Tem um grande potencial


Zik-Sênior, o Ermitão.

Zik Sênior, o eremita

Zik Sênior

Em 1916, na hora da saída do colégio, uma professora disse a meus pais: “esse menino tem um grande potencial”. Eles ficaram tão felizes, que fizeram uma festinha em casa para eu convidar três amigos. Foi servida uma torta de chocolate, regada a Coca-Cola bem gelada. Vale recordar, naquela época existia Coca-Cola em garrafa pequena, feita de vidro verde claro matizado.

A festa foi muito boa, brincamos o dia inteiro: lançamos peão na roda, jogamos mata-a-mata com bola de gude no chão de terra, fizemos várias guerras de carambola e, a partir do meio da tarde, empinamos pipa e papagaio de cima da laje. Foi memorável, ficamos imundos.

De toda feita, levei alguns anos para entender o que seria ‘ter um grande potencial’. Era ainda pequeno e, afinal de contas, a professora parecia meio assanhada para o lado de papai. Podia haver alguma outra intenção dela, sei lá. Quem sabe imaginava que o pai tinha um ‘potencial enorme’?

Porém, foi em 1920, já com 12 anos, que ouvi pela primeira vez a frase que ficou notória: “o Brasil é o país do futuro”. Foi dita numa aula, pelo então professor de História, por motivo que não lembro. Mas recordo-me muito bem que, para ver se entendera suas palavras, insinuei: “O senhor quer dizer que o Brasil tem um grande potencial?”. Ele confirmou. Foi assim que, pela lógica intuitiva, associei tudo o que se dizia ser potencial a algo que ocorreria no futuro.

Hoje, após longas experiências da vida, compreendo que o substantivo potencial refere-se a um conjunto de fatores, próprios de uma pessoa, empresa ou país, que em algum momento do futuro, pode tropeçar em ventos favoráveis à sua evolução.

A meu ver, potencial não é sinônimo de dúvida, longe disso. Mas sempre será, digamos, uma promessa de vento futuro. E promessas só são válidas se forem bem executadas, úteis às pessoas que rogam por verdadeiras mudanças. Não são simples trocas de ‘seis por meia dúzia’.

Um século mais tarde, na faina diária, trajando meu surrado macacão de brim, ainda escuto falarem que o ‘Brasil é o país do futuro, com grande potencial’. Parece que não se mancam! Entram e saem alcateias de canalhas do governo e a safadeza política segue a ser usada para amestrar a população ignorante. É incrível, mas a sociedade brasileira já acreditou em cem anos de promessas ao vento, sobretudo, nos últimos 12 anos, quando essa prática recrudesceu.

Restou um fato: a qualidade da vida futura tem sido uma miragem perturbadora para a maioria dos trabalhadores. Isso sem falar dos inúmeros aposentados, dependentes e idosos que, mesmo a viver em situação precária, pensam ser capazes de conter a ação da quadrilha hospedada no planalto central. É lá que fica instalada a sede do Bordel do Poder. Tola esta pretensão: nós, idosos e assemelhados, não somos ameaça alguma à corja que depreda o Estado e a Nação.

Mesmo diante de cenários políticos e econômicos ruins, não tão desgovernado quanto o atual, durante 98 anos eu dormi muito bem. Cinco horas por dia sempre foram reparadoras para prosseguir com o amanhã. Nunca tive insônia ou pesadelo, nem mesmo durante o julgamento da Ação Penal 470 (Mensalão).

Não há dúvida, até fiquei excitado com a condenação de poucos membros a quadrilha, mas a pressão arterial não subiu. Sempre, às 11 horas da noite, punha a cabeça no travesseiro; em segundos estava relaxado e adormecia pesado. Com certeza devo minha senioridade em parte a isso.

Porém, com os primeiros sinais de ‘ensaio político’ para o ‘apocalipse pela corrupção’, iniciado a meus olhos pelo ‘chefe do Bordel’ em 2009, comecei a perceber que meu sono já não era mais o mesmo. Meu corpo precisava de mais uma hora de descanso diário. Passei a acordar mais tarde, às 5 da manhã, mas pronto para outra jornada de trabalho [1].

Por isso, não dei a devida atenção ao pesadelo renitente que passara a ter. Em síntese, descrevo-o assim: “havia um grande felino que, ameaçadora e esfomeadamente [igual ao chefe do Bordel], cercava a casa durante todas as noites; eu o avistava através das janelas e portas. Em noites de lua cheia, lá estava ele a rosnar e babar, olho no olho, a querer me devorar”.

Mas de súbito, em março de 2010, antes das campanhas eleitorais se iniciarem, o seriado de pesadelos encerrou. Porém, óbvio, não me sentia tranquilo após quase um ano de tortura. Procurei meu velho amigo Hélio, notório psicanalista, mas soube que falecera fazia tempo. Dessa maneira, conforme aprendera, eu mesmo tentei esclarecer as causas do seriado.

De acordo com minha ignorância na matéria, inventei um método a que chamei ‘análise por exclusão’. Primeiro retirei as causas que julgava serem inconcebíveis, por exemplo: minha família, amigos remanescentes, o quintal com mata nativa, a casa, o quarto de dormir, a alimentação e até mesmo a qualidade do colchão.

Porém, foi na identificação das causas do pesadelo que me encalacrei. Permaneci acordado durante cinco dias seguidos, rabiscando teorias no papel, mas nada me pareceu razoável. Ao fim, exausto, tomei uma ducha fria e dormi prostrado. Então, tive um sonho esclarecedor, uma resposta (exata?) do autor em pessoa: meu inconsciente. Disse-me ele algo assim:

“Desde que você nasceu, já estava gravado em seu Arquivo de Esperanças que ‘o Brasil é o país do futuro’. O pesadelo decorreu das milhões de regravações que você tem feito nos últimos 12 anos. Mostram sua falta de apreço às práticas dos Chefes de Bordel eleitos, bem como de suas inomináveis quadrilhas. Não me cabe interpreta-las ou discuti-las; apenas regravá-las. Todavia, há graves conflitos com outra gravação, também original – ‘o Brasil tem um grande potencial’ –, registrada no mesmo Arquivo. Você acredita nisso há 106 anos, mas, ao contrário, assiste pasmado ao país ser mutilado por seus dirigentes, empobrecer de forma assustadora, e caminhar solene para a completa devassidão moral. Dessa forma, nasceu o felino corrupto que, de maneira ostensiva, ameaçava seu consciente durante as noites de descanso. Afinal, já que você optara por lutar contra o apocalipse pela corrupção, teria de ‘matar‘ o felino“.

Ao acordar redigi o sonho, da forma acima transcrita. Era o que recordava. Mal sabia eu que ainda haveria de enfrentar, por pelo menos mais 4 anos, a colheita de frutos desse apocalipse, podres e sem qualquer potencial. Mas aguardo confiante que seja deflagrada uma nova Ação Penal. Que dessa vez ela seja fulminante!

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[1] A propósito, sou ferreiro-escultor, formado pela prática de meus avós. Forjo estruturas delicadas de ferro, uso madeira antiga, e monto camas, mesas com tampos com pedras de mármore colorido, armários, estantes, cadeiras e coisas do gênero. Tudo é rústico e, modéstia à parte, com bom acabamento.

Sobre certezas e dúvidas


Queremos ter certezas e não dúvidas, resultados e não experiências; mas não percebemos que as certezas só podem surgir através das dúvidas, enquanto os resultados, somente por meio das experiências” – Carl Gustav Jung.

De súbito, o palestrante falou

Sejamos racionais e dialéticos, nunca paranoicos, pois o calor da imaginação desenfreada é sempre uma barreira implacável ao nosso raciocínio. Reinventemo-nos a cada instante, sempre a duvidar de nossas certezas.

Perguntam-me, “a quais certezas me refiro”? Respondo-lhes: “a todas; certezas definitivas só existem no tempo passado”. Certezas momentâneas permanecem como dúvidas. Afinal, todas as nossas certezas foram as dúvidas que nos conduziram até aqui: nesse exato momento, a esse salão, com olhos nos olhos de cada um. Alguém discorda disso?

Pelo silencio ensurdecedor que ouço, creio não haver discórdia. Assim, continuo a palestra.

Dúvidas são ansiedades fortuitas, que podem ser motivadas pelo interesse em esclarecê-las. Coisas para salas de aula. Mas também podem ser criadas por fugas decorrentes de ameaças de acasos inesperados. Estes, são surpresas que podem trazer bons e maus resultados. Vem daí o medo de enfrentarmos acasos, pelo simples fato de não termos qualquer certeza. Claro, só temos uma pálida ideia – que é uma bela dúvida – de como vamos nos comportar diante de ameaças provindas de acasos.

Chamo a atenção para o fato de que são perigosos todos aqueles que afirmam nunca terem tido qualquer dúvida na vida. Consideram-se os Donos da Certeza. Mas, por outro lado, tolos e otários serão os que neles acreditarem.

Uma certeza cheia de belas dúvidas

Uma certeza cheia de belas dúvidas

Creio que alguns de vocês devem estar a se perguntar:

─ “Afinal, aonde esse cara quer chegar?

Agradeço o interesse de todos. Esta dúvida é bem-vinda. Pretendo que, ao fim dessa palestra, todos sejamos capazes de identificar certezas e dúvidas.

Todavia, nada melhor para o aprendizado de uma técnica do que aplicá-la a um caso real.

Certezas e dúvidas na Ação Penal 470

Nos últimos dois anos o assunto da moda, mais discutido no Brasil, foi conhecido internacionalmente como Escândalo do Mensalão, vulgarizado com esse apelido por envolver personagens políticos de destaque que, ora eram os pagadores de propina – os “mensaleiros” –, ora recebedores de vultosos desvios de dinheiro público – os “mensalistas”.

Todos eles tinham certeza de que nunca seriam descobertos. Estreparam-se! O Procurador Geral da República, uma espécie de Xerife do Sistema Público, indiciou 40 elementos. Enviou para o Supremo Tribunal Federal toneladas de indícios para serem avaliados e, caso a Alta Corte aceitasse a denúncia, instauraria uma Ação Penal. O que foi feito, há absoluta certeza disso.

No entanto, existe dúvida quanto à hierarquia dos elementos que cometeram crimes contra a administração pública. Uma grande lista de crimes. Tudo leva a crer que o Diretor Executivo da quadrilha foi arrolado pelo Xerife. No entanto, a quadrilha não teria um Presidente? Existem dúvidas.

Passaram-se quase dois anos de julgamentos e chicanas. Os réus contrataram as mais caras bancas de advocacia do país para defende-los, mesmo sempre com a certeza de que não seriam condenados. Afinal, a maioria dos ministros do Supremo fora indicada por gente da mesma raça deles. Gastaram muitos milhões de Reais mas, mesmo assim, a maioria dos réus foi condenada e apenada.

dúvida se o tempo de cadeia para alguns condenados não foi reduzido de forma deliberada por juízes da mesma jaça. É cruel, mas há muitas dúvidas. De toda forma, com a certeza de que a legislação penal brasileira permite empurrar certos julgamentos com a barriga, teve início a fase dos recursos: embargos declaratórios, embargos infringentes e, aguardem, pois ainda teremos a temporada de embargos dos embargos.

Existe certeza de que qualquer condenado precisa ser mi ou bilionário para manter a tropa de advogados sempre alerta e muito bem paga, de preferência em bancos de Paraísos Fiscais. E com mais um detalhe: condenados e advogados de defesa com conta na mesma agência.  Parece que essa estranha figura jurídica é chamada Evasão Legal de Divisas. Mas há quem duvide.

Poderíamos ficar confabulando sobre certezas e dúvidas durante séculos. Mas vou poupá-los dessa ameaça. Não consideramos as prisões que ora ocorrem, nem as que em breve deverão acontecer. Esquecemos das certezas de certos prisioneiros que desejam cumprir suas penas em um Resort no Taiti. Sequer lembramos das dúvidas de outros condenados, sobre em que faculdade deverão cursar o Mestrado de Roubos e Desvios, com área de concentração em Corrupção Administrada.

Espero que com essas dicas vocês passem a duvidar de todas as próprias certezas e plantem um grande pomar de dúvidas em si mesmos.

Cuidado com certezas em alta velocidade!

Cuidado com certezas em alta velocidade!

Retrospectiva de 2013


Por Simão-pescador, Praia das Maçãs.

Simão-Pescador

Simão-Pescador

De forma distinta da opinião publicada ao fim do ano passado (veja em Retrospectiva de 2012), neste ano ela atem-se apenas ao Império do Brasil. Até porque, a complexidade dos processos políticos e litígios mundiais transcende qualquer capacidade de análise, sobretudo quando se dispõe de pouco espaço para sintetizar a fartura de informações acumuladas no transcorrer de um ano.

Segue uma rápida retrospecção que registra factos peculiares da política praticada em 2013, herança do mesmo partido político no poder desde 2003: o incomparável Perda Total.

O sempre “Brasil do futuro”

Ao longo de 2013, o governo federal alardeou inúmeras vezes que continuava a construir um Brasil mais rico e igualitário, como já o fizera seu antecessor. Por óbvio, essa promessa temerária novamente não se concretizou. E teve dois bons motivos para “fazer água”:

  • O primeiro foi o erro de premissa, pois o antecessor nada fez de útil para a nação como um todo. Limitou-se a assumir condutas populistas e demagógicas, sempre centradas em sua total ignorância como gestor público máximo do Estado Brasileiro.
  • O segundo foi o facto de a Rainha permanecer entalada no mesmo atalho das políticas econômicas e sociais herdadas de seu Criador, atual Conselheiro. É sabido que através delas é impossível realizar o desenvolvimento de qualquer nação do mundo. Basta observar os casos (caos?) de Cuba e Venezuela, plenos de riqueza, igualdade social e democracia, nos quais se pautam os esdrúxulos governos do Perda Total.

Durante este ano, a nação viveu praticamente submissa a desgovernos sincronizados. O ano ainda não findou, mas já é possível falar no passado, pois nada mudará nos poucos dias que faltam para o Feliz Ano Novo.

Essa sincronia pode ser explicada por uma das alternativas: ou a total falta de competência em gerir a nação ou o estrito cumprimento das ordens emanadas pelo Conselheiro, visando a garantir o poder político eterno nas mãos do Perda Total ou então por, no mínimo, mais duas décadas [1].

Economia

Porém, considerando a evolução dos principais indicadores da economia brasileira neste ano pré-eleitoral, o Perda Total poderá ser bastante prejudicado em suas férteis ambições: déficit na balança comercial, pibinho fraco, inflação incrustrada no teto da meta, consumo de bens e serviços em retração, inadimplência em alta e tombo na produção industrial; enfim, tudo muito bem desgovernado e dotado de magnífica sincronia.

Mas restam questões objetivas: ─ Para onde o país seguirá com sua economia a despedaçar-se de forma continua? Continuará a realizar sua ‘contabilidade criativa’? E como ficará a política fiscal com a redução do teto do superávit primário? Agências de risco de crédito que lhes mordam!

Infraestrutura

Todos os itens da infraestrutura urbana e rural brasileira permaneceram abandonados desde 2003. O pouco que foi construído resultou em obras superfaturadas, instrumento para a corrupção passiva e ativa, envolvendo exércitos de executivos públicos e privados.

Em outras palavras, veículos da organização planejada e sistemática de quadrilhas de ladrões e canalhas, que enriquecem com projetos não realizados para educação, saúde, segurança, mobilidade urbana, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e etc.

Somente nos estertores de 2013 assiste-se a manobras eleitoreiras promovidas pela Rainha, visando a privatizar serviços públicos nunca adequados. É bastante provável que seu Criador e Conselheiro seja o decisor operacional de mais essa patranha nacional. Só resta saber quem realmente está por detrás desse Conselheiro. Tudo leva a crer de que se trata de um amigo íntimo, um eminente vigarista, que hoje talvez esteja a habitar nalgum presídio.

Política

Para fazer uma Política Nacional estável, no mínimo é necessário ter boas maneiras, ser educado e atencioso com as pessoas em geral. Mas, definitivamente, não é o caso da Rainha, pois parece ser muito grosseira e, segundo diz a imprensa, abusa do baixo calão, tanto no varejo quanto no atacado.

Como o sistema político brasileiro começou a caranguejar desde 2003, em 2013 ficou claro que o país anda para trás e se esconde assustado em tocas de areia.

Observa-se que o número de nações amigas foi bastante reduzido pela ideologia que reina no país. Somente é possível abrir os portos brasileiros para Bolívia, Venezuela e Cuba. Até mesmo o Irã, que foi muito bem recebido no governo do Conselheiro, agora está esquecido.

Os países africanos, mais próximos do Brasil por meio de financiamentos públicos – Angola, Moçambique e África do Sul –, tornaram-se propriedade negocial exclusiva do Conselheiro que, segundo o noticiário da imprensa europeia, é vendedor remunerado de obras para algumas empreiteiras.

A relações com a China são comerciais, promovidas basicamente por empresas privadas. O Brasil é, de certa forma, um Estado-colônia do Estado Chinês. Todavia, ainda não foi aventada a hipótese do Imperialismo Capitalista da China sobre o Brasil, que decerto não tarda.

O ponto culminante do isolamento do Brasil aconteceu após as denúncias de espionagem realizadas pela Agência de Segurança Nacional norte-americana. A Rainha sentiu-se pelada diante de um batalhão de sanguinários espiões americanos.

Programas sociais

Bolsa-Família, Luz para Todos, Brasil Alfabetizado e Educação de Jovens e Adultos, Universidade para Todos, Minha Casa Minha Vida e Mais Médicos [cubanos], são alguns dos programas criados e geridos pelo Perda Total nos últimos 10 anos. Decerto, alguns destes estão a ter resultado positivo para miseráveis e analfabetos. O que é um mérito a ser reconhecido.

Mas, não obstante, essa Cordilheira de Ações Sociais pode constituir um Himalaia de corrupção. Falta-lhe controles claros, padronizados e divulgação sistemática para a sociedade. Além disso, seus títulos são pura demagogia e suas justificativas encontram-se em leis que foram aprovadas por uma oligarquia parlamentar [produto do Mensalão], onde os principais beneficiários das ações não têm condição de entende-las a fundo.

Crê-se que o principal programa social para o Brasil ainda não foi sequer pensado pelos governantes do Perda Total. Trata-se de dotar os brasileiros de cultura apropriada ao empreendedorismo, extinguindo todas as burocracias inúteis que mantém o país no terceiro mundo, embora permaneça bastante maquiado.

Para ter uma ideia do que deve ser o teor deste Programa, assista pelo menos em parte ao excelente seminário, promovido pelo IFHC, com ex-alunos do ITA. Clique aqui: “A cultura empreendedora no Brasil: riscos e oportunidades”.

Cultura

Remanesce a ideia de que, nunca na história deste país, houve um conjunto de boçalidades tais, capaz de fazer com que dinheiro público se tornasse capital privado. Dinheiro público para pagar desfiles de modas em Paris. Cerca de 900 mil Euros!

Como diz um artigo publicado nesse blog em agosto deste ano (veja em “Tudo pela cultura”), “existe no Brasil uma tal de Lei Rouanet, que incentiva a ‘renúncia fiscal’ para que empresas e pessoas reduzam seus impostos a pagar, em troca de financiarem a cultura nacional. Mas, me pergunto: desfile de modas é cultura?”.

Desde quando? A sociedade não foi avisada desta visão revolucionária da ministra-sexóloga.

O que resta saber

─ Como transcorrerá o ano de 2014?

Às vezes é triste elaborar cenários, mesmo que com base em factos. Talvez o ano 2014 veja o país quase parando e a sofrer os efeitos danosos de muitos movimentos sociais e grevistas contra as políticas do governo.

Entrementes, deve-se pesar bem as consequências políticas e econômicas adversas dessas manifestações. Por sinal, sempre a recordar os resultados do histórico movimento anarquista italiano: ─ Avanti popolo, facciamo sciopero!

Tiranias fascistas muitas vezes são cunhadas e legitimadas a partir desses acontecimentos. Quem mais sofre é sempre a população desinformada sob o comando de violentos interventores.


[1] A real História Política Brasileira narra processos desastrados bem similares, ocorridos entre 1962 e 1964, que presentearam o país com posteriores “21 Anos de Chumbo”, de 1964 a 1985. Os principais irresponsáveis pela falência democrática do país foram os senhores Leonel Brizola e João Goulart, nesta ordem. Merecem palmas e louvas? De quem?…

Não estou a entender porra alguma


Simão-pescador, Praia das Maçãs.

Simão-Pescador

Simão-Pescador

Desculpe-me as palavras, decerto inadequadas para algumas culturas. Mas, depois de receber em casa meu caro “Velho Sênior”, o melhor mal educado brasileiro que conheci na vida, percebi que, por vezes, devemos dar vazão até mesmo aos nossos piores impulsos subterrâneos.

Aliás, em minha opinião, trata-se de uma catarse essencial para pessoas da minha idade. Creio que todo ato espontâneo faz-nos viver poucos anos a mais. É como se fora um cálculo matemático, resultado de uma regra de três. A cada palavrão proferido vive-se por cerca de mais seis meses, como dizem daqui, os antigos pescadores das Maçãs.

Desde que o jovem Quincas instalou meu acesso à internet e ensinou-me a pesquisar sobre o Brasil – lembrem-se que tenho filhos que moram lá –, notei uma estranha mudança em meu comportamento. Sozinho na biblioteca, passei a falar palavrões em cada acesso que fazia às notícias brasileiras.

Aos poucos tenho notado as causas de minha mudança de humor. Nas revistas e jornais que fiz assinatura online, as principais notícias diárias são de extrema degradação: assaltos a bancos, assassinatos de pessoas, falência da segurança e da estrutura de ensino público, importação de 4000 médicos cubanos, precária infraestrutura na saúde pública e esquemas eleitoreiros desavergonhados.

Além disso, segundo as notícias da imprensa, governantes e políticos brasileiros cometem de tudo: desvio de verbas públicas, corrupção ativa e passiva, formação de quadrilha, um tal de “crime de peculato”, “lavagem de dinheiro”, evasão de divisas e mais sei eu o quê. Trata-se de um degenerado salve-se quem puder.

Cá nas Maçãs, nós chamamos a todos esses delinquentes de ladrões, vagabundos ordinários que precisam habitar penitenciárias. Não perdemos nosso tempo a considerar sua família, procedência, partido político, nível de pobreza, poder de riqueza ou instituição em que fingem trabalhar. Vão todos diretos para a mesma prisão!

O quadro do mensalão, sem risco de dúvida, parece-me o que se pode chamar de “sorrateira ditadura progressiva”. E posso explicar: é um cenário onde indivíduos com graves patologias morais, desviaram os altos impostos pagos pela sociedade brasileira para “comprar e derrotar”, de maneira completamente absurda, qualquer resquício de democracia que ainda teimasse em existir no congresso brasileiro. Isso foi um crime de lesa pátria, crime hediondo contra a nação brasileira. Cadeia com eles!

Tenho assistido em “tempo real” o aparente processo final do julgamento dos mensaleiros. São onze juízes da Suprema Corte a debater recursos ditos legais pelo código penal brasileiro. Parece-me irreal quando vejo alguns juízes da própria corte a defender os acusados que já foram julgados e condenados, alguns por unanimidade! Por sinal, juízes de índole duvidosa para um leigo como eu. Juízes que deveriam, por questões éticas, considerarem-se impedidos de votar na ação penal 470. Mas não, votam e defendem descaradamente os condenados.

Devo dizer que, se piorar um pouco o quadro atual da justiça brasileira, notadamente em sua Alta Corte, o Brasil corre o risco de não condenar mais nenhum criminoso de colarinho-branco, fato que tem sido normal no Brasil. Ao contrário, no caso, todos os mensaleiros hão de receber bônus monetários pelo sucesso dos crimes que cometeram, através de “ladroagem em continuidade delitiva”.

Brasil, mostra a tua cara!


Brasil, mostra a tua cara!

Ordem da sociedade brasileira que precisa ser garantida.

Hoje amanhecemos com a notícia de que há um deputado preso na penitenciária da Papuda, que não teve seu mandato cassado, nesta madrugada, pela Câmara Federal. Trata-se de uma excrecência pública, chamado Natan Donadon, julgado e condenado a mais de 13 anos de reclusão, por peculato e formação de quadrilha. Será que a penitenciária da Papuda, em Brasília, vai-se tornar o SPA do Donadon?

O cowboy de Rondônia

O cowboy de Rondônia

O ladrão e quadrilheiro vai seguir recebendo seu expressivo salário mensal até 2015 e, quem sabe, participar da votação de PECs e leis federais. Sem dúvida, é bizarro ter um parlamentar empossado envolto pelas grades de uma prisão. Isso só acontece no Brasil do século 21.

Mas este é o óbvio resultado das “votações secretas” no Congresso. E não querem votar a PEC do Voto Aberto, de “jeito nem maneira”. Sendo assim, ladrões e corruptos sentem-se à vontade para cometer atos imorais como essa não-cassação, pois algum dia também poderão se livrar de processos criminais, usando os termos da “lei do toma lá dá cá”.

Na sessão desta madrugada, 233 parlamentares deram seus votos a favor da cassação; 131 foram votos contra; e 41 se abstiveram, ou seja, votaram contra. Para que Donadon perdesse o mandato, o parecer do relator precisaria de, no mínimo, 257 votos. Estranhamente, faltaram à seção ou não votaram 188 deputados (o mesmo que votar contra). Em números redondos, 45% dos deputados pediram a cassação do mandato e, pasmem, 55% concordaram que, mesmo na prisão, Natan Donadon possui direito de mantê-lo.

A estrondosa autodefesa do cara-de-pau

A estrondosa autodefesa do cara-de-pau

Com quase certeza, se a votação fosse aberta, Donadon teria perdido o mandato parlamentar. Seria então obrigado a recorrer ao desvio de 8 milhões de reais que cometeu na Assembleia de Rondônia. Alguém faz alguma ideia onde e com quem estará esse numerário?

Mudando o ponto de vista

Em 1988, Gal Gosta interpretou pela primeira vez uma música de Cazuza com esta mesma ordem: “Brasil! Mostra a tua cara”. Na letra dessa música destacaram-se pelo menos mais dois versos: “Não me subornaram, será que é o meu fim?

Parece haver algo de profético nesta letra que, curiosamente, foi gravada em um álbum que se chamou Ideologia. Para assistir a uma das interpretações de Brasil, na voz de Gal Costa, acesse aqui.

De volta ao mensalão

Hoje temos mais um plenário do Supremo Tribunal Federal para julgar embargos declaratórios dos condenados na ação penal 470. Dentro de duas ou três semanas serão julgados os embargos infringentes. Contudo, não sabemos quando o STF chegará ao fim desta ação, pois ainda poderão acontecer os “embargos dos embargos”!

Até agora, todos ou quase todos os embargos foram negados, chicanas à parte. Esperamos que assim continue até o fim dos julgamentos pela Alta Corte. E mais, rezemos para que o STF casse imediatamente todos os mandatos dos parlamentares envolvidos.

Se os juízes permitirem que o Congresso “julgue” a cassação dos mandatos, não haverá dúvida que o SPA do Donadon vai dar muito lucro.

A Inocência


A Inocência

Recebi há pouco essa foto e, como num estalo, a primeira palavra que me veio à mente foi “Inocência”. Assim, vou chama-la de Pureza, pois creio tratar-se de uma inocente menina, da qual desconheço a espécie. Até porque, afinal, a quem importaria qual seria sua espécie? …

A Inocência

A Inocência de Pureza

A fragilidade desta pequena ave, sua plumagem de filhote, clama por proteção e trato suave. Clama, sobretudo, por liberdade. Trata-la bem, sem dúvida, é permitir-lhe permanecer sempre liberta. Somente assim ela poderá crescer, ainda que não aumente de volume e peso.

Observando a foto de Pureza é-me impossível não fazer uma analogia com a história do Brasil durante o último século. Neste período a sociedade brasileira, por diversas vezes “submissa e engaiolada”, não descobriu os meios para crescer livre de oligarquias e ditaduras, com suas permanentes corrupções. Na verdade, manteve-se abatida e enfileirada tal como uma manada de gado para corte.

Assim foi nas ditaduras e oligarquias do período Vargas, nas subsequentes ditaduras militares que duraram 25 anos (de 1964 a 1985), bem como nas oligarquias corruptas de José Sarney e Collor de Melo que se diziam democráticas, embora tenham destruído completamente a economia do Estado e as forças internas propulsoras do desenvolvimento socioeconômico.

No curto período de Itamar Franco, iniciado em 1992, depois de “seis pacotes econômicos de seus antecessores”, teve início uma espécie de salvação do país, mesmo diante de inúmeras crises no mundo. Diz um artigo dos economistas Ana Paula Menezes Pereira e Fernando Seabra, da Universidade Federal de Santa Catarina: “A década de 1990 foi caracterizada por uma sucessão de crises cambiais, como a do Sistema Monetário Europeu, em 1992; a do México, em 1994; a asiática, em 1997; a russa, em 1998; e a brasileira, em 1999”.

E foi nesse torvelinho que Itamar Franco, e depois Fernando Henrique, implantaram com sucesso o chamado Plano Real, dando uma relativa estabilidade econômica ao país. Destaca-se que a oposição contra o plano econômico era bastante aguerrida, sobretudo a encabeçada por Lula da Silva. Há quem diga até hoje, sem qualquer prova , que a “privataria tucana” foi a responsável pelos abusos com que convivemos nos dias atuais. Esses arriscados analistas decerto irão afirmar suas mesmas “verdades particulares” daqui a 100 anos: o culpado foi o anterior a nós. Isso é patético.

Porém, Lula da Silva foi por fim eleito Presidente da República em outubro de 2002, na sua quinta participação como candidato pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Conseguiu obter “apoio político” de um lote expressivo de partidos, inclusive os dos ex-presidentes Sarney e Collor, a quem acusara inúmeras vezes de se terem beneficiado pela corrupção que conduziam no país.

Seu primeiro governo foi bem orientado, mantendo a política econômica de seu antecessor e por sorte, em um período que o mundo estava comprador de commodities. Sem qualquer cerimônia e fundamento, Lula da Silva trocou o que chamava de “imperialismo norte-americano” pelo moderno imperialismo neocapitalista chinês. Até que, em maio de 2005, foi escancarado o Escândalo do Mensalão, que consistia na compra de votos da “base aliada” no Congresso, de acordo com os interesses do poder executivo. Mais de 75 milhões de reais foram desviados do Banco do Brasil para diversos ilícitos, conforme foi apresentado pela TV Senado, na Ação Penal 470. Curiosamente, esta ação somente foi julgada a partir de agosto de 2012, com Lula da Silva já fora do governo. Ileso de qualquer acusação, o cego e surdo presidente fez sua sucessora, a “doutora” Dilma Rousseff.

Talvez, na tentativa de implantar uma oligarquia ditatorial no país, os governos do PT durante os últimos dez anos, plenos de desgoverno e sem prioridades de investimentos para suprir as carências da sociedade, tenham enfraquecido a moral da nação brasileira, cantada em prosa e verso pela mídia internacional.

Parecem ser fatos consumados, mas na verdade ainda não são. Resta à sociedade brasileira continuar a levantar a voz sem qualquer inocência, mais alta do que o silêncio de Pureza, para construir uma verdadeira e transparente democracia.

Meu amigo petista


Por Elizabeth Rondelli, Doutora em Ciências Sociais, professora aposentada das Universidades Federais do Rio de Janeiro e de Juiz de Fora.

Tenho um amigo petista (pessoa incrível e honestíssima), que escreveu sobre o relatório da OIT – Organização Internacional do Trabalho, mostrando que a pobreza no Brasil caiu 36% em 6 anos, e dizendo que deve ter gente mordendo os cotovelos de tanta raiva. Não resisti e respondo publicamente.

Rir com dente é fácil

Dra. Elizabeth Rondelli

Dra. Elizabeth Rondelli

Quero ver agora que o preço das commodities caiu, que o modelo de exploração de petróleo criado pela presidenta prova-se inviável, que a Petrobras não consegue mais segurar a inflação artificialmente baixa, que o pibinho petista não vai sequer chegar a 2%, que o Brasil começa a ser encarado como um país onde é difícil fazer negócio por tanta intervenção e achaques às empresas, que o prazo razoável de fazer as importantes reformas (previdenciária, tributária, fiscal, política…) já venceu, que não houve um mísero progresso nas variáveis que impactam o aumento da produtividade e da competitividade (infraestrutura, educação, ciência e tecnologia), que todos os esforços foram direcionados à anabolização dos números no curto prazo em detrimento da poupança e do investimento no longo, que os sete (eu disse SETE) pacotes lançados nos últimos meses para tentar ressuscitar o paciente moribundo mostraram-se tão patéticos quanto as pessoas que os maquinaram, que as famílias estão endividadas até o talo de tanto estímulo ao consumo, que a arrecadação já dá demonstração de queda (mesmo com o aumento das alíquotas, o que representa perda real em base tributável — ou atividade econômica)…

Eu poderia continuar por mais uma semana elencando a sequência de burradas dos governos petistas. E olha que eu nem entrei no mérito moral — aí, é “capivara” mesmo, ficha policial.

Com economia aquecida e uma carga tributária boçal (em ambos os sentidos: quantidade e qualidade), é fácil ter muito dinheiro para gastar. Distribuir aos pobres parece coisa de gente de bom coração. Renda na mão de pobre vira consumo e consumo conta para o PIB. E, na mão de petista, vira voto na certa. Mas, agora que o dinheiro vai começar a rarear, quero ver onde vai estar o coração dessa gente. Ou vão cravar mais fundo os dentes no setor produtivo da sociedade ou vão ter que escolher o que deixa de receber recursos. Tenho certeza de que o caixa 2 das campanhas eleitorais deles está garantido — até porque este parece ser (por mais surreal que possa parecer) o ÁLIBI dos 36 réus do mensalão.

O fato é que, 10 anos depois, o pobre brasileiro pode ter ficado momentaneamente menos pobre na carteira, mas não se tornou um milímetro mais capaz de enfrentar os desafios do mundo moderno em que o país compete. Basta ver que os analfabetos funcionais das faculdades de gesso do Luladdad chegam a 38% (é inacreditável, mas é verdade).

Acabada a farra da gastança, voltaremos para a mesma estaca em que estávamos antes. Um pouco piores, na verdade, graças aos retrocessos que representam os constantes ataques às instituições da sociedade (a Justiça, a liberdade de imprensa, a independência dos poderes, o que restava de honradez no Congresso, a política externa que deixou de servir à nação para se dobrar a um projeto particular de poder…) e às bases da economia de mercado tão sólidas que os petistas herdaram de seus antecessores mais capazes (a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa Escola — este, sim, carregava uma contrapartida que produzia um efeito positivo no longo prazo em vez de boçalizar a população com esmola–, a autonomia do Banco Central, a confiabilidade dos dados oficiais, o modelo de privatização, o ordenamento jurídico que atraiu o investidor estrangeiro, a estabilidade econômica e de regras…).

Eu não mordo os cotovelos porque as pessoas estão menos pobres. Mordo de ver que o PT transformou em mais um voo de galinha a maior oportunidade que o Brasil jamais teve de entrar definitivamente para a elite global.

Mordo de ver que gente inteligente como você não consegue perceber a destruição do nosso futuro que está sendo promovida dia após dia por gente que só quer se locupletar e perpetuar seu poder sobre a máquina estatal — cada dia maior e mais nefasta para a economia e, por extensão, à sociedade.

Mordo de ver que estamos abandonando as fontes que trouxeram riqueza para este país para nos alinharmos cada dia mais aos membros do Foro de São Paulo — do qual fazem parte o mais abominável ditador do século na América do Sul e o grupo narco-guerrilheiro que ele apoia no país vizinho.

Mordo de ver que gente do bem ainda se alinha aos maiores bandidos que já ocuparam o poder central deste país. Mordo de pena. Mordo de tristeza. Mordo de desesperança.