Estamos de mudança


Pelo menos os otimistas acreditam que mudar de residência significa mudar a qualidade da própria vida:

─ Na nova morada tudo será melhor e diferente (!), dizem eles.

Isso pode ser verdade em alguns aspectos mais gerais. No entanto, nas coisas comezinhas, mais específicas, encontram-se as grandes diferenças, que nem sempre são as melhores. Além disso, depende de que ângulo se vê a nova moradia.

Por exemplo, o caso extremo do pintor que morava em Paris, num bom hotel pago por seu mecenas, e que certo dia resolveu se mudar para uma caverna nas matas das Minas Gerais. Tratava-se de um doido? Cremos que não. Apenas tinha a consciência de que precisava de paz, silêncio e liberdade. Enfim, isolamento para poder criar suas obras. Nada mais é preciso, além de uma boa caverna, com água ao alcance da mão.

Caverna escondida na mata

Caverna escondida na mata

Em nosso caso, deu-se o inverso. Estamos a deixar uma enorme gruta – escura, barulhenta e empoeirada –, próxima à praia de Copacabana, para morar em um pequeno “apê iluminado”. Situa-se em rua arborizada e silenciosa da zona sul. Segundo nossa visão, é exatamente o que necessitamos para criar novos projetos e, sobretudo, viver bem com os filhos e netos.

Faremos nossa mudança na última semana deste ano. A ideia é não enfrentar mais uma “passagem de ano” meio ao ensurdecedor foguetório, sempre a receber gases tóxicos pelas janelas. Fora o fato de não mais ficar aprisionado ao bairro, sem direito de ir e vir, por determinação do prefeito – o Idiota.

Coisas comezinhas

Várias coisas irão mudar com essa decisão. Vejam bem, o novo apartamento é menor, por isso cremos ser mais aconchegante. O valor do condomínio é pouco mais de 1/3 do atual. Por ser um próprio familiar, fizemos uma boa reforma, visando a “limpar a área”. Só deixamos de pé lajes, pilares e vigas. Com isso, além de ampliar “a paisagem interna do apê”, a manutenção ficou mais simples com o projeto da designer Cláudia Reis.

O sinal de celular vai ficar bem melhor. Hoje temos que andar pelo apartamento em busca de uma área com sinal razoável para falar ao celular. E a operadora tem antena ao nosso lado! Mesmo assim, o sinal varia muito e “mastiga a conversa”. Dessa forma, vai ser reduzida a ocorrência da fala que todos somos obrigados a fazer ao smartphone:

─ Alô, alô!… Está me ouvindo?…

Todavia, ficaremos um pouco mais distante do restaurante português que frequentamos há décadas. Portanto, não seremos tão assíduos. Por outro lado, faremos alguma economia.

Entretanto, nosso filho mais novo ficará mais próximo da faculdade que cursa, além do fato de trabalhar numa empresa que está a duzentos metros da porta da nova morada. Se quiser, após retornar da faculdade, poderá almoçar em casa com calma.

Enfim, temos árvores e fauna urbana, com micos, saguis e várias espécies de pássaros. Bem diverso dos morcegos que hoje atravessam nossa sala em voos rasantes. Permaneceremos na selva de pedra, com certeza, mas não estaremos mais cercados por edifícios de concreto. Assim, nosso ambiente deixará de ser torturante e claustrofóbico. Será mais verde, aberto e ventilado.

Continuaremos a participar das redes sociais e a alimentar o blog. Porém, é provável que esta seja a última postagem de 2013. Vamos desligar telefones fixos e o acesso à internet. E não temos a menor ideia de quanto tempo deveremos esperar para que sejam religadas pelas empresas responsáveis por esses serviços.

Dessa forma, é com afeto e amizade que desejamos a todos uma “feliz continuidade dos tempos”.

Cláudia Reis e Ricardo Kohn.