Além de selvagem, predador


Ricardo Kohn, Escritor.

A fauna ocorrente nos ecossistemas naturais possui necessidades alimentares, as quais, uma vez satisfeitas, promovem sua sobrevivência, ainda que nem sempre a garantam. Afinal, imprevistos acontecem… Segundo pesquisadores, todas as espécies faunísticas pertencem a pelo menos uma cadeia alimentar, que inclui nutrientes específicos, além de outros espécimes da própria fauna – caso da fauna carnívora. A academia deu título a este tipo de cardápio: chama-se “cadeia trófica”.

Aqueles que trabalham para a conservação da fauna silvestre, dadas as espécies distintas que ocorrem nos sistemas ecológicos, precisam identificar qual a mais provável cadeia trófica existe em cada um. Caso contrário – com o passar do tempo –, poucas espécies faunísticas poderão ser conservadas. Afinal, há espécies carnívoras, omnívoras e herbívoras em busca de alimentos, ativas em variados habitats.

Nesta longa jornada, após inúmeros trabalhos de campo, o que realmente importava aos estudiosos era inferir “quem come quem” ou “o quê”; nada mais. Desse modo, conseguiram apurar as sequências de espécies silvestres que formam cadeias tróficas[1], ordenadas com base em seus hábitos de alimentação.

Diante disso, abre-se a questão:

─ Por qual motivo as espécies faunísticas que se encontram no topo da cadeia trófica são tratadas em livros e documentários como “animais selvagens e predadores”?

Afinal, estes membros da fauna ou visam à própria alimentação ou a proteger seu espaço domiciliar. Portanto, é normal que não ataquem pelo simples desejo de matar. Ao contrário, aproximem-se com uma espécie de “amizade imprevista” pelos sapiens. Veja a foto ao lado, onde um gorila afaga e protege um filhote de felino. Assim, deduz-se que há causas elementares que sempre motivam a fauna silvestre: alimentação imediata e, na perspectiva futura, sobrevivência de cada espécie. Todavia, sem perder sua característica protetiva de outra espécies faunísticas.

Por volta de 200 mil anos atrás, surgiu no sul da África uma nova espécie de primata. Sabe-se que, assim como outros carnívoros silvestres, formavam grupos nômades que se dedicavam à caça e abate de outros animais; tudo indica que eram temerários quando atendiam às próprias necessidades. Provavelmente, eram primatas bípedes, viviam no solo das matas, não se locomoviam pelos cipós de árvores, e reproduziam-se com extrema facilidade.

Coube ao botânico e zoólogo sueco, Carl Nilsson Linnaeus, propor uma classificação das espécies de plantas e de animais, segundo a visão científica do século 18. Após intenso trabalho de observação e pesquisa de campo, em 1735 concluiu a origem da taxonomia moderna, que consta de sua obra “Systema Naturae”.

Desse modo, baseados na lógica de Linnaeus, biólogos e antropólogos realizaram a classificação do novo primata africano, qual seja: Reino [Animalia]; Filo [Chordata]; Classe [Mammalia]; Ordem [Primatas]; Família [Hominidae]; Gênero [Homo]; Espécie [Homo sapiens]. Infere-se que, por meio desta estrutura de classes, o ser humano é animal, mamífero e primata. Portanto, concluíram que durante milhares de anos, este hominídeo foi mais um primata ativo da fauna silvestre, com taxonomia bastante similar à dos chimpanzés[2].

Estimam que o sapiens iniciou sua migração para fora continente africano por volta de 90 mil anos atrás. Antes de fixar-se no campo, ocorrida há cerca de 12 mil anos, o número total de indivíduos desta espécie permaneceu inferior a 1 milhão de primatas. Porém, com a subsistência quase garantida pelas práticas agrícolas que descobrira, o sapiens optou por fixar-se no campo. Para isso, arquitetou casebres e vilas com vistas a plantar sementes ao derredor de suas moradas. Então, há cerca de 10 mil anos, a população mundial de sapiens arcaicos, a aproveitar os bens gratuitos que a natureza lhes concedia, alcançou algo em torno de 5 milhões de primatas sapiens[3].

Contudo, estes sapiens arcaicos não previram as consequências de sua fixação no campo, da exuberância imprevista de suas primeiras plantações, assim como do início da troca de produtos agrícolas entre tribos semelhantes. O escambo foi o processo espontâneo que se sucedeu. Consistia na troca de produtos entre sapiens, habitantes de vilas próximas. Talvez haja sido o gênero ancestral do atual “comércio toma lá, dá cá”.

Provavelmente, as trocas eram realizadas através de conversas simples, que aconteciam mais ou menos assim: “– Dou-lhe algumas sementes e, em troca, peço-lhe um punhado de trigo” – decerto, o idioma era outro, pleno de grunhidos monossilábicos.

Por volta de 10 mil anos atrás, produtos agrícolas não possuíam valor ($$$), pois a terra e os insumos eram gratuitos. No entanto, sua produção exigia trabalho duro no campo: plantio, trato, colheita de talos e gramíneas destinados a alimentar os sapiens da própria aldeia; quando havia excedente, realizavam escambos com outras vilas de sapiens agrícolas. Infere-se que a transição realizada por grupos nômades, que se tornaram agricultores da subsistência, foi árdua, mas não definitiva. Muitos deles continuaram nômades-coletores, embora não apenas com a caça que abatiam.

Foi neste cenário que os dois grupos de sapiens tentaram conviver. Por óbvio, sem os cooperativos resultados de humanidade; ao contrário, viveram a criar raivosos conflitos pelos continentes. Até por que, aqueles que permaneceram coletores primitivos tornaram-se sapiens vagabundos e, para sobreviver, formaram súcias de primatas a saquear/destruir vilas e plantações dos sapiens trabalhadores.

Em suma, naqueles tempos tortuosos, acredita-se que “ao trabalhador coube o poder de manter viva a espécie; ao vagabundo, apenas fomentar conflitos”. O que fortalece esta hipótese foram as lutas inclementes nos 10 mil anos que se seguiram: batalhas e guerras permanentes, onde tribos antagônicas de sapiens trabalhadores e vagabundos – apostavam que venceriam. Porém, ambas foram derrotadas.

Por fim, admita-se que o sapiens moderno exista na Terra há pelo menos de 4 mil anos. A maioria de seus indivíduos acredita-se dotada da única inteligência primordial do universo. Capacitada para dominar, explorar e devastar qualquer ecossistema terráqueo. Bastaria que se sentisse prejudicada na construção da sua inóspita antroposfera. Sim, os espaços onde os ecossistemas primitivos reduziram-se a quase nada; foram vandalizados, substituídos por toneladas de cimento, ferragens e o asfalto. Vilas simples estabilizadas, tornaram-se cidades, metrópoles e megalópoles, império de assassinos, habitat preferencial das corjas de inomináveis ladrões. Em suma, somente os sapiens são selvagens, únicos predadores absolutos da Terra.

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[1] As cadeias tróficas são dinâmicas, alteram-se por diferentes fatos, mas sobretudo pela variação das populações faunísticas, assim como, em paralelo, pela evolução espontânea das espécies que restarem.
[2] Taxonomia do Chimpanzé: Reino [Animalia]; Filo [Chordata]; Classe [Mammalia]; Ordem [Primatas]; Família [Hominidae]; Gênero [Pan]; Espécie [Pan troglodytes].
[3] Sugere-se a leitura do artigo “O impressionante crescimento da população humana através da história”, de autoria de José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE.

Abutre, o carniceiro


Ricardo Kohn, Escritor.

Há pelo menos 20 espécies de abutre distribuídas pelo mundo. Todas alimentam-se de carniça [cadáveres de animais em decomposição]. Afora alguns ornitólogos que os estudam, as pessoas em geral sentem arrepios diante desse comportamento. Que eu saiba, os sapiens sequer pensam em ingerir carne putrefata. Falo com a consciência dos omnívoros, pois não deixo de saborear as suaves saladas tropicais, acompanhadas de filé mignon ou picanha ‘ao sal grosso’. “Maître, por favor… ao ponto”.

Todavia, há veganos que nos acusam de “abutres-humanos”. Acho exagerado, pois não somos necrófagos, a não ser na cabeça frágil dos que se alimentam de frutos, flores, gramas e raízes. Sequer admitem saborear ovos e queijos; leite? Nem pensar, tem origem animal. Devo estar errado, mas me parece faltarem as vitaminas essenciais no cérebro de veganos radicais. Isto posto, sigo com os abutres.

Grandes abutres

A África é o continente que abriga a maior quantidade de exemplares desta espécie necrófaga. Explica-se pela quantidade de animais silvestres que sofre a ação de predadores, sobretudo em ambientes descampados e até desérticos. Daí resultam inúmeras carcaças à disposição, o cardápio preferido dos abutres.

Abutre-Real

Grupo de Abutres-Reais, no Senegal

O Abutre-do-Egito é conhecido pelo pseudônimo “galinha-do-faraó”. Mas, cá entre nós, chamar abutre de galinha é desonroso, uma humilhação para os faraós. Também ocorrem no continente africano o grande Abutre-do-Cabo (África do Sul) e o Abutre-Real, este a possuir a maior envergadura dentre todos os necrófagos conhecidos: chega a mais de 2,80 m, com altura por volta de 1,3 metros, a pesar cerca de 12 quilos. São os carniceiros dominantes, que demonstram realeza com o poder destruidor de suas garras e bicos.

Abutre da Guiné

Abutre-da-Guiné

Na costa ocidental da África vive o Abutre-da-Guiné. É colorido, quase elegante, mas somente se alimenta de carniça. Por sua vez, na África central, tem-se o Abutre-de-Rüpell . É encontrado nos territórios da Etiópia, Sudão, Tanzânia e Guiné. Trata-se de uma ave poderosa, com altura de 1,1 m e envergadura de 2,60 metros. Porém, a principal ferramenta de sua necrofagia é a visão aguçada. Na procura de alimento, o Rüpell voa em círculos, a atingir altitude de até 8.000 m. Observa as carcaças deixadas nas planícies do semiárido africano e vai busca-las como se fosse abutre dominante. No entanto, caso se depare com o Abutre-Real, fica quieto e aguarda silencioso na fila.

Abutre-de-Rupell

Abutre-de-Rüpell, o necrófago das alturas

Outra ave de origem africana é o Abutre-Barbudo. Possui bom porte (1,1 m de altura, 2,70 m de envergadura, mas tem pouco peso). Como um fanático especializado, dedica-se a comer a espinha dorsal das carcaças, triturando seus ossos com o bico, como se fora uma torquês hidráulica. Talvez por isso haja ingerido as proteínas necessárias para voar por grandes distâncias e instalar seu habitat na Europa e na Ásia.

De acordo com a bibliografia que pesquisei, nas Américas não há abutres como os aqui referidos. Existe o gigantesco Condor que voa pelos céus andinos e californianos. Dizem que, quando se encontra em esfomeado, também deglute carniças. Todavia, no mais das vezes, alimenta-se de animais vivos que abate – pequenos roedores, raposas, coiotes e veados, entre outros.

Abutre-barbudo

Abutre-Barbudo, a mostrar seu bico poderoso

Saliento que em territórios sul-americanos encontram-se inumeráveis bandos de urubus-vagabundos. São animais negligentes, pois preferem comer lixo a cadáveres de rato. Creio se tratar de uma adaptação estomacal à oferta de alimentos. A tonelagem do lixo sul-americano é imensa, descartada impunemente em inúmeros rincões daquele continente.

Novos-Abutres

Embora pareça nome de banda funk, os Novos-Abutres foram identificados no Brasil, Argentina, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. Sua caracterização taxonômica ainda se encontra incompleta, mas é possível falar sobre alguns aspectos da sua ecologia.

Os Novos-Abutres são uma espécie que vive em habitats urbanos, nidificando em imensos apartamentos de cobertura e enormes mansões, sempre em cidades sob o comando de abutres similares. Mas também aceitam nidificar nas capitais federais, desde que ocupem cargos com elevado poder de decisão política e monetária.

Não têm asas para voar, mas adquirem jatinhos particulares. Diariamente podem percorrer milhares de quilômetros, em busca de alimento. Os locais escolhidos dependem da disponibilidade de presas (pessoa física ou jurídica), mas preferem alimentar-se em sofisticados restaurantes, com áreas reservadas para “comerem suas presas”. Sempre trazem seus seguranças armados, provindo da Escola Cubana de Abutres-Jumento. Ao convencerem as presas, de forma rápida e definitiva, asseguram o fluxo monetário de seu ecossistema familiar.

De fato, os Novos-Abutres se alimentam de poderosas contas bancárias, tendo como principais presas o Estado e empresários mais ricos. Nas últimas décadas, devido a ações da polícia, alguns deles passaram de uma alimentação frugal, baseada em pratos sofisticados, para uma ração precária. Até por que, os que permanecem capturados, hoje se alimentam em ínfimas jaulas de presídio.

Microesculturas da Natureza


Ricardo Kohn, Aprendiz de Filósofo.

O fotógrafo londrino, Levon Biss, dedicava-se a produzir campanhas publicitárias de notórios ícones de sua geração. Após 18 anos dedicados a este gênero de fotos, sentiu a repetitividade das tarefas. Percebeu que suas fotos não mais lhe traziam prazer profissional; tinham a função de serem descartáveis. Até que um dia Sebastian, seu filho, lhe entregou um pequeno besouro que achara no jardim. Após examiná-lo em um microscópio, Levon fez diversos registros e verificou que, com lentes e iluminação adequadas, era possível ver detalhes de um inseto de 5 mm. Assim, teve início o “Projeto Microesculturas”.

Fez fotos de outros insetos e contatou a “Oxford University Museum of Natural History”, onde há uma bela coleção de espécimes da entomofauna mundial. O museu, ao ver a qualidade do trabalho fotográfico, permitiu que Levon registrasse 37 dos seus insetos. Após quase três anos de trabalho, estavam prontos e impressos a fotos dos pequenos animais. Todavia, em placas indoors de 2 a 3 metros de altura.

Scarab

Escaravelho – Amazoniam Purple Warrior

Este material já foi exposto em diversos países – Suíça, Dinamarca, Alemanha, Canadá, Itália, União dos Estados Árabes e Inglaterra, entre outros. O sucesso tem sido notável, em especial para os mais jovens, curiosos pela natureza primordial.

Para ter ideia do que foi necessário fazer, explorem o site de Levon: Microsculpture – The Insect Portraits of Levon Biss. Ele é dinâmico, as imagens dos 37 insetos se alternam na primeira página. Sugiro que iniciem pela palestra que Levon fez no TED Talk, Canadá. Depois, vislumbrem cada inseto da coleção, com o nível de zoom que desejarem. Por fim, assistam ao vídeo que consta na primeira página do site. Mostra o processo de produção dos espetaculares indoors.

Orchid Cuckoo BeeAbelha – Orchid Cuckoo

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A antroposfera devora o ambiente


Ricardo Kohn[1], Aprendiz de Filósofo.

A fauna silvestre adapta-se ao ambiente e nele evolui há bilhões de anos, sem altera-lo. Há, como esperado, uma relação de cooperação factual entre ambos. Dessa forma, o ambiente é um dado do problema para a existência de todas as espécies silvestres da fauna. Seus habitats são feitos sem consumo de bens primordiais[2], livres de impactos adversos sobre a physis[3]. Enfim, a fauna silvestre mimetiza-se com o ambiente, imita-o para conserva-lo, a permitir que o ciclo de suas espécies prossiga no curso espontâneo da existência.

O sapiens moderno, no entanto, faz justamente o contrário. Devasta o ambiente, impacta sua physis, para depois ocupa-lo. Por meio de máquinas baseadas em tecnologia ditas de ponta, deforma-o para a satisfação de suas necessidades exóticas. Tudo isso para possuir a bela vista que descortina ao longe no horizonte, a valorizar a residência na qual passa suas férias. Nesse ímpeto arbitrário, quase despótico, o sapiens dominante acredita que sua antroposfera[4] é dona absoluta da physis do planeta e, assim, pode dispor de seus bens primordiais da forma que desejar. Afinal, na visão dominante, tratam-se de simples matérias-primas.

Antroposfera devoradora

A prova cabal que a antroposfera devora o ambiente, célere e sistematicamente!

Não detalho os contrastes entre a inteligência silvestre da fauna e a extravagante inteligência do sapiens dominante. Deixo a cargo do leitor refletir acerca das consequências lógicas dessa discrepância de atitudes e condutas.

Porém, o crescimento da antroposfera constitui um processo incontrolável, graças às ficções do sapiens, criadas durante milênios. Mercado, moeda, comércio e patrimônio são as que hoje detém maior influência na construção da antroposfera. A acumulação de riquezas tornou-se o único vetor que mobiliza o sapiens dominante. Aliás, enquanto houver bens primordiais que possa explorar, sua ganância não cederá. Seu único limite é o tamanho do ambiente disponível para ser ocupado.

Sobre isso, sabe-se que a superfície do ambiente terráqueo é da ordem de 510 milhões de km2, dos quais cerca de 70% são recobertos por água e 30%, por solo. Em outras palavras, o sapiens dispõe, em tese, de 153 milhões de km2 para ocupar com sua antroposfera. Contudo, o ambiente estima que, dadas as exigências oportunistas do sapiens dominante – conforto e segurança para seu mercado –, apenas 50% da superfície terrestre estaria disponível para ele, ou seja, algo como 76,5 milhões de km2, a equivaler, aproximadamente, a 15% do ambiente terráqueo.

Porém, todos os sapiens dominantes e raros – ainda precisam superar restrições para ocupar o solo terráqueo, tais como:

  • Áreas desertificadas;
  • Áreas montanhosas escarpadas e com grande altitude;
  • Espaços rochosos recobertos por densas florestas de monção, sem acesso para suas máquinas de desflorestamento.

Nesse cenário, o ambiente pondera que resta ao sapiens somente 1/8 da superfície terráquea que ele antes acreditava estar disponível – 63,75 milhões de km2. Parece ser muito, porém, para acolher 7,5 bilhões de sapiens excêntricos, esta superfície representa nada. Sobretudo, se o ambiente estiver correto, quando observa que 90% dos dominantes habitam áreas da sua antroposfera, onde inventou mercado, comércio, moeda e patrimônio. Em suma, sinto-me obrigado a apostar que a criatura [sapiens] acredita dominar seu criador [ambiente]. Em outras palavras, a antroposfera devasta e devora o ambiente.

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[1] Baseado no ensaio “Princípios da Filosofia do Ambiente”.
[2] Bens primordiais são os fatores básicos que se relacionam aleatoriamente para compor todos os ecossistemas do ambiente terráqueo: ar, água, solo, flora e fauna.
[3] A physis é tudo o que existe no ambiente, à exceção do que seja construído pelo homem”. Alguns filósofos naturalistas da Grécia Antiga a usavam em sua retórica. Deduzo que se referiam aos espaços físico e biótico do ambiente, a comportar sua dinâmica aleatória, função da necessidade e acaso.
[4] Assim como hidrosfera constitui a “esfera das águas”; biosfera, a “esfera da vida“; a antroposfera  é a “esfera dos homens e suas atividades”, onde são gerados estados, nações, cidades, moradias, escolas, indústrias, estradas, ruas, sistemas de esgotos, lixo e infraestrutura em geral.

Choque frontal com o ambiente


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

A finalidade deste artigo é demonstrar a importância do ambiente estabilizado para todos os seres vivos do planeta, inclusive os humanos; do ambiente  estável versus os impactos que sofre com as atividades que nele são implantadas, as quais tentam ser explicadas como “a adaptação e evolução do homo sapiens face à dinâmica deste espaço”. Bela retórica, porém, falsa como rocha líquida. Inicia-se o artigo com a desmistificação da expressão “meio ambiente”.

1. Introdução

O vocábulo “meio” possui diversos significados, os quais variam em função de seu uso: como adjetivo, substantivo ou advérbio. Por exemplo, como adjetivo pode significar “metade”; como substantivo, “lugar onde se vive” = “ambiente”; como advérbio, “mais ou menos”. A fonte usada é o Dicionário Priberam[1], onde se encontram outros significados para este mesmo vocábulo.

Na expressão “meio ambiente”, o vocábulo meio pode ser entendido como adjetivo, substantivo ou advérbio. Ou seja, faz com que a expressão signifique coisas esdrúxulas: metade do ambiente, ambiente ambiente e mais ou menos ambiente.

Não há dúvida que essas expressões trazem um erro trivial da gramática (o pleonasmo ambiente ambiente) e dois deboches com as ciências do ambiente (metade do ambiente e mais ou menos ambiente). Além de deixar evidente a pouca formação de seu criador e respectivos repetidores, destaca-se.

2. A expressão “meio ambiente”

A origem temporal de “meio ambiente” é bem discutível. Sobretudo, quando se visa a acentuar a relevância de entender o que é o ambiente diante das práticas de trabalho em consultoria, foco principal desse artigo.

No entanto, provém da academia uma pesquisa exaustiva que pretende justificar que o termo a ser usado pode ser meio ambiente[2], quando consideradas as óticas das ciências naturais e ciências humanas. Segundo o texto, da ecologia e da educação ambiental. Essa pesquisa remete-se à Idade Média e considera que o ambiente (meio ambiente) deva ser visto, analisado e trabalhado através da visão antropogênica.

Discorda-se frontalmente dessa afirmação. As ditas ciências humanas não se prestam para entender o que é o ambiente, dado que são mais discursivas, opinativas, simples retórica. Há que se buscar ciências que o detalham “como se fossem o próprio ambiente a esclarecer seu comportamento, as relações que nele se estabelecem, bem como suas funcionalidades”.

Afinal, educação ambiental não constitui ciência, apenas uma técnica ainda rudimentar. Além disso, seu título é um pleonasmo (toda a educação é ambiental), tal como Saneamento Ambiental. Por acaso existe um sistema de tratamento de esgotos que não seja oportuno para a qualidade do ambiente?!

As ciências do ambiente[3] que se destacam são ecologia, meteorologia, hidrologia, geologia, pedologia e a biologia. É através da aplicação delas que se pode trabalhar impune no ambiente.

Porém, enfatiza-se que a explicação das atividades antropogênicas precisa ser efetuada através dos processos da ecologia. Há décadas que notórios ecólogos mundiais demonstram que o ser humano é parte dos ecossistemas, embora neles cause rupturas ambientais que os degradam.

3. Como são conceituados meio ambiente e ambiente

Os conceitos abaixo, bem como suas análises de conteúdo, demonstram que há um severo choque frontal entre a desinformação de legisladores e juristas versus a visão de consultores especializados, cientistas e acadêmicos.

3.1. Conceito brasileiro de meio ambiente

Segundo a Lei no 6.938[4], em vigor até hoje, meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

O conteúdo deste texto, tido como oficial, cria severas dúvidas ao leitor medianamente atento. Destacam-se algumas:

  • Qual o significado de “condições, leis, influências e interações” no contexto do ambiente?
  • Quais são as entidades do ambiente que promovem “influências e interações”?
  • Como “condições e leis” podem “permitir, abrigar e reger a vida em todas as suas formas”, senão apenas no papel?
  • As ditas “influências” significam o quê, provém de onde, de que fatos?
  • As “interações” seriam similares às relações ambientais ou ecológicas?
  • Ainda assim, seriam somente as “interações” de ordem física, química e biológica?
  • Delas resultariam o quê, currais ou ecossistemas limpos?!

Trata-se do conceito “sopa de pedra”. Nele cabe de tudo. Mas, afora colocar a pedra no meio do prato, nada esclarece. É um mero jogo de palavras que não conseguem se conectar. Por isso mesmo, com significado difuso, ambíguo, genérico, confuso. Em suma, é uma piada oficial sem qualquer significação.

3.2. Conceito profissional de ambiente

Segundo especialistas em gestão do ambiente e ecologia, ambiente é qualquer porção da biosfera que resulta de relações físicas, químicas, biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores ambientais que a constituem. Essas porções detêm distintos ecossistemas, que podem ser aéreos, aquáticos e terrestres, e são analisáveis através do desempenho de seus fatores físicos [ar, água e solo], bióticos [flora e fauna] e antropogênicos [homem e suas atividades].

A visão estável do ambiente

Engenharia inteligente, ambiente estabilizado

Segue a análise de conteúdo deste conceito:

  • Biosfera é a camada da Terra integrada à litosfera – que lhe serve de substrato –, onde ocorrem todos os seres vivos do planeta. A atmosfera e a hidrosfera são partes essenciais à biosfera e dela não são desvinculáveis. A ser assim, biosfera, litosfera, hidrosfera e atmosfera conformam o ambiente integrado do planeta.
  • Fatores ambientais ou fatores ambientais básicos são os componentes dos sistemas ecológicos da Terra. Estão presentes em qualquer porção que se delimite em sua biosfera. Estes fatores são associados aos espaços ambientais que lhes são afetos, pela ordem: espaço físico [o ar, a água e o solo]; espaço biótico [a flora e a fauna]; e espaço antropogênico [o homem e suas atividades].
  • As relações mantidas entre fatores ambientais são realizadas através de trocas de matéria e energia, que são dinâmicas, interativas e espontâneas. Isto garante a estabilidade e a evolução dos sistemas ecológicos que conformam. Denominam-se relações ambientais.
  • Importante destacar o que deveria ser evidente: as relações ambientais, que ocorrem há milênios, são energizadas pela luz solar, e possuem naturezas física, química, biológica, social, econômica e cultural.

Por existirem o ar, a água, o solo, a flora e a fauna no mesmo cadinho da evolução da vida, a raça humana, embora considerada sábia, é, se tanto, a 6ª parte do ambiente da Terra. Mas nem todos têm sã consciência desse fato.

Em tempo, sugere-se não esquecer: “o ambiente é ilegal“, pois não funciona conforme determinam as leis e os responsáveis por sua produção. De fato, estes não possuem o devido domínio das ciências do ambiente. Além disso, que soe como uma ameaça: a lei da gravidade nunca será abolida por qualquer decreto-lei.

4. Considerações do autor

Atuo há 31 anos em Planejamento e Gestão do Ambiente. Exatamente, desde janeiro/1986. Confesso que, naquela ocasião, chamava de “meio ambiente” o objeto dos planos que elaborava. Contudo, pela carência de literatura em português, pude recorrer a livros e artigos em inglês para estudar o tema. Neles, sempre li apenas “environment[5], pois não existe o vocábulo “meio” a agredir a gramática e os estudantes.

Intitulei este artigo “Choque frontal com o Ambiente” por achar uma covardia, cometida pelos que possuem plateias, repisarem esse erro crasso sobre a ciência do ambiente. Refiro-me, sobretudo, a professores universitários, que mais parecem jornalistas televisivos, a estrelarem em Shows de Espalha Ignorância e enganarem covardemente àqueles que os assistem de forma passiva.

Deixo para reflexão dos leitores uma breve observação acerca do conceito de ambiente: o ser humano precisa ter muito cuidado com as artes de sua engenharia, pois “qualquer porção da biosfera” é apenas o planeta Terra inteiro. Minha única fé é no ambiente estável!

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[1] Confira em: https://www.priberam.pt/dlpo/Meio.

[2] Um trabalho intitulado “Um olhar epistemológico sobre o vocábulo ambiente: algumas contribuições para pensarmos a ecologia e a educação ambiental”, realizado por dois profissionais na UNESP, Rio Claro, SP. Chega a considerações finais um tanto insípidas, muito embora constem da tese de doutorado em Educação para a Ciência, de Job Antônio Garcia Ribeiro, hoje professor da UNESP.

[3] Nota: não se usa o termo Ciências Naturais, pois implicaria admitir que existam Ciências Artificiais.

[4] Datada de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a “Política Nacional do Meio Ambiente”.

[5] Em países mais civilizados o vocábulo equivalente a “meio ambiente” é environment (Grã-Bretanha e EUA); environnement (França); umwelt (Alemanha); ambiente (Itália).

Terroristas no Brasil


Simão-pescador, Praia das Maçãs.

Simão-pescador

Simão-pescador

Permaneci silencioso durante 2016. Rascunhei artigos para o blog, mas depositei-os na lixeira. Eram superficiais diante dos “desgovernos brasileiros” neste século XXI. Venderam ao mundo um país de mentira, criado a peso d’ouro pela propaganda oficial.

Entrementes, por motivos de família, cá de Portugal, acompanho o desempenho do Brasil desde março de ‘64, quando ocorreu a revolução militar. Interessei-me neste evento pelo facto de ter os dois filhos mais velhos a residir no Brasil. Pensava que poderiam ser vitimados por guerrilheiros urbanos, que lutavam armados para implantar a ditadura do proletariado. E meus meninos eram comerciantes da livre iniciativa que, em tese, poderiam ser executados, na qualidade de “inimigos da guerrilha marxista-leninista”, que então se ensaiava.

Com o retorno do Brasil ao Estado de Direito Democrático (1988), acreditei que tudo iria melhorar; sou otimista. A economia seria recuperada e a política tinha líderes competentes para conduzi-la. Enganei-me, tal “um quadrado que acredita rolar”… Os guerrilheiros-terroristas continuaram a tentar assumir o poder central, muito embora, desta feita, a usar “focinho de paz e amor”. Por fim, desgraçadamente, conseguiram-no em 2002.

Resultado: tudo o que acontece hoje no país assume dimensões descomunais. Em especial, ladroagem, corrupção, ataques ao erário, analfabetismo, miséria, desemprego, caos político-econômico e total insegurança pública. Estas são as “realizações nobres” de quadrilhas do “colarinho-branco”. Tratam-se de factos imundos, imensamente imundos.

O Brasil de hoje é terra quase arrasada. Mas estou pasmo, pois muitos dos “guerrilheiros marxista-leninistas”, dos ditos “anos de chumbo”, tornaram-se misteriosamente milionários!

A parte isto, recebi telefonema de meu mais velho no dia primeiro de 2017. Evidente que me desejou longa vida e um bom ano de pesca. Porém, falou-me acerca de um massacre em duas unidades prisionais de Manaus, cometido entre presidiários de duas facções criminosas: a tal Família do Norte (FDN) e o Primeiro Comando da Capital (PCC). ─ “Pai, chacinaram e degolaram 60 membros do PCC nessas prisões”, disse-me ele assustado.

Ouvi estupefacto as notícias de Simãozinho. Interessei-me por conhecer mais detalhes da clamorosa barbárie. Após analisar o farto material que comenta esse genocídio medieval, cheguei a cinco conclusões elementares:

  • A FDN é a protagonista da barbárie, associada à facção do Rio de Janeiro, o chamado Comando Vermelho (CV);
  • O PCC é a maior facção criminosa brasileira; sediada em São Paulo, esse gigante do crime comanda o tráfico transnacional de cocaína e armas pesadas. É mais destruidora que as demais;
  • O objetivo desta “irmandade temporária” é destruir o PCC ou pelo menos vence-lo na região norte, justo por que faz fronteira com países produtores de cocaína em larga escala – Bolívia, Peru e Colômbia. A questão é baratear a rota do tráfico, afora contar com a obscura segurança da floresta amazonense;
  • O genocídio realizado em Manaus envolve tão-somente dois presídios; todavia, existem centenas deles espalhados pelos estados brasileiros, onde o litígio entre essas mesmas facções está prestes a rebentar;
  • Merece atenção a possível participação do executivo, legislativo e judiciário amazonense em esquemas de propina com a empresa que diz administrar presídios instalados no estado.

Diagnóstico sumário da grave ameaça

Em síntese, o Brasil está a ser tomado por facções de guerrilheiros-terroristas, semelhantes às da década de ’60. Não se trata de acionar as polícias civil e militar, pois o país vive um Estado de Guerra aberta contra o tráfico internacional. Sinto dizer, mas está prestes a se tornar uma grande Colômbia, onde o terrorismo das FARC formula práticas brutais para a FDN executar!

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Operações Especiais na selva e na cidade

Para enfrentar cenários de guerra, a pronta-resposta somente cabe às Forças Armadas. Não importa o que acham ou pensam o Ministro da Justiça, a Presidente do STF ou o próprio Presidente da República. O único a comandar esse quadro há de ser o Ministro da Defesa, a quem cabe garantir a segurança nacional com o uso da força, sempre que necessário.

Finalizo surpreso com o facto que o Brasil possui a melhor escola mundial de guerra na selva. Através do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), ao longo de seu meio século de existência, já formou milhares de profissionais da selva. Um dos paradigmas que orienta esses militares é eloquente, a meu ver:

─ “Pense e aja como caçador, não como a caça”.

Enfim, o Mar de Ross tornou-se Reserva


O Mar de Ross localiza-se ao sul da Nova Zelândia e recebeu esse nome em homenagem ao explorador britânico, James Clark Ross que, em 1841, liderou uma expedição à Antártida.

Em Ross, vivem 38% dos Pinguins-de-Adélia existentes no mundo, 30% da fauna de Petréis-Mergulhadores e cerca de 6% da população mundial de Baleias Minke[1].

Baleia Minke no Mar de Ross

Baleia Minke no Mar de Ross

Trata-se de decisão há muito desejada. O Mar de Ross, situado na Antártida, foi declarado nessa sexta-feira (28/10) a maior reserva marinha protegida do mundo.

A Reserva Marinha do Mar de Ross

A Reserva Marinha do Mar de Ross

Na prática, ocupa uma área de 1,57 milhões de km2 (equivalente à soma dos territórios da Espanha e da França). Contudo, representa apenas 2% do Oceano Antártico, mas ficará protegida da pesca industrial, durante 35 anos.

Após muitos anos de negociações e recuos, a decisão foi anunciada pelo ministro de Negócios Estrangeiros da Nova Zelândia, Sr. Murray McCully, ao fim de um encontro multilateral realizado em Hobart, na Austrália.

O acordo surge agora, após duas semanas de negociações entre os delegados de 24 países e da União Europeia, durante o encontro anual da Comissão para Conservação dos Recursos Vivos Marinhos da Antártida.

A Rússia sempre se opôs a essa classificação – de área marinha protegida –, mas desta vez votou a favor. Esperam todos os que subscreveram o acordo que o Sr. Putin não o transgrida, como habitua-se a fazer em tudo o que assina, o déspota comunista.

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[1] A Baleia Minke é também chamada Baleia-Anã, dado o seu tamanho reduzido: de 8 a 10 metros de comprimento.

Gestão informatizada do Ambiente


Nos primórdios, há cerca de 3,2 bilhões de anos, decerto após sucessivas mutações ainda hoje indecifráveis, começou a surgir na Terra sua fauna nativa diversificada. Nasceu imersa em um espaço desconhecido: o ambiente planetário.

Depois disso, somente na década de 1860, um espécime moderno dessa fauna – o alemão Ernst Haeckel –, resolveu entender, de fato, como esse espaço funcionava. Criou uma forma de analisa-lo e chamou-a Ecologia (do grego, “oikos + logos” ou “estudo do lugar onde se vive”).

Desde então, a ecologia não parou de evoluir. Dezenas de milhares de pesquisas científicas foram realizadas mundo afora e o homo sapiens começou a perceber que é essencial garantir a estabilidade do ambiente em que vive.

Professor Eugene Odum

Professor Eugene Odum

Com vistas a garanti-la, ao longo do século 20, nações desenvolvidas redigiram sua legislação ambiental. Porém, sempre com base no estado-da-arte da ciência. Afinal, ecologia é a lógica dos ecossistemas que conformam o ambiente planetário. Assim, leis ambientais de qualidade precisam ser seus reflexos no espelho, nunca o inverso.

Agora, ao início do século 21, que prioriza a produção e o domínio da informação, há uma questão pendente no imaginário da sociedade: ─ Algum dia o homo sapiens será capaz de informatizar o ambiente?

Sabe-se ser possível modelar a dinâmica do ambiente e até informatizar esse processo. No entanto, ainda não há como desenvolver um sistema computacional que contenha o teor desta dinâmica, pois ela é fruto da necessidade e do acaso e o homo sapiens não é “seu divino criador”.

De toda forma, reuniu-se um pequeno grupo de trabalho, com especialistas em Gestão do Ambiente e Ciência da Computação, para pensar a “questão pendente”. Logo ela foi invertida, posta de cabeça para baixo, e tornou-se uma tarefa factível: desenvolver um sistema de computador para agilizar a elaboração de estudos, projetos, pesquisas e serviços ambientais. Ganhou o apelido de sistema IDEA.

Sua arquitetura está a ser concebida para integrar diversos aplicativos, que permitam realizar os seguintes processos ambientais:

  • Identificação da transformação ambiental de um território, como função de um ou mais empreendimentos e suas intervenções da engenharia;
  • Caracterização ambiental de projeto de engenharia, obra ou empresa (atividade transformadora ou empreendimento) vis-à-vis o território em que será implantado ou que já se encontra em operação;
  • Programação, realização e gestão de atividades de campo no território em análise;
  • Elaboração de matrizes de impactos ambientais, de matrizes de itens de passivo ambiental ou das matrizes de riscos ambientais e de segurança;
  • Elaboração de diagnósticos temáticos e do diagnóstico ambiental consolidado do território em estudo;
  • Formulação dos prognósticos ambientais para o mesmo território;
  • Modelagem de seus cenários ambientais futuros;
  • Avaliação de impactos ambientais, ocorrentes e previstos nesse território. Trata-se de modelo especializado onde os impactos são numericamente estimados e pertencem ao conjunto de Números Reais (Rn);
  • Elaboração de planos ambientais para otimizar os efeitos de impactos significativos ou corrigir os itens de passivo ambiental identificados;
  • Elaboração de programas ambientais para controle, manejo e monitoração dos segmentos ambientais em um território;
  • Elaboração de projetos ambientais e ações imediatas para controle, manejo e monitoração dos fatores ambientais em um território.

Dessa forma, será capaz de informatizar processos ambientais demandados pela legislação ambiental vigente, tais como: Estudos de Impacto Ambiental (EIA); Realização/gestão de Audiências Públicas; Levantamento/gestão de Passivos Ambientais (LGPA); Elaboração, implantação/gestão de Plano Corporativo Ambiental (PCA); Auditoria de PCA (APCA); Plano de Ações Imediatas (PAI) para correção das não-conformidades identificadas pela auditoria; Elaboração, implantação/gestão de Plano Executivo para Gestão Ambiental de obras (PEXA).

Porém, acima de tudo, o IDEA será capaz de monitorar os perigos e riscos de empresas em operação, visando a impedir a ocorrência de desastres humanos sobre o ambiente, tais como o da Samarco, em Bento Rodrigues, Mariana, ou o desastre anunciado da Petrobras, em Vila Socó, Cubatão, ocorrido em 1984.

Mar de lama em 21nov2015

Dentro em breve, o grupo de trabalho lançará uma campanha de crowdfunding para captar os recursos necessários à realização do Projeto IDEA. Conta-se desde já com sua contribuição.

Boas festas a todos. Que 2016 seja o ano da Cultura Técnica!

Ambiente ameaçado pelas commodities


Simão-pescador, Praia das Maçãs.

Simão-pescador

Simão-pescador

Desgovernos de “países subdesenvolvidos”, na pretensão de faze-los desatolar do pântano, colocar o focinho ao vento, dedicam financiamento público para o setor de produção primária. É assim que esses “atrozes senhores” implantam a “indústria de commodities”.

Dessa forma, a frágil produção agrícola e pecuária passa a sustentar a economia nacional, como no caso brasileiro. Entrementes, o preço das commodities é sempre definido por compradores mundiais. E é facto, não discutem a origem dos grãos, basta que encontrem matéria-prima de qualidade para alimentar seu setor industrial, provenha donde for.

Muito embora milhões de pessoas vivam em estado de miséria absoluta, é claro que a sobrevivência deles impõe o consumo dalgum “tipo de alimento”. No mais das vezes, retirado de “lixeiras socialistas”.

Imagem viva do “supermercado”

Imagem viva do “supermercado”

Ocorre que a produção primária demanda gigantescas áreas de culturas agrícolas, pastagens de bovinos, soberbos currais de porcos e granjas industriais para criação e matança indolor de aves.

Porém, o uso de “defensivos agrícolas tóxicos” esgota a qualidade do solo. Bovinos, porcos e aves “tomam bola” [hormônios] para crescimento rápido, a seguirem rechonchudos rumo ao abatedouro. É uma festança anual de bilhões de dólares!

Mas há o outro lado desta façanha. As regiões em que se encontram os grandes produtores agropecuários eram recobertas pelo bioma Cerrado, sobretudo, no planalto central brasileiro. Foram desmatadas e ainda sofrem queimadas para dar lugar às noviças commodities. Desde 1970, o Cerrado vem sendo devastado de forma inexorável. Junto com ele, suas espécies 100% endêmicas e a fauna abundante que nele havia.

É impossível que não haja solução inteligente para o agronegócio brasileiro. A de hoje é a mais barata e rentável, sem dúvida, mas tem horizonte limitado no tempo. O ambiente em que ocorre decerto será desertificado.

A propósito, lembro-me que a boca de um político analfabeto [pleonasmo] vomitou a seguinte frase: “fiz do Brasil o celeiro do mundo”. Porém, e o que é mais grave, até hoje o idiota regozija-se desta patranha. A ser desta forma, que o recolham, a seus companheiros e descendentes. Trancafiem-nos a todos numa granja de segurança máxima!

Hileia, a nova nação


Hileia foi o nome dado à floresta amazônica pelos naturalistas Alexander Von Humboldt (1769-1859) e Aimée Bonpland (1773-1858). Juntos percorreram alguns trechos da floresta, mas só tiveram uma noção superficial da área coberta pela mata, estimada àquela época em mais de 8 milhões de km2. Certamente, também não tinham como imaginar a diversidade de sua flora e fauna, bem como o gigantismo de sua hidrografia. Porém, ficaram alarmados diante do monstruoso laboratório natural que os acolhia.

De acordo com estimativas mais recentes (2001 a 2003), a Amazônia é habitat de duas milhões e quinhentas mil espécies de insetos, dezenas de milhares de espécies florísticas e cerca de duas mil aves e mamíferos.

Já foram cientificamente classificadas nesta floresta nativa pelo menos 40.000 espécies da flora, 3.000 da ictiofauna, 1.295 da avifauna, 430 da mastofauna, 428 da anurofauna e 370 da herpetofauna. Somente no Brasil, cientistas já descreveram cerca de 120.000 espécies de invertebrados amazônicos.

Diversidade da floresta amazônica

Diversidade da floresta amazônica

Em levantamento mais recente, a floresta amazônica completa ocupava uma área próxima de 5.500.000 km2. Porém, considerando todas as áreas que vêm sendo desmatadas e as queimadas criminosas realizadas em suas bordas, sobretudo no Brasil, não temos uma medida mais aproximada da mata remanescente, que continua a ser a maior mancha de Floresta Tropical do planeta. A pergunta que se faz é ─ “Até quando”?

Gestão atual do Ambiente Amazônico

Têm-se nove países que possuem seus territórios parcialmente cobertos pela vegetação amazônica. Por ordem alfabética: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana (Britânica), Peru, Suriname e Venezuela. Seriam eles proprietários exclusivos das manchas amazônicas encontradas em seus territórios? Podem devasta-las para finalidades de exploração agropecuária ou madeireira, por exemplo?

Sabe-se que estas questões envolvem o delicado tema da soberania nacional. Mas, convenha-se, soberania de uma nação é bastante distinta de asneira nacional. Se a Rússia resolvesse acabar com sua floresta de coníferas, a Taiga Siberiana, que é bem mais pobre em biodiversidade, porém com maior superfície do que a Floresta Amazônica, decerto até a ONU iria realizar severas críticas sobre as graves consequências ambientais deste ato, que liberaria grandes volumes do metano secular armazenado sob o solo pantanoso e congelado que dá suporte às coníferas . Aí sim, com certeza iria-se assistir ao planeta sendo literalmente fervido. No ar acondicionado, é óbvio, mas somente enquanto houvesse energia.

Admitindo (falsamente) que a grande floresta seja fundamental para a estabilidade do Ambiente do Planeta e, por tabela, para a vida do Homem que o habita, a questão que se impõe é a seguinte:

─ “Como fazer para gerir a Sustentabilidade da Amazônia?”.

Mesmo sem aceitar a premissa inicial como verdadeira, impõe-se refletir sobre as diretrizes a serem impostas para que nela não continuem a ocorrer violentas rupturas ambientais, função das ações produtivas do “Homem sábio”, em grandes áreas com elevada vulnerabilidade ambiental e, portanto, muito sensíveis às transformações que lhes são perpetradas.

Pelo que vem sendo exposto e documentado pela mídia nacional e internacional, acerca dos processos humanos ocorrentes em toda a Amazônia, não será leviano concluir-se que a gestão desta floresta é falha, insipiente e lamentável. Todos os oito países amazônicos têm sido réus e prováveis criminosos em suas inações públicas sobre este formidável legado natural. Chegou-se ao ponto de ouvir da boca de uma ministra-chefe de Casa Civil (Dilma Rousseff), em conferência realizada em Copenhague (COP-15, maio de 2010), a seguinte atrocidade:

O ‘Meio Ambiente’ é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”[sic].

Há um vídeo na internet em que essa fala é empostada e clara, dita em alto e bom som. Entretanto, a imprensa brasileira afirmou, ao vivo, que se tratou apenas de uma “gafe”. Mas esqueceu-se de considerar “as dimensões e consequências desta pequena gafe de 12 palavras”, sobretudo no contexto internacional e político do evento.

Necessidades da Gestão Amazônica

Pelo menos desde os anos de 1980, vem sendo debatida e tentada a criação de organismos internacionais, compostos pelos países amazônicos, visando a garantir e manter a sustentabilidade da maior floresta tropical do planeta. Fomos convidados por um engenheiro florestal peruano para oferecer contribuições de gestão nesse sentido. Mas até o momento, passadas quase três décadas, ficou claro que nenhuma iniciativa deu certo.

O gigantismo amazônico

O gigantismo amazônico

Infelizmente, cada país continua a “quase gerir” sua parcela da floresta de acordo com suas próprias regras, leis e parcos princípios ambientais. O resultado é que a floresta vem definhando, ano a ano. Suas bordas vêm sendo corroídas pela ação humana; suas matas arbustivas, retiradas; e suas áreas internas, ocupadas. Resultado: forte perda da qualidade ambiental do bioma amazônico, ocorrência de rupturas ambientais e perdas relevantes na estabilidade de seus ecossistemas.

Tudo isso prejudica seus processos naturais de rebrota, pelo envelhecimento precoce que proporciona em muitas das espécies florísticas (jovens e em evolução), tanto nativas, quanto secundárias. Aos poucos, mas em incontáveis áreas, a mata vai sendo solapada e tendo sua capacidade fisiológica reduzida. Alguns botânicos chamam esse fenômeno de “senescência induzida da vegetação”.

O sonho da Floresta

Cerca de 90% da floresta amazônica remanescente encontra-se no Brasil. Observa-se que ela possui funções ambientais relegadas pelas funções econômicas que lhe atribuem, as quais são muito mal remuneradas por seus “clientes”, quais sejam:

  • Constitui a última região agredida pela expansão da fronteira agrícola e pecuária;
  • É o principal repositório mineral do país, sempre mal explorado e degradado;
  • É um dos principais motores para geração de energia de forma a servir grande parte da nação, oferecendo áreas e recursos naturais de sua propriedade, quase de forma gratuita; e
  • Sofre inúmeras queimadas, tem grandes áreas desmatadas e permite a exploração ilegal de sua madeira, sempre permanecendo calada.

Em outras palavras, o território que deveria ser muito bem tratado, como grandeza quase exclusiva de ambiente brasileiro, é malbaratado qual escravo a serviço da riqueza monetária de alguns espécimes de “homo sapiens”, selecionados por uma “Comissão de Deuses do Olimpo”.

─ “Como é possível salvar a Amazônia inteira?

Diante desta questão que demanda uma resposta urgente, ficou-se a pensar livremente acerca de soluções cabíveis, sem estabelecer limites à imaginação. Mas sempre na busca de possíveis controles do cenário futuro ambiental que já se desenha aos olhos do mundo.

Imaginou-se a Terra vivendo sem suas maiores matas equatoriais: Floresta Amazônica, Floresta do Congo e Floresta da Indonésia, todas em ritmo mais ou menos acelerado de devastação. Então, sonhou-se com um Mago da Floresta que, com voz bem grave, perguntava o seguinte:

─ “E se todos os países amazônicos ofertassem gratuitamente suas áreas cobertas pela Hileia para constituir uma Única Nação, independente e soberana?

E disse mais: ─ “Somente esta nação ─ a República Democrática da Hileia ─ definirá os usos permitidos e controlados de seus espaços, de seus recursos ambientais, bem como o preço que cada “país conveniado” pagará para desenvolver projetos, utilizar recursos e fazer negócios que sejam compatíveis com a sustentabilidade espontânea da floresta tropical“.

Ecossistema amazônico

Acordaram sobressaltados, sem entender várias partes perdidas do sonho. O Mago da Floresta sumira e esqueceram-se de tudo. Levantaram-se e pé na estrada, pois estavam atrasados para os trabalhos do escritório…

Nação responsável pela gestão da Hileia

Por óbvio, dado que o Brasil possui cerca de 70% do território amazônico, a gestão desta nova nação precisa caber a este Estado Nacional. Países europeus, asiáticos e norte-americanos, mesmo que se integrem em safados conluios, deverão permanecer calados diante da soberania brasileira sobre a Amazônia e suas incríveis riquezas, ambientais e econômicas.

 

Benedito-de-Testa-Vermelha


Benedito-de-Testa-Vermelha (Melanerpes cruentatus)

 

Publicado no Facebook por Aves Brasil

Habitat: Matas de terra firme, várzea, igapó, galeria, ribeirinha, clareiras, plantações, ilhas fluviais, à altura da copa.

Característica: O macho tem manchas vermelhas na testa e na barriga, daí ser chamado também de pica-pau-de-barriga-vermelha. Mede 19 cm.

Comportamento: Alimentam-se de frutos e insetos. Fazem ninhos próximos, em troncos de árvores secas, e um ajuda o outro a cuidar dos filhotes. Estão sempre em grupo.