Black Friday no Brasil


No início da década de 1960 o comércio de varejo norte-americano criou um evento para estimular suas vendas de fim de ano: o Black Friday. Acontece sempre na última sexta-feira de novembro, após o Thanksgiving Day, que é uma espécie de dia de ação de graças ou Dia do Agradecer. Ambos estão em pleno acordo com a cultura do país.

Dessa forma, essa sexta de novembro tornou-se a largada do maior páreo dos consumistas de que se tem notícia, abrindo um período de compras compulsivas que, em tese, somente terminam após o Natal. Mas, pelo menos nos grandes centros urbanos, os consumidores americanos são relativamente educados.

Black Friday nos USA

Uma imagem do Black Friday nos USA

Um pouco de história

O Thanksgiving Day é bem mais antigo do que o Black Friday, pois é comemorado naquele país desde 1621. Trata-se de data considerada religiosa, mas que, desde sua origem, tem cunho econômico. Afinal, era destinado “a agradecer as boas colheitas obtidas no ano” e, claro, ao dinheiro que entrava no bolso dos “agradecidos”. Todavia, não sabemos a quem, de fato, destinavam-se esses agradecimentos. Daí seu caráter imaterial, de uma espécie de religião agrícola.

Temos que levar em consideração de que o Thanksgiving Day foi criado quase no meio da Idade Moderna. O mundo ocidental de então funcionava mais ou menos assim: muito trabalho árduo para buscar a melhoria da qualidade de vida das pessoas comuns (ordinary people). Porém, nada caía do céu para elas, que tinham de “ralar” muito para chegar ao Dia do Agradecer. Naquela época, somente a Igreja e a Aristocracia possuíam esse Direito Divino, herdado de seus antepassados.

Assim, acreditamos que não há como separar o Black Friday do Thanksgiving Day. O BF é filho legítimo e temporão do TD.

Black Friday em outros países

Austrália, Canadá, Inglaterra, Portugal, Paraguai e até mesmo o Brasil, adotaram essa prática comercial estadunidense. Deve ocorrer em outros países, mas desconhecemos. Em países de língua inglesa já era de se esperar essa iniciativa, pois suas culturas eram e são compatíveis.

Em Portugal essa moda chegou, mas de forma discreta. Poucas são as lojas do comércio que fazem espalhafato com suas mercadorias.

No entanto, na América do Sul talvez haja ocorrido mais um desvio cultural, em especial nos países que desejam se manter como eternas colônias de outras nações. Sobre o último Black Friday no Paraguai, nada sabemos. Todavia, no do Brasil, ocorrido ontem, temos algumas informações.

Aconteceu a loucura generalizada em shoppings, mega-stores, magazines e supermarkets. A língua falada e impressa nesses ambientes foi o inglês-americano. Cartazes de Sales Tudo e Off Alguma Coisa foram o fundamento da desordem comercial. As maiores ofertas recaíram sobre produtos eletrônicos Made in China.

O organizado Black Friday no Brasil

Imagem do organizado Black Friday no Brasil

A frase de um quase freguês do Brazilian Black Friday sintetiza a armadilha que lhe foi armada:

─ “Semana passada as lojas dobraram os preços de todas as mercadorias em estoque. Hoje oferecem-nas com cartazes de até 40% Off”.

Os mais apressados foram literalmente entubados por essa estranha modalidade comercial, nacionalizada no Brasil como “Black Fuck”. Resta dizer que já está conhecida no país como “Trepada na Escuridão”.

Reflexões

Temos dúvida de onde surgiu a iniciativa de “importar” esse tipo de comércio americano para o Brasil. Sabemos que famílias mais abastadas viajam constantemente para fazer compras em Nova York, Miami, Califórnia, etc. Em 2013, mesmo sem o pérfido controle do câmbio, os gastos ocorridos nessas viagens atingiram a vários bilhões de dólares, chegando a afetar nossa frágil balança comercial.

Em outras palavras, há uma boa demanda reprimida no país e nossa indústria, por falta de políticas governamentais adequadas, está forçada a encolher e a tornar-se incapaz de atender aos anseios de parte da sociedade brasileira. Justamente aquela que pode gerar uma economia produtiva.