As variadas felicitações de fim do ano


Com o advento da internet acabaram-se cartas e telegramas para desejar felicidades de fim de ano. Antes, havia cartões específicos que podiam ser adquiridos em vários lugares, até em bancas de jornal. Simplesmente sumiram de circulação. Com a internet, as felicitações entre pessoas e famílias tornaram-se ações praticadas através do e-mail particular.

Após cerca de quinze anos, assistiu-se à invenção das Redes Sociais. De início, poucos sabiam como usa-las. Nós optamos por tatear seus possíveis modos de operação, porque quase ninguém tem paciência de ler e entender os “textos de Ajuda”. A ser assim, começamos a responder às três perguntas que uma delas traz até hoje. Constam das caixas para entrada de texto, foto e vídeo, com as seguintes questões:

─ “Como está se sentido, Maria Magnólia?” É assim, seu nome está no banco de dados e aparece na tela. Outra pergunta.

─ “O que você está fazendo?” Curioso demais, em especial se Maria Magnólia responder.

Porém, achamos que a mais interessante é a ordem rede: ─ “Escreva alguma coisa”. Objetiva, não acham?

Pensem como Dona Maria Magnólia Mendes Morícia, em estado de exceção intestinal, responderia às três sutis indagações. Por sua idade, educação refinada e objetividade lusitana, talvez respondesse assim:

─ “Estou com muita dor de barriga”. “Tomando remédios e indo ao banheiro sem parar”.“Não tenho mais nada a escrever, não me encha!”.

Por outro lado, é fácil imaginar como responderia seu marido às mesmas provocações da rede. O Delegado Mauro Mendes Morícia, decerto trocando as palavras de Dona Maria, diria a mesma coisa. Evitamos concluir as respostas do delegado. Deixamos por conta do leitor.

Delegado Morícia, o Suave

Delegado Morícia, o Suave

Neste fim de ano a variedade de trocas de felicitações em redes sociais foi fabulosa. Milhares de felicitações ainda continuam a ser postadas após a passagem do ano. E duas datas ocidentais marcam as festividades que, para muitos, clamam por desejos universais:

  • O dia de Natal, a comemorar o nascimento de Jesus Cristo, há 2018 anos, com festa de cunho religioso e cristão, que aos poucos se tornou uma homenagem mercantilista; e
  • O Dia de Jano ou Dia do Ano-Novo, decretado por Júlio César, há 2058 anos. Ele foi o último ditador romano nomeado para o cargo. Desde então, em todo 1º de janeiro acontece a festa pagã, que carrega uma atmosfera mais livre, digamos assim.

Por serem duas festas sucessivas, com apenas sete dias de intervalo e significados opostos, encontramos na rede algumas felicitações genéricas: Boas Festas!, que não misturam religiosidade com paganismo.

Encontramos poucas vezes qualquer menção a Feliz Natal e nenhuma à capacidade de purificação cristã da Missa do Galo. Contudo, a fúria pagã de prosperidade no Ano-Novo dominou a cena, com uma variedade enorme de formas e escritas.

Houve “amigos genéricos e indecisos” que postaram várias felicitações e que iam crescendo à medida em que arriscavam mais desejos: “Paz e prosperidade”; “Amor, paz e sucesso”; “Um ano de maravilhas em 2019”; “Saúde, sucesso, amor, paz e prosperidade”.

Aconteceram “amigos cozinheiros”, que apresentaram longas receitas com as porções de qualidades pessoais que o indivíduo deve possuir para ter um ano feliz: “Compreensão, aceitação, transigência, perseverança, espiritualidade, bom humor, amor ao próximo, paciência, coragem, esperança, lealdade, humanidade”. E mais, “junte todas essas porções e cozinhe num caldeirão cheio de alegria. Depois enfeite o prato com seu sorriso”. Parece receita de “despacho de macumba”.

Por fim, encontramos “amigos distraídos”, que parecem haver esquecido que estavam postando felicitações em uma rede social. Foram tão específicos em seus carinhos que, dentre os milhões de indivíduos que trafegam na rede, somente os poucos citados na mensagem são capazes de entender os desejos do felicitador:

─ “Ei, gente! Estou longe mas não me esqueci de vocês. Beijos na Glória e no Olavinho; que ele tenha sucesso no novo emprego! Tô com saudades da Eulália, dá um beijo nela, ela vai conseguir se casar em 2019. Um forte abraço pro vovô Filó. Beijos no coração e Feliz 2019 para todos vocês”!

Destacamos que todos os desejos e felicitações são importantes, pois aproximam as pessoas, conhecidas ou não. Isso é o melhor da Humanidade. Diferente de queimar fogos de artifício em praias, onde são deitadas centenas de toneladas de lixo por 15 minutos de excesso de alegria manipulada.