Jogo pérfido e covarde


Em sua história republicana, o Brasil já conheceu esse desvario político, com a assunção de ditadores que sempre afirmaram estar a “atender às legitimas aspirações do povo brasileiro à paz política e social[1].

Essa era a exata postura de Getúlio Vargas, justificada por ele pela ameaça da “invasão comunista” no país. Por ter sido um emérito populista, precisava manter relações diretas com “seu povo”, sem que houvesse qualquer intermediação parlamentar. Com essa “ideia democrática” no bestunto, encerrou as atividades de todos os partidos políticos, lacrou o senado e a câmara federal, as câmaras estaduais e as assembleias municipais. Por sinal, nunca permitiu eleições durante os 8 anos de ditadura. Assim, tornou-se o caudilho absoluto do país, com apoio das Forças Armadas.

“Ideologia” populista

O populismo constitui uma curiosidade política desordenada, que tem representantes de toda ordem, quer dizer, da direita, do centro e da esquerda. A tendência à formação de blocos oligárquicos é grande. Em consequência, os níveis de corrupção costumam ser bastante elevados.

Isso é ainda mais facilitado por que governos populistas gostam de realizar políticas de estatização de atividades econômicas e de fazer com que o Estado interferira na economia de livre mercado. Normalmente, impõem restrições ao capital estrangeiro e censuram a liberdade de opinião. Em contrapartida, doam benefícios sociais para os mais miseráveis.

Dessa forma, populismo não constitui uma ideologia em si mesmo, mas apenas um “obsceno arranjo” usado por certos governantes para fincar pé no poder, tal como se fossem herdeiros medievais que se sucedem à frente de um Império.

Cenário arraigado de populismo

Desde 1985, o Brasil teve seis presidentes da República. Talvez por alguma razão ancestral da colonização portuguesa, apenas dois deles não foram demagogos ou populistas – Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Pelo contrário, tiveram a coragem para realizar as ações necessárias, visando a estabilizar a moeda brasileira e dar credibilidade internacional ao Brasil.

Os demais sempre foram rematados populistas e incompetentes. Mas merecem destaque o “honoris causa em qualquer coisa”, Luiz Inácio, e a “doutora” Dilma, que vêm cometendo diversas “trapalhadas” no governo, há 12 anos. Lembram as piores passagens da gestão pública de Getúlio Vargas, sempre protegido por asseclas da polícia política, a então tropa de elite da Polícia Especial. Mas ressalve-se, por questão de justiça, sem gerir atentados e torturas à distância, supõe-se; ou de cometer o suicídio, por enquanto.

No entanto, irmanados numa íntima parceria partidária e ainda esfomeados pelo poder, para o qual nunca haviam sido eleitos antes de 2002, promovem um jogo sujo e covarde neste ano de eleições gerais.

Com a dura doutrinação de seu insano criador, a “doutora” usa sem dó a máquina pública para realizar sua campanha política. Usa-a até mesmo para realizar “guerrilhas” (e isso ela conhece bem!) contra seus dois reais oponentes. Para isso, conta com “blogueiros contratados”, postagens de patranhas em redes sociais e hackers que retiram vídeos de opositores da internet. Enfim, fazem de tudo, sem dar a menor satisfação à sociedade que, afinal, paga caro por esta orgia eleitoreira.

O que assusta são os descaminhos inventados desde 2008, baseados na mágica do consumo pelo mercado interno. A troca do tripé econômico do Plano Real (câmbio flutuante, metas de inflação e metas fiscais), que garantiu a estabilidade ao país até 2007, pela dita “nova matriz econômica”, onde o crédito foi escancarado para estimular o consumo interno da “nova classe média”, foi mais uma insanidade do governo. Porém, ainda assim, anunciada pelo honoris causa como sua vitória insofismável.

Os resultados que começam a aparecer não são assustadores; na verdade, são apavorantes. Sem considerar a quase destruição das maiores estatais (Petrobras e Eletrobras), tem-se inflação no topo da meta (embora artificialmente contida), setor industrial em expressiva queda de produção, taxa SELIC elevadíssima, desemprego maquiado e, sobretudo, a partir de 2015, forte evasão de dólares do país por força da elevação dos juros básicos norte-americanos, já anunciada por seu banco central (FED).

Tudo indica que o país retrocede ao ano de 1993, aos tempos da hiperinflação alimentada pelos lunáticos Sarney e Collor. Espera-se que ninguém pense em impedir novamente o acesso do cidadão à sua poupança privada.

Qualquer que seja o novo presidente eleito no pleito de outubro, terá de enfrentar graves desafios para a sobrevivência do Brasil no curto e médio prazo. Para tanto, precisará de uma equipe de verdadeiros especialistas, muito bem selecionada no mercado. Nunca um bando de incompetentes indicados por partidos políticos, que formam as conhecidas quadrilhas da “base aliada”.

[1] Este texto consta da Constituição Federal de 1937, imposta por Getúlio Vargas após o golpe de Estado (novembro de 1937), quando instaurou seus 8 anos de ditadura no Brasil, a que, perfidamente, chamou de Estado Novo.

Ricardo Kohn, Consultor em Gestão.