Afinal, como andam os Guarani Kaiowás?


Esse povo indígena, que se autodenominava de Paí-Tavyterã, constitui um dos povos da etnia Guarani que sobrevive na América do Sul. Guarani Kaiowá ou apenas Caiouá (no Brasil) são alguns dos inúmeros apelidos usados pelo “homem branco” (os espanhóis e em seguida os portugueses), desde quando iniciava a exploração das terras do pantanal paraguaio, em busca de possíveis riquezas naturais apropriáveis, a serem embarcadas para suas “santas terrinhas” de origem.

Cultura

Sua autodenominação possui cunho religioso e talvez político, na visão atual. Paí é “o título com que deuses e habitantes do paraíso se saúdam”. Tavyterã, por sua vez, são “os futuros habitantes do centro da Terra”.

Decerto, há muito mais cultura envolvida para explicar as conexões entre essas palavras. Talvez Paí fosse uma classe social superior e Tavyterã uma “representação política” das classes trabalhadoras. Cabem aos antropólogos detalharem melhores hipóteses para essas relações.

Xamã Paí-Tavyterã

Xamã Paí-Tavyterã

Localização

Há indícios concretos que, hoje, suas aldeias remanescentes encontram-se localizadas em uma porção do pantanal paraguaio, em áreas ao norte da Argentina, ao sul da Bolívia e em pequenas parcelas territoriais do Mato Grosso do Sul, no Brasil. Não se tem conhecimento atualizado de suas populações dispersas nesses quatro países.

O conflito brasileiro

Os Paí-Tavyterãs (hoje, no Brasil, Guarani Kaiowá ou Caiouá) não fizeram qualquer contato relevante com exploradores europeus e seus descendentes, até fins do século XIX. Porém, durante o século XX, pelo menos no Brasil, teve início o processo de tomada de suas terras no estado do Mato Grosso do Sul. Grandes fazendeiros e empresas de mineração começaram a expulsar várias aldeias Caiouás do território deste estado, a que chamam, curiosamente, de “nossa terra”.

Mas, é neste século XXI que o conflito vem crescendo de forma ameaçadora e violenta para as aldeias Caiouás. Fazendeiros contratam jagunços e criam suas próprias forças armadas para expulsarem de maneira definitiva todos os Caiouás que, segundo dizem, “ocupam suas terras”.

A resposta dos indígenas, donos históricos da terra, através de seu líder, o índio Eleseo Lopes, foi a de que permanecerão cativos na pequena área ocupada por uma comunidade que conta com 170 indígenas e que “resistirão até sua morte coletiva”.

Eleseo Lopes, líder dos Caiouás - Foto de Elza Fiuza

Eleseo Lopes, líder dos Caiouás – Foto de Elza Fiuza

Diante da ameaça de expulsão desta comunidade, sua liderança pediu ao governo para que fosse enterrada ali mesmo, junta a seus antepassados: “Solicitamos decretar a nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui”.

A politização do conflito

A mídia mais séria fez legítimas denúncias sobre a violência cometida contra os Caiouás, várias delas muito bem documentadas. Era essencial chamar a atenção da Fundação Nacional do Índio (Funai), dos governos, das autoridades policiais e de diversos níveis da justiça brasileira, visando a conter o quadro que se agravava diariamente.

No entanto, o governo do estado optou por politizar e judicializar o impasse. Não é capaz de perceber que indígenas não querem ser indenizados?! O Caiouás desejam apenas habitar e produzir em suas terras.

Como de praxe, o governo federal permanece em silêncio nas questões de litígios com o agronegócio e a bancada ruralista do Congresso. Bastaria que as terras da população de Caiouás fossem demarcadas, no mínimo na mesma medida de hectares/cabeça de gado, como ocorre no Mato Grosso do Sul.

Vendo essa enxurrada de ameaças e litígios intensionais, muitos usuários das redes sociais mudaram seus nomes de família. Todos passaram a pertencer à família Guarani Kaiowá. Vem sendo feita uma grande pressão moral a favor dos indígenas, que cruza diariamente o país e o planeta. O conflito acabou sendo internacionalizado, mas para os Caiouás nada mudou até agora.

Infelizmente não cremos que a estratégia adotada surtirá qualquer efeito palpável para os Guarani Kaiowás. No máximo, conseguirá cansar os leitores das redes, que apoiam as pressões e reclamam, mas à distância, não sentindo na própria carne a agressão secular que sofrem os indígenas brasileiros, onde quer que se localizem.