Os dogmas e suas consequências


Dogma é um ponto inquestionável de uma doutrina”, assim diziam alguns filósofos antigos. Diante deste significado bastante genérico e às vezes explosivo, todas as pessoas que pensam e possuam sã consciência, devem pedir o divórcio imediato de todo e qualquer dogma.

No entanto, caso fôssemos doutrinadores de mentes humanas, essa proposta também poderia ser interpretada como um novo dogma a ser criado. Mas, ainda assim, não seria aceita por várias doutrinas (religiosas, filosóficas e políticas), posto que estas afirmam que dogmas verdadeiros nunca se contradizem (com outro dogma). Aliás, caso criem cenários de contradição doutrinária, seu criador é considerado “herético ou blasfemo” e, no passado, era condenado e morto em ato público sumário, pois a lei (religiosa) também era formada por dogmas, embora com inúmeras contradições.

A existência de dogmas, desde sua origem filosófico-religiosa (grega), resultou de um poder absoluto, totalitário, exercido sobre os indivíduos através de um Estado (ou entidade similar) detentor exclusivo das forças de gestão, às quais todos eram obrigados a reverenciar, pois somente a ele cabia o domínio e o exercício da razão. Esses Estados eram como fábricas monopolistas dos únicos dogmas verdadeiros a serem consumidos pela nação.

Foi na Grécia que os primeiros filósofos ou pensadores (Sócrates, Homero, Parmênides, Platão e Aristóteles, dentre outros), desenvolveram reflexões acerca de alternativas para o exercício das forças de gestão garantidas ao Estado. Os princípios da Democracia surgem nessa época, há mais de 2000 anos. Simplificando a sequência e a evolução desta forma de governo, foi o historiador francês, Alexis de Tocqueville (1805-1859), um dos principais responsáveis pela existência das democracias ocidentais.

Liberte-se dos dogmas

Liberte-se dos dogmas

Nos dias atuais, mais de 90% dos Estados-Nação consideram-se governados sob o regime democrático. No entanto, parece-nos haver uma falácia nesta afirmação, pois foram criados vários tipos de democracia, sendo que alguns não são muito democráticos. Deve-se isso às diferentes “ideologias” existentes no planeta. Existe uma boa quantidade de ideologias aceitas por estudiosos de ciência política e sociologia, confirmando a existência de doutrinas políticas variadas. (Exemplos: democracia, socialdemocracia, socialismo, capitalismo, comunismo, anarquismo, neonazismo, sionismo, populismo (onde o governante escolhe a doutrina que lhe dará mais votos em cada decisão pública que assina), liberalismo, trabalhismo, ultranacionalismo e estatismo). Cada um, democraticamente, escolhe a de sua preferência.

Mas, perguntamo-nos: “Por acaso essas ideologias atuais, enquanto doutrinas políticas, seriam conjuntos de dogmas? Estaríamos, em pleno século XXI, retornando à escuridão do pensamento humano?”.

Na recente e finda “Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável” assistimos ao processo de convergência de todas essas ideologias. Magnífico! Um belo exemplo da prática da democracia.

No entanto, conforme reza um amigo socialista, “embora pífios, os resultados da Rio+20 constituem uma forma de democracia que se deseja aberta ao debate e, impulsionadora da crítica corretiva à própria ação pela irresponsabilidade governamental, assim vista até o presente”, com o que concordamos.

A crítica é essencial, mas acreditamos que necessita ser libertada dos dogmas impostos por qualquer ideologia abraçada pelos críticos, ou seja: não pode haver interesse público ou privado, interesse dos Estados ou de Empresas. Há apenas as inquestionáveis necessidades da vida do ambiente planetário e o interesse de suas sociedades, desde que emitidas por representantes racionais, inteligentes e lógicos, enfim, representantes produtivos e organizados, sem conexão com entidades ideológicas e dogmáticas.

Uma curiosidade: em nenhum idioma dogma possui antônimo, isto é, um vocábulo que a ele se oponha. Além disso, é escrito da mesma forma em várias línguas, com o mesmo significado: italiano, latim, português, usbeque, inglês, holandês, espanhol, eslovaco, tcheco, húngaro e etc.