Ministério da Corrupção


Simão-pescador, Praia das Maçãs.

Simão-pescador

Simão-pescador

Estava eu a ler um bom estudo sobre a Idade Média [1], publicado recentemente, e a fazer minhas anotações. Buscava informação sobre a chamada Idade das Trevas, que decorreu do declínio do Império Romano e quase arruinou o continente europeu. Os reinos daquela época eram comandados por imperadores e sua trupe de ministros, digamos assim.

Entretanto, as “Trevas” impuseram-lhes duas condições para nomearem seus ministros. A primeira, sem dúvida a mais importante, era a existência no reino da coisa a ser administrada. Por exemplo, como não existiam processos de geração de energia na Idade Média, não caberia ter um ministro para gerir eletricidade e petróleo. Além de ser uma ótima economia nas trevas.

A outra, era secundária. Consistia no ato da Seleção Imperial entre os vassalos disponíveis. “Sem ofício nem benefício”, eles levavam a vida em festas, a se locupletarem à custa dos burgueses que produziam, mantidos sob regime similar à escravidão. Obviamente, cada imperador de reino escolhia para ministros os vassalos que lhe prometiam mais riquezas, obscura que fossem suas origens.

Esta condição continua a viger até hoje em vários países, sobretudo na América do Sul, suportada por dinastias de presidentes totalitários e omissos.

É facto que alguns países sul-americanos encontram-se sob a égide desta pobre condição. Venezuela, Argentina, Equador e Bolívia são os mais degradados, econômica e socialmente. Mas é uma questão de parecença, dado que não acompanho em detalhes suas tragédias governistas.

Doutra feita, sigo de perto o cenário do Brasil e o considero bastante grave. Trata-se de um paradoxo, pois precisa de tantas e incontáveis reformas, com custos estruturais de elevada ordem, que será mais fácil demoli-lo e projetar outro país. Necessita de um novo arquitecto, diverso da “doutora” que acaba de ser reeleita, uma vez que só fez sujidade ao longo de seu mandato, deixando para si própria um descomunal legado de lodo in natura.

Estive a analisar as reformas que soem ser imprescindíveis ao Estado Brasileiro: reforma política, burocrática, econômica, fiscal, monetária, ministerial e outras de que não recordo agora. Mas logo conclui que não há como realiza-las em sincronia, pelo menos se contar com as facções de “técnicos populistas” aparelhados pelo governo.

Como a maioria das reformas deverá ser aprovada pelo Congresso Nacional, sugiro que a “doutora” faça somente o que está ao alcance das mãos: a reforma dos ministérios, com todas as economias que dela advirão. Afinal, trinta e nove equipas ministeriais é um escândalo para qualquer gestor público. Dispense os vassalos, doutora!

De toda forma, só espero que a “exímia gestora” não siga a mesma política da Idade das Trevas: nomear uma trupe de ministros para ministrar apenas coisas que já existam. Dessa maneira, o país ficaria sem qualquer regente público para Educação, Saúde, Infraestrutura, Segurança e Economia. Seria o desespero do povo. Mas vale lembrar que, em troca, ganharia um espaçoso Ministério da Corrupção.

Futura sede do Ministério da Corrupção

Futura sede do Ministério da Corrupção

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[1] Epstein, S. A. An Economic and Social History of Later Medieval Europe, 1000-1500. Cambridge: Cambridge University Press, 2009.