Hileia, a nova nação


Hileia foi o nome dado à floresta amazônica pelos naturalistas Alexander Von Humboldt (1769-1859) e Aimée Bonpland (1773-1858). Juntos percorreram alguns trechos da floresta, mas só tiveram uma noção superficial da área coberta pela mata, estimada àquela época em mais de 8 milhões de km2. Certamente, também não tinham como imaginar a diversidade de sua flora e fauna, bem como o gigantismo de sua hidrografia. Porém, ficaram alarmados diante do monstruoso laboratório natural que os acolhia.

De acordo com estimativas mais recentes (2001 a 2003), a Amazônia é habitat de duas milhões e quinhentas mil espécies de insetos, dezenas de milhares de espécies florísticas e cerca de duas mil aves e mamíferos.

Já foram cientificamente classificadas nesta floresta nativa pelo menos 40.000 espécies da flora, 3.000 da ictiofauna, 1.295 da avifauna, 430 da mastofauna, 428 da anurofauna e 370 da herpetofauna. Somente no Brasil, cientistas já descreveram cerca de 120.000 espécies de invertebrados amazônicos.

Diversidade da floresta amazônica

Diversidade da floresta amazônica

Em levantamento mais recente, a floresta amazônica completa ocupava uma área próxima de 5.500.000 km2. Porém, considerando todas as áreas que vêm sendo desmatadas e as queimadas criminosas realizadas em suas bordas, sobretudo no Brasil, não temos uma medida mais aproximada da mata remanescente, que continua a ser a maior mancha de Floresta Tropical do planeta. A pergunta que se faz é ─ “Até quando”?

Gestão atual do Ambiente Amazônico

Têm-se nove países que possuem seus territórios parcialmente cobertos pela vegetação amazônica. Por ordem alfabética: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Francesa, Guiana (Britânica), Peru, Suriname e Venezuela. Seriam eles proprietários exclusivos das manchas amazônicas encontradas em seus territórios? Podem devasta-las para finalidades de exploração agropecuária ou madeireira, por exemplo?

Sabe-se que estas questões envolvem o delicado tema da soberania nacional. Mas, convenha-se, soberania de uma nação é bastante distinta de asneira nacional. Se a Rússia resolvesse acabar com sua floresta de coníferas, a Taiga Siberiana, que é bem mais pobre em biodiversidade, porém com maior superfície do que a Floresta Amazônica, decerto até a ONU iria realizar severas críticas sobre as graves consequências ambientais deste ato, que liberaria grandes volumes do metano secular armazenado sob o solo pantanoso e congelado que dá suporte às coníferas . Aí sim, com certeza iria-se assistir ao planeta sendo literalmente fervido. No ar acondicionado, é óbvio, mas somente enquanto houvesse energia.

Admitindo (falsamente) que a grande floresta seja fundamental para a estabilidade do Ambiente do Planeta e, por tabela, para a vida do Homem que o habita, a questão que se impõe é a seguinte:

─ “Como fazer para gerir a Sustentabilidade da Amazônia?”.

Mesmo sem aceitar a premissa inicial como verdadeira, impõe-se refletir sobre as diretrizes a serem impostas para que nela não continuem a ocorrer violentas rupturas ambientais, função das ações produtivas do “Homem sábio”, em grandes áreas com elevada vulnerabilidade ambiental e, portanto, muito sensíveis às transformações que lhes são perpetradas.

Pelo que vem sendo exposto e documentado pela mídia nacional e internacional, acerca dos processos humanos ocorrentes em toda a Amazônia, não será leviano concluir-se que a gestão desta floresta é falha, insipiente e lamentável. Todos os oito países amazônicos têm sido réus e prováveis criminosos em suas inações públicas sobre este formidável legado natural. Chegou-se ao ponto de ouvir da boca de uma ministra-chefe de Casa Civil (Dilma Rousseff), em conferência realizada em Copenhague (COP-15, maio de 2010), a seguinte atrocidade:

O ‘Meio Ambiente’ é, sem dúvida nenhuma, uma ameaça ao desenvolvimento sustentável”[sic].

Há um vídeo na internet em que essa fala é empostada e clara, dita em alto e bom som. Entretanto, a imprensa brasileira afirmou, ao vivo, que se tratou apenas de uma “gafe”. Mas esqueceu-se de considerar “as dimensões e consequências desta pequena gafe de 12 palavras”, sobretudo no contexto internacional e político do evento.

Necessidades da Gestão Amazônica

Pelo menos desde os anos de 1980, vem sendo debatida e tentada a criação de organismos internacionais, compostos pelos países amazônicos, visando a garantir e manter a sustentabilidade da maior floresta tropical do planeta. Fomos convidados por um engenheiro florestal peruano para oferecer contribuições de gestão nesse sentido. Mas até o momento, passadas quase três décadas, ficou claro que nenhuma iniciativa deu certo.

O gigantismo amazônico

O gigantismo amazônico

Infelizmente, cada país continua a “quase gerir” sua parcela da floresta de acordo com suas próprias regras, leis e parcos princípios ambientais. O resultado é que a floresta vem definhando, ano a ano. Suas bordas vêm sendo corroídas pela ação humana; suas matas arbustivas, retiradas; e suas áreas internas, ocupadas. Resultado: forte perda da qualidade ambiental do bioma amazônico, ocorrência de rupturas ambientais e perdas relevantes na estabilidade de seus ecossistemas.

Tudo isso prejudica seus processos naturais de rebrota, pelo envelhecimento precoce que proporciona em muitas das espécies florísticas (jovens e em evolução), tanto nativas, quanto secundárias. Aos poucos, mas em incontáveis áreas, a mata vai sendo solapada e tendo sua capacidade fisiológica reduzida. Alguns botânicos chamam esse fenômeno de “senescência induzida da vegetação”.

O sonho da Floresta

Cerca de 90% da floresta amazônica remanescente encontra-se no Brasil. Observa-se que ela possui funções ambientais relegadas pelas funções econômicas que lhe atribuem, as quais são muito mal remuneradas por seus “clientes”, quais sejam:

  • Constitui a última região agredida pela expansão da fronteira agrícola e pecuária;
  • É o principal repositório mineral do país, sempre mal explorado e degradado;
  • É um dos principais motores para geração de energia de forma a servir grande parte da nação, oferecendo áreas e recursos naturais de sua propriedade, quase de forma gratuita; e
  • Sofre inúmeras queimadas, tem grandes áreas desmatadas e permite a exploração ilegal de sua madeira, sempre permanecendo calada.

Em outras palavras, o território que deveria ser muito bem tratado, como grandeza quase exclusiva de ambiente brasileiro, é malbaratado qual escravo a serviço da riqueza monetária de alguns espécimes de “homo sapiens”, selecionados por uma “Comissão de Deuses do Olimpo”.

─ “Como é possível salvar a Amazônia inteira?

Diante desta questão que demanda uma resposta urgente, ficou-se a pensar livremente acerca de soluções cabíveis, sem estabelecer limites à imaginação. Mas sempre na busca de possíveis controles do cenário futuro ambiental que já se desenha aos olhos do mundo.

Imaginou-se a Terra vivendo sem suas maiores matas equatoriais: Floresta Amazônica, Floresta do Congo e Floresta da Indonésia, todas em ritmo mais ou menos acelerado de devastação. Então, sonhou-se com um Mago da Floresta que, com voz bem grave, perguntava o seguinte:

─ “E se todos os países amazônicos ofertassem gratuitamente suas áreas cobertas pela Hileia para constituir uma Única Nação, independente e soberana?

E disse mais: ─ “Somente esta nação ─ a República Democrática da Hileia ─ definirá os usos permitidos e controlados de seus espaços, de seus recursos ambientais, bem como o preço que cada “país conveniado” pagará para desenvolver projetos, utilizar recursos e fazer negócios que sejam compatíveis com a sustentabilidade espontânea da floresta tropical“.

Ecossistema amazônico

Acordaram sobressaltados, sem entender várias partes perdidas do sonho. O Mago da Floresta sumira e esqueceram-se de tudo. Levantaram-se e pé na estrada, pois estavam atrasados para os trabalhos do escritório…

Nação responsável pela gestão da Hileia

Por óbvio, dado que o Brasil possui cerca de 70% do território amazônico, a gestão desta nova nação precisa caber a este Estado Nacional. Países europeus, asiáticos e norte-americanos, mesmo que se integrem em safados conluios, deverão permanecer calados diante da soberania brasileira sobre a Amazônia e suas incríveis riquezas, ambientais e econômicas.