Escolhas, as ditas escolhas


Zik-Sênior, o Ermitão.

Zik Sênior

Zik Sênior

Desde cedo, quando tinha somente cinco anos, aprendi que o ato de escolher nada mais é do que romper com dúvidas e seguir em frente. A primeira escolha que fiz foi diante da carne bovina que meu humilde pai ofereceu pela primeira vez, cheio de felicidade, ─ “Pode prova, fio”.

Era quase uma ordem nas mesas paraibanas de antanho. Por instinto, respondi de pronto: ─ “Quero não pai, dê pra meus irmãos, vou continuar comendo a carne seca de bode”.

Mas foi na adolescência que finalmente descobri que a escolha é um grito da liberdade, um vulcão que eclode de dentro de nós, para fazer com que superemos os medos de errar. Mas, mesmo tendo dúvidas, faça-se presente, afirme sua melhor escolha, pronto para “o que der e vier”. Assim dizia o pai.

Escolha o caminho da sua liberdade!

Escolha o caminho da sua liberdade!

A escolha é a antítese do medo, mesmo nas coisas de menor importância. “Quero tomar café com pão, mas não tem pão em casa. Vou até a padaria ou vou ao boteco e faço o desjejum?” Coisas simples, triviais. Vou pro boteco.

Acredite, tive que viver um século para ter consciência dessa antítese. Creio que cheguei até os 105 anos por esse motivo: nunca deixei pendências para trás, sempre decidi, acertando ou errando.

Certa vez, em 1942, quando tinha 33 anos, recebi uma “carta-convite do exército” brasileiro. Achei bastante estranho, pois já havia tempo que servira num batalhão de infantaria. Mas, de toda forma, apresentei-me na hora marcada, às 5 da madrugada. Logo um tal de sargento Porfírio chegou, um nanico a gritar sem estribeira, dizia a todos os convidados que, cedo, no dia seguinte, partiríamos para lutar na IIª Guerra Mundial, em terras italianas dominadas pelo nazi-fascismo.

Primeiro pensei em ir pro boteco. Depois, na calma do falecido pai tinha quando dava ordens aos onze filhos. Mas, pela insolência do sargento nanico (eu media um metro e noventa dois), o sangue paraibano ferveu nas veias. Aproximei-me dele a suar, contido, bati continência, e berrei junto a seu rosto, olho no olho, com a mão esquerda perdida no ar:

─ “Eu não vou pra porra de guerra nenhuma, senhor! Sou arrimo de família, tenho mãe doente, mais uma cacetada de irmãos com filhos para criar! Grato por sua compreensão…, Senhor!”.

Senti vontade de dar-lhe um bofete, mas escolhi aquietar-me. Não sem receio, virei-lhe as costas e sai pelo umbral de pedra do quartel. Mas nada me aconteceu. O sargento, caso estivesse vivo, decerto se recordaria de nosso embate. Pobre cidadão.

A prisão das escolhas

Diariamente, fazemos infinitas escolhas na vida. Acordar ou continuar a dormir? Aonde ir? Por qual caminho? O que devo olhar? Com que se alimentar? O que ler? Como se informar? Onde trabalhar? O que posso produzir? É uma infinidade de coisas que escolhemos. São escolhas primárias, muitas vezes puros atos reflexos inconscientes. Embora mais simples de realizar, todas elas são essenciais à nossa existência. As escolhas simples são o ar que nosso cérebro respira e com as quais se exercita para fazer escolhas mais complexas.

Em suma, acho que existir é saber escolher. Observo e concluo que fiz o inverso. Escolhi existir pelo menos durante os 105 anos saudáveis que andam a meu lado. Outros preferem carregar menos tempo de vida, mas sempre sobre os ombros, tal cangalhas pesadas. O que fazer? É uma escolha.

Escolhas complexas

Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências”, ponderou o notável poeta chileno, Pablo Neruda. Decerto, creio, Neruda se referia a escolhas mais complexas, não às individuais.

Acho que parte de seu verso é verdadeiro e justifico:

─ “Ouse não fazer escolhas! Obterá liberdade para tudo, inclusive para deixar de existir”.

Afinal, aquele que não faz escolhas fica livre de compromissos com tudo e todos. Assim, não se torna um prisioneiro de nada, pois deixa de existir em sociedade. Portanto, há verdade em Neruda, pois o indivíduo, paradoxalmente, torna-se prisioneiro apenas da própria liberdade.

As escolhas pessoais são mais simples. Contudo, há as escolhas coletivas que, sem qualquer dúvida, podem ser bastante complexas. O Brasil vive um importante momento de escolha coletiva, as eleições de 5 de outubro de 2014. E é sobre esse processo de escolhas sucessivas feitas por milhões de brasileiros que desejo comentar um pouco.

Escolha coletiva: eleições presidenciais

Em síntese, cada cidadão consciente – orgulho-me de ser um deles –, sozinho diante da urna, decide finalmente escolher seu candidato. Deseja que só haja um turno de votações, por que votar é um pé no saco, e que vença seu candidato! Acho que todos deveriam ser assim.

Passei por numerosas eleições presidenciais; tantas, que nem me dou conta. Porém, vivi mais de 50 anos sob o jugo de ditadores, populistas e oligarcas brasileiros. Eles são ávidos construtores de cenários obsoletos para a sociedade democrática, posso afiançar. O pai se exaltava e, descontrolado, dizia assim: ─ “O que eles querem é pudê!

Gostaria de ter tido tempo e maturidade para completar sua frase, mas com alguma mansidão: ─ “Pai, eles querem ‘pudê’ com a sociedade democrática, roubá-la sempre”.

Hoje, com a larga experiência acumulada, considero-me capaz de escolher qualquer elemento que queira candidatar-se à presidência do Brasil. Após três declarações de palanque sei se o elemento é democrático, ditatorial, populista ou oligarca. Reconheço-lhe a marca ou a laia.

Embora nas próximas eleições de outubro haja um sem número de candidatos, com partidos de fachada, vendedores de votos, “partidos off-shore“, etc., três têm-se destacado nas pesquisas de intenção de voto. Por sinal, um deles é tudo o que não desejo para a Administração do Estado Brasileiro. Trata-se de “elemento(a) ditatorial, extremista e oligarca”, conforme ficou demonstrado em sua existência política.

Para ter certeza de que não vou me decepcionar, jamais votei no partido que detém várias quadrilhas desses camaradas”!