Reino da Deprimência


Zik-Sênior, o Ermitão.

Zik Sênior

Zik Sênior

É tal como assistir a chuvas de meteoro durante a noite. Vê-se as centenas de ciscos de luz, verdadeiros traços afiados que cortam a atmosfera quase na velocidade da luz. O observador fica estupefato. Ao fim, talvez ele reflita: “Aonde caíram essas coisas”? “Algo foi destruído”? “Alguém morreu“?

De forma similar, o povo brasileiro assiste submisso ao bárbaro tsunami da corrupção. Rasga os espaços do país com navalhas de bilhões de dólares, desviados do tesouro público. Olhe para o céu à noite e, inerme, verá seus tributos a voar, feitos ciscos, para as contas bancárias dos mesmos quadrilheiros da década. Este tem sido o único “fenômeno espacial brasileiro”, que já dura quase duas décadas.

É fácil entender por que o povo está a caminho da depressão generalizada. Em meu entender, as ações da luta contra a corrupção ainda são poucas e não trouxeram efeitos concretos. Na imprensa, os jornalistas mais críticos são a “mesma dúzia de sempre”, com raras variações. Além disso, de que valem as enormes mobilizações de rua realizadas, se no máximo duram 8 horas de um dia, por mês?

De fato, diante dos milhões de brasileiros nas ruas, mesmo que só mensalmente, os políticos-chefe das quadrilhas guardam-se em silêncio para recontar a bilionária extorsão cometida nos cofres públicos. Decerto, aguardam o cansaço das vaias e das críticas. Têm certeza de sua eterna impunidade; aliás, um sinal que também deprime aos cidadãos comuns, aqueles sem qualquer interesse em extorquir o próximo.

Há um esforço da Polícia Federal para apurar os crimes cometidos no Petrolão. Da mesma forma atua a Justiça Federal do Paraná, com a prisão preventiva de empreiteiros, corruptores comprovados. No entanto, a suprema corte do país acaba de criar a “operação Solta a Jato”: por três votos a dois, decidiu libertar nove deles para cumprirem a reclusão em casa.

É um fato lastimável, mas foi assim que deixaram as jaulas da Polícia Federal no Paraná, onde deveriam permanecer justamente encarcerados, e seguiram faceiros para o aconchego do lar. Temo, mas creio que as ditas delações premiadas foram banidas por três juízes militantes da suprema corte.

Essa desfaçatez aparelhada entre os três poderes, culminando com as decisões finais do Supremo Tribunal Federal, é deplorável, um comportamento que causa a “Suprema Deprimência” na impotente sociedade brasileira.

O desemprego continua a crescer em todo o país. Após os mais de 50 mil casos ocorridos em 2014, a quantidade de latrocínios e assassinatos aumenta sem parar. Esta é a pena de morte brasileira que, embora não seja aceita pelo Estado, representa a omissão e incompetência do governo, sobretudo o federal que não protege nossas fronteiras do tráfico de drogas e armas. Acho mesmo que devem haver alguns interessados nos lucros dessa prática hedionda.

Escrever este artigo me deprime bastante, desgasta minha fluência verbal. Porém, ficar sem redigi-lo seria ainda mais sacrificante. Concluo que o cenário político-econômico que o PT e seus asseclas construíram no Brasil, tornou-o Reino da Deprimência.

Muito embora haja cientistas políticos brasileiros que afirmam ser a corrupção instalada uma consequência secundária; na escola de Coimbra em que conclui meu mestrado, sem dúvida é a causa principal desta depravação nacional.

Sete bilhões de sonhos e um planeta: consuma com cuidado


Por Ricardo Kohn, Escritor.

Há cerca de 12.000 anos, final da Idade da Pedra, os homens reuniam-se em grupos, a vocalizar entre si para tentar o cerco do alimento: outros animais vivos. Traziam às mãos artefatos que produziam para a caça e a luta. Abatiam os animais necessários à alimentação e guerreavam contra os grupos que julgavam ser inimigos, pois teimavam em invadir sua área de caça. Todos eram nômades, formados por “caçadores-coletores”.

A síntese acima contém elementos capazes de mostrar que, além de ser membro da fauna pensante, apesar da comunicação precária, o homo sapiens já possuía certa habilidade de “planejar ações imediatas” para grupos de hominídeos similares a ele.

Dessa forma, acredita-se que o processo de estruturar e executar ações quase organizadas, é nativo dos humanos, intrínseco à sua origem como espécie evoluída de primatas no planeta. A inteligência sempre esteve presente em sua árvore genética.

A ser assim, pode-se inferir que o homem pré-histórico já pensava de que maneira poderia sobreviver no ambiente do planeta. Era como se construísse em seu cérebro um “plano ambiental” de curto prazo, com base em habilidades intuitivas. Tudo leva a crer que, por agir dessa forma, conseguiu manter-se como “espécie faunística não ameaçada” até os dias atuais, na figura do “homem de terno e gravata”: o homo sapiens moderno.

Para este artigo, a questão que se impõe é a seguinte:

Por quais motivos as ações realizadas pelo homem pré-histórico eram similares às de umgestor do ambiente”?

A resposta empírica a esta pergunta considera que o Homem, em qualquer tempo de sua história, somente permanece a existir, a partir das relações que mantem com o ambiente. Por isso, sempre elaborou e executou ações para recolher e transformar “bens ambientais finitos”.

Entretanto, esse processo de transformação intensificou-se com o tempo, função da crescente população humana e do anseio consumista. Cada vez menos, o ambiente do planeta foi tido como essencial à vida humana. Embora o homem seja parte do ambiente e precise dele para sobreviver, já é antiga a visão de que necessita ocupar mais espaço na Terra e mercantilizar seus bens ambientais primitivos: tornou-se um “caçador-extrator”. Hoje chama de “recursos naturais”, bens que são gratuitos e próprios do ambiente. Diz que são “recursos com valor monetário”.

Onde vivem os que consomem o planeta

Onde vivem os que consomem o planeta

As lições da estratégia de guerra formuladas por Sun Tzu, constante de seus escritos em “A Arte da Guerra”, datadas de 2500 anos atrás, têm abordagem ambiental. Os planos militares que as sucederam, ainda hoje, dão ênfase ao que o General Sun Tzu chamava “conhecimento do terreno”, ou seja, do ambiente.

Seguiram-se os planos empresariais, com vistas a remunerar a empresa pelos produtos e/ou serviços que oferece ao mercado – o que equivale às ações de alimentação do homem pré-histórico –, bem como “guerrear no mercado com suas concorrentes”. Todavia, sem armas, somente por meio da inovação e produtividade.

Da mesma forma, muito embora sem guerras, com vistas a manter estáveis os sistemas ecológicos que compõem o ambiente, o homo sapiens moderno criou Planos para a Gestão do Ambiente. Uma de suas finalidades é otimizar o desempenho de empresas produtivas, sobretudo, nas relações que realizam com os espaços físico, biótico e antrópico do ambiente.

Afinal, enquanto as empresas produziram, baseadas em planos particulares, não pensaram na estabilidade dos ecossistemas, de onde se apropriaram de bens a eles vitais. Com visão egocêntrica, consomem o ambiente de forma adversa, não raro conduzindo-o a níveis de total degradação de seus bens ambientais.

Cabe ao Homem moderno saber até onde pode consumir o Ambiente Finito do Planeta. Até por que, o valor dos atuais sete bilhões de sonhos é prisioneiro absoluto dessa finitude.

O populismo é selvagem


Equipe Sobre o Ambiente’.

Todo líder populista é sórdido e mentiroso. De cima dos palanques, ajoelha-se e jura à nação que, caso eleito, satisfará a todos os direitos do cidadão. Às vezes, até consegue demonstrar à plateia amestrada suas inumeráveis falácias. Diz ele, a gritar com gestos largos: “educação, saúde e segurança são os direitos básicos domeu povo”; no meu governo, essas coisas vão ser as melhores em toda a história deste país!”

Calhorda! Estas são necessidades primárias e essenciais de qualquer cidadão, em todas as nações civilizadas do ocidente. Tratam-se, portanto, de dever do Estado Democrata atende-las com máxima universalidade. Caso contrário, não havendo justas explicações públicas, os dirigentes precisam ser alijados do poder de forma sumária, posto que, ou são incompetentes ou líderes da corrupção instalada no governo.

O único direito adquirido pelo povo carente: ser pedinte.

O único direito adquirido pelo povo carente: ser pedinte.

Direitos inalienáveis do cidadão são a própria vida, a liberdade e a propriedade que consegue construir, através de seu trabalho. Estes são os três pilares básicos a que o Estado Democrata precisa garantir de forma objetiva, sem apologia desonesta.

Populismo latino-americano

Na história recente das repúblicas latino-americanas, o populismo floresceu no Brasil, durante a década de 1930. Teve como pai o advogado Getúlio Dornelles Vargas, durante a primeira fase dos seus primeiros 15 anos de governo[1], de 1934 a 1937. Vale frisar que, sob acusações de corrupção, provindas da imprensa e de parte da sociedade, suicidou-se em 1954, segundo conta a história divulgada pela claque dominante.

Por outro lado, houve um espelho político de Getúlio na Argentina, com imagens nítidas nos 11 anos dos governos de Juan Domingo Perón e de seus lastimáveis imitadores. Pela ordem: Isabelita Perón, Carlos Menem, Néstor Kirchner e, por fim, a inconsequente Cristina Kirchner, que até hoje arrasa o país que diz governar.

Têm-se a sensação de que líderes populistas, que nunca aderem a qualquer ideologia (para eles tanto faz), são primos-irmãos de ditadores. Seus sonhos na vida pública consistem na janela que abrem para fazer “doações de agrados ao povo”. Querem ser reeleitos pela eternidade e adquirir o controle total de todos os poderes do Estado.

De certa forma, Fidel Castro, em Cuba, é um caso clássico de tirano ditador, com fortes veias populistas: exímio mentiroso, assassino contumaz e sórdido corrupto.

No passado, Fidel foi entrevistado por um dito frei brasileiro, justo para mostrar ao continente americano a “paixão que o povo cubano” possuía pelo líder da ditadura comunista, instalada na ilha desde 1959.

Inclusive, há um filme que foi gravado para eternizar essa entrevista, onde o dito frei, decerto louvado por seu deus, esqueceu-se de mostrar fuzilamentos e torturas cometidas pelas forças castristas contra parte de seu povo. Mas, sem dúvida, houve genocídio em Cuba. Se muitas centenas de cidadãos cubanos foram executados, milhares deles fugiram aterrorizados da ilha, em canoas improvisadas, rumo aos EUA.

Ao fim, graças ao “sucesso de Fidel Castro e seus ilibados terroristas vermelhos”, na cabeça de certos políticos da América Central acenderam-se centelhas do poder. Todos queriam ser “revolucionários como Fidel“: donos da força, líderes do partido único; e, obviamente, trocar a distribuição de alguma “bolsa-esmola para miseráveis” pelo próprio direito a levar vida de nababo, com a produção de filmes biográficos e estátuas. Várias nações centro-americanas sofreram com esse delírio. Destacam-se a Nicarágua, o Panamá e a Guatemala.

O criminoso fenômeno castrista também se irradiou pela América do Sul. Teve a liderança de populistas chilenos, venezuelanos, equatorianos, bolivianos e brasileiros, dentre outros. Em especial, na Venezuela, Equador, Bolívia e Brasil o “terrorismo revolucionário” sobrevive. Ora sob a forma da agressão ditatorial ao povo (Hugo Chávez e Maduro), ora através da ação de descarada de governantes analfabetos (os líderes desses países, à exceção do Equador, que tem no comando um alucinado temerário, sem norte).

Populismo brasileiro

Há cientistas políticos que teorizam o populismo como “o conjunto de práticas ordinárias, no mais das vezes expressas pelo discurso apátrida, que deseja estabelecer relações diretas entre o líder e a massa popular“. Visa assim a obter apoio às suas iniciativas políticas, sem ser intermediado por instituições públicas, partidos ou sindicatos.

Na prática brasileira, essa teoria é assim objetivada: “líder populista é o vigarista carismático que consegue imprimir suas mentiras na mente dos que julga serem seu povo”.

No Brasil eles foram e são muitos[2]. Não querem a democracia representativa, a menos que seja apenas a de seu único partido político. A ideia que tiveram e têm em comum é implantar a falaciosa “democracia participativa”, pois, além de liderarem “organizações de impostores sociais”, sempre se acreditam capazes de manipular importantes lideranças da sociedade. Não se tem dúvida, na verdade, trata-se de implantar a “democracia de quadrilhas companheiras”.

O alvo tático dos populistas brasileiros pode ser assim formulado: ou se tornam os ditadores da nação ou serão seus interventores. Em ambos os casos, enquanto receberem apupos do povo, promovem o desmanche das instituições públicas e da economia nacional.

Muito embora seja uma tática de alto risco, até mesmo nos “eternos países do futuro” – Brasil e seus pares interventores sul-americanos –, os líderes populistas mais arrogantes lutam para implanta-la a todo custo. E o que os motiva é factual: corromper ad infinitum as instituições públicas e derramar o erário público nas próprias contas bancárias.

Este é o cenário de torpeza e imundície política a que o Brasil está submetido. Chegou-se a um nível tão baixo, que cidadãos comuns sentem asco e náuseas. De toda forma – se possível dentro da lei – precisa ser logo erradicado da nação, pois se encontra em estágio avançado, rumo a rupturas federativas. Que se saiba, nenhum brasileiro quer rachar a nação em “dois Brasis”. Sobretudo, se um deles reúna os atributos para ser completamente vil e corruto!

Impactos do populismo

Sabe-se que a corrupção é considerada comum no Brasil, desde a Proclamação da República (15 de novembro de 1889). Porém, o fato de ser comum não significa que seja natural e aceitável, ao contrário. Precisa ser eliminada, senão totalmente, pelo menos no setor público, que lidera os maiores investimentos dos brasileiros.

No entanto, após mais de um século de Brasil República – 126 anos –, verifica-se que esse torpe fenômeno social tem evoluído, com mais destaque nos governos de “populistas”. Violam direitos primários dos cidadãos e não atendem suas necessidades básicas, tal como juraram pelos palanques do Brasil afora, para serem eleitos e reeleitos.

Porém, foram além, organizaram uma espécie de Ministério da Corrupção, um instituto partidário no lugar do Estado. A nação teve até bem pouco um sistema corruptivo sistemático e permanente, que operou a pleno vapor por cerca de uma década.

Em trova, hoje o povo não possui acesso a uma estrutura de saúde pública decente, por que ela sequer existe. Dezenas de milhares de pessoas são assassinadas anualmente no país, sobretudo, pela ausência da segurança pública. Porém, mais grave que tudo, é a falta de qualidade na educação pública oferecida em escolas e universidades.

A ser assim, o povo doente, deseducado e sob risco de morte, simplesmente não sabe como votar. Sem adquirir competência para trabalhar, torna-se um escravo anômico das bateladas de bolsa-esmola distribuídas pelo governo.

E é disso que mais se aproveitam os governantes populistas! Enquanto uma parcela expressiva da população brasileira luta para sobreviver com as esmolas recebidas, sem qualquer ideia de como será sua própria vida amanhã, líderes populistas dão-se os direitos de enriquecerem com a corrupção que coordenam, levarem a boa vida de vagabundos ricos, possuírem segurança treinada, terem liberdade para propalar asneiras e acumularem volumosas riquezas com a propina desviada dos cofres públicos.

Diante deste quadro, recomenda-se que sigam à risca as ordens dos protestos civis de milhões de brasileiros: Fora PT! Fora Dilma! Fora Lula!

Isso mesmo, extingam-se com rapidez para não serem extintos pela razão das ruas. Decerto, será menos doloroso para todos.

……….

[1] O primeiro período do governo Getúlio Vargas foi de 15 anos, de 1930 até 1945. Dividiu-se em 3 etapas: (i) de 1930 a 1934, como chefe do “Governo Provisório“; (ii) de 1934 a 1937, como presidente da república do “Governo Constitucional”, tendo sido eleito presidente da república por uma Assembleia Nacional Constituinte; e, por fim, (iii) de 1937 a 1945, como ditador brasileiro, no que ficou chamado de “Estado Novo”, implantado após um golpe de Estado. No segundo período, em que pela primeira vez foi eleito pelo voto direto, Getúlio governou o Brasil por 3 anos e meio: de janeiro de 1951 a agosto de 1954, quando se suicidou (?). Foi “vítima de calúnias da oposição”, segundo as facções armadas que o protegiam.

[2] Após o caudilho Getúlio Vargas, os populistas mais expressivos foram Jânio Quadros e Leonel Brizola, todos já falecidos; porém, têm-se ainda os “vivos” José Sarney, Fernando Collor, Luís Inácio da Silva e Dilma Rousseff, no gozo de relativa saúde física. Mental, bem…, têm-se dúvidas.

Atenção! ‘Quatro planos ambientais’


Por Ricardo Kohn, Consultor em Gestão.

Leia o prefácio de nosso próximo livro técnico.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que a população mundial esteja na casa dos 7,2 bilhões de pessoas. PrevêRicardo Kohn que alcance a 8,2 bilhões de habitantes até 2025, devendo chegar a 9,6 bilhões, em 2050. A ser assim, a cada século que passa o espaço terrestre per capta reduz-se de forma significativa.

Porém, desde há milhões de anos que a Terra possui a mesma superfície, limitada em cerca de 510 milhões de km2. É composta por água e solo. Foi a evolução da dinâmica entre esses dois fatores, junto com sua atmosfera, que permitiu a instalação da flora no planeta e que sua fauna florescesse. Culminou com os primatas hominídeos, classe faunística em que, até agora, o homem é o fim da linha desta evolução.

Todavia, a partir de meados do século 19, após a consolidação da Revolução Industrial, a Terra começou a dar sinais mais nítidos de que a presença do homem, com suas habilidades construtivas e produtivas, precisava ser muito bem planejada. Sobretudo, no que concerne ao uso e alteração de seus fatores físicos: o ar, a água e o solo, que constituem o substrato da vida da flora, da fauna e do próprio homem.

Desde então, as habilidades da inteligência humana transformam “bens ambientais”, que são essenciais à evolução do Ambiente do planeta, em “recursos naturais” com valor econômico. Recursos estes, tratados como se fossem ilimitados, que após processados são oferecidos ao mercado de consumo, como “produtos de valor agregado”.

Em boa parte, o processo da transformação de bens ambientais em produtos com valor agregado é aceitável, desde que obedeça a certas condições restritivas. A mais relevante é o nível de desempenho ambiental alcançado pelo processo: precisa ser positivo para o Ambiente, sem causar rupturas nas relações ambientais impostas pelo homem aos demais fatores ambientais envolvidos: ar, água, solo, flora e fauna. Do contrário, fatos ocorrentes mostram que todos os bens e fatores serão extintos: não haverá produtos e valor, não haverá mercado. Ter-se-á tão-somente impactos ambientais negativos, a construir a chamada “terra arrasada”.

A visão do desenvolvimento que foca apenas a Economia como seu fundamento é majoritária no mundo. Mas também são conhecidos os efeitos nocivos desta abordagem. Nações frágeis, na miséria, como ocorre na África subsaariana. A pobreza crescente que se irradia pelas castas inferiores da Índia que, aliás, enriquece. Os investimentos brasileiros que redundam em obras megalômanas interrompidas, a corrupção instalada, a demolição sumária do Ambiente e o alto risco para a geração mínima de empregos são fenômenos ambientais comprovados e, de fato, indiscutíveis.

É paradoxal que o homem impacte de forma tão adversa o Ambiente que a ele deu origem e permite que beneficie a qualidade de sua própria vida. Afinal, é da qualidade do ar, da água e do solo que sobrevém a qualidade da vida na Terra: da flora, da fauna e do homem. Há que se trabalhar rapidamente para garantir a estabilidade de todos.

A contribuição teórica e prática a que se propõe o livro “Os Quatro Planos Ambientais” é fornecer ferramentas de gestão desenhadas para manter a estabilidade do Ambiente e de seus espaços – físico, biótico e antropogênico –, enquanto as relações ambientais realizadas entre os variados ecossistemas são mantidas na sua melhor plenitude.

Dessa forma, a Economia é um dentre os diversos segmentos ambientais antropogênicos a serem planificados, tais como: demografia, educação, saúde, segurança, uso e ocupação do solo, infraestrutura logística, infraestrutura de transporte, arqueologia, cultura, sociologia e antropologia.

O livro detalhará como os ‘quatro planos ambientais’ devem ser desenvolvidos, implantados e geridos através de seus resultados, segundo sua programação. Têm níveis e finalidades distintas, podendo serem adotados pelos setores público e privado. São eles:

  • Plano Corporativo Ambiental (PCA), para proporcionar a empresas públicas e privadas o estabelecimento de alvos estratégicos, táticos e operacionais a serem alcançados e as medidas necessárias para realiza-los. Além disso, sem perda de sua efetividade, pode ser adaptado para atender a governos nacionais e estaduais.
  • Plano Executivo para Gestão Ambiental de Obras, com estrutura similar à do PCA, é destinado a empresas de construção civil e montagem, com vistas à minimização ou anulação de impactos adversos proporcionados pelas obras em geral.
  • Plano para Gestão da Sustentabilidade, é destinado a governos municipais e grandes propriedades rurais. Parte das vocações ambientais e geoeconômicas do território, define alvos táticos, metas operacionais, programas e projetos e, se necessário, convida investidores a aportarem recursos com o retorno proporcionado pelo mercado.
  • Plano de Análise e Gestão de Riscos e Impactos Ambientais, que deve ser adotado por empresas que possuam processos e atividades com perigos, riscos e impactos adversos associados.

A crescente demanda não atendida por água, energia e alimentos pode tornar a Terra um planeta ingovernável. Sem planejar suas ações para médio e longo prazo, o homem caminha para o caos. Afinal, a ciência que desenvolveu ainda não construiu um “puxadinho terrestre” para esconder seus lixos e excessos.

Ambientologia


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

Há algumas décadas é observado o aumento das preocupações do homem com o destino da Terra. Não por força de agentes cósmicos, externos ao planeta; mas pela ação desastrada de atores internos. Mesmo o “homem comum” – aquele que não adquiriu conhecimento sobre a dinâmica do ambiente da Terra –, com ímpetos de solidariedade ao próximo, arrisca palpites e soluções caseiras, que chama de “sustentáveis”.

A dinâmica da Terra resulta de sua estrutura física e de sensibilidades nela identificadas por diversas ciências. Sobre essa dinâmica já foram publicadas toneladas de literatura científica e analítica. Contudo, todas são obras específicas; seus autores tratam o ambiente através dos espaços e segmentos que conhecem. Por exemplo:

  • No espaço físico tratam da climatologia [meteorologia], hidrologia, oceanologia, geomorfologia, geologia [vulcanologia], geotecnia, pedologia, qualidade físico-química da água, etc;
  • No biótico abordam a ecologia, a qualidade biológica da água, vegetação, botânica, fitossociologia, mais as várias classificações da fauna silvestre [mastofauna, avifauna, primatofauna, herpetofauna, ictiofauna, entomofauna, anurofauna, malacofauna, etc];
  • No antropogênico discorrem sobre a demografia, economia, educação, saúde, uso e ocupação do solo, infraestrutura logística, infra de transporte, segurança, arqueologia, cultura, sociologia e antropologia, dentre outros.

Cada profissional dessas áreas oferece uma explicação um tanto limitada para a dinâmica do ambiente. Mas não há dúvida que a ênfase dessa explicação resulta da formação acadêmica que cada autor recebeu, bem como do tempo de experiência que dispendeu em trabalhos específicos.

Adoto um conceito para Ambiente[1] (nota de rodapé) que mostra o que é necessário para entender e prever o comportamento da Terra ou de qualquer de suas áreas e regiões.

Dessa forma, com base em experiências pregressas na execução de trabalhos ambientais, creio ser complexo produzir uma boa visão global da dinâmica aleatória do ambiente. Ou seja, diagnosticar os processos que nele ocorrem, bem como ressaltar seus aspectos essenciais.

Ao longo dos últimos 30 anos, o melhor relatório-produto que pude ler nesta matéria, foi obra de uma rara equipe técnica, composta por 40 consultores. Por sinal, muito bem gerida pelo saudoso e memorável engenheiro, o também oceanógrafo, Fernando Penna Botafogo Gonçalves, a partir de 1986.

Nossa equipe, por definição, teria de ultrapassar sérios obstáculos para obter os resultados esperados pela chefia, tais como:

  • O estudo a ser realizado era para o projeto executivo[2] de uma Usina Hidrelétrica, a ser construída na Amazônia;
  • Nenhum de seus membros havia participado antes da elaboração de qualquer estudo ambiental, inclusive o mestre Botafogo, chefe da Divisão;
  • Apenas três dos 40 profissionais contratados conheciam-se entre si. Os demais eram desconhecidos, estranhos no ninho;
  • A maioria da equipe era recém graduada, sem experiência de trabalho na consultoria. Contudo, quatro dos inexperientes tinham curso de pós-graduação completo.

Em tese, minha função era assessorar a Botafogo: na programação das tarefas da equipe; na gestão dos trabalhos de campo; na análise dos resultados obtidos; e na integração dos relatórios produzidos pelas chefias dos setores físico, biótico e antropogênico.

Digo, em tese, por que isso não ocorreu “conforme combinado”. Posso explicar. Com calma e competência, Fernando arregaçou as mangas e assumiu a liderança direta dos trabalhos. Foi a campo aprender como deveriam ser realizadas as campanhas na mata amazônica e quais seriam as fórmulas para diagnosticar a dinâmica daquele ambiente. Por fim, delegou várias missões a cada membro de sua equipe.

Fazenda Boa Vista, tomada da Pousada

Com essa delegação, realizada à vera, a equipe foi obrigada a compartilhar conhecimentos; todos passaram a se auxiliar mutuamente, ou seja, a trabalhar juntos. Assim, em apenas três meses, os desconhecidos tornaram-se uma família de trabalho.

Entretanto, quando tudo entrava nos eixos, o Engo. Botafogo mudou minhas atribuições no trabalho. Disse-me que, dado meu interesse em elaborar metodologias e modelos, gostaria que eu trabalhasse no desenho de um Modelo para Avaliação e Gestão de Impactos Ambientais, desde que produzisse resultados consistentes.

Após quase dois anos de desenvolvimento, o modelo foi consolidado e ganhou o apelido de ‘MAGIA’. Funciona até hoje, tendo recebido ajustes e vários adendos. Por fim, tornou-se um livro técnico, a ser lançado em 30 de junho deste ano. Falo sobre isso ao final deste artigo.

Mas não criamos a Ambientologia

Trabalhei com Fernando Botafogo na consultoria de projetos, em várias empresas, desde 1972. Junto com nossas famílias, pudemos construir uma sólida amizade. A meu ver, tornou-se o irmão mais velho, dono de criatividade profissional que a todos impressionava.

Por volta de 1990, estava em sua casa de pescador, na lagoa de Araruama, quando iniciamos uma conversa sobre as inúmeras “logias” que os estudos ambientais requerem para serem elaborados, tais como: climatologia, hidrologia, geologia, geomorfologia, pedologia, ecologia, limnologia, fitossociologia, sociologia, arqueologia e assim por diante.

Sem assumir compromissos, nossa ideia era pensar sobre a possibilidade de existir uma ciência que fosse capaz de reunir o conhecimento de todas as Ciências do Ambiente. E foi entre areia, sal e as conchas secas da lagoa, que Botafogo encerrou a conversa:

─ “Ricardo, haveria de ser uma ciência imensa. Raciocine comigo: para uma equipe de 40 pessoas, só no curso da graduação os alunos teriam de estudar durante 160 anos! De toda forma, sugiro que tenha como títuloAmbientologia’. É justo para que essa inteligência tão desejada seja elaborada um dia. Todavia, preste atenção: que eu saiba, ainda não é possível desenvolve-la”.

Pensei nessas palavras durante mais de uma década. Concordei que 40 cursos de graduação demandariam, no mínimo, 160 anos para serem concluídos. Além disso, sem considerar o tempo de vida médio do ser humano (estimado em 79 anos), creio que são raros aqueles dotados de capacidade cognitiva para absorver tanta ciência. E mais raros ainda, se é que existam, os que conseguiriam integra-las em uma única ciência ambiental.

Até onde consegui chegar

De toda forma, segui a trabalhar no desenvolvimento de metodologias para aplicação no setor ambiental. Desejava oferecer a meus clientes novas soluções práticas, de preferência menos custosas e mais rápidas em gerar resultados.

Mas somente em 2012 notei que já houvera elaborado uma boa quantidade de abordagens teóricas e as aplicara com sucesso no mercado consultivo (Brasil, Chile, EUA, Espanha e Itália). Entendi que podia ser boa hora para publicá-las em um livro.

Assim, perguntei a Antônio Carlos Beaumord, um velho amigo dos anos 80 – então com título de “Doctor of Philosophy in Ecology, Evolution and Marine Biology” –, o que deveria fazer para conseguir uma editora que publicasse meu livro. A obra tinha 737 páginas de papel A4, organizadas em 18 capítulos.

A princípio, Beaumord me disse que seria mais fácil verter o livro para o inglês e publica-lo na Califórnia! Lá ele tinha diversos parceiros acadêmicos, que conhecera durante o doutorado. Nos Estados Unidos é normal que um professor se disponha a auxiliar na 1ª edição de bons livros técnicos, disse-me ele.

Porém, após ler os manuscritos, concluiu que tanto a envergadura do trabalho, a profundidade da narrativa, o nível de detalhes no tratamento das metodologias, os estudos de caso reais apresentados, bem como a qualidade pedagógica, dotavam o livro do mérito necessário para ser publicado:

─ “Sem dúvida, trata-se de trabalho que pode se tornar livro texto em cursos superiores sobre a Gestão do Ambiente e da Sustentabilidade. Atende aos preceitos da Academia, seja a brasileira ou a norte-americana”, ponderou o Professor Beaumord.

Edição e publicação do livro

Mas foi através da iniciativa do Professor Padilha, então membro do Centro de Conhecimento em Exatas e Engenharias da UESA, que a possível edição de meu livro teve início em 7 de novembro de 2013. A Editora LTC – Livros Técnicos e Científicos, a pedido do “Mestre Padilha”, recebeu-me para uma conversa acerca das finalidades de meu manuscrito.

A Diretora Editorial da LTC, Professora Carla Nery, conduziu a reunião. Recordo-me que me foi solicitado responder ao “Formulário para Proposição de Obra“. Conforme acordado, junto com o formulário preenchido, enviei informações complementares: meu currículo profissional, a visão do mercado potencial do livro, a análise de pontos fortes e fracos da obra, das ameaças e oportunidades potenciais previsíveis, as formas de solução, etc.

Em 28 de janeiro de 2014 recebi a grata notícia de ter meu trabalho aprovado para publicação pela Editora LTC. Surpreendeu-me. Sim, por que nunca passara por um processo editorial analítico daquela qualidade, com tantas exigências. Por fim, pelo fato de editar e publicar no Brasil, com elevado padrão de excelência, sem arcar com qualquer custo.

Enviei à editora os originais do livro ao longo do mês de março de 2014. Cumpri com todos os padrões e a sequência editorial por ela estabelecidos: caderno-zero; 18 capítulos; e caderno pós-texto. Desde então mantenho contato com as coordenações que trabalham no processo de produção do livro. A primeira previsão de lançamento da obra ficou para trás, em setembro de 2014. A segunda, não aconteceu como prevista, em março passado. A terceira, que deve finalmente ser cumprida, soube que está garantida para 30 de junho de 2015!

E este será meu próximo livro: “Ambiente e Sustentabilidade – Metodologias para Gestão”. Rio de Janeiro, RJ, Editora LTC – Livros Técnicos e Científicos. 650 pg. 1ª Edição”.

Após 42 anos de trabalho na consultoria de estudos e projetos, enfim descobri que a Ambientologia, como apelidada por Fernando Botafogo, não é uma ciência ambiental em si, tal as demais. Mas é uma sólida teoria, capaz de gerir a aplicação simultânea de todas as Ciências do Ambiente. Quatro anos de estudo dedicado são mais do que suficientes para seu pleno aprendizado.

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[1] Ambiente é qualquer porção da biosfera que resulta de relações físicas, químicas, biológicas, sociais, econômicas e culturais, catalisadas pela energia solar, mantidas pelos fatores ambientais que a constituem (ar, água, solo, flora, fauna e homem). Todas as porções da biosfera são compostas por distintos ecossistemas, que podem ser aéreos, aquáticos e terrestres, bem como devem ser analisados segundo seus fatores físicos [ar, água e solo], bióticos [flora e fauna] e antropogênicos [homem e suas atividades].

[2] Quero destacar um fato que considero de expressiva importância. Nos idos dos anos 60, 70, 80 e 90, século passado, projetos executivos eram desenvolvidos por empresas de engenharia consultiva. As empreiteiras se limitavam a construir e não “obravam” sem eles. O Brasil ainda operava como os países mais preparados para o desenvolvimento da “engenharia de precisão”.