Verdade seletiva


 Por Simão-pescador, da Praia das Maçãs.

Simão-Pescador

Simão-Pescador

Escrevo este artigo a pedido do nosso coordenador, Ricardo Kohn. Parece que um leitor do blog, após ter lido a ironia “Mentira, Petas e Patranhas”, de cujo crédito não abro mão, deseja conhecer ou discutir essa tal de “verdade seletiva”. Acho curioso, mas vamos ao desafio.

De início, mesmo antes de consultar meus alfarrábios, por instinto, digo que “verdade seletiva” não existe no espaço normal do ser humano. A menos dos cenários inóspitos de dominação deste espaço, onde os “donos do Estado” impõem a seus povos a verdade seletiva que detém, até pelo uso da força, se necessário.

─ Porém, de qual ‘verdade seletiva’ estou a falar? Preciso ser objetivo e pragmático neste esclarecimento. Senão, vejamos:

Os “donos do Estado” selecionam quem continua a viver, por obedece-los cegamente, e quem morre, por pensar diferente. Coréia do Norte, Cuba e Rússia, por exemplo, são Estados típicos na prática da “verdade seletiva”. Fazem-me lembrar o Estado Nazista na Europa, contra o qual fui a guerra como voluntário e que sempre lutarei contra.

Além dessa prática, não tenho informação da existência de outro “seletor da verdade“. Embora, ao contrário, existam “cursos de especialização” para a produção da “mentira seletiva“, sempre a favorecer os “donos do Estado“.

Reflexões sobre a Verdade

No silêncio da biblioteca, busco encontrar autores que falem sobre a Verdade. De certa maneira, embora sem serem específicos, vários filósofos do passado escreveram suas abordagens acerca da Teoria do Conhecimento ou Epistemologia, que até hoje trata da verdade científica. Platão parece ter sido o primeiro a teorizar sobre este tema.

Por constituir um dos ramos da filosofia, a epistemologia, segundo a teoria de Platão, visa ao conhecimento teórico (“saber que”), através de informações que explicam o mundo natural e social em que se está inserido. Porém, segue além disso. É capaz de gerar conhecimentos sobre a realidade, a antecipar realidades futuras, ou seja, “a predizer realidades”.

Todavia, Platão tratou essa prática apenas como uma “possibilidade de conhecimento”. Para obtê-lo, o sujeito precisa possuir capacidade de cognição e dedicar-se profundamente em sua busca pela verdade.

Vou cometer uma simplificação histórica que é didática, mas não afeta a análise. A partir da teoria platônica formaram-se grupos de filósofos, com atitudes distintas na busca da verdade, que podem ser classificados em quatro “escolas” distintas, a saber:

  • O Dogmatismo, segundo o qual é possível obter conhecimentos seguros e universais, mas precisa ter fé nos dogmas em que acredita ou cria. Trata-se de uma espécie de fundamentalismo filosófico, que teve em Immanuel Kant um de seus baluartes. Nos tempos atuais as ditaduras remanescentes são símbolos do dogmatismo, pois estão sempre certas e não podem ser contestadas, dado que detém a verdade absoluta.
  • O Cepticismo, que traz uma escola oposta ao dogmatismo. Para os cépticos não há verdade absoluta e sempre é necessário duvidar de dogmas e mesmo de novas teorias não testadas e comprovadas. Afirma que a evolução das ciências dá-se através de dúvidas e debates. Diz ainda que, embora fosse desejável, nenhuma ciência é capaz de deter o conhecimento total do conteúdo de seu universo de ensinamentos. Um de seus primeiros defensores foi Pirro de Elis, na Grécia Antiga.
  • O Perspectivismo, que defende a existência de uma verdade absoluta, porém afirma que nenhum ser humano pode chegar a ela, senão apenas a uma parte dela. Cada ser humano tem uma visão parcial da verdade. Essa abordagem ao conhecimento da verdade teve em Friedrich Nietzsche um grande desenvolvedor e defensor.
  • O Relativismo, que nega a ideia da verdade absoluta e diz que cada indivíduo possui sua própria verdade, função de seu contexto histórico. Essa abordagem é praticada pelos sofistas e possui algumas características curiosas. Os mestres sofistas viajavam de cidade em cidade para exercitarem sua retórica com plateias de jovens. Por sinal, cobravam valores em dinheiro por “seus ensinamentos”, como se estivessem a dar aulas. Essa praga subjetiva, criada na Grécia Antiga por Protágoras e Górgias, para forjarem a própria “felicidade monetária”, afirma que a verdade é relativa.

Não sou filósofo, apenas leio sobre as filosofias que considero imorredouras no tempo. Porém, antes mesmo de tê-las lido, já praticava o cepticismo por causas genéticas.

Desta forma, fico grato por ter recebido a missão de escrever este texto. Fez-me bem rever as ideias e, quem sabe, discordar de algumas que já havia aceito. Também carrego no sangue pequenos traços do perspectivismo.

Conforme já disse, não sou filósofo, mas dogmáticos e relativistas que se mordam até trincar os dentes, pois verdade absoluta, verdade relativa e verdade seletiva são apenas mentiras, petas e patranhas. Só existem para amestrar certos tolos e submeter povos inteiros a quadros de miséria e guerra.

4 pensamentos sobre “Verdade seletiva

  1. A verdade seletiva é a que Jon Un aplica na Coréia do Norte, assim como Hilter fez na Alemanha. A representatividade tem dessas pegadinhas. Só mesmo com muita educação e sabedoria um povo pode escapar. Mesmo assim, nem sempre escapa…

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