esquerdo” foi uma proeza de ladravaz e tornou-se o “Príncipe das Súcias do Quadrilhão”.

Bertalanffy diria que a invasão do Estado por uma gigantesca organização criminosa foi uma decisão de desesperados. Com as inúmeras súcias roubando em todas as áreas públicas, a socialização das quadrilhas não poderia dar certo em um sistema fechado.

Explico com a seguinte analogia: dispõe-se de um saco, com capacidade para receber um quilo de vermes, dedicados à tarefa de se alimentarem de um corpo morto; ao multiplicar a quantidade de vermes ou eles se tornarão antropofágicos, comendo a si próprios, ou o saco arrebentará. Nos dois cenários, a Festança do Quadrilhão de Vermes é desmascarada.

Perspectivas

Com o tempo que já vivi (108 anos) minhas perspectivas são sempre para amanhã. Não posso me dar ao luxo de formular cenários político-econômicos de médio e longo prazos. De toda sorte, guardo a certeza que, de uma forma ou de outra, com o preço que custar, a nação unida haverá de desratizar a política brasileira.

——

[1] Aliás, o indefectível hoje se encontra “guardado num presídio”, condenado por promover a ação de “súcias deletérias”, em processos contínuos de corrupção planejada, durante quase uma década.

Parar, congelar e retomar


Por Equipe deSobre o Ambiente.

Deve-se explicação aos leitores. “Sobre o Ambiente” permaneceu 15 dias parados (de 5/09 a 20/9), resultado da clonagem do cartão de crédito com que foi paga a anuidade do blog. Por óbvio, a empresa proprietária do cartão cancelou várias compras efetuadas pelos estelionatários, dentre elas o pagamento da anuidade do blog.

Viver em um país onde estelionato é tido como crime de pequena monta, “normal em qualquer sociedade”, como dizem, gera sentimentos de frustração, inapetência e ódio. Afinal, “Sobre o Ambiente” foi criado na noite de 28 de abril de 2013 e, desde então, somente viu crescer o interesse de visitantes. Hoje possui 1884 seguidores, com mais de 268 mil acessos.

Assim, há oito dias, fez-se uma reunião de pauta, com vistas a redefinir o Norte do blog. A questão posta sobre a mesa era a seguinte: ─ Deleta-se oSobre o Ambiente” ou retoma-se seu curso.

Na verdade, todos sentiam-se congelados com os efeitos nefastos de estelionatários: queda expressiva na visitação e perda de interesse na postagem de novos artigos[1]. Porém, Simão Macko, o pescador, reavivou a todos com ponderações factuais:

─ “Voto pela continuidade do blog e explico por quê. Sou português, pai de quatro filhos que vivem no Brasil, há muito. Deles tenho netos, bisnetos e um tataraneto, todos brasileiros. Posso afirmar que o país de vocês está parado diante do estelionato praticado, durante 13 anos, por ladrões da pátria. Eles não sabem e muito menos querem governar, apenas precisam roubar para si. O portento da criatura parida por ‘luizinácio’, o larápio, decerto está com os dias contados na presidência. De facto, a opção não é deletar o povo! Ao contrário, por menor que seja nossa contribuição, devemos ajuda-lo a higienizar a república. Portanto, a ser assim, inverto a opção: o quanto antes, é o povo brasileiro que precisa deletar esta canalha”!

Vestimenta nacionalDiante das evidências destacadas por Simão, notórias mundialmente, decidiu-se retomar “Sobre o Ambiente”. Sabe-se que demandará algum tempo para que se volte aos níveis de visitação alcançados ao longo de 2 anos e 9 meses. Porém, contamos com o apoio dos seguidores mais dedicados a estancar a hemorragia moral do governo brasileiro.

Assim, se não for pedir muito, sugere-se que doravante compartilhem nossas postagens nas redes sociais que participam.

……….

[1] Havia outra variável que prejudicava um pouco a decisão. Ricardo Kohn, na qualidade de coordenador do “Sobre o Ambiente”, está envolvido em palestras acadêmicas sobre seu novo livro. Seu tempo disponível para o blog tornou-se menor. Enfim, ou articula lançamentos em universidades ou dedica-se a redigir artigos.

Lançada a obra: Ambiente e Sustentabilidade


GEN – Grupo Editorial Nacional | LTC Editora.

AMBIENTE e SUSTENTABILIDADE – Metodologias para Gestão

AMBIENTE e SUSTENTABILIDADE – Metodologias para Gestão

A LTC Editora comunica o lançamento de mais uma obra técnico-científica:

Macedo, R. Kohn, AMBIENTE e SUSTENTABILIDADE – Metodologias para Gestão. GEN – Grupo Editorial Nacional, LTC Editora – Livros Técnicos e Científicos. ISBN 978-85-216-2731-9. Rio de Janeiro, RJ. 636 pg., julho 2015. 1ª edição.

Encontra-se disponível em formato impresso e em e-book. Docentes cadastrados no Grupo Editorial Nacional têm 30% de desconto.

Para os interessados em adquiri-la cliquem aqui.

Gestão: ato ou processo


Por Ricardo Kohn, Consultor em Gestão.

Existe uma extensa literatura que trata da gestão e de seus elementos constituintes. Contudo, há várias formas de aborda-la, tanto função das inúmeras teorias da organização publicadas, quanto das escolas de administração seguidas por seus Ricardo Kohnautores.

Não se tem a pretensão de esgotar esse tema em um artigo, é evidente. Apenas situar alguns aspectos que auxiliem a esclarecer o que é o processo da gestão, às vezes mal interpretado como um simples “ato de gestão”.

Gestão é o processo de administrar alguma coisa; sinônimo de Administração. Essa “alguma coisa” é o “sujeito ou objeto da gestão”. Assim, pode-se gerir uma empresa, um órgão público, um jardim, um município, um paciente médico ou o ambiente em que todos estão inseridos, por exemplo. Enfim, a gestão é aplicável a qualquer entidade que se deseja organizar e otimizar. Essas são suas finalidades primordiais.

Há quem diga que os processos da gestão constituem uma ciência. Mas também existem aqueles que o consideram uma arte. Acredita-se que os mais corretos são os que entendem o processo da gestão como uma ciência que precisa de arte para ser bem-sucedida.

É uma ciência que pode ser aprendida em bons cursos universitários, não há dúvida. Mas requer de seu agente a arte da visão de futuro para ser aplicada com destreza, qualquer que seja seu objeto. Essa visão de futuro, entre outras coisas, demanda experiência do agente e arte para interpretá-lo.

O processo da gestão

Como qualquer processo, o da gestão demanda uma sequência de etapas para ser realizado com qualidade. Toma-se como exemplo a gestão executada por um jardineiro, chamado Burle Max[1]. O objeto da gestão é o jardim de uma residência sofisticada.

Gestão de Jardim

Segundo a escola que se segue, as etapas necessárias à gestão são assim descritas:

  • Diagnóstico do jardimBurle precisa conhecer bem o objeto da gestão. Pergunta ao proprietário se ele possui fotografias recentes do jardim num dia de festa; caso tenha, solicita que as empreste para ver como a família deseja que fique o “pátio de casa”.

Então, percorre todo o jardim e anota os problemas que sua experiência define como graves (impactos adversos). Como o jardim é grande (2.000 m2), desenha-o em planta baixa, a mostrar como se sucedem os canteiros, os vegetais que neles estão plantados, o que precisa podar e cortar, o que deve ser eliminado, os detalhes do pomar aos fundos do terreno, da área recoberta por “mata virgem”, junto ao portão de entrada da residência, os caminhos de serviço do jardim, etc.

Destaca o que o cliente considera relevante para melhorar as feições do jardim e faz um relatório (oral e escrito) para consolidar o diagnóstico documentado do jardim.

  • Prognósticos para o jardim – após o almoço, a tomar um cafezinho, o experiente Burle redige como ficaria o jardim caso ele próprio não houvesse sido contratado. Da mesma forma, relata como o jardim poderá ficar após usar suas habilidades de jardinagem. Destaca as ações normais que precisa realizar, bem como possíveis mudanças no jardim, que considera oportunas para emoldurar a beleza da residência.

Produz relatório contendo os prognósticos alternativos das feições do jardim, sem e com as ações de Burle Max. É recomendável que desenhe uma planta baixa, contendo a nova feição do jardim reabilitado. Entrega ao cliente e aguarda sua aprovação.

  • Cenário futuro do jardim – até agora, a gestão de Burle somente requereu atores internos ao jardim: a família proprietária da casa e ele próprio. Mas é na etapa da formulação de cenários que atores externos ganham relevância, de tal forma que, querendo ou não, participam das melhorias do jardim.

Burle precisará de equipamentos para jardinagem, por exemplo, tesoura de poda, cortador de grama, serra elétrica na área de mata, dentre outros. De toda forma, ruídos com maior intensidade e frequência serão emitidos e afetarão a vizinhança.

Além disso, Burle talvez tenha que adquirir equipamentos que a residência não possua. Nada garante que todos aqueles que precisa para o trabalho, estarão disponíveis nas lojas para jardinagem.

Embora tenha proposto uma nova feição para o jardim, o cenário futuro possível não será como o desejado. Assim, Burle Max precisará gerir o jardim com os equipamentos disponíveis. E mais, informar ao proprietário sobre a mudança nas atividades previstas e mostrar os resultados que podem ser efetivamente alcançados.

  • Desenvolvimento de plano para resultados – para ter eficiência na gestão de jardins, Burle deve elaborar um Plano de Ação para alcançar resultados objetivos, de curto prazo. À cada resultado fixado no tempo, estará associada uma meta de seu trabalho. Igualmente, a cada meta de trabalho deverá existir pelo menos uma ação imediata que a realiza.
  • Execução do plano – decerto, é um plano simples de ser elaborado, mas sua execução com a qualidade esperada precisa ser rápida e depende da sequência das ações imediatas a serem executadas. Recomenda-se que gestores de jardim criem critérios para priorizar as metas e suas ações imediatas. Para tanto, devem considerar, a dificuldade da ação, as medidas do terreno, o número de deslocamentos a fazer e a quantidade de equipamentos utilizados em cada ação.
  • Avaliação dos resultados obtidos – em tese, a esta altura a jardinagem está completa e Burle Max já deve estar em casa. Porém, de fato, ele ainda precisa avaliar o próprio trabalho, buscar falhas na execução das ações imediatas, erros nos prognósticos, em informes imprecisos ao cliente, enfim, Burle precisa rever todo o processo de gestão realizado.

Assim, uma boa forma de terminar o dia é na elaboração do Relatório de Avaliação de Resultados e arquiva-lo em casa, visando a futuras consultas.

  • Replanejamento – caso se estivesse no lugar de Burle, aproveitaria-se a oportunidade para replanejar o processo de gestão realizado. O próximo trabalho seria mais rápido e a experiência adquirida estaria incorporada a seu patrimônio profissional.

Conceito de Gestão

“Processo decisório que demanda conhecer os principais aspectos do objeto a ser gerido [Diagnóstico], a previsão de suas formas de comportamento futuro [Prognósticos], o cenário efetivo que pode ser realizado para o objeto [Cenário futuro], um plano capaz de realizar esse cenário [Plano de Ação], o acompanhamento da realização das ações prorizadas [Execução do plano] e a revisão completa do processo realizado [Avaliação dos resultados obtidos].”

……….

[1] Não se trata do notável paisagista Roberto Burle Max, mas de um jardineiro do Recife, cujos pais fizeram homenagem ao paisagista. Era conhecido por Burle, Burle Max de Souza Fecundo.

A base conceitual e seus conflitos


Por força do relativo distanciamento entre a academia e o mercado, no Brasil há muitos que ainda afirmam: “a teoria é diferente na prática“. Sem entrar no mérito desse “descuido“, acredita-se que as práticas do mercado, por serem mais ágeis, podem se tornar uma “teoria particular”.

No entanto, nas áreas em que as ciências ainda são menos consolidadas, a mídia cria conceitos próprios e os divulga a todo vapor. O setor ambiental, sem dúvida, é premiado com uma boa série de “equívocos conceituais”. Com somente um exemplo, é possível mostrar a sucessão de conflitos que pode ser criada.

─ O que é correto: meio ambiente ou ambiente?

Dicionários da língua portuguesa dão ao verbete “meio” inúmeros significados. Mas existem dois que são específicos e auxiliam na resposta a esta questão, quais sejam:Imagem de divulgação

─ “Meio”, a significar metade, e “meio” com sentido de ambiente. De outra forma, meio é, ao mesmo tempo, sinônimo de metade e de ambiente.

Com base nesses fatos, “meio ambiente” significa “metade do ambiente” ou então “ambiente ambiente”. De um lado seria estranho, de outro uma redundância explícita. Nas culturas reconhecidas como as mais evoluídas do mundo, não existe expressão com “meio” integrado a ambiente. Observe em três idiomas qual é o vocábulo equivalente a “meio ambiente”:

  • Em inglês: Environment.
  • Em francês: Environnement.
  • Em alemão: Umfeld.

Esse argumento já deveria ser suficiente para esclarecer a dúvida, no entanto…

1. Conceito oficial

Segundo reza a Lei no 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a PNMA, Meio Ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

1.1. Análise de conteúdo:

  • Qual o significado de “condições, leis, influências e interações” no contexto ambiental?
  • Quais são as entidades ambientais que promovem as “influências e interações”?
  • Como “condições, leis e influências” podem “permitir, abrigar e reger a vida em todas as suas formas”, senão apenas juridicamente, no papel?
  • As “interações” consideradas serão somente as de ordem física, química e biológica?

Conclui-se que esse conceito é similar a uma “Sopa de Pedra”. Nele cabe de tudo. Porém, afora colocar uma pedra no meio do prato, nada mais esclarece. Trata-se de um mero jogo de palavras, com significado ambíguo, genérico e um tanto confuso.

2. Conceito acadêmico

Ambiente é qualquer porção da “geosfera” que resulta de relações físicas, químicas, biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores ambientais que a constituem.

Essas porções detêm distintos ecossistemas, que podem ser aéreos, aquáticos e terrestres, e são observáveis através do comportamento de seus fatores físicos [ar, água e solo], bióticos [flora e fauna] e antropogênicos [homem e suas atividades].

2.1. Análise de conteúdo:

  • Biosfera é a camada da Terra integrada à litosfera – que lhe serve de substrato –, onde ocorrem todos os seres vivos do planeta. A atmosfera e a hidrosfera são partes essenciais à biosfera e dela não são desvinculáveis. Assim, biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera conformam o Ambiente integrado do planeta.
  • Fatores ambientais ou fatores ambientais básicos são os componentes dos ecossistemas da Terra. Estão presentes em qualquer porção que se delimite em sua biosfera. Estes fatores são associados aos espaços ambientais que lhes são afetos, pela ordem: espaço físico [o ar, a água e o solo]; espaço biótico [a flora e a fauna]; e espaço antropogênico [o homem e suas atividades].
  • As relações mantidas entre fatores ambientais são realizadas através de trocas de matéria e energia, que são dinâmicas, interativas e espontâneas. Isto garante a estabilidade e a evolução dos sistemas ecológicos que conformam. Denominam-se relações ambientais.
  • Importante destacar o que deveria ser evidente: as relações ambientais, que se realizam há milênios, são energizadas pela luz solar, e possuem natureza física, química, biológica, social, econômica e cultural.

Por existirem o ar, a água, o solo, a flora e a fauna no mesmo cadinho da evolução da vida, a raça humana é, se tanto, a 6ª parte do ambiente do planeta. Mas nem todos têm sã consciência desse fato.

3. Conclusão

Em qualquer área do conhecimento é necessário estabelecer seus conceitos essenciais. Eles conformarão uma base sólida para a construção do conhecimento, a qual será a fundação de seus processos, metodologias e práticas, até ser beneficiada por acadêmicos visionários. A ser assim, a robustez de conceitos, sem ambiguidades, é fundamental ao aprendizado e à evolução das ciências.

A propósito, não se pode esquecer: o Ambiente não opera conforme determinam os diplomas legais e os juristas responsáveis por sua fabricação. Por sinal, fabricantes que não têm o devido respeito às ciências que o explicam. A Lei da Gravidade, com absoluta certeza, não será abolida por meio de Decreto-Lei.

4. Aos interessados, seguem as palestras

Está-se elaborando apresentações para a realização de palestras sobre o tema “Ambiente e Sustentabilidade”. Se a entidade promotora da palestra disponibilizar a logística necessária ao palestrante, serão conversas gratuitas, com duração de até 45 minutos, e tempo livre para debate. Seguem alguns dos títulos a serem inicialmente oferecidos:

  • Sustentabilidade versus Desempenho Ambiental.
  • Ambiente: a base conceitual e seus conflitos.
  • Identificação da Transformação do Ambiente.
  • Elaboração de Matrizes de Impactos Ambientais.
  • Programação e gestão de Atividades de Campo.
  • Formulação de Cenários Ambientais, atual e futuros.
  • Introdução à Avaliação de Impactos Ambientais.
  • Fundamentos para elaboração de Plano Corporativo Ambiental.
  • Fundamentos para Auditoria de Plano Corporativo Ambiental.
  • Introdução ao levantamento e gestão de Passivos Ambientais.
  • Produção e gestão de Procedimentos [Segurança, Ambiente e Saúde].

Após finalizado o ciclo de lançamento desta obra, que detalha esses e muitos outros temas, serão divulgados seminários e cursos intensivos. Espera-se o interesse dos atuais e futuros Gestores do Ambiente.

Por Ricardo Kohn, Consultor em Gestão do Ambiente.

CEA, décadas de evolução


Por Ricardo Kohn, Consultor e Escritor.

Este editorial é um depoimento externo à UnespUniversidade Estadual Paulista e seu Centro de Estudos Ambientais (CEA). Constitui a visão de um especialista em gestão, nascido no Paraná, criado e residente no Rio de Janeiro, e agradecido a instituições acadêmicas e professores de São Paulo. Creio que esses fatos comprovam a imparcialidade do texto que se segue.

Em 1991, na qualidade de “palestrante alienígena”, participei do 1º Simpósio Nacional para Análise Ambiental, realizado pela Unesp, em seu campus de Rio Claro. Fora indicado pelo Professor Dr. Miguel Petrere Jr. e aceito pelos organizadores, dentre os quais se destacava uma docente pesquisadora: a Dra. Sâmia Maria Tauk-Tornisielo.

Unesp, Campus Rio Claro

Unesp, Campus Rio Claro

A palestra que proferi intitulava-se “A importância da Avaliação Ambiental”. Fiz dois papers para deixar na universidade, aos cuidados da Professora Sâmia. Narravam os equívocos comumente cometidos por essa prática e propunha um novo modelo para realiza-la com mais robustez, o qual ficou conhecido por MAGIA – Modelo de Avaliação e Gestão de Impactos Ambientais (1986-1989).

Saliento que, naquela ocasião, o CEA – Centro de Estudos Ambientais era uma instituição recém-nascida: um ano de idade. Ainda assim, os professores Sâmia Maria Tauk-Tornisielo, Nivar Gobbi e Harold Gordon Fowler, reuniram e depuraram os papers dos palestrantes para publicar o livro “Análise Ambiental: Uma Visão Multidisciplinar”. Por sinal, esta obra recebeu, em 1992, o Prêmio Jabuti, como o Melhor Livro de Ciências!

As capacidades ecológicas da auto-organização e da coevolução já estavam no DNA do CEA e das relações ambientais mantidas entre os membros de sua notável equipe. Tanto é assim que, em 1994, a Unesp de Rio Claro realizou o 1º Congresso Brasileiro de Análise Ambiental.

Desta feita, fui convidado a proferir uma conferência, que intitulei “Metodologias para a Sustentabilidade Ambiental”. Mas preciso salientar que, por fatos imprevistos, passei a noite em claro, à procura de médicos e hospitais e, pela manhã, minha conferência foi um fracasso. Bem distinta da palestra que fizera em 1991.

Todavia, em 1995, de novo foi publicado o livro do evento – “Análise Ambiental: Estratégias e Ações” – organizado por Sâmia Maria Tauk-Tornisielo et alli. Assim, também tive um capítulo publicado, com o texto da conferência.

Como o congresso teve duração de 5 cinco dias, foi nos jardins da Unesp que lancei meu primeiro livro solo: “Gestão Ambiental – Os Instrumentos Básicos para a Gestão Ambiental de Territórios e de Unidades Produtivas” (1994)[1]. Essa obra foi editada pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), com sede na cidade do Rio de Janeiro. Mas, afinal, lancei-a em Rio Claro, São Paulo!

Devo dizer que, até então, desconhecia um fato muito expressivo: a primeira Faculdade de Ecologia do Brasil fora criada na Unesp, campus Rio Claro, em 1976. Dessa forma, os primeiros ecólogos graduados no país têm hoje 39 anos de formados. Sem dúvida, um importante mérito para o ensino superior brasileiro.

Mesmo não sendo Ecólogo, entendo o que diz o axioma: “tudo o que acontece no Ambiente se dá por necessidade e acaso”. Explico. Desde criança sentia uma imensa vontade de escrever. Aos poucos, essa vontade tornou-se imperativa. Aos 22 anos ganhei um concurso nacional de contos, somente para estudantes universitários. Aos 32 anos, lancei um livro de contos, intitulado “O Lapidador”. Sentia a necessidade de ser escritor. Mas foi por obra do acaso que encontrei Petrere, Sâmia e a Unesp na cidade de Rio Claro. Tornei-me escritor de livros técnicos e acadêmicos dedicados ao setor ambiental.

Mais tarde, em dezembro de 2003, lancei o segundo livro solo, intitulado SLAN – Sistema de Licenciamento Ambiental Nacional: é possível. Foi prefaciado pelo Professor Emérito de Ecologia na USP, Dr. Paulo Nogueira-Neto. Simplesmente, ele foi o fundador do Setor Ambiental Brasileiro, o qual geriu durante cerca de 12 anos, dirigindo a Sema – Secretária Especial do ‘Meio Ambiente’. Foi esse o órgão público, criado em 1973, que organizou o Conama. Depois a Sema foi transformada no Ibama e, mais tarde, de forma indireta, deu à luz ao próprio Ministério doMeio Ambiente’.

Parabéns, Paulo Nogueira-Neto! O senhor é um guerreiro, pois criou o mercado da consultoria ambiental no Brasil, abriu vagas de trabalho para milhares ou até milhões de brasileiros, ansiosos para atuar em prol da estabilidade do ambiente nacional. Porém, sobretudo, criou espaço para o surgimento de novas faculdades e cursos superiores em todos os estados do país!

É nesse contexto que me sinto honrado pelo convite da Dra. Sâmia Tauk-Tornisielo para redigir este editorial, a ser publicado em breve na Revista Holos Environment. A qualidade e aplicabilidade prática de seus inúmeros artigos científicos, sempre elaborados por notórios especialistas nas Ciências do Ambiente, dá sustentação à ideia que a gestão adequada do ambiente é cada vez mais um fato inadiável para a Humanidade.

Por fim, como não poderia deixar de ser, comunico o lançamento de meu terceiro livro: “Ambiente e Sustentabilidade – Metodologias para Gestão”. Esta obra tem previsão para estar pronta em 30 de junho de 2015, impressa e em formato digital. Tenho certeza que poderei fazer palestras sobre os inúmeros temas da Gestão do Ambiente. Aguardo receber convite da Unesp e retornar ao seu campus de Rio Claro.

……….

[1] Tenho orgulho deste trabalho; afinal, dentre outras coisas mais relevantes, creio que fui um dos pioneiros no uso do termo “Gestão Ambiental”, ao invés do anglicismo “Gerenciamento Ambiental”.

Uma obra técnica e literária


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

Se bem recordo, em janeiro de 2008 o amigo e parceiro em estudos ambientais, Professor Antônio Carlos Beaumord[, fez-me um desafio literário:

─ “Ricardo, você é escritor. Entãopor que não reúne todas as suas metodologias num único livro? Acho que seria uma bela contribuição para a Academia”.

─ “Beaumord, eu precisaria de vários anos de para redigir esse trabalho. Mas tenho família e, para sobreviver, sou obrigado a fazer consultoria”, respondi-lhe, não sem certa tristeza.

Contudo, a ideia de publicar mais um livro técnico não me saiu da cabeça. Até por que, sou otimista nato.

Porém, com a crise financeira global no fim de 2008, o mercado de consultoria no país começou a emagrecer. Senti que a dita “marolinha” era longa, um tsunami devastador.

Com a forte redução dos serviços de consultoria, a única coisa que cresceu em minha ida foi tempo vago. Confesso que sequer pensei em conseguir uma editora. Segui a ideia e comecei a organizar o livro, que ficou com 18 capítulos técnicos:

  • Capítulo 1: Conceitos Básicos para Estudos Ambientais.
  • Capítulo 2: Modelo para Identificação da Transformação Ambiental.
  • Capítulo 3: Estabelecimento das Premissas para Estudos Ambientais.
  • Capítulo 4: Caracterização Ambiental de Empreendimentos.
  • Capítulo 5: Programação e Gestão de Atividades de Campo.
  • Capítulo 6: Elaboração de Diagnósticos Ambientais.
  • Capítulo 7: Consolidação das Premissas de Estudos Ambientais.
  • Capítulo 8: Elaboração das Matrizes de Impactos Ambientais.
  • Capítulo 9: Formulação de Prognósticos Ambientais.
  • Capítulo 10: Formulação de Cenários Ambientais.
  • Capítulo 11: Modelo para Avaliação Quantificada de Impactos Ambientais.
  • Capítulo 12: Desenvolvimento e Gestão de Plano Corporativo Ambiental.
  • Capítulo 13: Auditoria de Plano Corporativo Ambiental.
  • Capítulo 14: Modelos para Estudos Preliminares de Viabilidade Ambiental; Estudo de Impacto Ambiental; Relatório de Impacto Ambiental; Programação e Gestão de Audiências Públicas; Elaboração e Gestão de Projetos Ambientais; Levantamento e Gestão de Passivos Ambientais.
  • Capítulo 15: Desenvolvimento e Gestão de Plano Executivo de Gestão Ambiental de Obras.
  • Capítulo 16: Modelos para Elaboração e Gestão de Procedimentos Ambientais; Organização e Operação de Comitês de Gestão Ambiental e da Sustentabilidade; Organização e Operação de Ouvidoria Ambiental; Código de Conduta Ambiental; Gestão de Licenças Ambientais; Elaboração de Termos de Referência.
  • Capítulo 17: Aprendizado com a consultoria.
  • Capítulo 18: Estudo Preliminar de Viabilidade Ambiental do Planeta Terra.

O acaso da amizade

Em 2011, executava um projeto de gestão ambiental de obras civis em 12 capitais brasileiras, quando fiz a primeira impressão dos manuscritos em uma laser comercial. Resolvi dividir a livro em cinco volumes. Assim, ficaria mais fácil mostrar apenas um volume a pessoas que conhecessem editoras.

De fato, já houvera definido uma editora desejada, mas não consegui acesso a ela. Alguns “amigos”, na “ânsia de ajudar“, disseram-me: “─ Fala com a Josefa em meu nome’, ela dirige a editora. Mas acho que não há interesse nesse assunto”. Foi uma ajuda motivadora. Sequer telefonei para a dita senhora, embora, então, trabalhássemos na mesma organização.

Todavia, em novembro de 2012, fui convidado pela Professora Paula Marinho para fazer uma palestra na Universidade Estácio de Sá, Campus de Del Castilho. O tema era “O Mercado da Engenharia Ambiental”. Cheguei quase no horário marcado: às 19:10 horas. Tinha 45 minutos para dar o recado, pois havia dois palestrantes à espera, ambos professores da universidade: o Professor Padilha[2], então Coordenador Nacional de Engenharia, e o Professor Luis Mauro, Coordenador Local de Engenharia Ambiental.

Durante minha palestra, sempre a provocar aos alunos, notei que o auditório estava a lotar, inclusive com pessoas sentadas nas escadas, espremidas na porta de entrada e no corredor. Falei por cerca de uma hora e fiquei quase outro tanto a responder perguntas. Nenhum professor que aguardava sua vez me interrompeu por ter ultrapassado 45 minutos, ao contrário. Ao fim, recebi uma saudável salva de palmas dos universitários e professores presentes. Emocionei-me, é claro.

Entretanto, meu único foco era publicar o livro, que até mesmo já batizara de “Ambiente e Sustentabilidade – Metodologias para Gestão”. Sem dúvida, a palestra havia sido proveitosa, conhecera bons professores, mas, é daí? Cadê a minha editora?!

Mal sabia que o Professor Padilha, com quem conversara acerca da busca por uma edição de qualidade, tinha como velho conhecido o Diretor Editorial de um grupo que reúne 10 editoras de obras técnicas e científicas. E mais, que ambos eram formados e pós-graduados no IME, em Engenharia Militar.

Assim, mais tarde obtive a informação que o Professor Padilha, por mera questão do acaso, insinuara ao Professor Severo que havia no mercado literário um manuscrito órfão, merecedor da análise de alguma editora do Grupo Editorial Nacional – GEN (clique o link para conhecer). E deu certo!

Mergulho na edição

Dessa forma, graças a uma palestra sem pretensão, proferida em novembro de 2012, assinei contrato com a LTC Editora no início de fevereiro de 2013! Ou seja, como dezembro é mês de festas, o GEN solicitou meus manuscritos para análise em janeiro; e, em 6 de fevereiro, contratou a edição da obra. No máximo, gastou dois meses para tomar a decisão.

A vida de autor seria difícil não fosse a qualidade da equipe dedicada à edição de livros. Em meu caso, acrescento: não fosse a educação, a competência e a presteza de todos com que mantenho relações profissionais, desde o início de 2013, decerto teria adoecido dos nervos.

De início, afobado e feliz, fiz em casa a revisão completa dos manuscritos e encaminhei-os à LTC. Em seguida, respondi às dúvidas da revisora oficial da LTC. Após essa etapa, coube a uma artista gráfica modelar a capa e o miolo do livro. Gostei muito do resultado: parece um quadro abstrato, mas, nitidamente, orgânico e biótico. Ilumina o espaço e se destacará nas estantes de livrarias e bibliotecas.

Neste momento, estou a finalizar a revisão das 636 páginas da obra, diagramadas no formato final para impressão industrial. Somente a partir de então os capítulos serão integrados numa peça única. Terei poucos dias para rever a obra inteira, de modo a que esteja pronta no dia 27 de julho próximo, seguindo o cronograma de trabalho da LTC Editora.

Lançamento da obra

O Grupo Editorial Nacional não realiza o lançamento físico da obra. Usa apenas seus sites na internet e conta com uma ampla rede de livreiros. No entanto, auxilia aos autores a realiza-lo. Por isso, minha proposta é fazer diversas palestras sobre os temas tratados no livro e ter um livreiro presente para oferecer os livros. Obviamente, autografarei cada um.

Dessa forma, meu projeto é divulgar nacionalmente o trabalho. Programar com universidades, fundações, associações nacionaisinstitutos para lançar o livro após uma palestra.

Adquira a obra no link abaixo

Kohn de Macedo, R., AMBIENTE e SUSTENTABILIDADE – Metodologias para Gestão. GEN – Grupo Editorial Nacional, Editora LTC – Livros Técnicos e Científicos. ISBN 978-85-216-2731-9. Rio de Janeiro, RJ. 636 pg., Julho 2015. 1ª edição.

……….

[1] Professor Beaumord, Doutorado em “Ecology, Evolution and Marine Biology na University of California, Santa Barbara”. É docente pesquisador do Centro de Ciências Tecnológicas da Terra e do Mar (CTTMar), Universidade do Vale do Itajaí – Univali, bem como consultor internacional em ecossistemas aquáticos.
[2] Professor Padilha, Mestrado em Engenharia Militar pelo IME – Instituto Militar de Engenharia. É docente na Universidade Estácio de Sá – Unesa.

Ambientologia


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

Há algumas décadas é observado o aumento das preocupações do homem com o destino da Terra. Não por força de agentes cósmicos, externos ao planeta; mas pela ação desastrada de atores internos. Mesmo o “homem comum” – aquele que não adquiriu conhecimento sobre a dinâmica do ambiente da Terra –, com ímpetos de solidariedade ao próximo, arrisca palpites e soluções caseiras, que chama de “sustentáveis”.

A dinâmica da Terra resulta de sua estrutura física e de sensibilidades nela identificadas por diversas ciências. Sobre essa dinâmica já foram publicadas toneladas de literatura científica e analítica. Contudo, todas são obras específicas; seus autores tratam o ambiente através dos espaços e segmentos que conhecem. Por exemplo:

  • No espaço físico tratam da climatologia [meteorologia], hidrologia, oceanologia, geomorfologia, geologia [vulcanologia], geotecnia, pedologia, qualidade físico-química da água, etc;
  • No biótico abordam a ecologia, a qualidade biológica da água, vegetação, botânica, fitossociologia, mais as várias classificações da fauna silvestre [mastofauna, avifauna, primatofauna, herpetofauna, ictiofauna, entomofauna, anurofauna, malacofauna, etc];
  • No antropogênico discorrem sobre a demografia, economia, educação, saúde, uso e ocupação do solo, infraestrutura logística, infra de transporte, segurança, arqueologia, cultura, sociologia e antropologia, dentre outros.

Cada profissional dessas áreas oferece uma explicação um tanto limitada para a dinâmica do ambiente. Mas não há dúvida que a ênfase dessa explicação resulta da formação acadêmica que cada autor recebeu, bem como do tempo de experiência que dispendeu em trabalhos específicos.

Adoto um conceito para Ambiente[1] (nota de rodapé) que mostra o que é necessário para entender e prever o comportamento da Terra ou de qualquer de suas áreas e regiões.

Dessa forma, com base em experiências pregressas na execução de trabalhos ambientais, creio ser complexo produzir uma boa visão global da dinâmica aleatória do ambiente. Ou seja, diagnosticar os processos que nele ocorrem, bem como ressaltar seus aspectos essenciais.

Ao longo dos últimos 30 anos, o melhor relatório-produto que pude ler nesta matéria, foi obra de uma rara equipe técnica, composta por 40 consultores. Por sinal, muito bem gerida pelo saudoso e memorável engenheiro, o também oceanógrafo, Fernando Penna Botafogo Gonçalves, a partir de 1986.

Nossa equipe, por definição, teria de ultrapassar sérios obstáculos para obter os resultados esperados pela chefia, tais como:

  • O estudo a ser realizado era para o projeto executivo[2] de uma Usina Hidrelétrica, a ser construída na Amazônia;
  • Nenhum de seus membros havia participado antes da elaboração de qualquer estudo ambiental, inclusive o mestre Botafogo, chefe da Divisão;
  • Apenas três dos 40 profissionais contratados conheciam-se entre si. Os demais eram desconhecidos, estranhos no ninho;
  • A maioria da equipe era recém graduada, sem experiência de trabalho na consultoria. Contudo, quatro dos inexperientes tinham curso de pós-graduação completo.

Em tese, minha função era assessorar a Botafogo: na programação das tarefas da equipe; na gestão dos trabalhos de campo; na análise dos resultados obtidos; e na integração dos relatórios produzidos pelas chefias dos setores físico, biótico e antropogênico.

Digo, em tese, por que isso não ocorreu “conforme combinado”. Posso explicar. Com calma e competência, Fernando arregaçou as mangas e assumiu a liderança direta dos trabalhos. Foi a campo aprender como deveriam ser realizadas as campanhas na mata amazônica e quais seriam as fórmulas para diagnosticar a dinâmica daquele ambiente. Por fim, delegou várias missões a cada membro de sua equipe.

Fazenda Boa Vista, tomada da Pousada

Com essa delegação, realizada à vera, a equipe foi obrigada a compartilhar conhecimentos; todos passaram a se auxiliar mutuamente, ou seja, a trabalhar juntos. Assim, em apenas três meses, os desconhecidos tornaram-se uma família de trabalho.

Entretanto, quando tudo entrava nos eixos, o Engo. Botafogo mudou minhas atribuições no trabalho. Disse-me que, dado meu interesse em elaborar metodologias e modelos, gostaria que eu trabalhasse no desenho de um Modelo para Avaliação e Gestão de Impactos Ambientais, desde que produzisse resultados consistentes.

Após quase dois anos de desenvolvimento, o modelo foi consolidado e ganhou o apelido de ‘MAGIA’. Funciona até hoje, tendo recebido ajustes e vários adendos. Por fim, tornou-se um livro técnico, a ser lançado em 30 de junho deste ano. Falo sobre isso ao final deste artigo.

Mas não criamos a Ambientologia

Trabalhei com Fernando Botafogo na consultoria de projetos, em várias empresas, desde 1972. Junto com nossas famílias, pudemos construir uma sólida amizade. A meu ver, tornou-se o irmão mais velho, dono de criatividade profissional que a todos impressionava.

Por volta de 1990, estava em sua casa de pescador, na lagoa de Araruama, quando iniciamos uma conversa sobre as inúmeras “logias” que os estudos ambientais requerem para serem elaborados, tais como: climatologia, hidrologia, geologia, geomorfologia, pedologia, ecologia, limnologia, fitossociologia, sociologia, arqueologia e assim por diante.

Sem assumir compromissos, nossa ideia era pensar sobre a possibilidade de existir uma ciência que fosse capaz de reunir o conhecimento de todas as Ciências do Ambiente. E foi entre areia, sal e as conchas secas da lagoa, que Botafogo encerrou a conversa:

─ “Ricardo, haveria de ser uma ciência imensa. Raciocine comigo: para uma equipe de 40 pessoas, só no curso da graduação os alunos teriam de estudar durante 160 anos! De toda forma, sugiro que tenha como títuloAmbientologia’. É justo para que essa inteligência tão desejada seja elaborada um dia. Todavia, preste atenção: que eu saiba, ainda não é possível desenvolve-la”.

Pensei nessas palavras durante mais de uma década. Concordei que 40 cursos de graduação demandariam, no mínimo, 160 anos para serem concluídos. Além disso, sem considerar o tempo de vida médio do ser humano (estimado em 79 anos), creio que são raros aqueles dotados de capacidade cognitiva para absorver tanta ciência. E mais raros ainda, se é que existam, os que conseguiriam integra-las em uma única ciência ambiental.

Até onde consegui chegar

De toda forma, segui a trabalhar no desenvolvimento de metodologias para aplicação no setor ambiental. Desejava oferecer a meus clientes novas soluções práticas, de preferência menos custosas e mais rápidas em gerar resultados.

Mas somente em 2012 notei que já houvera elaborado uma boa quantidade de abordagens teóricas e as aplicara com sucesso no mercado consultivo (Brasil, Chile, EUA, Espanha e Itália). Entendi que podia ser boa hora para publicá-las em um livro.

Assim, perguntei a Antônio Carlos Beaumord, um velho amigo dos anos 80 – então com título de “Doctor of Philosophy in Ecology, Evolution and Marine Biology” –, o que deveria fazer para conseguir uma editora que publicasse meu livro. A obra tinha 737 páginas de papel A4, organizadas em 18 capítulos.

A princípio, Beaumord me disse que seria mais fácil verter o livro para o inglês e publica-lo na Califórnia! Lá ele tinha diversos parceiros acadêmicos, que conhecera durante o doutorado. Nos Estados Unidos é normal que um professor se disponha a auxiliar na 1ª edição de bons livros técnicos, disse-me ele.

Porém, após ler os manuscritos, concluiu que tanto a envergadura do trabalho, a profundidade da narrativa, o nível de detalhes no tratamento das metodologias, os estudos de caso reais apresentados, bem como a qualidade pedagógica, dotavam o livro do mérito necessário para ser publicado:

─ “Sem dúvida, trata-se de trabalho que pode se tornar livro texto em cursos superiores sobre a Gestão do Ambiente e da Sustentabilidade. Atende aos preceitos da Academia, seja a brasileira ou a norte-americana”, ponderou o Professor Beaumord.

Edição e publicação do livro

Mas foi através da iniciativa do Professor Padilha, então membro do Centro de Conhecimento em Exatas e Engenharias da UESA, que a possível edição de meu livro teve início em 7 de novembro de 2013. A Editora LTC – Livros Técnicos e Científicos, a pedido do “Mestre Padilha”, recebeu-me para uma conversa acerca das finalidades de meu manuscrito.

A Diretora Editorial da LTC, Professora Carla Nery, conduziu a reunião. Recordo-me que me foi solicitado responder ao “Formulário para Proposição de Obra“. Conforme acordado, junto com o formulário preenchido, enviei informações complementares: meu currículo profissional, a visão do mercado potencial do livro, a análise de pontos fortes e fracos da obra, das ameaças e oportunidades potenciais previsíveis, as formas de solução, etc.

Em 28 de janeiro de 2014 recebi a grata notícia de ter meu trabalho aprovado para publicação pela Editora LTC. Surpreendeu-me. Sim, por que nunca passara por um processo editorial analítico daquela qualidade, com tantas exigências. Por fim, pelo fato de editar e publicar no Brasil, com elevado padrão de excelência, sem arcar com qualquer custo.

Enviei à editora os originais do livro ao longo do mês de março de 2014. Cumpri com todos os padrões e a sequência editorial por ela estabelecidos: caderno-zero; 18 capítulos; e caderno pós-texto. Desde então mantenho contato com as coordenações que trabalham no processo de produção do livro. A primeira previsão de lançamento da obra ficou para trás, em setembro de 2014. A segunda, não aconteceu como prevista, em março passado. A terceira, que deve finalmente ser cumprida, soube que está garantida para 30 de junho de 2015!

E este será meu próximo livro: “Ambiente e Sustentabilidade – Metodologias para Gestão”. Rio de Janeiro, RJ, Editora LTC – Livros Técnicos e Científicos. 650 pg. 1ª Edição”.

Após 42 anos de trabalho na consultoria de estudos e projetos, enfim descobri que a Ambientologia, como apelidada por Fernando Botafogo, não é uma ciência ambiental em si, tal as demais. Mas é uma sólida teoria, capaz de gerir a aplicação simultânea de todas as Ciências do Ambiente. Quatro anos de estudo dedicado são mais do que suficientes para seu pleno aprendizado.

……….

[1] Ambiente é qualquer porção da biosfera que resulta de relações físicas, químicas, biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores ambientais que a constituem (ar, água, solo, flora, fauna e homem). Todas as porções da biosfera são compostas por distintos ecossistemas, que podem ser aéreos, aquáticos e terrestres, bem como devem ser analisados segundo seus fatores físicos [ar, água e solo], bióticos [flora e fauna] e antropogênicos [homem e suas atividades].

[2] Quero destacar um fato que considero de expressiva importância. Nos idos dos anos 60, 70, 80 e 90, século passado, projetos executivos eram desenvolvidos por empresas de engenharia consultiva. As empreiteiras se limitavam a construir e não “obravam” sem eles. O Brasil ainda operava como os países mais preparados para o desenvolvimento da “engenharia de precisão”.

Reflorestar já!


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

Parece não haver outra forma de fazer, infelizmente. Mas certas decisões nacionais precisam ser radicais e intolerantes com aqueles que delas se desviarem, sem o quê, ‘fazem água’ e, no máximo, obtém resultados pífios.

Mas debaixo dessa perigosa premissa, tranquilizem-se: estão somente as decisões que visam a garantir a integridade do Patrimônio Ambiental Brasileiro, sem dúvida ainda um dos mais importantes do planeta. No entanto, o cenário atual desse patrimônio é grave e apresenta processos desastrosos, cujos efeitos negativos se multiplicam diária e regionalmente.

Sem dúvida, compreende-se que o ‘novo governo herdará’ (de si mesmo) severas crises de difícil solução – econômica, política, moral e corruptiva parecem ser as prioritárias. Contudo, a ver por outro ângulo, pergunta-se: aonde pretende chegar com sua permanente omissão frente a incêndios e desmatamentos criminosos, realizados em todos os biomas brasileiros? Deseja aguardar, complacente, que o território nacional transforme-se num gigantesco Saara, totalmente estéril?

Deserto do Saara, por Luca Galuzzi, 2007

Deserto do Saara, por Luca Galuzzi, 2007

É nítido que qualquer cidadão medianamente observador encontra neste cenário a semente de mais uma poderosa crise, com consequências temporais e regionais imprevisíveis, que podem acarretar despesas evitáveis, porém estimadas em dezenas de bilhões de reais para conter e sanar verdadeiros desastres ambientais.

As fortes oscilações do clima, o calor e a secura que se instala em grandes áreas do país, afetando a geração de energia e o abastecimento d’água, são apenas os primeiros indícios de uma forte desertificação que advirá caso a Crise Ambiental não seja tratada da forma devida, como fato prioritário da governança no país.

Sumário da Crise Ambiental

As regiões que foram recobertas pelos biomas Cerrado e Caatinga (cerca de 25% do território nacional) já possuíam essa tendência primitiva, como espelho do clima nelas ocorrente. A ser assim, haveriam de ser geridas com cuidados especiais, ambientais e agronômicos. Mas pouco foi feito. O fato é que estão a ser apagadas do mapa orgânico nacional, com seu uso e ocupação realizado por atividades destrutivas, que não possuem a visão do bioma como um todo, apenas do pequeno naco de terra de cada propriedade.

Brasil, o celeiro do planeta!’, é uma das exclamações mais clamorosas que ainda se escuta. Com essa visão, dotada de ‘burrice latifundiária’, o setor agropecuário brasileiro tornou-se ‘satélite do estômago’ das nações compradoras. Além disso, ainda não possui meios para garantir bons preços de suas commodities no mercado internacional.

Ademais, o solo sofre os efeitos adversos das práticas da monocultura intensiva e necessita ações periódicas de manejo para ‘ser renutrido e descansar’. Dessa forma, a questão que se impõe é saber “como repor a capacidade produtiva do solona elevada velocidadeda demanda por produtos agrícolas que pretende atender”.

Apesar de leigos nessa matéria, acredita-se ser difícil obter uma solução por meio de práticas agronômicas conhecidas. Ainda assim, caso seja descoberta, será somente por tempo limitado. O Solofalecenas mãos cobiçosas do Homem e, junto com ele, também os aquíferos e a vegetação.

Porém, ao contrário, é com extremo vagar que instituições públicas às vezes respondem aos alarmes de ‘incêndios acidentais’ e desflorestamentos ilegais nos biomas Amazônia e Mata Atlântica. Com isso, ambos já sofreram perdas irreparáveis nas matas originais: a Amazônia já perdeu cerca de 40% de sua floresta nativa, e a Mata Atlântica, no entorno de 93%.

É absurdo trocar Matas Nativas por loteamentos, condomínios, pastagens, criação de gado e culturas agrícolas! Há outros meios disponíveis sem necessidade de se tocar nas matas. No passado, quando alguns poucos cidadãos se rebelavam contra este ato incompreensível e injustificável, críticos mais arrogantes desprezavam a realidade e aplicavam-lhes o jargão de ‘eco-chato’ ou, com nítido menosprezo, de ‘ambientalista’. Queriam silencia-los.

Entretanto, nas três últimas décadas, começou a ficar evidente a tendência preocupante dos rumos do dito Patrimônio Ambiental Brasileiro. Nas bordas limites de seus grandes biomas, forças externas da ocupação humana crescente, sem qualquer critério de controle, causam ‘corrosões’ acentuadas nas manchas da vegetação. É o chamado efeito de borda. Esse fenômeno reduziu de forma gradativa a área total dos biomas, enfraquecendo sua estabilidade espontânea e tornando-os mais vulneráveis a outras ações.

Aos poucos, sobrevieram ondas de calor em regiões e áreas do país, sobretudo decorrentes da derrubada de matas e savanas, que se conjugam com a constante dinâmica da ação solar. Assim, graves efeitos foram promovidos sobre o ambiente, impactando seu clima, seus recursos hídricos, os solos, a flora, a fauna e, por fim, a própria sociedade [1].

Uma ótica de abordagem

Para o caso brasileiro, lógico que sem menosprezar a ciência, segue uma visão mais imediata e pragmática. Até por que reservatórios de usinas hidroelétricas do país já estão a secar, assim como as nascentes de vários mananciais, com os conhecidos efeitos nas condições de fornecimento de energia e de abastecimento d’água para inúmeras cidades.

Diante da realidade brasileira, duramente afetada pela Crise Ambiental, que cresce e evolui em silêncio, é premente a implantação de um Plano Nacional de Ações para EmergênciasPNAE. Dotado de metas de curto, médio e longo prazos, bem como de critérios claros para avaliar os resultados alcançados, terá na sociedade civil organizada uma efetiva rede de fiscalização e controle.

Dispondo de equipe selecionada, composta por acadêmicos e especialistas, é viável elaborar e implantar o PNAE em até doze meses. Porém, para que realize os resultados esperados, sugere-se que algumas diretrizes sejam seguidas:

  • O PNAE não possuirá qualquer vínculo ideológico ou político, nem constituirá uma iniciativa de governo. Precisa ser proposto pela sociedade civil.
  • Por enquanto, o PNAE constituirá um conjunto integrado de ações e projetos que represente o desejo da parcela da população brasileira que se encontra melhor informada.
  • No entanto, projetos de Educação Ambiental serão implantados junto a comunidades que necessitam de melhores informações sobre práticas e benefícios de ‘conservar seu ambiente’. Dessa forma, ganham a participação no controle do PNAE.
  • Projetos de Educação Ambiental serão prioritários para as comunidades que vivem nas bordas dos grandes biomas.
  • Desmatamento Zero’ em todo o território nacional começará a vigorar junto com o início da elaboração do PNAE.
  • Todas as metas do PNAE serão formuladas a partir da visão global do Patrimônio Ambiental Brasileiro que pretende reconstruir e garantir sua conservação. O PNAE não enxergará propriedades, mas os biomas em que estiverem inseridas.
  • O PNAE estabelecerá que ‘incêndios criminosos e desmatamentos ilegais’ serão promovidos a crimes hediondos.
  • A prática chamada ‘Reflorestar Já!’ deverá ser seguida e implantada em todo o território nacional, compreendendo desde casas, ruas, praças, áreas urbanas, áreas militares, até sítios, fazendas, indústrias, matas e savanas degradadas.

Cabe ao poder executivo apenas endossar o PNAE e, quando requerido, alocar recursos para garantir seu sucesso. Isso é a Governança do Ambiente, ou seja, o presto atendimento aos interesses legítimos dos cidadãos.

Somente através desta prática de gestão pública torna-se possível produzir, crescer, distribuir renda para os trabalhadores, assim como, simultaneamente, manter a sustentabilidade dos biomas brasileiros.

Plantação de cacau dentro da Mata Atlântica

Plantação de cacau dentro da Mata Atlântica

_________

[1]Aqui não se discute o mérito do efeito estufa ‘causado por atividades humanas’: efeito estufa antropogênico. Há diversas hipóteses disponíveis, todas elas não demonstradas, mas que o explicam ao ‘gosto de cada cientista, político e artista cinematográfico’ que as proferem.

Lino Matheus e a Mantiqueira


A união de trabalho e perseverança há mais de 40 anos.

Fizemos uma visita de campo à fazenda Boa Vista durante três dias[1]. Ela possui cerca de 95 hectares e está situada no município de Bocaina de Minas. Encontra-se presente nos 729.138 hectares onde emergiu do solo a Serra da Mantiqueira. Ou seja, a serra brasileira que nasceu há cerca de 2,5 bilhões a 3,85 bilhões de anos, na era Arqueana.

Apesar de a Boa Vista possuir pequena expressão geográfica, sobretudo quando comparada ao mosaico de toda a Serra – ocupa apenas 0,013% da área da Serra –, a representa com extrema fidelidade. Diríamos mesmo, com extrema felicidade, graças à gestão adequada do ambiente fazendário que seu proprietário, o senhor Lino Matheus de Sá Pereira, já pratica há décadas naquelas paragens.

Uma vista panorâmica da Serra da Mantiqueira

Uma vista panorâmica da Serra da Mantiqueira

Dados básicos da Serra da Mantiqueira

A Serra encontra-se nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro e atravessa 39 de seus municípios, sendo 24 de Minas, 13 de São Paulo e 2 municípios do Rio de Janeiro. Possui diversos ecossistemas sensíveis, espargidos em relevo fortemente declivoso, que varia desde 700 metros até seu ponto culminante, a Pedra da Mina, situada na divisa de Minas Gerais e São Paulo, com 2.792 metros de altitude.

Por iniciativa de proprietários de fazendas, em contagem não atualizada e crescente, a Serra possuía, na entrada deste século, 18 Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN. A fazenda Boa Vista é uma delas, declarada por órgãos oficiais como Refúgio da Vida Silvestre, dada a riqueza de sua vegetação, sua fauna abundante e diversificada, espécies endêmicas, as numerosas nascentes e cursos d’água, todos muito bem conservados. Aliás, muitos deles mantidos por Lino em seu estado primitivo.

Sobre a riqueza da vegetação da Mantiqueira ressaltamos alguns dados disponíveis:

  • Constitui a maior mancha contínua de Mata Atlântica remanescente no sudeste do Brasil;
  • Detém uma expressiva área ambiental protegida – a APA da Serra da Mantiqueira, com seus 434.108 hectares, ou seja, um terreno com cerca de 58% de toda a Serra. Não se trata de um brinquedo e há que ser muito bem gerido;
  • Dessa forma, precisa ser a ferramenta pública, à disposição da sociedade civil, visando a garantir a estabilidade das fitofisionomias da Mata Atlântica predominantes na Serra: (i) Floresta ombrófila densa; (ii) Floresta ombrófila aberta; (iii) Floresta ombrófila mista – “Mata de araucárias”; (iv) Floresta estacional semidecidual; e (v) Campos de altitude.

Ressaltamos que a APA foi resultado de antigas ações sistemáticas pela conservação da natureza, realizadas por um grupo de amigos de vários locais da Mantiqueira. Esse grupo tinha como líder, novamente o senhor Lino Matheus, então na casa dos 30 e poucos anos. Mas foi somente em 1985 que o governo central, a dizer “que atendia aos interesses da comunidade”, promulgou o Decreto Federal 91.304, para criar a área de proteção. Enfim!

Em 3 de junho de 2005, o então Superintendente do Ibama, Roberto Messias Franco, fez pessoalmente uma homenagem a Lino Matheus pelos 20 anos da criação da APA da Serra da Mantiqueira.

Lino Matheus em sua biblioteca na fazenda

Lino Matheus em sua biblioteca na fazenda

A Mantiqueira, que na língua dos indígenas pioneiros significava algo como “rochas que choram”, constitui um dos mais complexos sistemas orográficos e hidrológicos brasileiros. Suas águas, vertidas pelos ecossistemas, abastecem inúmeras cidades dos três estados mais desenvolvidos do país. As suas próprias capitais (São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro) dependem das nascentes da Mantiqueira para serem abastecidas, em todos os setores sociais, produtivos e comerciais.

Em suma, é importante observar, não como um dado sobre a Serra da Mantiqueira, mas como sua nítida obviedade: a hidrologia prolífica que até hoje lá existe só permanecerá a transbordar enquanto as matas que acolhem suas nascentes forem preservadas.

Caso contrário, a Mantiqueira se tornará estéril, capaz de esterilizar a economia brasileira. Isso é um fato, um dado sensível para o problema de manter a Serra Viva e continuar alimentando a economia do sudeste, a mais forte do país.

Para conceber uma nova era

Foi através de uma conversa telefônica com Ítalo Meneghetti, por acaso, que descobrimos como andava Lino Matheus e o que estava motivado a realizar na fazenda Boa Vista e vizinhanças. Assim , três dias após nossa conversa, chegamos à fazenda para conversar com Lino sobre seu novo projeto: a criação da Fundação Mantiqueira. Talvez seja o projeto mais complexo e importante idealizado por ele. De toda forma, interessamo-nos pelo convite em participar desse esforço.

Lino deseja ser o instituidor da Fundação e, para tanto, está disposto a doar uma área de sua fazenda para dotar a Fundação do patrimônio legalmente necessário. Da mesma forma, definiu sua finalidade, e objetivos que considera serem estratégicos, de forma a que seu desempenho na região seja compatível com a cultura lá existente.

Ao fundo, a futura sede da Fundação Mantiqueira

Ao fundo, a futura sede da Fundação Mantiqueira

Nossa equipe inicial, formada por Ítalo, Kohn, Marcus e Hernán, com base em um pacote de informações sobre a Fundação cedido por Lino, propôs realizar as seguintes atividades iniciais, básicas para instalar a Fundação:

  • Elaborar a descrição detalhada do projeto da Fundação, com suas finalidades e os setores em que deverá atuar – educação, capacitação de pessoas, desenvolvimento de projetos ambientais, implantação desses projetos, etc.
  • Elaborar um modelo de projetos para a Fundação, enfatizando a educação, o treinamento e serviços realizados para terceiros, através de convênios assinados com instituições privadas e públicas.
  • Realizar a análise SWOT da Fundação, ou seja, analisar seus pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades e ameaças potenciais, provindas do ambiente externo à Fundação.
  • Estimar três cenários futuros alternativos para a Fundação Mantiqueira, considerando as visões pessimista, conservadora e otimista.
  • Elaborar o fluxo de caixa estimado da Fundação, até atingir seu ponto de equilíbrio, e prever, ano a ano, o aporte de capital necessário.
  • Selecionar instituições que podem oferecer financiamento a fundo perdido ou doações para a Fundação.
  • Aprovar o Estatuto consolidado e instituir a Fundação Mantiqueira.

Acreditamos que todas as partes envolvidas nesse processo concordam com a extrema importância da Serra da Mantiqueira para suporte à economia brasileira. Em outras palavras, a Mantiqueira precisa, tanto quanto possível, permanecer intocada, de forma a que continue a irrigar os principais centros do desenvolvimento do país.

As águas da irrigação da Mantiqueira são volumosas e puras

As águas da irrigação da Mantiqueira são volumosas e puras

Resta-nos agora realizar as atividades iniciais, usando das melhores técnicas disponíveis e dominadas pela equipe. Afinal, a ciência e as técnicas dela derivadas devem ser a poesia que espelha a humanidade e grandeza de pessoas como Lino Matheus. Por isso mesmo, já estão sendo aplicadas com dedicação.

Ricardo Kohn, Consultor em Gestão

[1] A visita de campo foi realizada nos dias 15, 16 e 17 de agosto de 2014.

Então, venceu a Alemanha


Aliás, não havia como ser diferente, sobretudo após os efeitos da dança de roda dos índios Pataxós, com Miroslav Klose feliz ao centro. Os pataxós daquela aldeia rogavam a seus ancestrais pela sorte e sucesso da Seleção Alemã de Futebol na competição mundial.

A formidável integração da equipe Alemã com a equipe Pataxó

A formidável integração da equipe Alemã com a equipe Pataxó

É importante salientar que, por detrás do comportamento dos jogadores selecionados, de sua comissão técnica e da própria Federação Alemã de Futebol, subjazem sólidos alicerces que são o comprometimento com atitudes humanas e a força da cultura alemã atualizada. Inclua-se, acima de todos, seu próprio Estado, onde o governo eleito representa seu povo e os auxilia na arte do convívio, dentro e fora da União Europeia.

Isto ficou evidente ao longo do processo da Copa do Mundo de 2014. De tal sorte, que os craques da seleção, como reflexo da sua cultura, relacionaram-se com comunidades humildes, como se fossem jovens diplomatas da nação alemã. E, na verdade, o foram.

O planejamento alemão

Nada se faz na Alemanha sem exaustivos processos de planejamento, a analisar todos os detalhes e finalidades do projeto. Assim, a Federação Alemã enviou ao Brasil um grupo de técnicos para selecionar o local onde permaneceria sua seleção. Após visitarem as regiões das 12 cidades-sede, foi escolhida a Vila de Santo André, localizada no município de Santa Cruz de Cabrália, Bahia.

Com o apoio de investidores alemães, ergueram o próprio centro de treinamento, contendo 14 casas de dois andares, infraestrutura para treinamento físico, amplo espaço para imprensa e 65 salas de frente para o mar. Sua área construída é de 15 mil m2. Além disso, fizeram dois campos de futebol (um somente para o treinamento dos goleiros) e vias asfaltadas interligando todas as unidades.

Imagem aérea das obras do Campo Bahia

Imagem aérea das obras

Tudo foi construído por profissionais locais, salvo poucos especialistas que a Federação Alemã trouxe do exterior. Mas todos os operários foram brasileiros locais, treinados para se adaptarem aos eficientes métodos construtivos praticados na Alemanha.

Estima-se que os investidores hajam aplicado pelo menos R$ 35 milhões para finalizar as obras em cerca de cinco meses. Com projeto arquitetônico desenhado por um brasileiro – Sandro Pretti, foi batizado de “Campo Bahia”, conforme mostra sua construção no vídeo abaixo – “Catch your dreams“.

“Campo Bahia”, um marco

Aqui reside uma revolução de costumes, inclusive na prática do futebol. O que mais importa no Campo Bahia não é o valor monetário de um simples empreendimento imobiliário. Mas a “educação, o crescimento do turismo, com internet de elevada qualidade“, segundo observou Tobias Junge, um dos investidores envolvidos e radicado no Brasil.

Situada da Costa do Descobrimento, um marco histórico do Brasil, Cabrália será beneficiada com o amplo e duradouro legado construído pela Federação Alemã de Futebol. Porém, muito além disso, parece claro que uma seleção de futebol é o reflexo imediato da qualidade do Estado que representa, através de seu governo.

Porém, ao contrário, se o governo do Estado não possuir eficiência, por falta de princípios e posturas adequadas, alguns indicadores de resultado serão automaticamente demonstrados ao mundo: através de uma seleção muito fraca, com comissão técnica inepta e uma federação futebolística dedicada a negócios escusos. Então, que se mude o governo do Estado e até o futebol poderá melhorar!

Finaliza-se

Haveria muitos mais fatos importantes a serem relatados, mas infelizmente interrompe-se aqui. O que importa é que a seleção alemã vai deixar saudades em todo o Brasil, sobretudo, nas crianças da vila. Esta foi sua primeira vitória obtida no mundial de futebol. A segunda, espera-se, por mérito esportivo, que aconteça no fim da tarde de hoje.

Parabéns Angela Merkel! Seu governo à frente do Estado Alemão mostrou, mais uma vez, os princípios da disciplina, honra e humanidade, que se espraiam para o mundo, inclusive através de seus atletas.

A equipe alemã deixará imensas saudades ao povo da vila

A equipe alemã deixará imensas saudades ao povo da vila

Como realizar a Gestão do Ambiente


Ricardo Kohn, Escritor e Consultor em Gestão.

Este é um artigo de maior amplitude teórica e prática sobre a Gestão do Ambiente. Procurou-se integrar boa parte dos artigos técnicos já publicados neste blog, durante seus dois anos de existência. Sua leitura e análise pode contribuir para aquecer os debates que visam à evolução das práticas de gestão, tendo o Ambiente como seu foco principal.

1. O que é Ambiente

É qualquer porção do planeta que resulta das relações físicas, químicas, biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores ambientais que a constituem, quais sejam: o Ar, a Água, o Solo, a Flora, a Fauna e o Homem”.

Orvalho sobre a vegetação silvestreDessa forma, todas os espaços planetários são compostos por distintos ecossistemas, que podem apresentar componentes aéreos, aquáticos e terrestres, bem como serem observados segundo seus elementos do espaço físico (ar, água e solo), do espaço biótico (flora e fauna) e do espaço antropogênico (o homem e suas atividades típicas – habitacionais, industriais, comerciais, de serviços e culturais).

No entanto, países de língua portuguesa e espanhola usam o termo ‘Meio Ambiente’. Nas demais nações ocidentais verifica-se que o somente vocábulo ‘Ambiente’ é usado para se referir à mesma entidade: environment, environnement, umwelt, ambiente.

Dado o fato que na língua portuguesa um dos significados de ‘Meio’ é “Ambiente“, dentre outras coisas, opta-se por eliminar esse erro de redundância e usar apenas ‘Ambiente’, tal como nas línguas inglesa, francesa, alemã e italiana, acima exemplificadas.

2. Conceitos básicos relativos ao Ambiente

Seguem alguns conceitos e respectivas definições usados neste artigo. São básicos para o entendimento do que é e como se faz a Gestão do Ambiente.

Conceitos Definições
Ecossistema ou Sistema ecológico Qualquer parcela do Ambiente, na qual se estabelecem relações de diversas ordens entre os fatores bióticos e abióticos que a compõem. Os empreendimentos públicos e privados são conjuntos de fatores ambientais antropogênicos e fazem parte dos ecossistemas em que se situam. Constituem, dessa forma, ecossistemas humanos organizados quando estabelecem relações de troca de energia e matéria dentro de limites aceitáveis.
Fator ambiental Constituem os componentes dos ecossistemas, tanto primitivos, quanto rurais e urbanos, que interagem para conformá-los. Os fatores ambientais considerados básicos são o Ar, a Água, o Solo, a Flora, a Fauna e o Homem.
Espaço ambiental Espaços ambientais constituem uma subdivisão teórica do Ambiente. São organizados por conjuntos afins de segmentos ambientais, de acordo com o tipo de abordagem que se deseja imprimir em uma dada relação entre Empreendimento e sua área de inserção. Por exemplo: Ambiente → {Espaço Físico, Espaço Biótico e Espaço Antropogênico}.
Segmento Ambiental Segmentos ambientais consistem qualquer uma das partições afins em que podem ser subdivididos os espaços ambientais, de acordo com a abordagem do estudo a ser realizado e em conformidade com as características do espaço a que se referem. Por exemplo: Espaço Biótico → {Segmento Aquático, Segmento Florístico e Segmento Faunístico}.
Relações ambientais Consistem nas trocas sistemáticas de energia, matéria e informação entre fatores ambientais e entre cada fator e os ecossistemas de que participam. São trocas espontâneas e essenciais que podem garantir a estabilidade dos sistemas ecológicos.
Estabilidade ambiental Constitui o processo de manutenção espontânea dos ciclos de relações ambientais mantidas entre fatores em permanente interação, conformando ecossistemas estabilizados e, por conseguinte, capacitados para a coevolução.
Organização (o mesmo que Organização produtiva, Empresa, Corporação ou Empreendimento) Constitui um conjunto dinâmico e integrado de recursos de diversas naturezas, apoiado em tecnologias apropriadas, destinadas aos tipos de bens, produtos e serviços que objetiva produzir, física e economicamente organizados, a fim de cumprir um processo produtivo estabelecido. Toda organização opera em um determinado Ambiente. Sua existência, sobrevivência e evolução dependem da maneira com que ela se relaciona com ele, bem como de suas capacidades de adaptação às variações do Ambiente. Depende, portanto, de sua capacidade de gestão do desempenho ambiental.
Área de influência de uma organização Consiste na área territorial estimada que poderá receber impactos ambientais benéficos e adversos, decorrentes de todas as etapas do ciclo de vida de uma organização: projeto, obras, operação e eventual ampliação.
Transformação ambiental Trata-se da sequência de eventos proporcionada pelas relações ambientais mantidas entre um empreendimento e o Ambiente de sua área de influência:

  • Existe uma organização ou um projeto de engenharia;
  • Explicada por intermédio de suas intervenções de engenharia sobre o Ambiente;
  • Que demandam ou ocasionam manejos no Ambiente para que sejam implantadas e operadas;
  • As quais podem proporcionar mudanças de comportamento e/ou de funcionalidade dos fatores ambientais por elas afetados.
Intervenção ambiental Consiste em uma obra de engenharia que acarreta a introdução, concreta ou virtual (quando em projeto), permanente ou temporária, de pelo menos um fator ambiental em um dado Ambiente através da ação humana, capaz de gerar ou de induzir o remanejamento dos fatores ambientais existentes. Um conjunto de intervenções ambientais conforma uma organização.
Alteração ambiental Consiste no remanejamento, espontâneo ou induzido, de conjuntos de fatores ambientais da área de influência da organização, em decorrência da introdução de pelo menos uma intervenção ambiental.
Fenômeno ambiental Constitui qualquer processo ambiental capaz de afetar, específica e diretamente, o comportamento e/ou a funcionalidade pré-existentes de um ou mais fatores ambientais, em decorrência de pelo menos uma alteração ambiental.
Eventos ambientais Trata-se do nome genérico dado a empreendimentos, intervenções, alterações e fenômenos ambientais.
Impacto ambiental Os efeitos de qualquer ordem percebidos no Ambiente que sejam capazes de afetar as variações das transações de energia, matéria e informação, estabelecidas entre o fator ambiental e o sistema ecológico de que participa, beneficiando-o ou prejudicando-o. Empreendimentos, intervenções, alterações e fenômenos ambientais possuem impactos ambientais associados, tanto benéficos como adversos.
Qualidade ambiental A qualidade de um Ambiente expressa as condições e os requisitos básicos que ele detém, de natureza física, química, biológica, social, econômica e cultural, de modo a que os fatores ambientais que o constituem, em qualquer instante, exerçam efetivamente as relações ambientais que lhes são fundamentais e afetas.
Reabilitação ambiental Consiste na implantação e gestão de projetos e ações destinados a re-funcionalizar áreas que hajam sido alteradas, sejam por meio de ações antropogênicas, sejam através de processos espontâneos de sucessão em ecossistemas do Ambiente.
Rupturas ambientais Decorrem das perdas de relações ambientais essenciais para manutenção de um ecossistema estabilizado, proporcionadas por impactos ambientais adversos, antropogênicos ou não.
Retroimpactos ambientais Constituem as respostas do Ambiente impactado sobre todas as organizações e comunidades nele existentes, podendo beneficiá-las ou prejudicá-las. Quanto mais adequadamente for mantida a sustentabilidade do Ambiente afetado por obras e atividades produtivas, menores serão seus retroimpactos adversos.
Sustentabilidade A sustentabilidade é um atributo exclusivo do Ambiente que consiste na sua capacidade e de seus ecossistemas componentes em manter e desenvolver as relações essenciais entre seus fatores constituintes (ar, água, solo, flora, fauna e homem), que lhes permite existir. Alguns especialistas utilizam o termo sustentabilidade ambiental. Do inglês, ‘environmental sustainability’.
Avaliação da sustentabilidade Consiste na avaliação da qualidade ambiental de um território, envolvendo os mesmos elementos utilizados na aferição de sua sustentabilidade: qualidade do ar, qualidade da água, qualidade do solo, qualidade de vida da flora, qualidade de vida da fauna e qualidade de vida humana.
Gestão ambiental O objeto da gestão ambiental é a otimização dos processos da organização que transformam os sistemas ecológicos, primitivos ou não. A gestão ambiental é o processo necessário, mas não suficiente, para garantir que a introdução de um sistema humano organizado em qualquer sistema ecológico (primitivo, alterado ou humano) tenha como resultado um sistema humano organizado. Sua finalidade é a gestão do desempenho ambiental das organizações.
Gestão da Sustentabilidade Consiste no processo gerencial onde são avaliados, planejados e monitorados (i) os processos da transformação ambiental, (ii) os resultados destes processos e (iii) as respostas do Ambiente a estes resultados, beneficiadas através de (iv) um plano ambiental específico.
Conservação ambiental Consiste no uso controlado dos espaços territoriais, visando a garantir a manutenção das funcionalidades ambientais similares às suas funcionalidades primitivas.
Preservação ambiental Consiste no impedimento controlado do uso e da ocupação de ecossistemas primitivos, visando à total manutenção de suas funcionalidades ambientais primitivas.
Diagnóstico ambiental Constitui a construção do conhecimento da região de interesse de um projeto de engenharia ou de um empreendimento existente. Pode ser efetuado por meio da coleta de dados e informações locais (recomendável) ou através de websites especializados, para coletas dos dados secundários disponíveis. Deve ser realizado enfocando os ecossistemas e fatores ambientais afetáveis pela presença do projeto ou da organização existente, assim como aqueles que com eles se relacionam e deles dependem para que possuam estabilidade.
Prognóstico ambiental Os prognósticos ambientais são processos analíticos de previsão justificada e documentada dos quadros mais prováveis da transformação ambiental esperada para a região considerada pelo estudo.
O ato de Avaliar O ato de avaliar pressupõe a realização de três tarefas essenciais:

  • O estabelecimento de um padrão de medida;
  • A mensuração do objeto a ser avaliado segundo esse padrão; e
  • Uma nota, que represente o desvio relativo entre o valor apropriado ao objeto e o padrão previamente estabelecido.

As duas primeiras tarefas consolidam uma análise. A terceira, a elas integrada, realiza a avaliação.

Avaliação de Impactos Ambientais Conhecida através da sigla AIA, é o processo de aferir o desvio relativo entre os impactos ambientais estimados em um cenário ambiental, utilizado como base (padrão), e os impactos estimados para um cenário a ele alternativo.
Monitoração ambiental Processo de acompanhamento e/ou aferição de parâmetros ou indicadores ambientais, devendo ser capaz, sempre que possível, de mensurar as oscilações do comportamento de um dado fator ambiental, em intervalos de tempo pré-estabelecidos e conforme algum padrão previamente definido.
Hipótese Global de Situações de Impacto (HGSI) Constitui a identificação preliminar, ainda hipotética, dos eventos ambientais (intervenções, alterações e fenômenos) proporcionados por um projeto de engenharia ou por um empreendimento em sua área de influência. É expressa através de uma árvore de eventos, onde é indicada a relação de causa e efeito dos eventos identificados. A HGSI é a base para a realização dos diagnósticos ambientais, orientando-os para os ecossistemas e fatores ambientais de interesse.
Transitividade do impacto ambiental A transitividade é a energia de transformação que estrutura e mantém a árvore de eventos ambientais – HGSI –, demonstrando que o impacto ambiental de um fenômeno distribui-se por essa árvore, através de seus eventos causadores, ‘do solo até o topo da árvore’.
Matriz de Impactos Ambientais (MIA) Constitui a representação matricial da árvore de eventos ambientais.
Potencialidade ambiental Consistem em áreas territoriais mais resistentes a transformações ambientais, em função de seu relevo, de seu clima, de seus solos, de seus recursos hídricos, de seus biomas e de suas comunidades, inclusive a humana.
Vulnerabilidade ambiental Consistem em áreas territoriais mais sensíveis a transformações ambientais, em função de seu relevo, de seu clima, de seus solos, de seus recursos hídricos, de seus biomas e de suas comunidades, inclusive a humana.A Sustentabilidade é um dos principais focos de estudos e projetos de engenharia que visam a impedir a ocorrência de questões ambientais adversas. Embora o uso do termo ‘Sustentabilidade’ seja relativamente recente no Brasil, diversas universidades ensinam a seu respeito utilizando conceitos diferenciados. De forma mais nítida, e por vezes equivocada, alguns agentes da mídia fazem uso indiscriminado desse conceito, aplicando-o para adjetivar processos que, ou não são sustentáveis, ou deles resulta a Sustentabilidade do Ambiente em que ocorrem.

3. Em que consiste a Sustentabilidade

Para esclarecer o significado deste conceito precisa-se entender (i) em que espaço ele deve ser considerado, (ii) o que o motiva, (iii) quais são os elementos envolvidos na sua realização, e (iv) quais são os benefícios decorrentes de sua aplicação. Enfim, em que cenários tratamos esse processo, que foi denominado por Sustentabilidade Ambiental ou simplesmente Sustentabilidade, a indicar que é uma propriedade exclusiva do Ambiente.

Consiste na capacidade dos ecossistemas constituintes do Ambiente (primitivos e humanos) em realizar, manter e desenvolver as relações ambientais essenciais entre os fatores ambientais básicos existentes no planeta, que são o ar, a água, o solo, a flora, a fauna e o homem.

Todos os fatores ambientais secundários, embora não sejam menos importantes, decorrem dessas relações mantidas entre esses seis fatores básicos. Vale observar que estudiosos e acadêmicos que atuam na área ambiental incluem o fungo como fator ambiental básico.

3.1. Ecossistema primitivo

Em ambientes constituídos por ecossistemas primitivos, onde ainda não exista a presença expressiva de atividades humanas produtivas, essas relações possuem algumas capacidades específicas que as tornam sustentáveis. De uma forma geral, é possível enumerá-las assim:

Capacidade de Estabilidade Ambiental: os fatores ambientais (Ar, Água, Solo, Flora, Fauna e Homem) realizam de forma sistemática trocas de matéria e energia entre si, em expressiva harmonia com as necessidades de cada fator demandante e de acordo com a capacidade dos fatores que fazem as ofertas. É assim que se desenvolvem e evoluem.

O termo Equilíbrio Ecológico ou Ambiental não existe como conceito científico, muito embora seja utilizado até mesmo em textos legais brasileiros, na qualidade de ‘preceitos legais’. O termo correto é Estabilidade Ecológica ou Ambiental.

Capacidade de Retroalimentação Ambiental: tudo o que é gerado ou produzido pelos ecossistemas primitivos de um dado Ambiente é totalmente consumido por seus fatores ambientais constituintes. Não há resíduos de qualquer natureza, não há sobras, não há ‘lixo’ no Ambiente primitivo. Isso demonstra que suas práticas intrínsecas de reciclagem e reuso são espontâneas e completas.

As duas características acima permitem que os componentes dos ecossistemas operem compartilhando processos, ou seja, possuam Capacidade de Coevolução Ambiental.

Capacidade de Autoorganização Ambiental: não existem sistemas de controle externos às relações ambientais mantidas entre os fatores. Esses “controles” são espontâneos e intrínsecos às próprias relações. Desta forma, não há perdas de energia e matéria em processos que não sejam produtivos. Em outras palavras, “não há custos de homem x hora para controlar a produção e a produtividade dos sistemas ecológicos”.

A tendência dos ambientes primitivos estabilizados é a de atingir a níveis de coevolução e autoorganização tais que se podem tornar sistemas de elevada resistência e resiliência, a independer de fluxos de energia e matéria a eles externos. A esta tendência dá-se o nome de Clímax Ecológico ou Ambiental. Há autores que não concordam com a tese da tendência do clímax dos sistemas ecológicos.

Garantidas estas quatro capacidades é possível afirmar que um dado Ambiente possui qualidade ambiental, encontra-se estabilizado e, em consequência, possui sustentabilidade.

Mas, ainda há mais uma capacidade própria dos ecossistemas primitivos. Podem ocorrer em algum momento de suas existências rupturas nas relações ambientais existentes. As trocas de energia e matéria entre seus fatores são alteradas por algum motivo. Então, o sistema ecológico é afetado e pode perder seu funcionamento primitivo. Contudo, o sistema resultante  também passa a buscar a realização das capacidades acima apresentadas para alcançar um novo cenário de sustentabilidade. Este processo, que constitui um renascimento, é chamado por Capacidade de Sucessão Ambiental ou Sucessão de Ecossistemas.

Nos ecossistemas primitivos o Homem constitui um fator componente básico, que é parte ativa do sistema. No entanto, deve ser considerado ou como um componente primitivo ou, sobretudo, como um componente que sabe limitar suas apropriações e demandas sobre os demais fatores, a contribuir para a existência e permanência dos ecossistemas primitivos.

3.2. Ecossistema humano

O Homem constrói seu habitat preferencial. Será aqui denominado ecossistema humano ou sistema humano. Ele se apropria e transforma recursos naturais (fatores ambientais), de acordo com o que considera relevante para ter suas necessidades atendidas, básicas ou não. Ele produz, distribui seus produtos, cria novas atividades econômicas secundárias, gera renda e riqueza. Porém, os sistemas humanos muitas vezes constituem ‘sistemas organizacionais’ e operam de forma distinta dos sistemas ambientais. Seus fatores ambientais básicos são “recursos humanos, informação, tecnologia, recursos naturais e capital”. Segundo esse entendimento, as relações entre seus fatores básicos podem ser explicadas da seguinte forma.

Os sistemas humanos realizam apropriações de recursos naturais e os transformam em produtos ou serviços, tentando buscar a harmonia entre os mercados demandantes e sua capacidade de oferta. É assim que se desenvolvem alguns dos sistemas empresariais. Denominamos este processo por Busca da Estabilidade Organizacional.

Nem tudo o que é produzido pelos sistemas humanos é totalmente consumido pelos mercados a que atendem. Por isso, há sobras, há resíduos de variadas naturezas, há ‘lixo’ no Ambiente empresarial, o qual os sistemas humanos hoje tentam minimizar para reduzir suas despesas. Quase nada é compartilhado, quase tudo visa à competição. Denomina-se este processo por Competição na Evolução Organizacional.

Há inúmeros sistemas de controle que são externos às relações empresariais. Eles são basicamente improdutivos. Desta forma, nos sistemas humanos há perdas de energia e matéria em processos que, afora o controle, nada produzem. Em outras palavras, “há custos de homem x hora para controlar sua produção e produtividade”. Denomina-se este processo por Possibilidade de Organização Organizacional.

A tendência dos sistemas humanos é a de atingir a níveis de evolução e organização tais que se tornem em sistemas de elevada resiliência, adptando-se, quando possível, às variações dos fluxos de insumos, internos e externos (recursos humanos, informação, tecnologia, recursos naturais e capital). Na falta de um título mais técnico, denomina-se esta tendência por Angústia da Vida Organizacional.

Quando estas quatro capacidades conseguem ser aperfeiçoadas pelos sistemas organizacionais, é possível afirmar que um dado sistema humano possui qualidade empresarial, tornando-se um Sistema Humano Organizado, dotado de elevado grau de Desempenho Ambiental, mas nunca de Sustentabilidade.

Todavia, tal como nos sistemas primitivos, os sistemas humanos podem perder as capacidades acima citadas. Dois processos podem acontecer nestes casos: ou interrompem suas operações ou são substituídos por novos sistemas organizacionais. Denomina-se este processo por Dificuldade da Sucessão Organizacional.

Pode-se observar que o conceito da Sustentabilidade está associado a diversos processos que envolvem relações entre fatores ambientais e fatores humanos, entre sistemas primitivos e sistemas humanos.

Todavia, a responsabilidade em garantir e manter a sustentabilidade do Ambiente, em níveis efetivos e aceitáveis, é exclusiva do Homem, dado que ele é o fator que cria os conflitos entre manter estoques e qualidade de recursos naturais ou deles se apropria para a satisfação de suas próprias demandas, inclusive as supérfluas.

Em síntese, conclui-se que todas as atividades de organizações devem possuir desempenho ambiental adequado e compatível, de forma a garantir a sustentabilidade dos ecossistemas em que estejam inseridas, ou seja, manter o Ambiente estabilizado e sustentável sem perder sua capacidade produtiva.

Trata-se de um forte desafio que, de uma forma um tanto abstrata, foi denominado por “desenvolvimento sustentável [1]”, insinuando várias interpretações discutíveis para o adjetivo “sustentável”.

4. A Transformação do Ambiente pelo Homem

Por exemplo, ao reunir um time de especialistas ambientais para iniciar a elaboração de um Estudo de Impacto Ambiental, verifica-se que cada profissional identifica a transformação futura do Ambiente segundo suas premissas de formação acadêmica. Ou seja, os impactos ambientais variam, desde a sua forma de apresentação, até o seu conceito e conteúdo.

Neste item o artigo oferece um modelo teórico-conceitual para que especialistas em várias áreas sejam orientados para “ver da mesma forma os cenários futuros do Ambiente em transformação por atividades humanas”. Vale dizer que esse modelo já foi utilizado em todas as regiões brasileiras, como suporte técnico para milhares de estudos ambientais de variadas naturezas – estudos de impacto, zoneamentos, auditorias, levantamentos de passivo ambiental, etc.

4.1. Entidades da Transformação Ambiental

Os dados do problema são os seguintes: (i) um empreendimento, em projeto, em obras ou mesmo em operação; (ii) a visão preliminar de sua área de influência; e (iii) uma equipe técnica desafiada a descobrir a transformação ambiental dessa área, tanto a já ocorrente, quanto sua provável e inevitável transformação futura.

A base teórica do modelo considera que:

  • Todos os Empreendimentos, sem exceção,
  • Podem ser explicados por intermédio de suas intervenções de engenharia no Ambiente. Um empreendimento é formado por várias unidades construtivas (temporárias) e diversas unidades produtivas (permanentes). São denominadas Intervenções Ambientais;
  • Estas intervenções, para serem construídas, demandam ou induzem manejos no Ambiente. Esses manejos são denominados Alterações Ambientais;
  • Nessa sequência de eventos, as alterações ambientais podem proporcionar mudanças de comportamento e/ou da funcionalidade dos fatores ambientais afetados. Os eventos consequentes dos manejos são denominados Fenômenos Ambientais.

A figura abaixo sintetiza a base teórica da transformação ambiental de um território.

Estrutura conceitual da Transformação Ambiental

Estrutura conceitual da Transformação Ambiental

A estrutura acima diz que qualquer empreendimento é formado por M intervenções ambientais. Uma intervenção poderá gerar ou induzir até N alterações ambientais. E de forma inversa, uma alteração ambiental pode ser consequência de até M intervenções. Por fim, uma alteração ambiental, por sempre afetar a dinâmica do Ambiente, pode modificar o comportamento e/ou a funcionalidade de fatores ambientais, dando origem à manifestação de até P fenômenos ambientais. E a recíproca é verdadeira, ou seja, um fenômeno pode ser derivado de até N alterações distintas.

Analisando a figura acima observa-se que todos os eventos ambientais possuem impactos associados grafados por I e i. Os fenômenos possuem impactos positivos ou negativos, ou seja, benéficos ou adversos. Dada a capacidade da transitividade dos impactos, os eventos superiores também possuem impactos ambientais, que recebem dos fenômenos que geram. Todavia, dado que uma alteração pode gerar fenômenos adversos e benéficos, seus impactos são o somatório das adversidades A e o somatório dos benéficos B. Ou seja, alterações, intervenções e empreendimentos terão impactos negativos e positivos [A; B].

Chama-se a atenção para um fato que é evidente. O Ambiente percebe e sofre tanto os impactos negativos A, quanto os positivos B. Mas nunca sofre a resultante contábil dos mesmos, A + B. Tal procedimento deforma completamente a análise e a avaliação ambiental, tornando inválido qualquer estudo que o aplique.

Na prática da análise da transformação ambiental tem-se duas ferramentas básicas para realiza-la: a Árvore da Transformação Ambiental (ATA) e a Matriz de Impactos Ambientais (MIA), ambas referidas a um empreendimento.

A ATA possui a conveniência da equipe de analistas ver o cenário da transformação prevista em uma única imagem. Contudo, para empreendimentos mais impactantes, com muitos eventos, demanda muito espaço para ser construída.

A figura a seguir apresenta o diagrama genérico de uma ATA.

Diagrama da Árvore da Transformação Ambiental – ATA

Diagrama da Árvore da Transformação Ambiental – ATA

Neste exemplo específico o empreendimento é composto por quatro Intervenções Ambientais (INA), das quais decorrem seis Alterações Ambientais (ALA) que, por sua vez, promovem a manifestação de dez Fenômenos Ambientais (FEN). Observe que todas as relações de causa e efeito entre os eventos encontram-se explicitadas. Um texto específico deverá justificar a sequência desta árvore.

A ferramenta alternativa à árvore é estruturada de forma matricial, através de uma Matriz de Impactos Ambientais. Segue abaixo o exemplo de uma matriz de impactos para um Parque Eólico já em operação.

Como nesse exemplo hipotético a avaliação de impactos ambientais já foi realizada, os eventos adversos estão grafados em vermelho; os benéficos, em azul; por fim, os não significativos, grafados em branco.

Matriz de Impactos Ambientais – Parque Eólico
Intervenções Alterações Fenômenos
Intervenções produtivas
Aerogeradores e unidade de controle do parque
Uso e ocupação do solo
Variação da pressão sobre o sistema viário
Variação da oferta de emprego
Variação da renda familiar
Variação da arrecadação tributária
Variação dos níveis de ruídos e vibrações
Variação da acessibilidade interlocal
Oferta de energia elétrica
Variação da disponibilidade estadual de energia elétrica
Variação do desenvolvimento industrial
Variação do desenvolvimento de comércio e serviços
Variação da arrecadação tributária
Variação da oferta de emprego
Variação da renda familiar
Variação do suporte a serviços sociais básicos
Variação da qualidade de vida no Estado
Variação da pressão sobre o sistema viário
Variação dos níveis de ruídos e vibrações
Variação dos riscos de acidentes viários
Rodovia de acesso ao parque e rodovias vicinais
Oferta de equipamentos viários
Variação da pressão sobre o sistema viário
Variação dos níveis de ruídos e vibrações
Variação da acessibilidade interlocal

Observando a nomenclatura utilizada para a denominação dos eventos que se manifestam na área de influência considerada, verifica-se que as intervenções representam obras de engenharia, as alterações são ações de manejo e os fenômenos são processos variáveis do Ambiente.

4.2. Conteúdo do Cenário da Transformação Ambiental – CTA

A estrutura de apresentação do cenário da transformação ambiental é a própria matriz de impactos ambientais acima. Todavia, nela somente estão disponibilizados os títulos dos eventos. O conteúdo do cenário deve apresentar a caracterização de cada um dos eventos, quais sejam.

  • Caracterização do Empreendimento.
  • Caracterização das Intervenções Ambientais.
  • Caracterização das Alterações Ambientais.
  • Caracterização dos Fenômenos Ambientais.

Em linhas gerais, essas caracterizações devem apresentar o nome do evento, sua localização, sua descrição, suas áreas de ocorrência e manifestações, os eventos causadores, os eventos resultantes e, quando possível, documentação fotográfica.

O CTA deve ser monitorado e atualizado periodicamente, em todas as etapas do ciclo de vida de uma organização, visando a proporcionar a seus executivos a qualidade de seu desempenho ambiental e o nível de sustentabilidade que a organização consegue proporcionar à sua área de influência.

5. Ferramentas para a Gestão do Ambiente

Existem diversos métodos, técnicas e metodologias que podem ser adaptados para a Gestão do Ambiente (Gestão Ambiental + Gestão da Sustentabilidade). No entanto, há três ferramentas específicas para essa finalidade, sobre as quais estão apresentadas a seguir suas características básicas, vantagens e desvantagens.

5.1. ISO 14.001: Sistema de Gestão Ambiental – SGA

A ISO – International Organization for Standardization foi fundada em 1947, com sede em Genebra, na Suíça. Produz e aprova normas internacionais para padronização de processos em várias áreas produtivas.

A área ambiental foi contemplada através da série normativa ISO 14.000. Nesta série, composta por cerca de 29 normas com temas ambientais complementares, destaca-se a norma ISO 14.001, lançada no Brasil em 1996, que visa a beneficiar a gestão ambiental de empresas e instituições.

Embora a 14.001 seja utilizada para certificar organizações em Sistemas de Gestão Ambiental, muitos especialistas da área da gestão consideram-na impositiva em sua burocracia. Ou seja, pouco capaz de se adaptar à cultura de cada organização, a qual varia em função de seus proprietários, dos países em que se localizam, dos mercados a que atendem e até mesmo das equipes técnicas que possuem.

No entanto, para as organizações que atuam no mercado internacional, recomenda-se a implantação e certificação do Sistema de Gestão Ambiental – ISO 14.001.

Em suma, normas internacionais para padronização de processos e procedimentos, que pretendam atender às necessidades de qualquer organização existente, correm o risco de “engessar” processos de empresas produtivas em troca de certificações.

Ao importar modelos de gestão ingleses, norte-americanos ou internacionais corre-se o risco de esquecer a cultura organizacional existente no próprio país. Sem dúvida, é importante adaptá-los e há profissionais brasileiros capacitados para isso.

5.2. Plano Corporativo Ambiental – PCA

O PCA difere bastante dos Sistemas de Gestão Ambiental, posto que não é “amarrado em práticas internacionais”. Ao contrário, veste localmente o corpo da organização produtiva como um agasalho de previsão da produção. Visa a, além do lucro e da rentabilidade da organização, manter a sustentabilidade do Ambiente que transforma, melhorando seu desempenho ambiental.

Para compreender o processo de planificação (ou planejamento), os conceitos de estratégia, tática e operação precisam ser esclarecidos, visando à devida classificação dos elementos de planos de qualquer natureza. Neste caso, Planos Corporativos Ambientais.

A origem desses três conceitos encontra-se nas práticas militares. Posteriormente, foram migradas para organizações produtivas. O texto que se segue busca explicar, ainda que de forma introdutória, a sucessão dos usos e práticas dos processos de planificação, a saber:

Planos militares → Planos empresariais → Planos ambientais.

Para realizar o processo de um plano empresarial é necessário que existam quatro elementos essenciais a estabelecer relações entre si. O primeiro é uma organização produtiva. Ela é o ponto de foco dos planos empresariais. O segundo elemento é o fato de que ela precisa produzir pelo menos um produto. O terceiro, é a existência de um mercado que demande e receba este produto. O quarto e último são os clientes que compõem este mercado e que consomem este produto. Com esses elementos é possível garantir que é realizar processos de planificação é essencial.

Planejam-se as relações desejadas entre estes quatro elementos. Planeja-se para que a organização produtiva possua condições favoráveis de estabelecer relações desejáveis e satisfatórias com todos os demais elementos: produto/serviço bem feito, mercado atendido, clientes felizes. Resultado: sucesso da organização.

No processo do Plano Corporativo Ambiental têm-se os mesmos elementos:

  • A organização produtiva, que é conformada pelo Empreendimento e pelas relações ambientais que mantém com o Ambiente de sua área de influência. São relações mútuas e bidirecionais mantidas entre duas entidades que tentam se integrar (em tese, a organização que deseja se integrar ao Ambiente).
  • Os produtos, que surgem das relações ambientais, chamador por produtos ambientais. São os impactos decorrentes das relações “Organização versus Ambiente”. Conforme foi visto, podem ser adversos e benéficos.
  • O mercado, que é o próprio Ambiente, através de seus espaços físico, biótico e antropogênico, bem como a organização que se deseja planificar, que em algumas oportunidades “adquire” retroimpactos do Ambiente.
  • Os clientes, que são os próprios fatores ambientais que “consomem” estes impactos, quais sejam: o ar, a água, o solo, a flora, a fauna e o homem.

Dada a existência desses elementos e suas relações sistêmicas, entende-se que, mantidas as expectativas das Ciências do Ambiente, Planos Corporativos Ambientais podem e devem ser desenvolvidos para quaisquer organizações produtivas.

5.2.1. Estrutura de desenvolvimento e execução do PCA

Todos os gêneros de planos aqui citados (Militar, Empresarial e Ambiental) podem ter até três níveis de visão e alcance:

  • O plano de nível estratégico, com alvos ou objetivos globais de longo prazo;
  • O plano de nível tático, com alvos ou objetivos de médio prazo; e
  • O plano de nível operacional, com alvos ou metas de curto prazo.

O detalhamento dos níveis do PCA deve responder aos atributos estrutura, formato, conteúdo e processos:

  • A estrutura é dada pelos elementos que constituem cada nível, desenhando a estrutura física do plano;
  • O formato refere-se à redação dos elementos constituintes de cada nível, permitindo aos usuários a identificação do nível a que pertence cada elemento e sua imediata classificação – estratégico, tático ou operacional;
  • O conteúdo desses elementos, contendo a essência, a finalidade e o alcance de cada elemento;
  • Os processos de implantação e gestão dos níveis e respectivos elementos, dando vida própria e animação ao plano.

A figura a seguir mostra um diagrama dos elementos estratégicos (E), táticos (T) e operacionais (O) de um PCA, mostrando como se relacionam. Estão organizados em Alvos (Objetivos e Metas) e Medidas (Programas, Projetos e Ações).

Estrutura para elaboração e execução do PCA

Estrutura para elaboração e execução do PCA

O estabelecimento e formulação dos alvos do PCA seguem a seguinte sequência:

  • Formulação da Visão Ambiental da organização;
  • Formulação da Missão Ambiental, orientando seus Objetivos Estratégicos;
  • Estabelecimento dos Objetivos Estratégicos, demandando Objetivos Táticos;
  • Estabelecimento dos Objetivos Táticos, demandando Metas Ambientais; e
  • Estabelecimento das Metas Ambientais, demandando Projetos e Ações.

E quando o plano é implantado, sua execução acontece na ordem inversa, ou seja:

  • Ações e Projetos são implantados e executados visando a atingir as Metas Ambientais estabelecidas e concluir os Programas Ambientais que lhes deram origem;
  • Programas Ambientais são geridos para atingir Objetivos Táticos, alcançando os Objetivos Estratégicos que lhes deram origem;
  • Objetivos Estratégicos são alcançados visando a consolidar a Missão Ambiental estabelecida.
  • A manutenção da Missão alcançada poderá realizar a Visão Ambiental esperada. Isto porque o alcance da Visão Ambiental de uma organização também depende do desempenho das demais organizações do mesmo setor e de seus fornecedores.

5.3. Auditoria Ambiental

A auditoria ambiental é a terceira ferramenta recomendada para que organizações em geral garantam a qualidade de seus processos destinados à Gestão do Ambiente, ou seja, Gestão Ambiental de seus próprios processos e Gestão da Sustentabilidade do Ambiente que impactam.

O processo de auditar nada mais é do que investigar tarefas em andamento e realizar comparações entre as práticas ambientais realizadas por uma organização com pelo menos os padrões ambientais para organizações do mesmo setor. Mas, sobretudo, sugerir soluções para quadros definidos como “não-conformidades”.

Por esse motivo, os auditores, quer sejam internos ou externos, às vezes não são muito apreciados por funcionários das organizações auditadas. Afinal, são contratados para identificar desvios, erros e relatar fatos e tendências gerenciais que podem ser indesejáveis para a alta administração de organizações produtivas.

Nesse item seguem orientações introdutórias para Auditoria de Planos Corporativos Ambientais – APCA. No entanto, sua sistemática pode ser aplicada a outros sistemas de gestão ou a qualquer conjunto de processos e procedimentos que a organização utilize para atender à qualidade das relações que mantém com o Ambiente.

A figura a seguir oferece o quadro lógico do processo de APCA.

Quadro lógico da APCA

Quadro lógico da APCA

A organização produtiva que contrata uma auditoria define quais são as suas unidades e/ou funções que deseja que recebam auditoria, isto é, define o Escopo da Auditoria.

As auditorias são realizadas com base em (i) leis, (ii) normas, (iii) contratos subscritos, (iv) melhores práticas reconhecidas pelo mercado ou (v) nos elementos do instrumento de gestão utilizado pela organização.

Por outro lado, a empresa auditora precisa aceitar que o conjunto dos elementos constante do Plano Corporativo Ambiental representa a capacidade da organização em Gestão Ambiental e da Sustentabilidade (GAS) e constituirá o Critério da Auditoria, ou seja, o conjunto de padrões ambientais de referência contra os quais a auditoria será realizada.

Quando esses elementos não existem, a capacidade de gestão da organização torna-se mais vulnerável. Nessas situações a legislação em vigor no país passa a ser o Critério (obrigatório) da Auditoria.

Deve-se salientar que a organização que já possua ferramenta específica para GAS e realiza auditorias de forma sistemática é diferenciada em seu desempenho quando comparada às suas concorrentes.

5.3.1. Fases da APCA

Todas as auditorias constituem uma relação bastante profissional entre a organização a ser auditada e uma empresa auditora. O sigilo absoluto das informações coletadas é fator de extrema relevância entre as duas partes e seus funcionários, ou seja, empresas, auditores e entrevistados.

As auditorias precisam evoluir em processos suaves e transparentes, sobretudo por parte dos auditores. Sendo assim, organizam-se em três fases: pré-auditoria, auditoria e pós-auditoria.

A figura a seguir auxilia na visão do conteúdo essencial dessas três fases de uma auditoria, tendo como critério um Plano Corporativo Ambiental.

Fases do processo da auditoria de PCA

Fases do processo da auditoria de PCA

# Fase A: Pré-auditoria

Após uma empresa especializada ser convidada para realizar uma auditoria, a primeira tarefa dos auditores, antes mesmo de aceita-la, é solicitar informações acerca da organização. Garantido o completo sigilo, essas informações são obtidas por meio de contato pessoal, realizado somente pelo auditor líder.

Para consolidar o Plano da Auditoria, as informações de interesse são as seguintes:

  • A planta do layout geral da organização, localizando suas unidades produtivas;
  • Documentos relativos ao seu fluxo de processos pré-produtivo e produtivo;
  • Documentos relativos a seus Sistemas de Melhoria do Desempenho Ambiental;
  • O organograma da organização, com destaque para a função de GAS;
  • Uma cópia de seu manual de gestão ou documento similar;
  • Documentos relativos a auditorias anteriores que haja realizado;
  • Documentos de contratos, normas adotadas e convenções que haja subscrito;
  • Eventuais documentos fotográficos e de vídeo disponíveis; e
  • Outros documentos específicos da atividade da organização a ser auditada.

# Fase B: Auditoria

Inicia-se então a segunda parte dos trabalhos, que constitui a auditoria propriamente dita. A empresa auditora elabora a programação da reunião de abertura e marca a data para o evento. Para tanto, solicita à organização algumas informações sobre o evento de abertura, a saber:

  • Nome completo do funcionário que será responsável pela gerencia das atividades da auditoria na organização, cargo ocupado, telefone fixo, celular e e-mail;
  • Lista dos participantes da reunião, com nome completo e cargo ocupado;
  • Local de realização da reunião de abertura da auditoria, com equipamentos disponíveis de informática, de áudio e de vídeo.

Após a reunião de abertura têm início as atividades de campo. Findo os trabalhos de campo, com relatórios diários de cada auditor, o auditor líder consolida o relatório final da auditoria.

A tarefa seguinte aos trabalhos de campo é a reunião de encerramento da auditoria realizada, com a apresentação das evidências, não conformidades, exceções e observações efetuadas. A última tarefa desta etapa é a elaboração do relatório final dos trabalhos, a cargo do auditor líder, assessorado por sua equipe.

# Fase C: Pós-auditoria

Com base no relatório final da auditoria, a organização auditada elabora um plano de ações corretivas e preventivas. Normalmente, este plano é submetido à empresa auditora a fim de obter sua opinião sobre a efetividade do plano elaborado.

Por fim, é comum e benéfico que a organização faça um contrato de supervisão dos resultados do Plano de Ação, de sorte a obter mais um crédito externo de que suas ações foram devidamente implantadas e de que os resultados esperados foram ou estão sendo alcançados.

5.3.2. Atividades da Fase B: Auditoria

A fase da Auditoria Ambiental propriamente dita possui restrições operacionais que são básicas e estão adiante descritas. Mas antes deve ser analisada a figura abaixo, que apresenta a sequência de suas atividades.

À exceção da primeira, todas as demais atividades são realizadas em campo. Ou seja, com o time de auditores hospedados em hotel próximo à empresa a ser auditada, no chamado “hotel de campo” (gíria de antigos auditores). Embora a reunião de abertura da auditoria normalmente seja feita na empresa auditada, é desejável que a reunião de fechamento seja realizada neste hotel. Durante a realização da auditoria nenhum auditor retorna à residência.

A equipe precisa ser reduzida, contando com 5 (cinco) auditores no máximo, como no caso de plantas industriais de maiores dimensões.

A alocação de cada um em trabalhos de auditagem, cruzamento de informações com a equipe e produção de relatórios, é de 16 horas diárias, independentemente da duração da auditoria. Por isso, diversos auditores líderes afirmam que, para terem qualidade, as auditorias ambientais devem ser realizadas em, no máximo, dez dias de campo.

Etapas da Fase B: Auditoria de PCA

Etapas da Fase B: Auditoria de PCA

5.4. Entrevistas para auditoria de PCA

A maior parte do tempo despendido pela equipe em suas atividades é dedicada a entrevistas programadas com funcionários da organização – Levantamento de evidências e não-conformidades. As competências necessárias para realizar uma boa entrevista não constituem dotes inatos e podem ser desenvolvidas através de treinamento e prática.

Considerando os locais, a duração, as finalidades e o nível de formalidade requerido, é razoável afirmar que as entrevistas de auditoria devem seguir um padrão lógico comum. A figura a seguir apresenta este padrão.

Proposta de padrão para o processo de entrevista

Proposta de padrão para o processo de entrevista

Muito embora as entrevistas possuam características específicas para cada par “entrevistador e entrevistado”, há alguns elementos que não podem faltar nas entrevistas destinadas a auditorias de PCA. O padrão básico é útil para estabelecer um quadro de abordagem em entrevistas capaz de beneficiar os resultados desejados.

Antes de realizar as entrevistas é oportuno obter algumas informações acerca do perfil dos funcionários que serão entrevistados, bem como uma visão geral do que o auditor precisa cumprir em cada entrevista.

Há três elementos que são essenciais em qualquer entrevista de auditoria: (i) a lógica da entrevista, (ii) a predefinição das informações e documentos desejados, e (iii) a organização e o foco do pensamento do auditor.

Estabelecer a lógica de uma entrevista é relativamente simples. O que é básico envolve as questões que se seguem:

  • Quem será entrevistado;
  • Qual cargo ocupa na organização auditada;
  • Quais são a autoridade e as responsabilidades do cargo ocupado;
  • A quem o entrevistado se reporta hierarquicamente.

É fundamental que entrevistador e entrevistado sintam-se confortáveis durante a realização da entrevista. A sala onde se realizará a entrevista deve ser sossegada, preferencialmente sem interrupções, e a entrevista precisa ser objetiva e, tanto quanto possível, rápida.

As respostas desejadas pelo auditor devem ser planejadas. Nenhum profissional deve seguir para uma entrevista sem antes haver listado as informações e documentos que deverá obter do entrevistado.

É interessante elaborar uma linha mestra de cada entrevista, contendo os temas de interesse e a sequência preliminar das questões a serem formuladas. Não se trata propriamente de elaborar um questionário, mas apenas desenhar a orientação da entrevista, visando à memorização do auditor.

Em muitas entrevistas, no entanto, é comum que novas questões sejam formuladas em função das respostas obtidas. Tal como em um trabalho de detetive, o auditor precisa estar atento às respostas que recebe, efetuando anotações sempre que necessário, e a verificar eventuais necessidades de questões complementares antes não previstas.

Em suma, ao encerrar a entrevista o auditor poderá verificar se realmente obteve o que pretendia e se novas informações relevantes foram fornecidas pelo entrevistado.

Há casos isolados de entrevistas com maior duração. Todavia, normalmente não devem ser longas para que possam ser eficientes. De fato, uma série de entrevistas relativamente curtas com maior número de funcionários da organização tem-se mostrado mais eficiente do que poucas entrevistas mais longas.

……….

[1] A expressão “desenvolvimento sustentável”, foi criada em 1987, no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento, sob a presidência da então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland.

A definição de “Desenvolvimento Sustentável” ficou com a seguinte redação:

“O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra, preservando as espécies e os habitats naturais”.

Pessoalmente, considero-a um tanto filosófica e utópica, sobretudo pela tentativa de fazer uma “interseção geométrica” entre os Espaços Antropogênico, Biótico e Físico, que estão todos contidos e integrados no “Grande Envelope do Ambiente”.