És escritor ou equilibrista?


A pena de escrever fez um bom casamento com a redação crítica. Dizem até que foi pensada para fazer isso. Assim, busque argumentos bem ponderados, mas sempre a A pena de escrevercolocar suas setas críticas no centro dos alvos.

Medo do quê? Não o tenha! Setas de palavras não matam, apenas desnudam e, às vezes, iluminam variadas imundícies. Por isso, são essenciais à liberdade de expressão.

No Brasil, algumas vezes escritores são confundidos com redatores. Resta explicar quais são suas diferenças essenciais.

Um escritor produz obras literárias ou técnico-científicas. Trabalha de forma independente, a criar textos de acordo com o que pensa e sabe. Em sua obra pode falar de tudo, da forma que desejar, pois se tiver coerência e lógica, não terá limites.

Por sua vez, um redator trabalha em periódicos, dos quais, no mais das vezes, não é sócio. Produz textos de notícias, reportagens e colunas, em função do interesse do editor-chefe, que repete as ordens dos proprietários dos veículos.

Há uma estória que satiriza o poder transferido para o editor-chefe. Diz assim: era início da Semana Santa e o editor mandou que um redator escrevesse uma boa reportagem sobre a vida de Jesus. Foi então que o redator iniciante, com voz de tenor dramático, cantou a plenos pulmões:

Senhor, quer um texto a favor ou contra?!

A maioria dos redatores é diplomada em jornalismo. Já os escritores, em criatividade. Porém, é normal que dentre jornalistas existam bons escritores. Por sinal, muitos aproveitam a correlação de suas atividades com a mente e a escrita, para buscar tornarem-se notórios nessa profissão. Alguns poucos o conseguem.

Contudo, acredita-se que periodistas em geral podem adquirir alguns vícios, típicos de quem trabalha em certos jornais. Por exemplo, dado que os mais experientes redigem bem e possuem capacidade na análise de cenários (sobretudo, dos políticos), às vezes são obrigados a atender às determinações dos proprietários do veículo. Dessa forma, suas notícias ficam limitadas à mera descrição dos acontecimentos e das obviedades deles derivadas. Não há opinião ou ela é ambígua, e incompleta.

Por analogia, parecem puros-sangues sofrendo o galope-sustentado (o cânter), contidos pelo cavaleiro que puxa firme o bridão, esgarçando a boca do animal. Quase empina o bicho, que derrama seu suor, porém, mal sai do lugar.

Nessa conjuntura, amarrada por interesses proprietários, duas coisas ocorrem. O redator torna-se um equilibrista, nunca escritor. Sem dúvida, tem muita fome de narrar, mas somente é pago para descrever a superfície dos fatos. No outro lado fica o leitor menos atento, que repete e enfatiza publicamente o que nada leu direito e engoliu calado.

Para redigir verdades não há limites

Para escrever verdades não há limites: equilibre-se!