A imprensa nas eleições de 2014


Pouca informação e comentários conflitantes.

Houve o tempo em que a Igreja detinha o poder quase absoluto do Estado. Todavia, somente em Estados autocráticos e não liberais, que eram a maioria dos então existentes. Mas isso aconteceu no passado longínquo das monarquias originais da Europa e acabou há muito.

É do fim do século 20 a nova visão de que nações liberais e democráticas possuem três principais agentes do poder: o Governo Central, as Forças Armadas, e o Mercado. Parece ser bastante razoável.

Já foi feita uma analogia desses poderes com um triângulo, onde cada lado representa um agente. Contudo, a partir do século 21, senão um pouco mais cedo, entrou em cena a Imprensa, em busca de conquistar o quarto poder principal. Tal desejo é compatível em nações sólidas, que tenham povo educado e Governo Central democrático. No entanto, não torna o triângulo em quadrado, mas em um novo corpo, que pode ser chamado de Poliedro do Poder.

O Poder, segundo Henfil

Queremos o Poder, por Henfil

Esse corpo (não geométrico) fica formado por quatro faces irregulares, com arestas, vértices e inteligências bem sensíveis e dinâmicas. Por isso a área de cada face é variável, de modo a que mantenham um conjunto de forças com balanço estabilizável, todavia, não equilibrado.

Ao considerar-se como exemplo uma “nação sólida, mas de classe média”, as faces desse Gigantesco Poliedro são assim descritas:

  • Face do Mercado – provida de bancos, indústrias, agropecuária, equipamentos de infraestrutura, universidades, comércio e serviços. Decerto é a mais ampla de todas as faces, dado que oferece à nação ciência, tecnologia, trabalho, riqueza e a maior parte do PIB nacional. Torna-se sustentável do ponto de vista econômico-financeiro, bem como é capaz de manter viáveis as demais faces.
  • Face das Forças Armadas – constitui o ambiente de defesa da nação, com recursos humanos treinados, máquinas e equipamentos suficientes para suprir as necessidades da Aeronáutica, do Exército e da Marinha nacionais. Trata-se de uma face dinâmica que precisa variar de acordo com as mudanças do nível de ameaças externas.
  • Face do Governo Central – envolve os poderes executivo, judiciário e legislativo, bem como exclusivamente instituições públicas imprescindíveis e de alta qualidade social, como universidades, escolas, hospitais, segurança e profissionais capacitados. Para que uma nação seja sólida e assim permaneça, esta precisa ser a menor face do Poliedro do Poder. Além disso, sob nenhuma hipótese, o Governo Central concorre com a Face do Mercado.
  • Face da Imprensa – é provida por organizações privadas de telecomunicação, companhias de televisão, empresas editoras de jornais e revistas. Muito embora faça parte da Face do Mercado, possui a missão singular de divulgar pública e criticamente o desempenho de todas as faces do Poliedro, sobretudo o seu próprio.

Dessa descrição, ainda que superficial, é possível tirar algumas conclusões acerca dos riscos adversos provenientes das variações das áreas de cada face. Senão, vejamos.

A Face do Mercado

O Poliedro somente existe em função do desempenho da Face do Mercado, sua maior face. Todos os seus componentes pertencem à iniciativa privada. Se ela decair em desempenho, o Poliedro é enfraquecido, com tendência a se estagnar.

A Face das Forças Armadas

Se essa face for desnecessariamente grande em relação às demais, há grave risco de a nação deixar de ser liberal e democrática. Nesse caso, toda a Teoria do Poliedro invariavelmente “vai para o espaço”.

Atenção similar deve ser dada ao enfraquecimento desta face, pois nações vizinhas e grupos radicais, diante de um cenário de nação desarmada, podem tentar ocupar espaços vitais e estratégicos de seu território.

A Face do Governo Central

Processo similar ocorre quando a Face do Governo Central cresce sem necessidade ou por “ditas demandas políticas”. Há casos em que nações tidas como liberais e democráticas, com relativa solidez, sofrem as consequências nefastas da falta de cultura política de seus povos. Pois elegem membros do executivo e do legislativo que não possuem os escrúpulos imprescindíveis para exercerem seus cargos. Criam dezenas de ministérios apenas para terem uma “base aliada” a seu favor. Na verdade, são gestores da inutilidade e acreditam que, como afirmou em Paris o absolutista Luís XIV, O Estado Sou Eu (L’État C’est Moi).

Mediante essa visão, tornam o cidadão da nação em escravo do Estado; competem de forma descarada com a Face do Mercado e, não raro, levam-na ao caos. Enfim, roubam, desviam verbas públicas, mandam assassinar os que não os apoiam, dão força a “companheiros” e, por fim, destroem totalmente a estrutura do Poliedro.

A Face da Imprensa

Esta face normalmente é pequena e bem diversificada em nações sólidas, inclusive nas mais ricas. Em geral, cumprem suas missões de informar ao público o desempenho de todas as faces do Poliedro com relativa qualidade, pois tem a seu favor a educação e cultura dos cidadãos.

O mesmo não acontece em algumas das chamadas nações emergentes. A Face da Imprensa pode pertencer ao Governo Central, o que é um risco elevado para o cumprimento de sua missão informativa; ou pode ser restrita a grande grupos econômicos, que compactuam com as ditas iniciativas da Face do Governo Central.

Veja-se o caso do Brasil, com eleições presidenciais marcada para este ano. Tendo um Governo Central Paquidérmico, o quarto poder, sonega informação de desempenho nas reportagens e notícias que traz. Apresenta reflexões conflitantes entre seus comentaristas, que às vezes extrapolam em maçantes redundâncias.

Porém, ainda que com raras exceções, é grave o fato de que inúmeros jornalistas diplomados não seguem “direto ao ponto”, não criticam como deveriam, dado que ficam a fazer firulas culturais que nada informam aos cidadãos da nação. Isto sem falar da “casta de chapas-brancas”, paga com dinheiro público para garantir a continuidade do desgoverno.