O cometa Elenin foi destruído


Ricardo Kohn, Gestor do Ambiente.

Em geral, os cometas são compostos por gelo, rochas, poeira e elementos orgânicos. Porém, mesmo com grandes dimensões, constituem estruturas frágeis que se desmembram com facilidade, diante das inescrutáveis forças do universo.

O cometa Elenin, um corpo celeste com dimensões estimadas entre 3 e 5 km de diâmetro, foi descoberto em dezembro de 2010 pelo russo Leonid Elenin, um observador interessado nos céus da galáxia.

Elenin, o sensacionalista

Dramatização – Elenin, o sensacionalista

Desde então, por força dos “simpatizantes do apocalipse total da Terra”, o Elenin passou a ser o centro de uma série de novas hipóteses tresloucadas sobre o fim do mundo. Não bastasse a pataquada dos crentes nas profecias Maias, que transtornaram suas vidas pela “certeza do fim do mundo”, em dezembro de 2012.

Para acalmar os ânimos desses crentes apocalípticos, a NASA divulgou informação esclarecendo que o corpo celeste não irá afetar a Terra, seja chocando-se com o planeta, seja “tapando o Sol com a peneira”. Isso se deve ao fato de que no dia 16 de outubro de 2011, quanto alcançou sua proximidade máxima com o planeta, o Elenin estava muito distante – a cerca de 35 milhões de quilômetros da Terra. Em outras palavras, a uma distância 90 vezes maior do que a distância entre a Terra e a Lua. Disse ainda a NASA que o Elenin foi torrado por sua aproximação com o Sol.

Pessoas que gostam de emoções fortes e extravagantes, falam das “naves extraterrestres escondidas atrás do Elenin, com a intenção de invadir a Terra e extinguir sua população”. Pois bem, acaso existissem, viraram cinzas. O interessante é que essas notícias estão sendo veiculadas em redes sociais neste início de 2013, um ano e meio após o cometa haver sido torrado e destruído.

O Elenin partiu-se em pedaços pulverizados, que deverão seguir a trilha original do cometa, mas não cruzarão com a Terra antes dos próximos 12 milênios. Devemos ficar calmos, pois nessa ocasião, provavelmente, todos nós já estaremos aposentados.

Apocalipse da Terra, segundo José Argüelles


Assistimos a um longo documentário acerca do chamado “Apocalipse Maia”, definido como o fim da humanidade em todo o planeta Terra, que “acontecerá no dia 21 de dezembro de 2012”. Fizemos levantamentos de informações na internet para aferir nosso entendimento sobre a seguinte questão: o mundo acabará mesmo em dezembro deste ano?

O início da manipulação do imaginário coletivo mundial deu-se com o lançamento do livro “Eram os Deuses Astronautas?”, escrito pelo suíço Erich Von Däniken, publicado em 1968. Para quem leu este livro é possível concluir que houve a sorte do autor ao lançar um texto desta natureza um ano antes do homem ir a Lua. Foi sucesso como rastilho de pólvora.

No entanto, o desenfreado líder manipulador chamou-se Joseph Anthony Arguelles, doutor em História da Arte e Estética, que preferiu ser conhecido como o Profeta José Argüelles, com sonoridade mexicana. Apesar de sua titulação universitária, fazia-se de místico, dizia acreditar em crenças de antepassados Astecas e Maias, e as professava abertamente. Com um único objetivo em mente: tornar-se rico e famoso com a venda da “geração da energia humana” e distribuindo as “verdades paranoicas do Apocalipse Maia”, nas quais talvez ele próprio não acreditasse.

José Argüelles, o profeta do apocalipse

Joseph Anthony nasceu em Rochester, Minnesota, em 1931, e faleceu em março de 2011, não tão elegante quanto na foto.

José Argüelles nasceu em local desconhecido, durante a era hippie e do LSD (1960-1970), e renasceu (pirado) em 1987, quando criou sua empresa, a Convergência Harmônica que, segundo ele, foi capaz de “promover a primeira meditação sincronizada do mundo para gerar energia psíquica positiva” e salvar o planeta.

Esta empresa usou o alinhamento dos planetas do sistema solar, ocorrido em agosto de 1987, para associar o fenômeno espacial ao que o Profeta chamava de “Leis da Astrologia e do Calendário Maia”.

Segundo José Argüelles, com a ocorrência deste alinhamento, decorrente da ação de forças astrológicas, “ocorreu uma enorme mudança na energia da Terra, passando-a de Terra Guerreira para Terra Pacífica”. Se for difícil de entender o que isto significa, muito pior era entender as palavras, premunições e profecias de José durante toda sua vida. Até porque não aconteceu nada de novo, muito menos pacífico, com os humanos no planeta. Bem ao contrário, as guerras continuam e ameaçam se intensificar. Mas, propriamente a Terra, fez “montinhos” para o tal “alinhamento da astrologia”.

Argüelles tinha ideias muito estranhas sobre espaço e tempo. Dizia haver descoberto “que a espécie humana está vivendo em um tempo artificial, que está perturbando seu ambiente planetário e destruindo sua civilização”. Ele também alegou que “o tempo é telepático na natureza, mais rápido que a luz e eu posso viajar através dele”. Dizia ainda, em tom de ameaça velada, que “se a raça humana não rejeitar os doze meses o Calendário Gregoriano e substitui-lo pelo Calendário Maia até 26 de julho de 1995, sua autodestruição se dará muito em breve”. Ou seja, mesmo após haver criado a sua empresa em 1987, a Convergência Harmônica, apenas oito anos depois, ainda que viajando telepaticamente e acima da velocidade da luz, sentia-se obrigado a inventar mais mentiras para melhorar seus lucros.

Todas essas palavras e profecias têm um cheiro danado de interesse pessoal monetário e uso de drogas alucinógenas. Por sinal, isso parece ser comum em várias civilizações atuais.

Entretanto, através da sincronia da ignorância e da santa burrice humana, ainda há milhares de crentes espalhados pelo planeta, pontificando estas profecias esotéricas, afirmando que, graças a Convergência Harmônica, “a primeira meditação sincronizada planetária”, inaugurou um período de cinco anos de “Limpeza da Terra”, onde “muitas falsas estruturas de separação do planeta entrarão em colapso”.

Um pouco sobre os Maias

A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita, sua arte, sua matemática (aritmética com numeração em base 20 e provavelmente usando o conceito do zero), arquitetura e observações astronômicas.

Inicialmente estabelecidas durante o período pré-clássico (2.500 Anos Passados a 2.250 A.P.), muitas cidades maias atingiram seu mais elevado estado de desenvolvimento durante o período clássico (durante todo o século I). Seu colapso se deu no século IX. Mas, em seu auge, foi uma das civilizações mais dinâmicas das Américas, sendo densamente povoada em suas cidades.

O termo pré-colombiano é utilizado especialmente no contexto das grandes civilizações indígenas das Américas, tanto as da Mesoamérica (os olmecas, os toltecas, os astecas e os maias), quanto às da região andina (os incas, os moches e os cañaris).

Os maias construíram grandes cidades como Tikal, Chichém Itzá, Palenque, Copán e Calakmul. Outras, menores, como Dos Pilas, Uaxactún, Altún Ha. Havia ainda centros habitacionais pequenos na mesma região mesoamericana. Jamais chegaram a desenvolver um império, embora algumas de suas Cidades-Estado tenham formado ligas temporárias, associações e mesmo períodos de suserania (dominação entre cidades e seus povos).

Seu colapso como civilização (século IX) ocorreu por vários fatores políticos e ambientais. Muitas cidades possuíram vários Reis que se convenceram de que eram os próprios deuses maias e, portanto, estavam dotados de todos os poderes divinos e terrestres. Em função dessa pretensão real as guerras aumentaram, doenças se intensificaram, ocorreram longas estiagens de quase três séculos (Global Warming!) e finalmente grandes inundações expulsaram os maias de muitas das suas principais cidades, em especial aquelas situadas em áreas de vales e planícies de inundação.

Os cidadãos restantes migraram para a Península de Yucatán e para terras mais altas da Guatemala. Somente restou uma grande cidade – Chichém Itzá –, mas que logo se acabou como o último centro da vida maia original.

Pirâmide de Kukulcán, em Chichém Itzá, Yucatán

Dizem alguns antropólogos que as mesmas forças que criam os movimentos de ascensão de uma civilização ou sociedade preparam a sua própria autodestruição potencial. Talvez nesse aspecto haja alguma conexão entre os Reis Maias e o Profeta José Argüelles: ambos não previram nem profetizaram que se estavam autodestruindo.

Compondo informações e concluindo

Pelo exposto, acreditamos nas seguintes conclusões.

  • A punição dos humanos com o Apocalipse da Terra é um fenômeno decorrente de quem possui complexo de culpa.
  • Não há necessidade de sacrifícios humanos para oferecer alimentos aos “deuses” da política atual. Todos aceitarão, mas nada será melhorado por este caminho, a não ser que eles sejam os sacrificados.
  • Todos os violentos eventos da geodiversidade do planeta são naturais e não possuem focos específicos ou razões místicas e espirituais.

Por fim, devemos lembrar que uma equipe de arqueólogos e pesquisadores norte-americanos anunciou em maio deste ano a descoberta de mais um calendário maia, datado do século IX, mais atualizado do que o que profetizava o fim do mundo em 2012. A descoberta desmonta a teoria nada científica dos profetas do calendário maia.

Novo sítio arqueológico e o calendário Maia atualizado

As inscrições encontradas no sítio descrevem a existência de 17 ciclos no sistema maia — e não 13, como profetizado até agora —, significando que o calendário ainda possui mais de 6 mil anos pela frente. Isso nos dá tempo e espaço para pensar bastante antes da chegada do “fim do mundo”…