Eleições 2018: o pardieiro imoral


Ricardo Kohn, Eleitor.

Ricardo Kohn

Ricardo Kohn

Após os últimos 15 anos de delinquência institucional, instalada desde 2003, a política brasileira conseguiu eliminar todos os seus vestígios de racionalidade. Ou melhor, de suposta racionalidade, uma vez que cidadãos de até 25 anos nunca a conheceram ao vivo – a racionalidade pública. De fato, muitos jovens não perceberam que são partícipes na formulação da razão pública, fruto de sociedades educadas e pluralistas; livres e democráticas.

Mas o que se assiste neste ano de eleições gerais no Brasil? Vê-se a parafernália de 35 partidos políticos, cada um a conduzir sua matilha de candidatos (muitas hienas de estimação), na busca de mais tempo na TV. Foi assim que eclodiram absurdas coligações partidárias: antes eram inimigos mortais; agora, fieis amantes durante o curto período eleitoral. Tanto é fato que, apesar de serem 35 partidos, há somente 13 candidatos à presidência da República. Conseguiram travestir a deformação estrutural da política brasileira.

Qual nação do mundo suportou a ação simultânea de 35 facções políticas? Qual já teve 13 candidatos a “Chefe de Estado”, na mesma disputa eleitoral? A ganância pelo poder reside na vileza com que cada um deles se arma para “esquentar eleitores”.

No estágio em que se encontram, às vésperas do pleito, não há fórmula capaz de medir o desempenho eleitoral destes cidadãos. Afinal, segundo filósofos do direito, “salvo três deles, os dez restantes sequer possuem resquícios de razão pública”. São oportunistas, narcisos e, por estarem centrados em seus egos, sentem asco do “cheiro de povo requentado”.

Segue-se para outra seara: a dos tais “institutos de pesquisa” e suas “estimativas” de intenção de voto. Acredita-se que a prática da pesquisa haja nascido no ambiente acadêmico, quando estudiosos efetuavam levantamentos de dados, com vistas a provar (ou não) um fenômeno que consideravam possível. Em seguida, foram usadas para conhecer a opinião do mercado sobre um produto a ser lançado. Somente mais tarde – mantida a ótica da opinião do mercado – surgiram as “pesquisas políticas”. Nelas, políticos-candidatos são tratados como produtos, e não precisam ser novidade. Contudo, para conseguirem resultado nas pesquisas, haja modelagem matemática, haja algoritmo estocástico!

Mesmo diante dos óbvios desafios lógicos para predizer o comportamento de políticos-candidatos, “institutos de pesquisa” tornaram-se negócios lucrativos, sobretudo em ano de eleições gerais. Os chefes dessas empresas são pagos por um cliente para fazer uma pesquisa de intenção de voto. Em sigilo, é possível que lhe perguntem: ─ “O senhor deseja que as nossas estimativas favoreçam a quem”?

Após assinado o contrato, a equipe do instituto segue rumo ao Sacro-santo Salão da Magia. Realiza 2.471 telefonemas, preenche as cartelas de intenção de voto e consolida os números sob a ação de máquinas de torrar, triturar e liquefazer intenções. Bastam duas sessões de tortura de números que sai pronta a massa de modelar, sempre ao gosto do cliente. Estas são as notórias “estimativas invertebradas”: não ficam de pé sob a ação da crítica, pois são roupas penduradas em cabide. Por sinal, o fato mais extravagante é o caso do presidiário-candidato que consta em 1º lugar nas pesquisas (39%), enquanto 70% dos eleitores deseja que ele permaneça encarcerado. Isto não resultou de qualquer pesquisa, mas de um disparate entalhado no corpo da nação, a ferro e fogo!

Em suma, tem-se hoje a bagatela de 35 partidos políticos, com seus 13 presidenciáveis, além das estimativas de intenção de voto (todas invertebradas). Neste panelaço de barro, exposto ao calor extremo do fogo à lenha, falta o ingrediente que, em tese, cura o bolo eleitoral, que “dá pega”: trata-se da imprensa.

Em regimes de livre mercado a democracia requer liberdade de imprensa. Afinal, por exemplo, é através do livre debate que deve ser buscada a solução para problemas da gestão pública. No entanto, com vistas a manipular debates, certos profissionais usam a mídia para estimular lutas intestinas entre “direita e esquerda”. Desse modo, não acontece o imprescindível diálogo, mas apenas duelo entre monólogos surdos. Ao fim, sagra-se vencedor apenas o interesse de poderosos grupos de comunicação. Grupos que conduzem pseudodebates por meio da ação interventora de seus mediadores profissionais. Afora isso, também é notável o mal-uso sistemático da imprensa nas entrevistas de presidenciáveis. Considera-se esta “estratégia da inocência” ameaçadora à democracia, a qual, paradoxalmente, clama pela liberdade da imprensa.

Segue-se com o mistério das urnas eletrônicas que operam no Brasil. Desde as eleições de 2014 a credibilidade deste sistema de votação “foi para o espaço”, caiu por terra. Uma parcela considerável dos eleitores acredita que há “desvio de votos”. Até por que, os vencedores daquele pleito desviaram bilhões em dinheiro público! Mas esta parcela teve incremento expressivo, após um matusquela, presidente do TSE decidir – “gratuitamente” – que não havia dinheiro para implantar impressoras em todas as urnas eletrônicas do país. Desse modo, acontecerá mais uma eleição geral sem que seja possível a sociedade demonstrar a evidente prática do furto de votos.

Seria ótimo de fosse assim

Assim, com impressora, seria ótimo!

O voto não deve ser declarado. Até por que, não se trata de aposta no guichê do hipódromo, em cavalo que se espera vencedor. Voto é ato da cidadania, onde cada eleitor escolhe quem acredita ser digno, íntegro e competente para tirar o país do poço de lama em que se arrasta há 15 anos. Porém, vale lembrar, mesmo nas corridas de cavalo, há animais subestimados em que ninguém aposta. Por isso mesmo pagam prêmios elevados e, não raro, ganham corridas.

Nós, brasileiros, podemos obter magníficos resultados nas Eleições 2018. Basta sabermos apostar no cavalo certo! Do contrário, seremos obrigados a viver no pardieiro imoral em que nos hospedaram”.

Recall de políticos


Zik-Sênior, o Ermitão.

Zik Sênior

Zik Sênior

Se um grupo de cidadãos elege um candidato para certo cargo político, a acreditar que ele irá cumprir o que prometeu pelos palanques da vida, precisa ter o direito de destituí-lo do cargo, caso considere necessário. Esse precisa ser seu direito inalienável.

Basta que, se eleito, o gajo “enfie os pés pelas mãos”, mostre se tratar de um descarado corrupto ou não tenha competência para realizar as necessidades básicas de seus eleitores. Acho que esse deve ser um excelente projeto de lei!

Porém, será difícil ser aprovado pelos “para-lamentares” brasileiros. É imprescindível que haja uma forte pressão popular. Sem ela não há reforma política que possa modificar qualquer coisa.

O recall de políticos tem de ser simples, igual à troca obrigatória das peças defeituosas de um veículo saído da fábrica. Ou mesmo as partes e tubos de uma latrina, sem vazão suficiente para “esgotar políticos”. O século XXI mostra que os temos de sobra, milhares deles a pilhar a nação diariamente.

Entretanto, diante dos sucessivos escândalos orquestrados que, sem exceção, envolvem o roubo continuado do erário público (por cerca de duas décadas), defendo a posição que é tida por muitos como drástica: o recall (cassação) de qualquer funcionário público. Visa a impedir a contratação dos “estafetas da quadrilha pública” instalada. São a corja essencial ao funcionamento da máquina corruptiva.

Sem eles não é possível impedir o sórdido desvio do dinheiro público. São catadores de milho em datilografia, mas incansáveis para fazer jus à mensalidade da “bolsa-corrupção”. Fazem o que lhes for mandado e, de forma aloprada, defendem seu “criador”, a dizer que “sempre foi assim no Brasil”. Defendem de forma descarada os tais “nobres fins socialistas” – de acabar com a miséria, da busca pela igualdade social (aonde isso existe?!) – para justificar os meios torpes e repugnantes que utilizam.

Os fatos são chocantes. Há um modelo de cleptocracia instalado”, foram palavras proferidas por um juiz da mais Alta Corte, durante entrevista concedida, quando se referia ao ocaso da Petrobras; é a opinião de alguns notórios analistas políticos: desvios contínuos do dinheiro da estatal para manutenção de um mesmo partido no poder central. Tenho sérias dúvidas se, no roubo sistemático dos cofres públicos, a ação das quadrilhas se resuma na manutenção do poder político. Mas isso pode ser testado, não com a dita reforma política , mas através de uma verdadeira revolução político-eleitoral brasileira que, a meu ver, é inadiável.

Dado o milagre da cidadania, tomo a liberdade para fazer sugestões a serem contempladas pelo Marco da Revolução Político-eleitoral. Têm alcance bem maior do que a mera cassação de mandatos por ações legítimas da sociedade. Senão, vejamos:

  • Os candidatos a cargos do poder Executivo e do Legislativo não podem sentir qualquer “estímulo monetário” para concorrerem a estes cargos. Ao contrário, somente poderão ser candidatos aqueles que acatarem fielmente as demandas da sociedade civil, na qualidade de serviçais graduados; caso contrário, rua! – essa é a base da Governança pública;
  • Cada eleito para representar esses poderes receberá uma quitinete mobiliada gratuita, na futura “Vila dos Dois Poderes”, ainda sem data para ser projetada e construída [1];
  • A revogação ou cassação do mandato eletivo de qualquer cidadão eleito será efetuada por meio de ação direta da sociedade, encaminhada a mais Alta Corte do país. A Corte não terá direito de negá-la ou refutá-la, apenas de subscrevê-la e faze-la ser cumprida de imediato. Os cassados nunca mais trabalharão no setor público. A menos do cargo de Presidente da República, os demais não serão ocupados por substituto;
  • Partidos políticos que tiverem três membros eleitos com mandatos cassados, serão extintos de forma automática e sumária, através de ação de impedimento emanada do poder Judiciário, por intermédio da Alta Corte;
  • Para Ministérios do Poder Executivo deve ser adotado tratamento similar, sobretudo pela pilha de ministros desnecessários à governança pública. Suas pastas, no mais das vezes, são ocupadas por políticos que nada entendem do trabalho que devem fazer. Sua única preocupação é o tamanho do orçamento que terão para manipular em favor das quadrilhas que montam através dos ditos cargos de confiança;
  • A ser assim, “Ministério político” que tiver três membros de sua cúpula cassados pela sociedade, será extinto de forma automática e sumária, por meio de ação de impedimento emanada do poder Judiciário, representado por sua Alta Corte. Os cassados não poderão mais trabalhar no setor público. A menos do Ministério da Economia, os demais não serão ocupados por qualquer substituto.

Poderia detalhar mais sugestões para moralizar a política brasileira, tais como: (i) reduzir de forma drástica o número de parlamentares; (ii) acabar com cargos públicos comissionados; (iii) limitar o número de ministérios executivos em no máximo uma dúzia; (iv) reduzir a remuneração do executivo, legislativo e judiciário para, no máximo, 12 salários mínimos; (v) exterminar a coalizão de partidos, etc.

Acredito que se essas medidas fossem tomadas, decerto a taxa de corrupção per capita seria mais reduzida no país. Sobraria dinheiro para investimentos inadiáveis, geraria empregos, melhoraria a inteligência e a economia nacional.

Existem outras sugestões, mas vou parar aqui. Afinal, hoje é dia 24 de dezembro e pelo menos 80% da população brasileira faz uma festa comercial, embora a entende-la como data sagrada. Por sinal, fui convidado para uma ceia na casa de amigos e comparecerei muito feliz. Esqueço de tudo o que acredito, pois é ótimo socializar alegrias concentradas em uma única noite!

……….

[1] Até lá, suas moradias serão barracas do exército, num acampamento de luxo montado nos terrenos em frente ao Congresso Nacional (tendas do legislativo) e ao Palácio da Alvorada (tendas do executivo). Serão tais como Xeiques amadores, sem segurança – essa é a esperada demonstração internacional de quanto os políticos brasileiros são abnegados e amados por seu povo livre.