É obrigação da imprensa


Ricardo Kohn, Escritor.

Pesquisando acerca da origem do jornalismo, salvo engano das fontes consultadas, o jornal moderno e periódico nasceu na Inglaterra, em 1665, através do London Gazette, que se mantém até hoje como órgão de comunicação do governo britânico.

No entanto, em sua origem, os jornais davam mais ênfase a fatos negativos ocorridos em outros países, como guerras, derrotas militares e escândalos de governantes. Curioso que, desde o século 17, os donos dos jornais acreditavam que seus leitores os adquiriam motivados pelo “sangue derramado, crime, desgraça e escândalo político”. Parece que até hoje têm essa nefasta certeza.

Joseph Pulitzer, o jornalista que inventou a manchete

Joseph Pulitzer, o jornalista que criou as manchetes

De toda a forma, confirmando a relevância da difusão de informações ao público pelo jornalismo, a primeira lei protegendo a liberdade de imprensa é antiga, pois foi aprovada na Suécia um século depois, em 1766, há quase quatro séculos dos dias atuais.

Hoje, em 2013, verifico, através de notícias veiculadas por diversos meios da mídia, que jornalistas de todo o mundo vêm sofrendo agressões crescentes e em diversas intensidades. Desde ameaças à realização de seu trabalho essencial de informar com precisão, até a eliminação sumária de suas vidas. Trata-se de uma ameaça à liberdade da imprensa ou isso será uma ação gratuita, que nada tem a ver com as badernas públicas?

É óbvia a necessidade de saber quais são as causas verdadeiras desses fatos, caso contrário jornalistas e repórteres continuarão a sofrer ameaças e agressões violentas, sem que possam cumprir com a missão que lhes é intrínseca de informar cidadãos do mundo.

Em tese, o trabalho dos jornalistas pode ser sintetizado na seguinte sequência de ações: a descrição dos fatos ocorridos, os personagens envolvidos, quando aconteceram, em que locais, como e por quais motivos se sucederam. As quatro primeiras ações, em minha opinião, fazem apenas o jornalismo informativo. A quinta, que identifica os motivos dos fatos e os expõe claramente perante a opinião pública, constitui o jornalismo investigativo ou algo próximo dele, pois requer investigações mais profundas dos processos que subjazem aos fatos. Há quem designe esta quinta ação de “jornalismo opinativo” e eu concordo. O bom jornalismo precisa ser crítico, opinativo.

Porém, o trabalho das empresas de jornalismo prossegue com a seleção e organização das informações que serão veiculadas no produto final – jornal, revista, rádio e programa de tv, sempre obedecendo às diretrizes estratégicas formuladas por seus principais acionistas e executivos.

Em outras palavras, dentro de seus próprios escritórios existem profissionais de revisão e edição, tanto para textos, como imagens. Creio ser nesta etapa que pode ocorrer o descrédito de veículos de informação e, por falta da capacidade crítica de parte do público, criam “motivos para a agressão de jornalistas” que fazem coberturas de campo, que investigam e demonstram competência.

Nos manifestos de rua que estão a ocorrer no Brasil, sobretudo pelas imagens veiculadas em tempo real na tv, tenho notado que vários repórteres descrevem os quadros que todos nós assistimos e acompanhamos. No entanto, as palavras de alguns “deformam a realidade, contam estórias que não acontecem e empregam adjetivos absurdos para classificar manifestantes conscientes e plenos de razão“. Em suma, são deliberadamente tendenciosos e, às vezes, safados mentirosos. Será que acreditam que a “mentira jornalística” é uma forma digna para manter a liberdade da imprensa no Brasil?…

Será possível que os diretores responsáveis pelo jornalismo dessas emissoras concordam com tantas asneiras e mentiras?! Será que não entendem que os ouvintes não são surdos e cegos? Não lhes passa pela cabeça que estes fatos, ao final, se rebatem nas agressões de seus jornalistas de campo, que correm até mesmo risco de vida?

A continuar a falsidade televisiva, melhor não falar mais dos justos protestos sociais e programar filmes de Tom & Jerry para o mesmo horário. Será mais adequado do que sonegar a realidade ao público, que paga para assisti-la e tenta obter notícias honestas.